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terça-feira, 30 de abril de 2024

O Preço de um Homem

Título no Brasil: O Preço de um Homem
Título Original: The Naked Spur
Ano de Lançamento: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Anthony Mann
Roteiro: Sam Rolfe, Harold Jack Bloom
Elenco: James Stewart, Janet Leigh, Robert Ryan, Ralph Meeker, Millard Mitchell, Aaron Stevens

Sinopse:
Howard Kemp (James Stewart) é um caçador de recompensas que há muito tempo persegue o assassino Ben Vandergroat (Ryan). Ao longo do caminho, Kemp é forçado a lidar com certos sujeitos, entre eles um velho garimpeiro chamado Jesse Tate e um soldado da União dispensado de forma desonrosa. Quando eles descobrem que Vandergroat tem uma recompensa de US$ 5.000 por sua cabeça, a ganância começa a tomar conta deles. Vandergroat aproveita ao máximo a situação, semeando dúvidas entre os dois homens em todas as oportunidades, finalmente convencendo um deles a ajudá-lo a escapar.

Comentários:
Quando você se deparar com qualquer faroeste contando com essa dupla Stewart e Mann, pode assistir ao filme sem nem pensar duas vezes. No mínimo será mais um grande western, isso se não for um clássico absoluto do gênero cinematográfico. É impressionante como eles só fizeram bons filmes. Nunca houve espaço para a mediocridade no trabalho deles em Hollywood. E esse filme só vem confirmar isso. É um daqueles excelentes filmes do passado, com linda direção de fotografia, captando toda a beleza natural onde foi filmado e contando com um elenco muito bom, onde destaco não apenas James Stewart, aqui em um papel um pouco fora do seu habitual, como também da estrela Janet Leigh. De cabelos loiros curtinhos, muito bronzeada, ela convence demais como uma garota durona do velho oeste. Tão durona que na época em que o filme chegou nos cinemas houve quem acusasse sua personagem de ser uma lésbica, isso apesar dela se relacionar com os personagens masculinos do filme. Mas enfim, gostei demais. Esse é um daqueles filmes que não podem faltar na coleção do cinéfilo que aprecia filmes de faroeste. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Um Corpo que Cai

Título no Brasil: Um Corpo que Cai
Título Original: Vertigo
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel, Samuel A. Taylor
Elenco: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore, Henry Jones, Raymond Bailey

Sinopse:
Com roteiro baseado no romance policial "D'Entre Les Morts", o filme conta um caso envolvendo o investigador aposentado John 'Scottie' Ferguson (James Stewart). Ele é contratado por um amigo para seguir sua esposa pelas ruas de San Francisco. O marido está preocupado com o comportamento dela. Só que Ferguson descobre muito mais do que poderia esperar.

Comentários:
Esse filme é considerado por muitos críticos como o melhor da carreira do mestre do suspense Alfred Hitchcock. É um título de peso, só sustentado realmente por grandes filmes. E "Vertigo" se sai muito bem nessa posição de destaque. O roteiro é genial, mostrando toda a capacidade de Hitchcock em narrar seu enredo, que em alguns momentos parece bem simples, para depois ganhar contornos bem mais complexos. Em termos de linguagem cinematográfica é o melhor trabalho de Alfred Hitchcock, pois o diretor mescla momentos de pura ilusão, sonhos e devaneios, com a realidade concreta. Nesse ponto fascina até mesmo os cinéfilos mais experientes. Olhando sob esse aspecto subjetivo de fato temos aqui uma verdadeira obra-prima da filmografia de Hitchcock, muito provavelmente jamais superada por nenhum outro momento de seus outros filmes. "Um Corpo que Cai" é o auge de Hitchcock, seu mais expressivo filme no cinema. Um grande clássico.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 6

Eu não colocaria "Stranger in the Crowd" entre as melhores músicas desse disco, mas ela tem sim seus méritos. Se "Just Pretend" e "Bridge Over Troubled Water" são músicas embasadas nos arranjos de piano, aqui o que se destaca mesmo é o pleno domínio dos arranjos de cordas e de instrumentos percussivos. A mais acústica música do disco não chega ao ponto de ser um dos destaques da trilha, sendo considerada apenas um complemento ao conjunto. Apesar disso, de ser uma mera coadjuvante, não podemos deixar de colocar em destaque seus méritos como a vocalização inspirada de Elvis e o belo solo de guitarra de James Burton, bem diferente do que ele costumava fazer em estúdio. 

Winfield Scott, autor dessa música, compôs várias canções dos filmes de Elvis nos anos 60. Ele esteve muito presente nessa fase e foi dele a descoberta de uma das maiores surpresas em termos de gravações perdidas de Elvis. Quase que por acaso ele acabou descobrindo o tape inédito de "I'm Roustabout", canção que havia sido originalmente composta para ser o tema principal do filme "Roustabout" (O carrossel de emoções, 1964). Assim que soube o que tinha em mãos entrou em contato com Ernst Jorgensen que não perdeu tempo em anunciar para o mundo que pela primeira vez em muitos anos havia sido descoberta uma nova música na voz de Elvis, até então totalmente inédita. A descoberta acabou sendo definida por Joe Di Muro, executivo da RCA / BMG, como a "mais inacreditável da música moderna"!

"The Next Step Is Love" vem logo a seguir. Quando Elvis resolveu retomar o rumo de sua carreira e deixar Hollywood para trás ele procurou encontrar inspiração e renovação em um novo grupo de compositores. Paul Evans, cantor, compositor e famoso produtor certamente se encaixava nesse novo perfil que Elvis tanto procurava. Antes de compor "The Next Step is Love", Evans já era muito conhecido nos EUA por causa de suas músicas românticas, doces e ternas, que fizeram muito sucesso principalmente na primeira metade dos anos 60 como, por exemplo, "Too Make You Feel My Love", "When" e principalmente "Roses are Red (My Love)", seu grande sucesso que chegou ao primeiro lugar nas paradas. Além disso ainda escreveu novas versões para o clássico sacro "Amazing Grace". Compositor de grande talento, foi ainda gravado por Pat Boone, La Vern Baker e Bobby Vinton. Pena que não tenha tido uma parceria de maior duração ao lado de Elvis, pois na visão estreita de Tom Parker ele ainda era considerado um compositor muito "caro"!!! De qualquer maneira a música acabou sendo lançada como Lado B do Single "I've Lost You". No filme Elvis aparece ouvindo e dando sua aprovação final ao resultado da gravação desta canção. É uma bela música sem dúvida, porém perde em comparação com alguns clássicos presentes neste disco. Poderíamos dizer que é um belo complemento ao disco, mas sem jamais ser protagonista dentro da seleção de boas melodias desse trabalho de Elvis. 

A letra da canção exalta principalmente a paixão, os primeiros momentos em que cada um se descobre apaixonado pelo outro. Há uma clara intenção de, em forma poética, tentar capturar esse momento. Até mesmo aspectos bobos ganham relevância, como caminhar descalços pelos campos, rindo debaixo da chuva. Particularmente penso que essa gravação teria ficado bem melhor se tivesse sido feita com a antiga banda de Elvis, principalmente com aquela formação da primeira metade da década de 1960. Essa música tem uma singeleza que combinaria bem com aquele período histórico da carreira do cantor. Além disso se ele tivesse optado por aquela linha vocal mais terna, que tanto caracterizou suas canções naquela época, o resultado teria sido bem bonito. Já em Nashville, com todas aquelas canções para se gravar, onde o tempo era mais do que precioso, houve uma certa pressa em finalizar a faixa. Com isso a melodia não foi tão valorizada. Some-se a isso o fato da TCB Band ser um grupo com características de palco, o que deu a esse registro um certo sabor de música gravada ao vivo. Mas enfim, mesmo sendo feitas essas observações é importante ressaltar a boa qualidade da música como um todo. Nunca chegou a ser um hit ou um standart na discografia de Elvis, porém como coadjuvante nesse ótimo álbum "That´s The Way It Is" está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 6

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. 

Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Último Ato

Título no Brasil: Último Ato
Título Original: Manhunt
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: Apple Studios
Direção: Eva Sørhaug, John Dahl
Roteiro: Monica Beletsky, Tim Brittain
Elenco: Tobias Menzies, Anthony Boyle, Hamish Linklater, Glenn Morshower, Matt Walsh, Damian O'Hare

Sinopse:
O ator John Wilkes Booth decide matar o presidente Abraham Lincoln em um teatro na capital americana. Bem sucedido em seu objetivo homicida, ele consegue fugir a cavalo. Caberá então ao secretário de guerra Edwin Stanton caçar o assassino, em meio a muitas mudanças em Washington e o no meio do luto da morte de um dos mais importantes presidentes da história dos Estados Unidos. 

