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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - His Hand in Mine

Embora eu não seja evangélico (e nem pretendo ser algum dia) devo confessar que ouvir Elvis Presley cantando música gospel é uma daquelas coisas que realmente fazem valer a pena viver. De todos os álbuns do cantor nesse estilo esse aqui é certamente o meu preferido. "His Hand in Mine" capturou a voz de Elvis em um momento muito inspirado. Quando o disco foi gravado Elvis estava encerrando as atividades em seu ano de retorno (1960), quando ele voltou do exército e firmou-se novamente na carreira. Era uma fase muito bem sucedida, onde sua voz alcançou uma ternura ímpar em toda a sua discografia.

Todos os discos por essa época, sem exceção, traziam esse mesmo estilo vocal de Elvis. Ele parecia declamar as palavras de uma forma muito cuidadosa, caprichosa, com requinte e elegância. Sua fase poderosa só viria bem mais tarde, nos anos 70 e seu lado mais roqueiro e juvenil havia ficado para trás, na década anterior. Assim Elvis soava mais romântico e suave do que nunca. De todas os seus estilos de interpretação esse sempre foi um dos meus preferidos. O álbum também trazia em sua seleção musical lindas melodias, com excelentes arranjos, tudo feito para relaxarmos nossas mentes depois de um dia de stress. Afinal o mundo das artes existe justamente para isso mesmo, para alimentar (e aliviar) nosso ser interior.

Curiosamente em um disco que tenho em tão alto critério, a faixa título sempre me soou um pouco suntuosa além do razoável. De forma até inconsciente criei uma certa implicância com o trecho inicial vocal cantado pelos Jordanaires. Pode parecer uma bobagem, mas essa introdução sempre me pareceu ser até mesmo um tanto quanto fantasmagórica! Depois, felizmente "His Hand In Mine" cresce e se transforma em um lindo "duelo" entre a maravilhosa voz de Elvis e um piano, soando suas notas musicais como se fossem delicados pingos de chuva caindo na grama! Essa linda canção inclusive poderia até mesmo ter sido aproveitada por Elvis nos concertos dos anos 70, mas infelizmente parece que ele a esqueceu (de forma bem injusta).

Depois dela vem a canção "I'm Gonna Walk Dem Golden Stairs". Esse já é um "Gospel de altar" como essas composições mais agitadas eram chamadas no sul dos Estados Unidos. Era aquele tipo de hino feito para que toda a comunidade cantasse junta, batendo palmas, dentro das igrejinhas. O lado emocional, de êxtase, sempre foi muito importante nos cultos protestantes. Já "In My Father's House" soa mais intimista. A letra, bem evocativa, soa como uma oração. O destaque vem para o solo vocal de um dos membros dos Jordanaires. Elvis era um cantor muito generoso, sempre abrindo espaço em seus discos para seus músicos de apoio.

"Milky White Way" sempre foi uma das minhas preferidas do álbum. Que bela melodia, leve, alto astral, enfim, feliz! Isso mesmo, esse é aquele tipo de gravação que traz um sentimento de felicidade a quem ouve. Se não fosse uma música com letra religiosa poderia fazer parte de qualquer disco de Elvis dos anos 50. Em tempos tão sombrios como esses que vivemos nada melhor do que ouvir uma faixa como essa, para levantar o bom humor e astral. Nada poderia ser melhor. A canção a seguir, "Known Only To Him", é outro hino. Esse tipo de música era geralmente rotulada nas lojas de discos da época como Spiritual Song. Os grandes nomes desse estilo eram membros de igrejas negras espalhadas por todo o sul. Havia uma certa melancolia em suas letras, impulsionadas pelos problemas que enfrentavam: a pobreza, a falta de perspectivas, o racismo e tudo mais. Embasado tudo vinha a fé, para manter as comunidades centradas e coesas.

