quinta-feira, 25 de junho de 2020

Uma Loira Por Um Milhão

Longe da grandiosidade de um “Crepúsculo dos Deuses”, o cineasta Billy Wilder também se dedicou a realizar pequenos filmes, obras primas de simplicidade e do bom humor. Um dos mais interessantes deles é justamente essa comédia de costumes muito bem realizada chamada “Uma Loira Por Um Milhão”. Realizada na década de 1960, quando as comédias românticas despontavam nas bilheterias, o filme foi quase uma brincadeira pessoal por parte de Wilder. Unindo-se a um elenco de amigos pessoais (como Jack Lemmon e Walter Matthau) ele acabou realizando um de seus filmes mais despretensiosos.

“Uma Loira Por Um Milhão” é assim uma comédia de humor negro muito bem estruturada recheada de ótimos diálogos. De certo modo lá esperava por isso uma vez que o cineasta sempre foi reconhecido pelos excelentes textos utilizados em suas produções. Não é seu momento mais engraçado na carreira, já que esse posto pertence obviamente a "Quanto Mais Quente Melhor", mas diverte bastante. A linguagem é quase teatral pois a maior parte do filme se passa dentro de um apartamento, onde Jack Lemmon finge estar seriamente ferido para receber uma bolada de uma seguradora.

O melhor do filme é seu cinismo. Na pele de um advogado pilantra o ator Walter Matthau dá aula de nonsense e falta de escrúpulos, mas tudo com bom humor. Sabe aquele sujeito que faz de tudo para ganhar um dinheiro fácil? Pois é justamente esse o estilo de seu personagem, simplesmente impagável. O ator foi premiado com o Oscar de melhor ator coadjuvante por esse trabalho. Um grande reconhecimento para um profissional realmente talentoso. O título nacional é totalmente equivocado (como sempre), pois o título original "The Fortune Cookie" (Biscoito da Sorte) é bem mais de acordo com o que acontece durante o enredo. A tal "loira" do filme não tem grande destaque dentro da trama. Já a ironia do biscoito chinês sim. Só assistindo para entender.

A dupla formada por Jack Lemmon e Walter Matthau está simplesmente perfeita em cena. Eles combinavam tão bem como a dupla O Gordo e o Magro ou Jerry Lewis e Dean Martin. Depois de tantos anos assistindo aos seus trabalhos posso afirmar sem receios que juntos nunca fizeram um filme ruim. É impressionante o nível de qualidade e elegância que conseguiam alcançar quando trabalhavam juntos. Simbiose perfeita de bom humor e diversão. Enfim fica a dica dessa pequena obra do genial e muito eclético Billy Walter. Assistir ao filme logo se torna uma bela oportunidade para rever um dos mais inteligentes diretores que já surgiram na história, aqui brincando de fazer cinema.

Uma Loira Por Um Milhão (The Fortune Cookie, Estados Unidos, 1966) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder, I.A.L. Diamond / Elenco: Jack Lemmon, Walter Matthau, Ron Rich, Judi West, Cliff Osmond  / Sinopse: Após sofrer um pequeno acidente, Harry Hinkle (Jack Lemmon) é persuadido por seu cunhado, um advogado cara de pau chamado Willie Gingrich (Walter Matthau), a exagerar nos danos que sofreu para promover um milionário processo que provavelmente os tornará ricos! Filme premiado com o Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Walter Matthau). Também indicado nas categorias de melhor roteiro original (Billy Wilder, I.A.L. Diamond), melhor direção de fotografia (Joseph LaShelle) e melhor direção de arte (Robert Luthardt, Edward G. Boyle). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator - musical ou comédia (Walter Matthau).

Pablo Aluísio. 