Comentários:
Essa minissérie foi certamente a melhor coisa que assisti nessas últimas semanas. Excelente em todos os aspectos. Ótimo elenco, roteiro bem desenvolvido, fiel aos fatos históricos, ótima reconstituição de época, direção de arte primorosa e direção afinada. Não há nada melhor para se ver atualmente em termos de streaming. E a história é muito bem focada, mostrando todos os detalhes que cercaram esse crime histórico. A minissérie parte do assassinato do presidente Abraham Lincoln. A partir daí começa uma verdadeira caçada em busca de seu assassino, um ator vaidoso e fora da realidade chamado John Wilkes Booth. Racista e fanático, ele não aceitava a derrota do Sul confederado na Guerra Civil. Ele acreditava que após matar Lincoln ele iria ser recebido em Richmond como um herói da causa confederada. O problema é que após a guerra civil a cidade estava destruída e ocupada pelas tropas da União! E ele, ferido, sem conseguir andar direito, acabou sendo caçado em sua fuga. É realmente de impressionar a facilidade que ele teve de matar o presidente dos Estados Unidos. Não havia nenhum segurança guardando o camarote de Lincoln no teatro onde ele foi morto a tiros. Enfim, essa é apenas uma das inúmeras curiosidades que cercam essa história. Não deixe de assistir, principalmente se você gosta de séries historicamente precisas e bem produzidas. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

True Detective: Night Country

Título no Brasil: True Detective
Título Original: True Detective: Night Country
Ano de Lançamento: 2024
País: Estados Unidos
Estúdio: HBO
Direção: Issa López
Roteiro: Issa López
Elenco: Jodie Foster, Kali Reis, Fiona Shaw, Finn Bennett, Isabella Star LaBlanc, Christopher Eccleston 

Sinopse:
Quarta temporada da série "True Detective". Um grupo de pesquisadores e cientistas que trabalham numa base avançada e isolada no Alaska, próximo do Círculo Polar Ártico, é encontrada morta, no meio da escuridão e do frio congelante. Uma policial tenta desvendar o crime, mas encontra em seu caminho pistas que levam a lugar nenhum. O que teria acontecido com todos aqueles homens da ciência?

Comentários:
Essa nova temporada recebeu uma chuva torrencial de críticas negativas. Eu não as condeno. Realmente prometeu muito mais do que entregou. Veja, até que o desenrolar dos episódios mantém um bom nível de qualidade. A simples presença da Jodie Foster já é um grande atrativo para acompanhar os seis episódios. Quem é cinéfilo e gosta de cinema, gosta da Foster, não tem jeito. E ela está bem, atuando bem. Assim a temporada até que se desenvolve bem, mas há problemas. E o final? Aqui está o maior problema. Durante todo os episódios há insinuações de algo vive ali naquelas terras geladas próximas ao Ártico. Seria uma força da natureza sobrenatural que agora estaria atacando os que entrassem em seus domínios. Tudo bem, isso era interessante, mas apesar de tudo isso o que se encontra no final é um crime, simplesmente um crime, cometido por pessoas de carne e osso. E nem é um crime daqueles que se pode acreditar pois achei tudo muito forçado. É o que se chama de "roteirada". Enfim, esse é o maior problema, a decepção quando se chega no desfecho de tudo. Fica aquela sensação de que muito tempo foi perdido por absolutamente nada. A montanha pariu um rato! 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

O Último Chefão

Título no Brasil: O Último Chefão
Título Original: The Last Don
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Konigsberg / Sanitsky Company
Direção: Graeme Clifford
Roteiro: Joyce Eliason
Elenco: Danny Aiello, Kirstie Alley, Joe Mantegna, Daryl Hannah, Burt Young, Penelope Ann Miller

Sinopse:
O filme conta a história do mafioso Don Domenico Clericuzio (Danny Aiello). Ele começa seu império do mundo do crime nas ruas mais pobres e violentas de New Jersey e Nova Iorque. Conforme sua quadrilha ganha poder e dinheiro ele decide algo ousado, dominar o crime organizado na costa oeste dos Estados Unidos, criando um braço de seu grupo em Las Vegas e Los Angeles, tentando ganhar dinheiro sujo em Hollywood. 

Comentários:
Esse filme foi adaptado de outro livro escrito pelo consagrado Mario Puzo. Para quem não lembra ele criou a saga de "O Poderoso Chefão". O curioso é que o estúdio comprou os direitos do livro por mais de 2 milhões de dólares e depois, quando todos esperavam por um longa para o cinema, os produtores decidiram fazer um telefilme, para ser exibido na TV. Ninguém entendeu direito essa decisão. De qualquer forma o filme acabou sendo lançado em nosso país no mercado de vídeo, através do selo Playarte. Apesar de ser um telefilme, é uma bonita produção, com excelente trilha sonora. O Puzo quis com seu personagem Don Domenico Clericuzio reunir elementos de vários mafiosos da vida real em apenas um protagonista. Até que ficou interessante, mas é a tal coisa, se formos comparar com "O Poderoso Chefão" a coisa fica complicada. Parece que depois do enorme sucesso do livro anterior, ele tentou repetir o mesmo êxito comercial nas livrarias e no cinema, mas acabou se limitando, se repetindo, copiando a si mesmo, atrás do sucesso fácil. Não ficou tão bom e nem muito menos inspirado. Enfim, temos uma história até OK, mas nada memorável. 

Pablo Aluísio.

Os Amores De Picasso

Título no Brasil: Os Amores De Picasso
Título Original: Surviving Picasso
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: James Ivory
Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala
Elenco: Anthony Hopkins, Tom Fisher, Andreas Wisniewski, Julianne Moore

Sinopse:
Cinebiografia de parte da vida do famoso pintor Pablo Picasso, aqui interpretado pelo ator Anthony Hopkins. O enredo se desenrola a partir das lembranças de Francoise Gilot (Natasha McElhone), que foi amante do artista por mais de dez anos. Foi um caso dos mais ousados pois Picasso era 40 anos mais velho do que ela. Mesmo assim se apaixonaram e viveram um inesperado caso de amor. 

Comentários:
Um filme que agradou a poucos. Na época de seu lançamento a família de Pablo Picasso tentou impedir, inclusive legalmente, a chegada da película nas telas. Não conseguiu. Não é para tanto, embora muito humano o artista que vemos passar na tela não é em nenhum momento desrespeitoso com sua biografia, digamos, oficial e chapa branca. Com uso de inúmeros flashbacks ficamos conhecendo detalhes da vida pessoal do pintor, inclusive seu turbulento relacionamento com sua esposa, Olga (Jane Lapotaire). O Picasso de Anthony Hopkins é explosivo, apaixonado, caliente mas também infiel e traidor da confiança daqueles que mais o amam. Uma personalidade complexa que o roteiro apenas em parte consegue captar. No final das contas é um filme mediano que não consegue ficar à altura do gênio que tenta retratar. Anthony Hopkins é um grande ator mas alguns papéis definitivamente não lhe caíram bem. É o caso de Pablo Picasso. Escalar um ator tipicamente britânico para fazer um espanhol é uma temeridade, ainda mais quando literalmente o "pintam" para dar a tonalidade da cor natural do pintor. Depois de uma escalação e maquiagem tão ruins como essas fico pensando em como um ator consegue sobreviver a um papel desses? A única coisa que se salva é a beleza de Julianne Moore que ajuda a passar o tempo do filme de forma menos penosa.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2024

A Lei do Bravo

Título no Brasil: A Lei do Bravo
Título Original: White Feather
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Robert D. Webb
Roteiro: Delmer Daves, Leo Townsend
Elenco: Robert Wagner, Jeffrey Hunter, John Lund

Sinopse:
Uma tropa da cavalaria americana viaja até o distante território do Wyoming durante a década de 1870 para pacificar a região, celebrando tratados de paz e cooperação com os principais chefes nativos daquelas terras. Tudo corre relativamente bem até que questões de sucessão entre os índios Cheyennes colocam em perigo a paz e a prosperidade entre os dois povos.