O disco segue. "I Believe In The Man In The Sky" começa também como hino, mas depois surge uma melodia das mais agradáveis. Esse tipo de som, ao contrário da faixa anterior, era mais associada aos cantores gospel de domingos, que se apresentavam em programas de rádio em cidades como Memphis e Tupelo (onde Presley forjou e recebeu todo o seu aprendizado cultural musical). Tão bem gravada ficou que a RCA Victor a reutilizou depois como um single. "Joshua Fit The Battle" por outro lado, vinha para desfazer dúvidas. Se o ouvinte ainda tinha questionamentos sobre o fato de que o Gospel foi um dos ritmos musicais que deram origem ao Rock nos anos 50 basta ouvir essa faixa para que tudo fique bem claro. Ray Charles costumava dizer que a única diferença entre o Rock original e o Gospel era o teor religioso de suas letras, algo que ele provou com "I Got a Woman". Pois é, basta pensar em uma letra profana nessa faixa que você terá um rock clássico, sem tirar e nem colocar nada.

"He Knows Just What I Need" vem então para acalmar mais os ânimos. É uma balada muito cadenciada, onde apenas sinto falta do piano, que sempre foi tão importante em todas as demais gravações desse álbum. Para compensar isso Elvis e os Jordanaires dão um verdadeiro baile em termos de riqueza vocal. Eles eram sobrenaturais nesse aspecto, não adianta negar. Nunca ouvi nada parecido em todo a minha vida. Saber que músicas assim era gravadas praticamente "ao vivo" dentro dos estúdios, sem nenhum truque nos serve para mostrar o quanto Elvis e seus vocalistas eram talentosos. A seguir vem "Swing Down, Sweet Chariot", outra grande preferida de minha parte. Tão boa é essa canção que Elvis voltaria a gravá-la muitos anos depois para a trilha sonora do filme "The Trouble With Girls". Embora ambas sejam ótimas, ainda prefiro essa, com Elvis mais uma vez arrasando nos microfones. Sem querer soar pedante, Elvis foi sim um dos maiores cantores de todos os tempos. Quando ele tinha material de qualidade pela frente simplesmente arrasava.

Esse álbum tem uma característica interessante. Sempre uma canção mais agitada é sucedida por uma mais leve, calma, relaxante. Assim confirmam os primeiros acordes de "Mansion Over The Hilltop". O piano retorna, criando mais uma pequena obra prima. Esse arranjo, Elvis, Jordanaires e piano sempre me soou belíssimo e diria mais, arrebatador. Muito inspirador. A letra religiosa realmente nos faz sentirmos na maior das mansões, em um céu idealizado. O tom inspirativo desce mais um degrau com "If We Never Meet Again". Outra canção mais reflexiva, introspectiva. Aqui há praticamente um diálogo entre criador e criatura. Elvis, é bom frisar, tinha uma grande espiritualidade que explodia justamente em gravações como essa. Outro excelente momento do disco. Por fim, fechando esse trabalho maravilhoso de sua carreira surge então a última música do LP. "Working On The Building" é uma despedida em tom de apoteose, com um lindo arranjo de violões e até mesmo banjo. Essa canção sempre me faz ter a sensação de que todos estão em um picnic após os cultos de domingos. Um momento para socializar com amigos e parentes da comunidade. Um final mais do que feliz para um álbum que o próprio Elvis considerava ser "um trabalho de amor" feito em memória de sua mãe, Gladys, falecida alguns anos antes. Certamente ela teria ficado orgulhosa de um trabalho tão belo como esse.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - Sinatra's Sinatra

Gosto muito desses discos antigos, com jeito e capa de LPs dos anos 1960. Esse "Sinatra's Sinatra" foi lançado nos Estados Unidos pelo selo Reprise e só trazia a nata do repertório do cantor, que diga-se de passagem, estava deixando de ser apenas um artista para ser também um empresário de sucesso no ramo musical. E isso lembra um fato curioso. Sinatra não gostava muito de coletâneas quando era apenas um cantor contratado. Ele achava que isso resumia em demasia a qualidade de um verdadeiro intérprete, mas mudou de opinião quando ele próprio virou seu próprio agente, produtor e dono de selo musical. Como sabemos essa velha e bem antiga fórmula de "maiores sucessos" sempre vendeu muito bem. Sinatra sabia muito bem disso já que não era bobo nem nada, por isso logo estava usando da velha artimanha de marketing para melhorar o lucro de sua empresa. Esqueceu o que havia dito antes como mero artista e caiu no jogo do mundo dos negócios. Afinal a Reprise tinha que dar o lucro esperado por seus investidores.