O Drama de William Holden

William Holden foi um dos mais populares atores da chamada Era de Ouro de Hollywood. Elegante, charmoso, ele se enquadrava muito bem no tipo galã de filmes românticos da época. Era o sonho de muitas mulheres que suspiravam ao vê-lo nas telas dos cinemas mundo afora! Mesmo sendo um dos astros mais famosos dos grandes romances em celuloide ele conseguiu atuar nos mais diversos gêneros, sempre sendo muito bem sucedido. O auge de sua carreira aconteceu com o clássico eterno “Crepúsculo dos Deuses” onde interpretou um roteirista desempregado que casualmente iria parar numa mansão decadente de uma diva do cinema mudo. Vivendo de glórias passadas ela ainda se imaginava uma estrela no céu de Hollywood.

O curioso é que muitas vezes a vida imita a arte. A ironia do destino viria na própria vida de William Holden, que estrelou esse grande filme. Ele era considerado um bom profissional, amigo e correto em suas relações com diretores, colegas atores e produtores. Porém até os mitos eternos de Hollywood passam por grandes problemas em suas vidas pessoais, tais como os meros mortais que vão ao trabalho todos os dias. O grande drama de Holden veio com o álcool. Nas festas nos tempos áureos do cinema americano não havia limites para as bebidas. Tudo do bom e do melhor era colocado à disposição dos convidados. Holden não foi sempre um alcoólatra. Inicialmente bebia socialmente, dentro do padrão dos demais profissionais da indústria do cinema. Aliás participar de grandes festas era um pré-requisito para conhecer donos de estúdios e produtores importantes e assim ser escalado para o elenco de alguma produção em andamento. Para isso o aspirante a ator tinha que se mostrar social e agradável e beber fazia parte desse jogo.

Foi durante um desses eventos festivos que Holden se tornou amigo da estrela Barbara Stanwyck. Ela simpatizou muito com o jeito daquele jovem de Illinois e o escalou para o filme “Conflito de Duas Almas” de 1939. Seu estilo viril e masculino logo chamou a atenção do público feminino e Holden começou a ser escalado para grandes papéis de galãs em filmes no mesmo estilo. A partir de dado momento sua popularidade estourou e ele se tornou um verdadeiro astro. Na década de 40 ele estrelou filmes dos mais diversos estilos, que iam dos dramas, romances, filmes de guerra, até os faroestes da MGM. Seu nome era chamariz de público e nessa ótima fase de sua carreira não estrelou nenhum filme que não fosse um belo sucesso de bilheteria. Em todos eles se destacava pela bela voz e excelente presença de cena. Em 1950 realizou seu grande filme, “Crepúsculo dos Deuses” e três anos depois venceu o Oscar de Melhor Ator por Inferno 17. Era o seu auge definitivo. William Holden estava no topo do mundo!

Depois da consagração da Academia o ator continuou a participar de uma sucessão de sucessos românticos como “Férias do Amor”, onde bailava graciosamente com Kim Novak, e “Suplício de uma Saudade”, um dos filmes de amor mais famosos da história do cinema americano. O problema é que galãs geralmente possuem prazo de validade e no começo da década de 1960 a carreira de William Holden começou a declinar, como era natural acontecer.

Foi justamente nessa época que começou a beber de forma descontrolada. Passava semanas embriagado, muitas vezes caído pelo chão em sua fina e elegante mansão em Beverly Hills. Para manter o alto padrão de vida começou a aceitar qualquer papel que lhe oferecessem. Isso acabou abalando seu prestígio. Já amanhecia bebendo, geralmente um grande copo de whisky sem gelo e não parava mais durante todo o dia. Sua vida sentimental também se tornou caótica. Ele se casou várias vezes, e se apaixonou perdidamente por uma exótica atriz francesa que não parecia gostar verdadeiramente dele. A desilusão amorosa agravava ainda mais seu alcoolismo pois para esquecer as decepções no campo sentimental bebia cada vez mais. Para piorar começou a ser esquecido para as grandes festas justamente por causa de seu alcoolismo. Afinal ninguém queria expulsar um astro de Hollywood decadente por ele estar completamente bêbado. Sem ir nas festas certas começou a ser esquecido por produtores e diretores de elenco.