Comentários:
"A Lei do Bravo" anda injustamente esquecido, mas não se engane, se trata de um western realmente acima da média. O título original que pode ser traduzido como "Pena da Paz" já dá uma ideia do que está por vir. O roteiro trabalha na complicada questão indígena que foi durante muitos anos um problema e tanto para o governo americano. Sempre em busca de paz, evitando assim novos conflitos, muitas tropas da cavalaria foram enviadas para regiões distantes, com o objetivo de costurar a paz com os líderes nativos. Isso nem sempre era fácil, seja por causa dos próprios índios, seja por falta de comprometimento do próprio homem branco, que muitas vezes rasgava os pactos assinados, ignorando completamente o que havia sido prometido aos caciques e chefes tribais. No meio de tudo ficava a velha questão do choque de civilizações entre os americanos brancos empenhados em colonizar o velho oeste e os nativos peles vermelhas que tradicionalmente ocupavam suas terras. Em termos de produção nada a criticar, pois tudo surge de forma muito bem realizada e caprichada. Idem para o elenco formado por dois galãs famosos da época, Robert Wagner e Jeffrey Hunter, que funcionam como um belo bônus para o público feminino. Muitos vão sentir talvez a falta de um pouco mais de ação e combates, mas isso é um erro, pois a moral de toda a história contada é apenas uma: apenas a paz pode gerar bons frutos entre povos inimigos.

Pablo Aluísio.

Comanche

Título no Brasil: Comanche
Título Original: Comanche
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: George Sherman
Roteiro: Carl Krueger
Elenco: Dana Andrews, Kent Smith, Nestor Paiva

Sinopse:
Na fronteira mais distante e inóspita do velho oeste do século XIX, um grupo de soldados americanos enviados por Washington precisa costurar um acordo de paz com a nação Comanche para evitar que ocorra um novo banho de sangue entre tropas da cavalaria e guerreiros nativos, que já se encontram com suas tradicionais pinturas de guerra. O acordo, como logo se mostra desde o começo, não será dos mais fáceis de conseguir.

Comentários:
"Comanche" mostra as dificuldades que existiam entre o governo americano, destemido em alargar as fronteiras do país rumo ao oeste selvagem e a natural resistência que nascia contra essa política de tribos nativas, entre elas a dos Comanches, que ficaram conhecidos na história como uma das nações mais guerreiras e bravas daquele período. Como se trata de um típico faroeste dos anos 50, já sabemos de antemão que tudo foi realmente produzido de forma muito romanceada, com claros objetivos de transformar os soldados americanos da cavalaria em heróis e os índios em impiedosos vilões. No meio de um clima de guerra há até espaço para namoricos e romances (até porque se não fosse assim as atrizes não teriam razão nenhuma de participar do filme). É uma visão que no fundo retrata a mentalidade da época. Colocando isso de lado sobra ao espectador muita diversão ao velho estilo bangue-bangue do cinema americano. Há várias cenas tradicionais de combate entre soldados e índios, algo que fará a alegria dos nostálgicos. Como diferencial o diretor George Sherman resolveu ele mesmo e sua equipe atravessar a fronteira filmando tudo no México, perto da cidade de Durango. Isso trouxe algo de novo ao filme em si, pois aquela terra deserta como o inferno, se torna um componente importante na condução do enredo. No saldo final temos um western muito interessante e divertido, acima de tudo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Sayonara

Sayonara
Major da Força Aérea Americana (Marlon Brando) se apaixona por jovem japonesa e tem que enfrentar a dura disciplina militar que explicitamente proíbe tal relacionamento durante a estadia de militares americanos no Japão. Basta ler a sinopse para entender porque o ator Marlon Brando se interessou pelo papel. Sempre envolvido em causas sociais (principalmente as que envolviam preconceito racial) Brando achou que seria bastante interessante tocar em um tema polêmico ao indagar até que ponto o código de ética militar das forças armadas americanas era moralmente aceitável. Que direito tinha de determinar quem poderia ou não se envolver com os soldados e oficiais americanos? Não seria uma invasão da vida pessoal dessas pessoas? 

O fato é que mesmo com a proibição muitos militares acabavam se apaixonando pelas mulheres nativas e sofriam sanções por isso. Brando adorou o roteiro desde a primeira vez que o leu mas recusou fazer o filme até que aceitassem reescrever o trágico final original. Aceitos os seus termos o ator fez as malas e junto da equipe viajou ao distante Japão para as filmagens, que não foram fáceis. O problema é que foram na época errada do ano, uma estação muito chuvosa que atrasou absurdamente o cronograma do filme. Em suas memórias Brando relembrou que havia semanas em que não conseguiam filmar nem ao menos uma tomada sequer. Pressionado e criticado pelo estúdio o diretor Joshua Logan entrou em depressão deixando o filme totalmente à deriva nas ilhas nipônicas. Isso se refletiu no resultado final. O filme tem um corte ruim, com mais de duas horas e meia de duração. Marlon acabou atribuindo isso à falta de controle do diretor Logan que se perdeu dentro do projeto.

Apesar de todos os problemas não considero "Sayonara" um filme ruim, pelo contrário. Ele pode ser levemente disperso e com várias cenas desnecessárias mas nunca se torna banal. Há certos deslizes na produção, é verdade, como a maquiagem nada convincente de Ricardo Montalban (fazendo um personagem japonês ora vejam só!) mas isso é de certo modo apenas pontual. A atriz que faz o par romântico de Brando também nada acrescenta, pois tem o talento dramático muito limitado (de fato não seguiu carreira depois). Outro problema é que inexiste química entre ela e Brando, o que para um filme pretensamente romântico é quase um desastre completo. Enfim, para fãs de Brando o filme é obrigatório, até mesmo para vê-lo em um papel de certa forma diferenciado em sua carreira (bancando o herói romântico) mas fica a observação pois o filme poderia ser bem melhor do que realmente é.

Sayonara (Sayonara, Estados Unidos, 1957) Direção de Joshua Logan / Roteiro: Paul Osborn baseado no romance de James Michener / Elenco: Marlon Brando, Patricia Owens, Red Buttons, Miiko Taka, Ricardo Montalban / Sinopse: Major da Força Aérea Americana (Marlon Brando) se apaixona por jovem japonesa e tem que enfrentar a dura disciplina militar que explicitamente proíbe tal relacionamento durante a estadia de militares americanos no Japão.

Pablo Aluísio.

Raposa do Espaço

Raposa do Espaço
Robert Mitchum era um ator da velha guarda de Hollywood que de velha guarda não tinha nada. Sua biografia pouco comum fugia bem do padrão dos astros da época. O ator interpretava personagens diferenciados que geralmente tinham em comum o fato de serem anti-heróis, pessoas bem à margem do American Way of Life. Para quem nasceu em uma família sem muitos recursos e que via a profissão de ator como uma boa forma de ganhar muito dinheiro sem fazer muito esforço, nada mais natural que levar para as telas o outro lado da sociedade americana dos anos 50. Nesse tipo de papel o ator foi insuperável pois ninguém fazia isso melhor do que ele. Em sua extensa filmografia Mitchum não poupou o público de encontrar nas salas de cinema com alguns dos tipos mais incomuns da tela grande. Havia um perdedor bêbado em algum filme? Mitchum encarava o desafio. O papel era de um sádico psicopata que perseguia as pessoas que o havia colocado na prisão? Mitchum era o ator a se socorrer nessas horas... Mesmo quando tentavam enquadrar o ator em algum papel mais, digamos, tradicional, Mitchum mostrava que as coisas não sairiam assim tão fácil para produtores e diretores. Um exemplo é o filme Raposa do Espaço - uma película produzida com a ajuda das forças armadas americanas, portanto digno de toda a patriotada possível.

O enredo se passa durante a guerra da Coreia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito. Bem, se esse papel fosse dado a um John Wayne o filme seria bem diferente. Porém como Mitchum está lá podemos ter certeza que seu personagem não seria nada convencional ou politicamente correto e realmente não era. Embora interprete um oficial da força aérea americana no filme, Mitchum logo logo trata de dar em cima da esposa de um outro oficial e companheiro de armas. Mais Robert Mitchum do que isso, impossível... Como se não bastasse ainda contracenava com o ator Robert Wagner no comecinho da carreira. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Wagner ganhou fama internacional muitos anos depois ao estrelar o famoso programa Casal 20. Também ganhou notoriedade por ter sido casado com Natalie Wood (alguns boatos chegaram inclusive a culpá-lo pela morte dela, afogada depois de uma noite de bebedeira). Contracenando com Mitchum nesse filme ainda temos Richard Egan, ator bem conhecido dos fãs de Elvis Presley pois estrelou ao lado do Rei do Rock seu primeiro filme, Love Me Tender. Para quem foi preso por fumar maconha no auge da fama, por vagabundagem na juventude, até que Mitchum engana direitinho como militar durante o filme. Com seu rosto cinicamente natural, ele nos lembra que até os anti-heróis eram mais interessantes antigamente...