A seleção é das melhores. As gravações são de alto nível - absurdo nível, diria, e conta com a maravilhosa dobradinha Sinatra e Nelson Riddle, cujo nome foi colocado na capa, em destaque, pelo próprio Frank Sinatra. Um reconhecimento muito sincero por parte dele. É aquele tipo de álbum que você gostará da primeira à última faixa. Também o que dizer de uma abertura com o clássico "I've Got You Under My Skin"? Achou pouco? Logo em seguinda temos a premiada "In the Wee Small Hours of the Morning" do imortal disco do cantor de 1955, um dos melhores trabalhos realizados por ele na Capitol Records em toda sua carreira. Uma das faixas, "Call Me Irresponsible", ficaria maravilhosa anos depois na voz de Dean Martin, até por causa da personalidade dele, mas a de Sinatra também não fica muito atrás em nenhum aspecto. Um primor! Assim só posso deixar a recomendação. Esse disco tenho há muitos anos, ainda na era do vinil, e é uma das preciosidades que não consigo me desfazer. Já criei inclusive vínculo emocional com ele, impossível jogar fora para substituir por um mero CD. Elegância, charme e bom gosto reunidos em 12 excepcionais registros. Realmente um álbum de classe.

Frank Sinatra - Sinatra's Sinatra (1964)

Lado A:
1. I've Got You Under My Skin  
2. In the Wee Small Hours of the Morning  
3. The Second Time Around  
4. Nancy  
5. Witchcraft  
6. Young at Heart  

Lado B:
1. All the Way  
2. (How Little It Matters) How Little We Know  
3. Pocketful of Miracles  
4. Oh! What It Seemed to Be  
5. Call Me Irresponsible  
6. Put Your Dreams Away 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Johnny Cash

Ele nunca foi um galã conquistador como Elvis Presley, nem um grande guitarrista como Chuck Berry. Desde o começo de sua carreira Cash descobriu que trilharia seu próprio caminho, muitas vezes fora de qualquer categoria musical que a imprensa quisesse que fizesse parte. Ele foi literalmente o homem comum, o "Working Man" que conseguiu vencer no mundo da música.

Antes de se definir como um músico ele tentou vários meios de vida. Foi vendedor de porta em porta, operário de fábrica, militar de baixa patente e o que mais lhe aparecesse pela frente. O importante era sobreviver. E foi atrás de um meio de sobrevivência que Cash bateu às portas da famosa gravadora Sun Records em Memphis em busca de alguma oportunidade de ganhar dinheiro com sua música, quem sabe! Afinal a propaganda da Sun era clara: "Gravamos qualquer coisa, a qualquer hora".

O começo foi complicado. Sam Phillips viu potencial em Cash mas ele soava muito duro, muito rústico. Essa rudeza em seu som nos anos que viriam seria seu grande diferencial. Percebendo que ficaria no mínimo patético cantando musiquinhas de amor para adolescentes, Cash resolveu abraçar o lado mais barra pesada da vida. Cantou sobre os prisioneiros (os reais, não os de cinema como em "Jailhouse Rock" de Elvis) e sobre as traições, desilusões e fracassos da vida do homem comum, como ele próprio se considerava.

Chegou a ser acusado de ser um "falso cantor de rock" após abraçar sem receios a música country e com ela seguir caminho até o fim de seus dias. Na verdade nem ligou para o que diziam. O fato é que Johnny Cash odiava rótulos. Ele jamais gravaria algo apenas para satisfazer o que as pessoas desejavam dele. Cash era autêntico demais para fazer pose e por essa razão cantava a América dos marginalizados, dos desesperados e dos miseráveis. Cantava apenas aquilo que queria, sem fazer nenhum tipo de concessão para produtores e nem gravadoras.

Ao longo da carreira acabou formando um público muito fiel que sempre ficou ao seu lado mesmo no período mais complicado de sua vida quando afundou no mundo das drogas pesadas. Só não morreu como Elvis porque foi salvo pelo amor que sentia por aquela que foi sua musa, sua diva e grande amiga e esposa, June Carter.