Seu último grande filme foi “Rede de Intrigas”, um oásis no meio das produções medíocres que vinha estrelando. Suas bebedeiras em Hollywood se tornaram homéricas e por causa delas sua aparência começou a alarmar seus amigos mais próximos – geralmente surgia envelhecido demais, em péssimo estado aparentando ter mais idade do que realmente tinha. O velho galã que arrancava suspiros das moças das décadas de 40 e 50, surgia abatido, cansado, sem energia.

A fonte de todos os seus problemas era o alcoolismo sem controle. Parecia que Holden havia incorporado de forma definitiva seu personagem playboy e irresponsável do clássico “Sabrina” da década de 50. Comprou uma grande propriedade na África e passava meses por lá, caçando e se embriagando em eventos decadentes e espalhafatosos.

Um dia a festa tinha realmente que acabar e acabou para William Holden de uma forma nada condizente com seu passado glorioso. Ele havia comprado um apartamento em Santa Mônica, onde geralmente tomava seus porres de forma solitária e isolada. Hostilizado sempre que ficava bêbado demais ele começou a beber sozinho e às escondidas das pessoas mais próximas. Havia se cansado das lições de moral e dos conselhos para parar de beber. Ele queria beber até não agüentar mais, em paz, sem ninguém por perto lhe perturbando ou lhe chamando a atenção pelo seu estado lamentável. Ele costumava brincar dizendo que era um bebum convicto!

Foi justamente nesse apartamento, até modesto para um grande astro do cinema como ele, que aconteceu a fatalidade. Holden passou dias em bebedeira descontrolada. Após mais um dia de muitos abusos ele foi caminhar da sala para a cozinha mas embriagado demais se desequilibrou e bateu com a cabeça de forma violenta numa grande e dura mesa de mármore da sala de jantar! A pancada foi tão forte que teve morte instantânea. O pior é que Holden havia se afastado de todas as pessoas próximas a ele e por isso ninguém mais sentia sua falta em suas longas ausências etílicas. Ele só foi encontrado mesmo porque os vizinhos alarmados com o mau cheiro vindo de seu apartamento, chamaram a polícia. Quando os policiais entraram finalmente no imóvel encontraram Holden caído no chão já em avançado estado de decomposição. Era novembro de 1981 e William Holden, um dos grandes atores da era clássica de Hollywood estava morto. Havia perdido a luta contra a bebida. Tinha apenas 63 anos, uma idade bem abaixo da expectativa de vida média do homem americano. Terminava assim um drama da vida real, algo tão triste e melancólico quanto o fim de seu personagem que interpretou no inesquecível “Crepúsculo dos Deuses”. Infelizmente até as estrelas caem do céu um dia.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A Revolução em Paris

Título no Brasil: A Revolução em Paris
Título Original: Un Peuple et Son Roi
Ano de Produção: 2018
País: França, Bélgica
Estúdio: Archipel 35, StudioCanal
Direção: Pierre Schoeller
Roteiro: Pierre Schoeller
Elenco: Gaspard Ulliel, Adèle Haenel, Olivier Gourmet, Louis Garrel, Laurent Lafitte, Louis-Do de Lencquesaing

Sinopse:
Filme com roteiro baseado em fatos históricos reais. No reinado de Louis XVI, o povo de Paris toma as ruas pedindo por direitos, pão e comida. A crise econômica chega ao seu auge e a monarquia absolutista passa a ser alvo de violentos protestos por toda a nação. A Revolução Francesa estava começando.