Raposa do Espaço (The Hunters, Estados Unidos, 1958) Direção de Dick Powell / Roteiro de Wendell Mayes e James Salter / Elenco: Robert Mitchum, Robert Wagner, Richard Egan / Sinopse: O enredo se passa durante a guerra da Coréia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2024

O Rei Leproso

O Rei Leproso
A história tem alguns personagens que ficaram célebres, seja pela história de suas vidas, seja por algo terrível que os marcavam. É o caso do rei leproso, Balduíno IV. Muitos vão lembrar da imagem desse Rei no filme "Cruzada" onde ele usava uma máscara de metal para esconder as marcas e deformidades da hanseníase. Na antiguidade e na Idade Media essa era uma doença sem cura que levava seus doentes à morte. Pior do que isso, os doentes eram retirados do meio social, para não contaminar outras pessoas e levadas para lugares distantes. Essas regiões eram conhecidas como Vales dos Leprosos. Ninguém ousava ir nesses ambientes. Era o fim do mundo viver ali, abandonado e esperando pela morte que certamente viria. 

Por isso quando o filho do Rei de Jerusalém apareceu com Lepra nas mãos e em parte dos braços foi um verdadeiro terror para seus familiares. Aquele menino era o herdeiro do trono! Como a Monarquia iria continuar com um monarca leproso? Seu pai, o Rei, ficou sem saber o que fazer, mas a Rainha decidiu que iria manter a doença do filho Balduíno em segredo absoluto. Ele passou a viver isolado da corte e não era mais visto brincando com outras crianças da nobreza. 

A vida de Balduíno foi dramática. Seu pai morreu e ele subiu ao trono jovem demais no ano de 1174. Os cristãos estavam cercados em Jerusalém pelas tropas do muçulmano Saladino que sabia que havia no trono um jovem frágil e doente. Ainda assim Balduíno conseguiu por muitos anos deter os avanços de Saladino, evitando que ele viesse a conquistar a conhecida Cidade Santa. Os seguidores do profeta Maomé entretanto estavam certos da vitória, que viria mais cedo ou mais tarde, afinal os cristãos eram minoria naquelas terras. A imensa maioria do povo era muçulmano, em segundo lugar vinha os judeus que também não acreditavam na divindade de Jesus. Apenas os cristãos vindos da Europa, considerados invasores pelo próprio povo de Jerusalém, seguia os ensinamentos daquele que chamavam de Cristo. 

Ainda assim o Rei Leproso conseguiu liderar seus exércitos contra Saladino por quase uma década. Só que a doença avançou rapidamente em seu corpo. Com vinte e poucos anos Balduíno já estava cego de um dos olhos, fruto das deformidades da Lepra. Ele não usava uma máscara de metal como mostrado no filme Cruzada, mas sim um véu que cobria todo o seu rosto. Só que em determinado momento ficou impossível parar o avanço de sua doença. Ele morreu muito jovem, com 24 anos de idade em 1185 e o Reino de Jerusalém ficou à mercê dos muçulmanos. A conquista da cidade era questão de tempo e realmente aconteceu pouco tempo depois de sua morte. De certa forma essa foi uma das histórias mais trágicas envolvendo um monarca cristão na história medieval. 

Balduíno não havia deixado herdeiros por motivos óbvios e a coroa foi para sua irmã. Só que ela não tinha preparo para defender o Reino. E para piorar ela era casada com um homem que a nobreza de modo em geral odiava. Assim tudo terminou em ruínas. Os cristãos foram derrotados, expulsos das terras onde viveu Jesus em um passado remoto e nunca mais reconquistaram a tão cobiçada cidade de Jerusalém. A tomada da cidade, de certa maneira, marcou o fim das cruzadas que tantas mortes e destruição havia causado naquele povo sofrido. 

Pablo Aluísio. 

Louis IX

Louis, o Rei que se Tornou Santo
A capital do Maranhão, São Luís, tem esse nome por causa desse Rei francês que virou santo! Louis IX (Luís IX em nossa língua portuguesa) viveu entre os anos de 1214 a 1270. Era filho do Rei Louis VIII e seu reinado ficou conhecido por ser um período de extrema justiça no Reino francês. Considerado um homem justo e honrado, esse monarca franco, da linhagem que vinha desde Clóvis, fundador de sua dinastia, foi adorado por seu povo, por causa de seu senso de justiça e honestidade.

Também foi um período de extrema turbulência no Reino da França. Na época Luís precisou entrar em guerra contra o Rei inglês Henry III. Ele queria restaurar uma antiga monarquia franca, mas esbarrou nas pretensões territoriais dos ingleses. Internamente fortaleceu os órgãos de julgamento. Em seu tempo o Rei era considerado absolutista, ou seja, tinha todos os poderes em suas mãos. O Rei administrava o Reino (Poder Executivo), criava as leis (Poder Legislativo) e as aplicava nos casos que lhes eram submetidos (Poder Judiciário). Louis IX logo percebeu que ao ter para si o poder de vida ou morte sobre seus súditos tinha acima de tudo que prezar pela justiça nos casos que eram levados até ele. Historiadores afirmam que ele criou a "presunção de inocência", ou seja, todos eram considerados inocentes até que se fosse provado o contrário.

Também procurou se aproximar do povo. Ao invés de reinar como um Rei distante e isolado em seu castelo, Louis IX descia até os povoados, se misturava entre os camponeses e ouvia seus pedidos, suas preces e reivindicações. Essa proximidade com a classe dos plebeus lhe valeu grande prestígio pessoal. Outro aspecto que ficou muito conhecido de sua personalidade era sua profunda religiosidade. Devoto da fé católica, Louis IX procurou moralizar o Reino, combatendo as heresias, a prostituição e os jogos de azar, que levavam os pais de família à ruína. Também procurou se aproximar dos judeus que viviam na França, incentivando eles a se tornarem novos cristãos, aceitando a palavra de Jesus em seus corações.

Durante quatro anos de sua vida se dedicou a organizar a Sétima Cruzada. Foi algo que custou muito ao Rei. Ele ficou gravemente ferido quando estava no norte da África e quase morreu por causa dos rigores dos campos de guerra. Essa primeira cruzada não foi tão bem sucedida como ele esperava, por isso após uma sangrenta luta nas areias do deserto do Egito, ele retornou a Paris. Não demorou muito e uma nova cruzada, a oitava da história, foi organizada. Nessa presenciou a morte de um de seus filhos, João Tristão. Mesmo tendo tomado Cartago seu exército foi atingido por inúmeras doenças do norte africano, como peste negra, escorbuto e disenteria. O rei morreu em 25 de agosto de 1270, muito provavelmente vitimado pela terrível peste negra que iria dizimar grande parte da Europa nos anos seguintes. Muitos anos depois de sua morte foi eleito como o símbolo máximo da monarquia francesa, sendo canonizado pelo Papa Bonifácio III.

Pablo Aluísio. 

sábado, 20 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 5

"I've Lost You" é uma das boas músicas do disco "That´s The Way It Is". Essa famosa dupla britânica de compositores, Ken Howard e Alain Blaikley, foi uma das mais populares durante os anos 60 e 70, tendo escrito temas para grandes astros da época como The Honeycomb e Peter Frampton. Quando escreveram "I've Lost You" eles jamais pensariam que Elvis gravaria uma versão dessa canção muitos anos depois. Aliás a música chegou nas mãos de Elvis meio por acaso, quando um engenheiro de som a tocou de forma acidental durante as gravações em Nashville. Elvis se interessou e pediu que ele a tocasse novamente. O que aconteceu depois não é nenhuma novidade. A música virou título do primeiro single de Elvis composto com músicas desta trilha. A versão do disco foi gravada ao vivo e a que saiu em compacto é gravada em estúdio. A melhor sem dúvida é a do disco pois conta com a energia da plateia, o que dá um sabor especial à canção. A versão de estúdio foi gravada no dia 4 de Junho de 1970 em Nashville a a versão ao vivo foi gravada em Las Vegas no dia 11 de Agosto. 