No final da vida finalmente encontrou algum tipo de paz. Reverenciado como um dos grandes nomes da história da música americana resolveu levar uma vida pacata em seu rancho em Madison, Tennessee. Acordava cedo, lá pelas seis da manhã e fazia longas caminhadas até uma pequena cabana onde ficava horas lendo seus livros preferidos, inclusive romances e a Bíblia. Cash não se sentia bem em ambientes luxuosos demais. Preferia uma casa de madeira, com as botas meladas de lama. Era sua forma de ser mais uma vez uma pessoa honesta consigo mesmo, relembrando suas raízes humildes. Também criou gosto pela jardinagem. Quem diria, o homem de preto passou seus últimos dias como um típico americano do interior, feliz por suas conquistas e saudoso de seu passado. Nada mais do que merecido.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - If Every Day Like Christmas

Embora tenha lançado algumas poucas músicas realmente relevantes em 1966 o fato é que Elvis estava em um momento ruim da carreira por essa época. Seus filmes eram severamente criticados pelos críticos de cinema e as trilhas sonoras vendiam cada vez menos a cada ano. Até a crítica musical que antes ainda se importava em criticar as músicas dos filmes, começou a ignorar seus álbuns com músicas de filmes. Afinal para que se importar se o material soava igual todos os anos? Como Elvis afinal era visto em 1966? Basicamente como um cantor que havia sido essencial no surgimento do rock ´n´ roll na década anterior, mas que estava totalmente perdido na carreira, sem rumo, fazendo filmes adolescentes para um público que nem sequer existia mais.

Afinal de contas os produtores não entenderam que os fãs de Elvis não eram mais os adolescentes dos anos 50, pois o tempo havia passado, eles tinham se casado, eram pais de famílias com mais de 30 anos e não iriam gastar seu suado dinheiro com aquele tipo de material. E os jovens dos anos 60, os verdadeiros adolescentes, seguiam outros ídolos de sua idade e não Elvis que já era considerado um astro de uma outra geração. Assim Elvis foi morrendo artisticamente. Ele perdeu o compasso com seus antigos admiradores. Seus antigos fãs ignoravam seus discos novos e a juventude simplesmente o achava um astro de Hollywood ao velho estilo, em musicais pouco interessantes para eles! Uma situação nada boa para um talento como Elvis Presley. O caminho era virar adulto também na carreira musical, mas infelizmente isso iria demorar ainda um pouco a acontecer.

No meio dessa situação de estagnação artística que tinha se transformado sua outrora gloriosa carreira musical, chegou nas lojas, muito timidamente, sem publicidade alguma, esse single natalino. Para os que ainda insistiam em seguir Elvis (verdadeiros heróis da resistência pois a maioria dos fãs tinham ido embora), o compacto trazia uma novidade e tanto, uma canção inédita de Elvis. Sim, era de natal, o que afastava uma parte do público que achava esse tipo de música ultrapassada, mas era algo novo - e não uma centésima reedição das canções natalinas de 1957. A RCA, desesperada pelas baixas vendas dos produtos com Elvis, resolveu que seria uma boa ideia ele gravar algo para o natal. Quem sabe não faria algum sucesso...

A música era uma composição muito bonita do amigo e guarda-costas de Elvis, Red West. A faixa havia sido gravada em junho, em Nashville, e contava com a maravilhosa participação do grupo vocal The Imperials Quartet, que iria ser extremamente importante na carreira de Elvis nos anos 70. O single não chegou a ser um fenômeno de vendas, passou muito longe de se destacar nas paradas, mas satisfez as expectativas da gravadora. Pelo menos não foi um fracasso comercial completo, como vinha acontecendo com regularidade nos lançamentos de Elvis ultimamente. No ano seguinte ainda seria reeditado, mostrando que havia ali uma centelha de força comercial ainda brilhando na cambaleante carreira musical do agora considerado ex-Rei do Rock Elvis Presley.