Comentários:
Esse filme se propõe a contar os eventos revolucionários sob o ponto de vista do povo e da assembleia nacional que foi convocada após a tomada da Bastilha, fato que se tornou símbolo do começo da Revolução Francesa. O interessante desse roteiro é que ele não traz um protagonista individual, mas sim coletivo. Não há basicamente personagens centrais, mas sim pessoas diversas que participaram de um jeito ou de outro da Revolução. Há a camada popular, com as mulheres marchando em direção ao Palácio de Versalhes e os deputados da Assembleia que é reunida para se tomar as decisões mais importantes daquele reino em dissolução. Outro aspecto a se notar é que o roteiro tem dois marcos bem precisos. O marco inicial se dá na tomada da Bastilha e o ato final na subida do Rei Louis XVI até a Guilhotina. Para quem é da área jurídica há um interessante mosaico trazendo trechos dos principais discursos que foram realizados, em espcial os que foram proferidos por Robespierre e Jean-Paul Marat. Só deixa a desejar o pouco espaço que o filme deu para Maria Antonieta. Tem no máximo uma ou duas falas, muito pouco para uma pessoa que tanto simbolizou na época. De qualquer maneira o filme é válido por trazer um panorama geral dos acontecimentos históricos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Assassinato Sob Custódia

Título no Brasil: Assassinato Sob Custódia
Título Original: A Dry White Season
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Davros Films, Star Partners
Direção: Euzhan Palcy
Roteiro: Colin Welland
Elenco: Donald Sutherland, Marlon Brando, Susan Sarandon, Janet Suzman, Gerard Thoolen, Susannah Harker

Sinopse:
Baseado no livro escrito por André P. Brink, o filme "Assassinato Sob Custódia" conta a história de um homem comum que decide ajudar seu ajudante negro a encontrar seu filho desaparecido. Isso serve para lhe mostrar os horrores do regime racista da África do Sul, seu sistema político e as atrocidades cometidas em nome de uma ideologia de segregação racial. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator (Marlon Brando).

Comentários:
Em um momento que se fala tanto em racismo estrutural, um filme como esse, que retrata o racismo como política de Estado, é mais do que providencial. Esse foi um dos últimos filmes da carreira de Marlon Brando. Ele só aceitou o convite para participar do filme por causa de seu tema. Não é segredo para ninguém que Marlon Brando defendeu ao longo de toda a sua vida uma agenda progressista. O tema do racismo lhe era muito caro. Ele participou de inúmeros movimentos em favor dos direitos sociais dos negros americanos durante a década de 1960 e não ia deixar passar em brancas nuvens um roteiro como esse. Para Brando não havia nada de mais infame do que o regime do Apartheid na África do Sul, onde negros e brancos eram separados por leis do próprio Estado. Havia áreas nobres que eram exclusivas para brancos, as melhores terras, as melhores plantações. Nenhum negro africano poderia colocar os pés nessas regiões pois seriam mortos. Caso um nativo entrasse nessas fazendas sem autorização levaria um tiro sem piedade. E ninguém seria preso por isso. Era direito dos brancos matar negros que entrassem em sua propriedade sem aviso ou autorização. Para os negros sobravam as favelas, as regiões sem condições de habitação, sem saneamento básico, segurança, nada! Para o branco colonizador vindo da Europa havia o melhor do país. Para os negros nativos, apenas a escória. Então, mesmo que esse filme seja considerado não tão bom por muitos, sua mensagem já prova o valor de sua existência. Em tempos atuais, quando o racismo volta a ganhar força, não deixa de ser relevante rever uma produção como essa.

Pablo Aluísio.

Meu Nome é Ninguém

Não há como viver no auge da carreira para sempre. Mais cedo ou mais tarde, algum dia, mesmo os grandes atores e mitos do cinema precisam fazer grandes concessões em sua carreira. Mudar os rumos, ir atrás de algo diferente. Um caso bem exemplificativo disso é esse “Meu Nome é Ninguém”. Produção italiana cujo nome original, “Il mio nome è Nessuno”, foi traduzido ao pé da letra. O grande mito Henry Fonda, já com idade avançada, foi até a Europa para rodar esse western spaguetti ao lado de um dos mais populares atores do estilo, o carismático Terence Hill, que apesar do nome americano era na realidade de nacionalidade italiana. Seu nome real era Mario Girotti. Ele havia nascido na linda e histórica Veneza! Sua imagem de "gringo" se explicava porque ele descendia de alemães. Não era o tipo italiano padrão, mas sim parecia mais um estrangeiro.