Por essa época Elvis havia decidido deixar de lado as canções românticas mais voltadas para o público juvenil, afinal de contas ele próprio já não era mais um adolescente e nem um ídolo jovem. Ele estava amadurecido, assim como seus fãs. Os tempos eram outros. Quando gravou essa música Elvis já tinha seus próprios problemas em seu casamento. Foi justamente nessa segunda temporada de 1970 que surgiram os primeiros conflitos sérios com sua esposa Priscilla. Elvis havia se firmado em Las Vegas e essa cidade, como todos sabemos, é conhecida como a "cidade do pecado" nos Estados Unidos. Elvis proibiu Priscilla e as demais esposas de ficarem em Vegas durante as temporadas. Elas poderiam comparecer apenas nas noites de abertura e de encerramento. Fora isso, durante os concertos, deveriam ir embora. "Nada de esposas em Vegas" - decretou o cantor. Obviamente Priscilla soube depois que Elvis a estava traindo sistematicamente com várias mulheres enquanto realizava seus shows na cidade. O casamento começou a ruir justamente por isso e Elvis certamente foi percebendo que começava a perder sua esposa. O tema assim da letra se ajustava perfeitamente com o que ele estava passando em sua vida privada. Elvis só não sabia ainda que seu rompimento conjugal seria tão devastador e traumatizante como foi. O destino de seu casamento porém já estava traçado.

Algumas baladas cantadas por Elvis Presley em sua carreira foram bem injustiçadas. "Just Pretend" está nessa lista, talvez em primeiro lugar. São gravações belíssimas, mas igualmente ignoradas pelo grande público. Não fizeram o devido sucesso na época de seu lançamento e tampouco foram trabalhadas da forma que mereciam por Elvis. Um dos maiores exemplos vem de "Just Pretend". A canção nunca ganhou maior espaço dentro da carreira do cantor. Gravada durante a Nashville Marathon, em junho de 1970, em uma noite particularmente muito produtiva por parte de Elvis, a bela composição foi desaparecendo com os anos, sendo injustamente esquecida. Como bem sabemos Elvis era um artista extremamente produtivo. Basta apenas darmos uma olhada na grande quantidade de canções que ele gravou em sua longa carreira. Com tanto material novo invadindo o mercado de uma só vez não haveria como evitar que certas injustiças fossem cometidas. Uma delas foi, como escrevi, "Just Pretend". 

Essa música é uma das mais bonitas gravadas por Elvis. Com vocalização sóbria e pleno domínio durante as gravações, Elvis legou para a posteridade uma de suas melhores baladas românticas, daquelas que ainda merecem ser redescobertas. Usada timidamente tanto no filme como na trilha sonora, "Just Pretend" merece novas e atentas audições! Com melodia e letra acima da média, a canção que fala sobre reconciliação e reencontro, encontrou eco nos corações mais sensíveis. Ela guarda várias semelhanças de arranjo com outro momento precioso desse disco, "Bridge Over Troubled Water". Não poderia ser diferente pois ambas foram gravadas quase no mesmo dia e local, uma no dia 05 de junho de 1970 a outra um dia depois no mesmo estúdio, em Nashville. Nessa semana realmente Elvis estava extremamente inspirado para cantar belas e ternas canções de amor acompanhadas de belíssimos arranjos de teclados. O veredito final não poderia ser diferente pois essa é uma balada romântica sensível que foi injustamente subestimada na época, não tendo alcançado a devida repercussão que merecia. De qualquer forma nunca é tarde para se reparar uma injustiça.

Pablo Aluísio.

The Beatles - With The Beatles - Parte 5

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. 

John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco. E demonstrava que os Beatles conheciam muito da música norte-americana. Liverpool e seu porto eram pioneiros na chegada dos discos vindos dos Estados Unidos, por isso os jovens da cidade conheciam muito bem todos esses grupos negros que para o resto da Inglaterra eram bem desconhecidos. 

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr. Mais uma prova que os Beatles conheciam demais as músicas populares do outro lado do oceano, na terra do Tio Sam. 

De certa maneira "Till There Was You" tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta nos Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

O Sinal

Título no Brasil: O Sinal
Título Original: Das Signal
Ano de Lançamento: 2024
País: Alemanha
Estúdio: Netflix
Direção: Sebastian Hilger, Philipp Leinemann
Roteiro: Florian David Fitz, Nadine Gottmann
Elenco: Peri Baumeister, Florian David Fitz, Hadi Khanjanpour

Sinopse:
Uma astronauta, em missão na estação orbital internacional, intercepta sem querer um estranho sinal enviado do espaço profundo, no que parece ser uma tentativa de comunicação vinda de alguma civilização alienígena distante, das profundezas do cosmos. E agora ela tentará sobreviver, resguardando esse segredo mais do que precioso. 

Comentários: 
Começa bem, fica ruim lá pela metade e termina de forma bem inteligente. Eu poderia resumir assim essa minissérie de 4 episódios que está disponível para os assinantes da Netflix. Como era uma produção alemã eu já esperava por algo mais áspero, realista, pé no chão. Por isso nem me preocupei em ver um monte de ETs desfilando pela tela. Isso não iria acontecer e se você curte esse tipo de coisa já saiba de antemão que não vai rolar mesmo. Nenhuma criaturinha verde e cabeçuda vai aparecer. Já para quem aprecia uma coisa mais racional, baseada em ciência, vai acabar tendo um bom final para ver, inclusive com o uso narrativo da boa e velha Voyager. Não é surpresa total porque essa ideia já foi usada em um dos filmes de Jornada nas Estrelas no cinema. Então eu apenas achei OK. E isso é tudo o que posso dizer sem estragar o final. De qualquer forma quase desisti nos episódios do meio, pois a coisa toda fica bem chata mesmo. Só melhora no final de tudo. Pena que depois fica aquele sentimento de solidão cósmica, de que estamos mesmo sozinhos no universo. É a maior solidão que a raça humana poderá sentir em toda a sua existência falha. 

Pablo Aluísio.

The Rookie - Primeira Temporada

Título no Brasil: The Rookie - Primeira Temporada
Título Original: The Rookie
Ano de Lançamento: 2018
País: Estados Unidos
Estúdio: ABC
Direção: Liz Friedlander, Adam Davidson
Roteiro: Alexi Hawley, Fredrick Kotto
Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones

Sinopse:
John Nolan (Nathan Fillion) é um sujeito normal, vivendo em Los Angeles, que decide mudar radicalmente de vida, entrando para a academia de polícia da cidade, mesmo já tendo passado da idade certa para isso. Nessa primeira temporada acompanhamos seus primeiros dias como patrulheiro nas ruas de L.A.

Comentários:
Depois de um tempão terminei de assistir os 20 episódios dessa primeira temporada da série. É feijão com arroz, bem quadradinha mesmo. Série policial das mais convencionais, o que no Brasil é chamado de "enlatado americano". Tudo gira em torno desse policial novato. Outras séries já foram feitas em cima desse tema, como a bem melhor "Rookie Blue", só que aqui o diferencial é que o tal novato tem 45 anos de idade! E fica por aí mesmo. Os demais personagens são meras peças no desenrolar das histórias. Nenhum deles é minimamente desenvolvido. Os episódios são bem independentes entre si, por isso não é necessário seguir episódio por episódio para acompanhar. Como eu disse, é tudo bem convencional e quadradinho. O canal ABC é especialista mesmo nessas séries genéricas. De qualquer forma ainda vale a pena como passatempo descompromissado e ligeiro, para assistir enquanto se come um lanche ao estilo fast-food. Aliás essa série é puro fast-food e nada mais. Não tem grandes pretensões artísticas e nem foi produzida visando nada nesse sentido. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Não Tenho Troco

Título no Brasil: Não Tenho Troco
Título Original: Quick Change
Ano de Lançamento: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Howard Franklin, Bill Murray
Roteiro: Jay Cronley, Howard Franklin
Elenco: Bill Murray, Geena Davis, Randy Quaid, Jason Roberts

Sinopse:
Três vigaristas, ladrões de bancos, conseguem pegar o dinheiro roubado de uma agência da cidade, mas se enrolam completamente para conseguir fugir da cidade, que parece não ter fim e nem saída para sua tão almejada fuga! E para piorar ainda mais a situação, os policiais estão seguindo as pistas para colocar todos eles atrás das grades! 

Comentários:
Com o sucesso de "Os Caça-Fantasmas" o ator e comediante Bill Murray ganhou cacife suficiente para estrelar seus próprios filmes. Esse foi um deles, lançado bem na onda do grande sucesso comercial do filme anterior. É até uma boa comédia, com bons momentos e chegou a ser um sucesso comercial nas locadoras de vídeo, embora no cinema não tenha ido bem de bilheteria. Um fato curioso aconteceu nas filmagens, quando Murray se recusou a se vestir de palhaço. O estúdio teve que ameaçar um processo milionário contra ele para finalmente vestir o figurino e usar a maquiagem de circo para fazer as cenas. Virou um tipo de piada e depois os próprios produtores resolveram sacanear ele ainda mais, usando sua imagem de palhaço no poster do filme! Nunca mais ele iria reclamar desse tipo de coisa, até porque nunca fez muito sentido. Todos os comediantes e atores que vivem do humor são herdeiros da tradição circense, onde o palhaço sempre foi um dos maiores ícones. Então o Bill Murray tinha mesmo que baixar a bola e parar de fazer palhaçada no set... no bom sentido, claro! 

Pablo Aluísio.

Um Morto Muito Louco

Título no Brasil: Um Morto Muito Louco
Título Original: Weekend at Bernie's
Ano de Lançamento: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Ted Kotcheff
Roteiro: Robert Klane
Elenco: Andrew McCarthy, Jonathan Silverman, Terry Kiser

Sinopse:
Dois jovens sem noção nenhuma da vida decidem levar o corpo de seu patrão, morto algumas horas antes, em uma bizarra aventura nas praias da Flórida. Eles querem curtir o fim de semana, mesmo que para isso precisem levar o presunto junto! E eles não estão sós, pois passam a ser perseguidos por homens realmente perigosos! 

Comentários:
Esse tem sido o filme mais falado no Brasil nesses últimos dias. E a razão não deixa de ser bizarra pois uma vigarista levou um homem morto até uma agência bancária no Rio para tirar um empréstimo no nome dele! Inacreditável, a sordidez humana realmente não tem limites! Deixando isso de lado e voltando ao filme, bom, o que temos aqui é uma comédia bem sem noção dos anos 1980 (só poderia ter sido produzida naquela década mesmo, vamos convir!). Pois bem, eu nunca achei uma comédia muito engraçada, até porque se trata de um daqueles roteiros que se apoiam em apenas uma piada que se repete o filme inteiro. Isso é bem cansativo. De qualquer forma o humor negro se destaca, pois a situação é bem bizarra realmente. E quem poderia imaginar que um dia isso iria acontecer mesmo no mundo real? Na época eu me lembro de ter ficado admirado e surpreso do ator Andrew McCarthy ter feito esse filme, logo ele, o mais mauricinho de sua geração! Sua carreira estava parando, então ele tinha mesmo que aceitar qualquer coisa. E para surpresa de muitos essa estranha e esquisita comédia acabou virando um "clássico" da Sessão da Tarde em nosso país! Tem coisas que só acontecem no Brasil...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Anna Karenina

Título no Brasil: Anna Karenina
Título Original: Anna Karenina
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Bernard Rose
Roteiro: Bernard Rose
Elenco: Sophie Marceau, Alfred Molina, Sean Bean, James Fox, Mia Kirshner, Danny Huston

Sinopse:
Na aristocrática e luxuosa sociedade russa dos tempos dos czares, a jovem Anna Karenina (Sophie Marceau) se casa com um homem mais velho e rico e acaba se apaixonando mesmo por um conde de sua idade, o que a coloca em rota de colisão entre seus sentimentos e o comportamento moral que se espera de uma mulher de sua posição. 

Comentários:
Mais uma versão para o cinema para o eterno livro escrito por Liev Tolstói. Esse é, ao meu ver, um estudo literário sobre traição e as pequenas e grandes hipocrisias que existem na chamada classe alta, a elite da aristocracia, que tem dinheiro, status e poder, mas não tem princípios morais fortificados ou algo parecido com isso. Nessa versão eu destacaria a presença e o trabalho da bela atriz francesa Sophie Marceau. Sempre achei ela realmente ótima, além de ser linda, com aqueles olhos de oceano. E ela contou com um elenco de bons atores dando suporte para sua interpretação inspirada. A produção é novamente classe A. Não há como filmar essa história sem ter uma ótima produção por trás. Aliás recriar a sociedade russa de séculos no passado sempre exigiu muito em termos de produção, figurinos, cenários e direção de arte. Então sempre teremos filmes de fina elegância para assistir. Isso, por si só, já faz valer a pena qualquer versão desse romance para cinéfilos de bom gosto. 

Pablo Aluísio.

Mórbido Amor

Título no Brasil: Mórbido Amor
Título Original: Dead Girl
Ano de Lançamento: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Cinetel Films
Direção: Adam Coleman Howard
Roteiro: Adam Coleman Howard
Elenco: Anne Parillaud, Adam Coleman Howard, Val Kilmer, Famke Janssen, Amanda Plummer, Emily Lloyd
 
Sinopse:
Um ator fracassado decide declara seu amor para uma jovem e bela garota, mas essa o rejeita sem pensar duas vezes. O tempo passa e ele descobre que seu amor platônico faleceu. Tomado por sua estranha obsessão, ele decide roubar o corpo de sua jovem amada e começa a sofrer alucinações, como se ela ainda estivesse viva!

Comentários:
Pela sinopse já dá para perceber que é um filme muito estranho. Tão estranho que sequer conseguiu espaço nos cinemas americanos na época. Só foi lançado em vídeo (tal como aconteceu no Brasil também). É um filme de complicada definição. Horrorizados, alguns poderiam catalogar esse filme no gênero terror, mas não é bem isso. Penso que é mais um drama emocional psicótico, pois o protagonista tem claros problemas de saúde mental. Aliás esse tipo de situação macabra, acredite, não é tão incomum como se pode pensar em um primeiro momento. Há casos registrados, inclusive em nosso país. Enfim, um filme complicado, complexo e bizarro. Tem quem aprecie esse tipo de produção. Não foi bem o meu caso quando o assisti ainda nos anos 90. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Bravura Indômita

O tempo passa, o tempo voa. Já faz 10 anos que esse excelente western chegou aos cinemas. Muitos disseram em seu lançamento que não passava de um remake do clássico filme com John Wayne. O papel de Rooster Cogburn deu ao veterano ator seu único Oscar. Hoje em dia, revisando o filme, já penso um pouco diferente dessa visão simplista. Sim, temos basicamente a mesma história do filme de John Wayne, afinal ambos os filmes beberam da mesma fonte, a novela de western escrita por Charles Portis. Porém resumir tudo numa frase, dizendo que o filme foi apenas um remake, soa simplista demais. O filme é mais do que isso, até porque temos aqui uma dupla de diretores que não costumam assinar filmes banais.

O grande diferencial veio mesmo dos irmãos Coen. Tudo bem, eu até concordo que no caso desse filme eles foram menos, digamos, autorais. Entretanto a marca do cinema desses irmãos, talentosos cineastas, está em cada cena. O filme de John Wayne tinha um viés mais cômico. Os irmãos Coen enxugaram bastante nesse aspecto, optando por um realismo mais presente. Ponto positivo para eles. Além disso temos que elogiar o trabalho do ator Jeff Bridges. Ele poderia apenas fazer uma paródia da atuação de John Wayne, mas optou por não ir por esse caminho errado. O personagem em sua interpretação tem estilo próprio, personalidade própria. O saldo final é mais do que positivo. Esse é um belo filme de western dos tempos modernos. Peça de colecionador.

Bravura Indômita (True Grit, Estados Unidos, 2010) Direção: Ethan Coen, Joel Coen / Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen / Elenco: Jeff Bridges, Matt Damon, Hailee Steinfeld / Sinopse: Uma jovem adolescente contrata os serviços de um veterano homem do velho oeste para localizar os assassinos de seu pai. Filme indicado ao Oscar em 10 categorias.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Maciste: O Gladiador de Esparta

Maciste é um dos heróis mais populares do cinema italiano. Desde a era do cinema mudo ele é comercializado pelos produtores daquele país. Curiosamente são tantos filmes com Maciste que ele deixou até mesmo de ser apenas um herói da era romana para virar estrela de faroestes (onde chegou a enfrentar Zorro) e até caçador de vampiros (onde encontrou Drácula pessoalmente e lhe deu uma tremenda surra!). Também foi usado pelo fascismo, virando soldado em filmes propaganda da II Guerra, onde ele literalmente saia na porrada contra as tropas americanas. Enfim, Maciste e cinema popular italiano são praticamente a mesma coisa. Aqui nessa produção ele volta às origens e vira um gladiador espartano em Roma. Gozando da amizade do Imperador (que não é identificado mas tem pinta de ser o nosso conhecido Nero), Maciste vive de festas e orgias no palácio imperial. Isso muda quando ele se enamora de uma jovem cristã. Em pouco tempo se torna adepto da nova religião e começa a ser perseguido pelas tropas do imperador.