Os mais jovens hoje em dia talvez não mais conheçam Terence Hill, mas quem tem mais de 40 anos sabe muito bem quem foi ele. Estrelou comédias e filmes de western muito populares, inclusive no Brasil. Como esquecer de Trinity, personagem imortal do cinema italiano de western Spaguetti? Ao lado do companheiro e amigo Bud Spencer também rodou inúmeros filmes pastelões que fizeram a alegria da garotada nas décadas de 1960, 70 e 80. Aqui Mario interpreta um verdadeiro “genérico” de Trinity, um personagem chamado “Nessuno” ou em bom português, “Ninguém”. Pegando nuances e características dos pistoleiros sem nome interpretados por Clint Eastwood, o ator faz na verdade uma grande paródia em cima desse tipo de personagem, que era muito popular nos filmes da época.

Aqui acompanhamos a estória de Jack Beauregard (Henry Fonda), um lendário pistoleiro do velho oeste que na velhice resolve ir para a Europa em busca de paz e tranqüilidade. Chegando lá começa a ser importunado por “Ninguém” (Terence Hill), um jovem pistoleiro que idolatra o passado glorioso de Jack. Sem muita noção, acaba colocando o americano em diversas situações complicadas, que vão do constrangedor ao perigo completo, ao ter que enfrentar um grupo de malfeitores, uma gangue de criminosos chamada The Wild Bunch. Apesar da sinopse bem ao velho estilo do faroeste, esse não é um filme para ser levado muito à sério, pois como não poderia deixar de ser em produções desse tipo, há também um acentuado tom cômico nas cenas. O humor sempre se mostra presente. Devo confessar que ver o grande mito Henry Fonda em filmes assim não me agradou completamente. Na verdade ele só fez o filme por pedido do amigo Sergio Leone (que assinou o roteiro). O interessante é que Fonda ficou doente logo no começo das filmagens na Espanha e o filme teve que ser terminado nos Estados Unidos, usando locações na Louisiana, Colorado e Novo México.

Isso até que foi bom pois tirou um pouco daquelas ambientações mais manjadas do cinema de western spaguetti. Além disso abriu portas para Terence Hill no cinema americano, que era o sonho de todo ator europeu da época. De qualquer modo o filme conseguiu virar um sucesso de bilheteria na Europa e no Brasil, talvez pelas forças dos nomes de Leone e Fonda. Também foi um dos últimos faroestes de Henry Fonda, pois naquela época já se sentia velho demais para o gênero. Então fica a dica desse western temporão com os mitos Fonda e Sergio Leone. Não é algo excepcional e nem uma obra-prima, mas pelos nomes envolvidos certamente merece ser redescoberto pelos admiradores do gênero. 

Meu Nome é Ninguém (Il mio nome è Nessuno, Itália, 1973) Direção: Tonino Valerii / Roteiro: Sergio Leone, Fulvio Morsella / Elenco: Terence Hill, Henry Fonda, Jean Martin / Sinopse: Jack Beauregard (Henry Fonda), um lendário pistoleiro do velho oeste decide mudar de ares agora que está chegando na sua velhice. Só que seu descanso acaba sendo interrompida por um sujeito que se chama "Ninguém" (Terence Hill). E isso vai acabar lhe trazendo muitos problemas.

Pablo Aluísio.

O Soldado de Cristo

Esse filme de orçamento modesto se propõe a contar a história do legionário romano Longinus. E quem foi ele? Segundo a tradição oral dos primeiros cristãos ele teria sido o soldado romano que na crucificação de Jesus teria dado o chamado "golpe de misericórdia" contra o peito do Messias. Com sua lança ele teria matado definitivamente o líder daquele movimento religioso que crescia em Jerusalém no ano I. O evangelho cita esse momento, cita o soldado romano, mas nada vai muito além disso. Seu nome real nunca é citado. Esse termo Longinus é equivocado. Esse nome se refere a um tipo de arma usada pelos soldados romanos, a própria lança, mas não era um nome próprio para um romano daqueles tempos.

Pois bem, feita essa pequena introdução histórica, vamos ao filme em si. Praticamente tudo o que se vê nesse roteiro é meramente ficcional. Tirando a morte de Cristo na cruz, a lança do soldado, nada mais existe em termos de escritura. A partir daí criou-se todo um romance, vamos colocar nesses termos. O Longinus desse filme é cego. Naturalmente ele nunca poderia ser um legionário se fosse cego, mas o roteiro tenta explicar isso o colocando como o filho de um importante político romano. Ele participa da crucificação de Jesus e depois desiste do exército romano. Decide voltar para a terra de sua mãe e no meio do caminho conhece um homem que se diz chamar João.

João não é quem diz ser. Na verdade esse João é nada mais, nada menos, do que o próprio Jesus ressuscitado. Ele vem para trazer perdão e graça ao homem que o perfurou com uma lança de guerra na cruz. Esse filme, é bom frisar, é um filme com roteiro feito para pessoas religiosas. É um filme religioso por definição. Só achei que apesar de tudo ser meramente ficcional os roteiristas deveriam ter caprichado um pouco mais nas falas do Cristo. Deveriam ter usado inclusive suas mensagens que estão no Novo Testamento. Seria instrutivo, ideal para um espectador de crença cristã. De qualquer forma o núcleo duro da mensagem cristã é válida. É a mensagem do perdão de Deus, acima de tudo. Nesse aspecto o roteiro acaba sendo bem adequado.

O Soldado de Cristo (The Christ Slayer, Estados Unidos, 2019) Direção: Nathaniel Nose / Roteiro: DJ Perry / Elenco: Carl Weyant, Josh Perry, DJ Perry / Sinopse: Depois de morrer na cruz, Jesus decide andar ao lado do legionário romano Longinus, que participou de sua crucificação. Ele quer levar o perdão de Deus ao soldado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Vidas à Deriva

A ex-estrelinha teen Shailene Woodley (agora já não mais adolescente) interpreta essa personagem Tami Oldham, que inclusive é baseada em uma escritora americana. Após terminar o ensino médio ela decidiu pegar sua mochila e ganhar o mundo. Planejou que iria viajar pelos países ao estilo mochilão. Arranjava um emprego aqui e outro acolá, apenas para bancar suas despesas pessoais. Assim vai parar longe, mais precisamente na Polinésia Francesa, no Pacífico Sul. Numa das ilhas dessa região remota acabou conhecendo outro americano aventureiro como ela. O tal sujeito tinha um veleiro e após um breve namoro com Tami decidiu convidá-la para uma viagem especial.

Péssima ideia. Veleiros como aquele nunca foram adequados para longas jornadas, ainda mais no Pacífico, um oceano conturbado, dado a tempestades ferozes. E foi justamente o que aconteceu. Enquanto viajavam pelos mares do sul foram pegos em cheio por uma tempestade enorme. O pequeno barco, claro, não conseguiu superar essa adversidade da natureza. Uma onda gigante acabou pegando o veleiro de Tami e seu namorado em cheio, quebrando os mastros, rasgando as velas e destruindo os equipamento de navegação. A partir desse ponto o filme então passa a mostrar a luta pela sobrevivência dos jovens namorados, em uma embarcação completamente à deriva, longe de rotas de outros navios, perdidos no oceano sem fim.

Pois é, meus caros. Não foi o primeiro filme com veleiros perdidos no oceano que assisti. Em certos aspectos me lembrou de um filme recente com Robert Redford que conta uma história bem parecida. Embora eu não seja um especialista em navegação, já sei depois de assistir a esses filmes que entrar em alto-mar com veleiro, esperando fazer longas viagens, é algo estúpido de se fazer. E com a popularização na venda desse tipo de embarcação a coisa só piora a cada ano. Todos que compram um veleiro pensam que já podem ir até o Havaí de barco. Nada mais imprudente do que isso. Esse filme é bom, bem interessante. A Shailene Woodley, praticamente sem maquiagem, com o rosto muito queimado de sol, me pareceu bem envelhecida. isso apesar de ter apenas 28 anos. Ela tentou recuperar o mesmo sucesso do hit de sua carreira, "A Culpa é das Estrelas", com um roteiro que repete romances maravilhosos interrompidos por grandes tragédias. No caso desse filme, apesar de quase naufragar, até que ainda funcionou bem, para minha surpresa.