Nem é preciso dizer que historicamente o filme é uma piada. Maciste é um gladiador e escravo mas transita na corte do imperador numa boa. Bate papo com ele e até conta umas piadas. Isso obviamente seria impossível na Roma histórica. Como se trata de um filme popularesco, feito para o povão italiano, há muitas cenas de brigas e lutas. Algumas são absurdas como a que Maciste trava contra um gorila africano (na realidade um cara numa fantasia de macaco nada convincente). Maciste não só lhe dá uma surra como ainda tira onda. Ele também enfrente uma legião inteira de romanos e os coloca para correr. O ator que faz Maciste é o americano (filho de italianos) Mark Forest. Ele é inexpressivo como ator mas bastante forte para o papel (até porque no fundo a Plebe italiana não ia ao cinema ver ele declamar Shakespeare). O roteiro de Maciste é uma piada mas curiosamente sua produção é muito boa. Ótimos figurinos, cenários bem feitos e imagem de qualidade. Nesse aspecto eu me surpreendi! Mas enfim... vale pela curiosidade de conhecer um dos mais queridos personagens populares da italianada. Agora traga a macarronada amore...

Maciste - O Gladiador de Esparta (Maciste, gladiatore di Sparta, Itália, 1964) / Direção de Mario Caiano / Roteiro de Mario Amendola, Mario Amendola / Com Mark Forest, Marilù Tolo e Elisabetta Fanti / Sinopse: O gladiador espartano Maciste goza da amizade e confiança de César. Seu destino porém mudará drasticamente após conhecer os integrantes de uma nova seita religiosa chamada cristãos.

Pablo Aluísio.

Crônicas do Futebol - Edição XI

Crônicas do Futebol - Bayern Leverkusen
Depois de onze campeonatos alemães consecutivos vencidos pelo Bayern de Munique tivemos ontem enfim uma novidade. O Bayern Leverkusen quebrou essa hegemonia, se tornando o campeão da liga alemã de futebol (a Bundesliga). O time esse ano jogou com um uniforme que lembrava os cavaleiros templários com uma grande cruz vermelha no peito! Para eles, realmente, levantar essa taça foi mesmo uma verdadeira cruzada! Estão de parabéns pela conquista! 

Eu sempre gostei do campeonato alemão, mas tinha que dar o braço a torcer para os críticos. Parecia que havia apenas um único campeão, ano após ano, e esse era o Bayern de Munique. Esse tipo de situação destrói qualquer competividade esportiva. Assim ver um time diferente quebrando essa soberania é mais do que bem-vindo para o futebol da Alemanha. Essa situação acontece em razão da interferência estatal dentro do campeonato. Na Alemanha o time que se torna campeão recebe uma bolada milionária do governo, então é natural que vencendo a Bundesliga, o Bayern de Munique fosse ficando cada vez mais rico e poderoso com o passar dos anos. Multiplique isso por onze e você entenderá porque só esse time levantou a taça na última década. É um ciclo vicioso e penso que a Federação Alemã de Futebol deveria repensar esse tipo de estrutura viciada que no final da linha destrói um dos pilares do futebol, que é justamente a competividade. 

E no Brasil nesse final de semana também tivemos o início do campeonato brasileiro. E aí já sabemos o que esperar. Eu confesso que nunca gostei de um campeonato que dura quase o ano inteiro e nem de um campeonato de pontos corridos. Eu gostava muito dos jogos decisivos, do mata-mata. Eu sei que pontos corridos é mais justo, mas futebol não é para se levar tão á sério assim. Futebol é acima de tudo diversão e nesse caso se deve priorizar a emoção. Aquele esquema de quartas de final, semifinal e final é imbatível nesse quesito. Campeonato de pontos corridos realmente não tem muita graça e é bem chatinho.

De qualquer forma, foi uma rodada sem maiores surpresas no fim de semana. O Corinthians arrancou um suado zero a zero com o Atlético-MG. Eu sou corintiano, mas reconheço que esse time não vai para lugar nenhum. Vai lutar para não cair. O Vasco por sua vez fez uma bela homenagem ao Roberto Dinamite que iria completar 70 anos de idade se ainda fosse vivo. Bacana. E o Palmeiras, venceu mais uma. É o franco favorito ao título. Tem organização, dinheiro e estrutura, três coisas que a maioria dos times brasileiros não possui. Será que o time verde e branco de São Paulo vai virar o nosso Bayern de Munique? Espero sinceramente que não...

Pablo Aluísio. 

domingo, 14 de abril de 2024

O Último Magnata

Título no Brasil: O Último Magnata
Título Original: The Last Tycoon
Ano de Lançamento: 1976
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Elia Kazan
Roteiro: F. Scott Fitzgerald, Harold Pinter
Elenco: Robert De Niro, Anjelica Huston, Theresa Russell, Jack Nicholson, Donald Pleasence, Robert Mitchum, Tony Curtis, John Carradine

Sinopse:
Baseado no romance escrito por F. Scott Fitzgerald, o filme "O Último Magnata" conta a história de um famoso e poderoso produtor de cinema em Hollywood durante a década de 1930. Ele tenciona transformar dois jovens atores em grandes astros, ao mesmo tempo em que disputa o controle de um dos grandes estúdios de Hollywood. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de arte. 

Comentários:
Hollywood olha para si mesma, para seu passado e tenta entender o que se perdeu com o passar dos anos. Assim eu vejo esse filme que foi muito elogiado na época de seu lançamento original, embora não tenha feito boa bilheteria. Atribuo isso a um fato até relativamente fácil de compreender. Para realmente apreciar esse filme o espectador tem que ter uma boa base de conhecimentos históricos sobre o passado da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Por aí já se tira que nem todo muito possui esse tipo de conhecimento e muitos nem sequer vão ter interesse em conhecer. Por isso esse é um filme de nicho, para cinéfilos mesmo. De bom temos uma boa reconstituição histórica e como não poderia deixar de ser, mais uma bela interpretação de Robert De Niro. A direção ficou com o mestre Elia Kazan. Nome mais indicado para contar esse tipo de história não havia. Pena que ele já estava bastante envelhecido quando dirigiu o filme. Já estava se despedindo do cinema, então seus melhores dias já pertenciam ao passado. Enfim faltou, em meu ponto de vista, mais glamour da velha Hollywood. Esse clima de elegância e luxo parece mesmo que se perdeu nas areias do tempo. 

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de abril de 2024

A Rede Antissocial

A Rede Antissocial
O Brasil e o mundo passam por um momento complicado. E parte dessa instabilidade das democracias surgiu depois que as redes sociais se mostraram um campo fértil para as fakes news, as teorias da conspiração e a desinformação com viés político. Esse fenômeno está muito bem explicado, desde as origens, nesse excelente documentário. E tudo começou lá atrás, nos anos 1990, com a chegada da internet nos lares de milhões de pessoas mundo afora. Nesse primeiro momento, como mostrado no filme, jovens se reuniram em fóruns, sendo o mais popular o 4chan. Nem preciso dizer que foi uma revolução e tanto na comunicação. Esses jovens pioneiros usavam esses fóruns como palco de muito humor e amizade. A moçada trocava ideias sobre cultura pop, música, cinema, etc. Era um ambiente saudável, feito para fazer amizades, tanto que foi onde nasceu os conhecidos memes. 

O tempo foi passando, as pessoas foram entendendo que as redes sociais poderiam servir como uma arma, inclusive de fanatismo político e aí chegou-se no ponto em que estamos agora. As redes sociais se tornaram tóxicas ao extremo. O lugar ideal para a proliferação de pensamentos e mentalidades extremistas. O ápice é mostrado no documentário, quando as pessoas invadiram o congresso americano, quebrando tudo. Um jovem jornalista foi para o meio da multidão perguntar a razão daquele tumulto. Cada pessoa tinha uma teoria da conspiração própria e diferente para justificar. Isso mostrava muito bem o poder de fanatização das redes sociais e seu efeito no meio político, principalmente. E aqui no Brasil aconteceu a mesma coisa na praça dos 3 poderes. A internet sendo usada como gatilho psicológico para a manipulação das massas, muitas vezes incultas, sem senso crítico e nem bom senso. 

E então se chega na questão da regulamentação das redes. Até que ponto isso pode se tornar censura? Eu sou da opinião de que essa é uma questão complicada. Regra geral sou contra todo tipo de censura e regulamentação mais forte, entretanto ao mesmo tempo, admito que há um problema sério mesmo a ser enfrentado. Essas técnicas de lavagem cerebral que são usadas nessas fake news é algo criminoso mesmo e precisa ser estudado a fundo, principalmente quando atinge pessoas idosas que não sabem lidar direito com a internet, acreditando que tudo o que leem nas fakes é verdade. De qualquer forma esse documentário e seu retrospecto histórico é precioso. Mostra todo o desenvolvimento do extremismo e do fanatismo na internet. E isso tudo não deixa de ser também bem assustador. 

A Rede Antissocial: Dos Memes ao Caos (The Antisocial Network, Estados Unidos, 2024) Direção: Giorgio Angelini, Arthur Jones / Roteiro: Giorgio Angelini, Arthur Jones / Elenco: Gregg Housh, Aubrey Cottle, Jeremy Hammond, Fredrick Brennan / Sinopse: Documentário que mostra como as redes sociais, que foram inicialmente criadas como fóruns de amizade e diversão, se tornaram altamente tóxicas e terreno fértil para o extremismo e o fanatismo político violento. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

O Astronauta

O Astronauta
O filme conta a história do astronauta Jakub Prochazka (Adam Sandler). Ele está viajando solitário rumo a um evento cósmico, uma nuvem de poeira e gás próximo ao planeta Júpiter. Sua intenção é pesquisar o complexo fenômeno. Ao chegar próximo do seu destino, ele vai se dando conta que há algo errado com sua esposa, que não se comunica mais com ele, nem manda respostas às suas tentativas de comunicação. Na realidade ela quer a separação. O pior de tudo porém acontece quando o astronauta descobre que há uma estranha criatura dentro de sua nave. Um ser que parece querer respostas sobre as próprias escolhas daquele frágil humano. 

Pois é, muita gente não gostou desse filme. Eu vou no sentido contrário à maioria. Eu gostei. É tudo uma questão de perspectiva. As pessoas estavam esperando por outro tipo de filme. Acredito que estavam esperando por uma aventura no espaço ou algo assim e acabaram encontrando um drama existencial daqueles bem pesados. Eu gostei da proposta desse roteiro. Certamente há elementos aqui que bebem de diversas fontes de filmes do passado, em particular de Solaris e 2001, mas obviamente sem a qualidade dessas obras. Diria que o filme segue nessa mesma linha, mas com um viés mais pop, mais palatável para o público de hoje em dia. E isso fica bem claro no final do filme. E olha que acabou funcionando bem.

E qual é o sentido desse filme? O interessante é que apesar de parecer ser um filme sobre uma viagem no espaço exterior, esse roteiro na verdade é uma viagem ao espaço interior do protagonista. A tal criatura que surge na nave é no fundo apenas um reflexo de seus próprios pensamentos, de sua consciência pesada pela forma errada como conduziu seu relacionamento com a esposa, que agora quer partir. Um dualismo narrativo dos mais interessantes. Nesse ponto de vista tudo parece estar em seu local adequado. Assisti ao filme com interesse e em nenhum momento me aborreci ou algo parecido. Penso que foi um passo certo de todos os envolvidos. Só não vá pensar que se trata de um outro tipo de filme. Esse é um drama introspectivo sobre relacionamentos fracassados e nada mais. 

O Astronauta (Spaceman, Estados Unidos, 2024) Direção: Johan Renck / Roteiro: Jaroslav Kalfar, Colby Day / Elenco: Adam Sandler, Carey Mulligan, Paul Dano / Sinopse: O filme conta a história de um astronauta, em uma missão próxima a Júpiter, que precisa entender como seu relacionamento com a esposa está chegando a um melancólico final. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Sete Dias Com Marilyn

Gostei bastante do filme. A Michelle Williams está sobrenatural na pele de Marilyn Monroe. Sabe eu tinha receios que sua interpretação fosse cair no exagero ou no clichê mas isso não acontece. Ela captou muito bem a verdadeira Norma Jean. Complexa, de convivência turbulenta, fora de controle, terna e ao mesmo tempo irresponsável, dada a impulsos fora de hora. O ator Kenneth Branagh defende seu Sir Laurence Olivier com dignidade mas achei fraca sua interpretação. O Laurence era um sujeito de presença até mesmo intimidadora mas firme - no filme Branagh se limita a dar chiliques em cena, gritando com todos ao redor, algo impensável para o classudo ator original. Dois personagens centrais foram negligenciados no roteiro ao meu ver: Arthur Miller e Vivien Leigh. Miller é uma sombra, mal aparece, mal fala. Vivien Leigh também está quase sumida, me recordo agora de apenas duas cenas com ela - certamente os fãs de "E O Vento Levou" vão reclamar.

Mas nada disso tira os grandes méritos do filme. No fundo é a reconstituição totalmente curiosa do que aconteceu com aquele rapaz, Collin Clark (Eddie Redmayne), um mero terceiro assistente de direção, que acabou tirando a sorte grande ao se tornar próximo da estrela no set de filmagens. Michelle Williams captou perfeitamente a persona do mito: um quê de delicada, doce mas ao mesmo tempo totalmente imprevisível e incontrolável. Eu me senti recordando do que vi da atriz real em "Os últimos dias de Marilyn Monroe". Ela era assim na vida real, quase uma garotinha, sem muita noção das coisas que aconteciam ao redor ou do que ela representava na época (considerada a mulher mais famosa do mundo). Enfim, eu mais do que recomendo. A Michelle Williams na minha opinião foi mais sutil do que a Meryl Streep e merece levar o Oscar; A delicadeza de sua interpretação faz toda a diferença do mundo! Happy Birthday Mr President!

Sete Dias Com Marilyn (My Week With Marilyn, Estados Unidos, 2012) Direção: Simon Curtis / Roteiro: Adrian Hodges baseado no livro de Colin Clark / Elenco: Michelle Williams, Kenneth Branagh, Eddie Redmayne, Julia Ormond / Sinopse: Marilyn Monroe (Michelle Williams) chega à Inglaterra para filmar seu novo filme, "O Principe Encantado" com Laurence Olivier (Kenneth Branagh). As filmagens logo se tornam tensas por causa dos constantes atrasos e problemas da famosa atriz americana.

Pablo Aluísio.

Half Nelson

Professor do chamado High School (equivalente ao ensino médio no Brasil) dá aula numa escola pública de Nova Iorque cuja maioria dos alunos é negra. Além dos problemas com uma antiga namorada que está prestes a se casar ele tem que lidar com seu vício em drogas. Quando descobre o crack começa a ter problemas até para se concentrar nas aulas. A partir daí sua vida entra em parafuso. Assisti esse Half Nelson sem maiores expectativas, para falar a verdade pensei que fosse apenas mais um filme clichê do tipo "Ao Mestre com Carinho" mas estava completamente enganado. Half Nelson é um soco no estômago, um tapa na cara da sociedade que ainda não conseguiu entender o tamanho do problema das drogas em todos os setores sociais. O filme bem demonstra isso. Na sala de aula o problema já começa com o mestre, que adora cocaína e quase sempre chega em classe chapado. Os jovens alunos estão com a criminalidade em suas portas, muitos deles inclusive sendo aliciados de forma ostensiva por traficantes locais. Caberia a escola mostrar o caminho correto para essa juventude mas como fazer isso se até o professor usa crack no banheiro feminino do colégio?!

Ryan Gosling está se firmando rapidamente como um dos melhores talentos jovens do cinema americano. Seu papel aqui lhe cai como uma luva. Seu olhar perdido, meio abestalhado, noiado, é totalmente adequado ao personagem do professor chapadão. Além disso ele está perfeito nas cenas de abuso de drogas. A mais marcante acontece no final quando ele encontra sua aluna numa festa de junkies. Seu olhar de fracasso completo é um dos grandes momentos do filme. Enfim, "Half Nelson" é excelente, atual e lida de forma muito consciente com o avanço das drogas pesadas como o crack dentro da sociedade. Pelo andar da carruagem caminhamos rapidamente para isso - quebra total das regras sociais, dos valores morais e avanço indiscriminado da nova e poderosa droga! Será que um dia resolveremos esse problema?!

Half Nelson (Idem, Estados Unidos, 2006) / Direção: Ryan Fleck / Roteiro: Ryan Fleck, Anna Boden / Trilha Sonora: Broken Social Scene / Elenco: Ryan Gosling, Anthony Mackie, Karen Chilton, Nathan Corbett, Nicole Vicius, Tristan Wilds, Christopher Williamson / Sinopse: Professor do chamado High School (equivalente ao ensino médio no Brasil) dá aula numa escola pública de Nova Iorque cuja maioria dos alunos é negra. Além dos problemas com uma antiga namorada que está prestes a se casar ele tem que lidar com seu vício em drogas. Quando descobre o crack começa a ter problemas até para se concentrar nas aulas. A partir daí sua vida entra em parafuso

Pablo Aluísio.