Vidas à Deriva (Adrift, Estados Unidos, Irlanda, Islândia, Hong Kong, 2018) Direção: Baltasar Kormákur / Roteiro: Aaron Kandell, Jordan Kandell / Elenco: Shailene Woodley, Sam Claflin, Jeffrey Thomas / Sinopse: Jovem garota americana que vive como mochileira, viajando pelo mundo, embarca com o namorado para uma viagem de veleiro no Pacífico Sul, mas acaba sendo atingida por uma enorme tempestade em alto-mar, ficando à deriva, tentando sobreviver até a chegada de um resgate. Filme indicado ao Teen Choice Awards.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de junho de 2020

O Último Reino

Outra série da BBC que merece menção. A história se passa no ano de 866, na Inglaterra da Idade Média. Naqueles tempos distantes a grande ilha era dividida politicamente em vários reinos e feudos independentes, sendo a maioria deles pertencentes ao povo chamado Saxão. Viviam basicamente da terra em uma cultura de subsistência. Embora houvesse rivalidades entre os clãs, essas não eram tão sérias e graves a ponto de colocar em risco aquela civilização. As coisas começaram a mudar com a chegada dos povos vikings, vindos das terras do norte. Eram guerreiros cujo objetivo máximo era a conquista, pilhagem e domínio dos povos invadidos.

O roteiro dessa série assim acompanha a vida de Uhtred de Bebbanburg (Alexander Dreymon), o jovem filho de um Rei Saxão que é morto durante uma dessas invasões. Levado ainda criança para ser criado pelos inimigos como escravo, ele acaba se adaptando ao novo mundo, se tornando muito querido na família que o acolheu. Enquanto isso seu tio usurpa seu trono, impondo uma tirania que deseja eliminar o único herdeiro de direito ao poder, ou seja, ele mesmo. O primeiro episódio tem mais de uma hora de duração e me pareceu muito bom, embora tenha também achado um pouco expansivo demais por contar muito em um tempo relativamente curto. Para bem entender isso é interessante escrever que a história contada nesse piloto agrega mais de vinte anos na vida do protagonista.

O elenco é muito bom e dois nomes de destacam. O primeiro é o de Matthew Macfadyen, que os fãs de séries inglesas reconhecerão de imediato pois ele é bem conhecido por interpretar o inspetor Edmund Reid da série "Ripper Street". Macfadyen tem esse jeito todo próprio de trabalho que nos remete aos antigos atores britânicos, com aquela postura impecável e dicção perfeita. O segundo nome que chama a atenção no elenco é o do veterano Rutger Hauer (de "Blade Runner, o Caçador de Androides", "O Feitiço de Áquila" e tantos outros filmes conhecidos). Ele interpreta um velho monarca normando chamado Ravn, cego e incapacitado para o campo de batalha, o que o deixa em segundo plano dentro de seu clã. A lamentar apenas o fato de que esses dois atores não vão seguir na série nos próximos episódios em decorrência do que acontece com seus personagens dentro da história. De qualquer maneira deixo a dica desse "The Last Kingdom". São quatro temporadas que certamente vão agradar aos fãs de séries medievais como essa.

O Último Reino (The Last Kingdom, Inglaterra, 2015) Direção: Edward Bazalgette, Peter Hoar, entre outros / Roteiro: Stephen Butchard, Bernard Cornwell, entre outros / Elenco:Alexander Dreymon, Matthew Macfadyen, Ian Hart, Rutger Hauer / Sinopse: A série "O Ùltimo Reino" conta a história de um clã poderoso e guerreira em uma Inglaterra medieval, assolada por invasões de navios do grupo Viking, em um momento histórico de violência e barbárie.

Pablo Aluísio.