If Every Day Was Like Christmas
I hear the bells / Saying christmas is near / They ring out to tell the world / That this is the season of cheer / I hear a choir / Singing sweetly somewhere / And a glow fills my heart / I'm at peace with the world / As the sound of their singing fills the air / Oh why can't every day be like christmas / Why can't that feeling go on endlessly / For if everyday could be just like christmas / What a wonderful world this would be / I hear a child / Telling santa what to bring / And the smile upon his tiny face / Is worth more to me than anything.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Surrender / Lonely Man

Logo no começo de 1961 a RCA Victor lançou no mercado o novo single de Elvis Presley. Era um compacto com "Surrender" no lado A e "Lonely Man" no lado B. Esse single é bem curioso porque ambas as canções eram de certa forma símbolos da nova fase da carreira de Elvis. "Surrender" era claramente uma tentativa de repetir o sucesso comercial de "It´s Now Or Never" do ano anterior. Uma outra adaptação de uma música italiana, dessa vez da conhecida música napolitana "Torna a Surriento" de autoria de Giambattista e Ernesto de Curtis. Além disso era uma canção do começo do século XX (1902) tal como "Are You Lonesome Tonight?", o hit anterior de Elvis. Afinal se havia dado tão certo com "O Sole Mio" poderia dar certo novamente aqui. E deu.

A canção, embora não tivesse chegado ao mesmo nível de sucesso de "It´s Now or Never", conseguiu se destacar muito bem nas paradas, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos. A gravação foi complicada para Elvis. A nota final exigia uma maturidade e poder vocal que intrigou o cantor. Mesmo assim ele topou o desafio. Vários takes foram produzidos apenas para essa parte final e depois de várias tentativas a escolhida por Elvis foi unida a um outro take da canção dando origem a versão oficial que conhecemos. A canção foi produzida durante as sessões de gravação do álbum religioso "His Hand In Mine" visando justamente seu lançamento em single logo no começo de 1961. Elvis ficou particularmente satisfeito com a performance, tanto que chegou a comentar com amigos que "Surrender" tinha de fato sido um desafio para ele dentro dos estúdios. Era até de certa forma uma homenagem a um de seus grandes ídolos no mundo da música, Mario Lanza. 

Já "Lonely Man" era do novo filme de Elvis que ainda nem chegara nas salas de cinema. O drama "Wild In The Country" (Coração Rebelde) prometia ser mais um passo de Elvis em direção a uma carreira de ator sério em Hollywood. Novamente rodado na Fox a película era mais uma tentativa de Elvis em emplacar na capital do cinema. Um dos destaques, além de seu belo acompanhamento instrumental era a própria letra, bem evocativa e sincera. Mesmo tendo suas qualidades infelizmente acabou sendo ignorada. Assim os fãs tinham que se contentar com um fato que era mais do que claro: Elvis se distanciava cada vez mais de seu antigo estilo musical, o bravo Rock ´n´ Roll.

Embora esse single se tornasse o quarto consecutivo a chegar ao primeiro lugar na parada Billboard as pessoas começaram a se perguntar quando Elvis finalmente lançaria um novo rock nas lojas. Seu romantismo era apreciado e até mesmo seus filmes eram prestigiados por essa época por seus fãs mas as baladas românticas começavam a tomar um espaço excessivo dentro dos lançamentos do outrora aclamado "Rei do Rock"! Essa situação meio embaraçosa levou o Los Angeles Times a pela primeira vez perguntar em uma reportagem se Elvis ainda poderia ser chamado de Rei do Rock, afinal o antes selvagem e barulhento ritmo que tanto fama lhe trouxe parecia ter sumido de seus lançamentos recentes. O tempo mostraria que não era bem assim mas o questionamento ainda seria feito muitas e muitas vezes nos anos que viriam, criando uma consciência nas pessoas de que Elvis havia abandonado o estilo musical que o tinha transformado no astro musical número 1 da América.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Elton John - Honky Château

Recentemente adquiri esse álbum de 1972 do Elton John. É um disco muito agradável de se ouvir, principalmente pelo fato de que ele escolheu um repertório que é justamente isso, proporcionando uma audição bem agradável aos ouvidos. Elton John também amenizou os arranjos de metais, deixando as canções com aquela sensação de leveza. As harmonias das músicas se inspiram claramente no estilo Honky-Tonk, muito popular nos bares e estabelecimentos comerciais mais populares, principalmente no sul dos Estados Unidos. Foi uma escolha acertada.

A primeira faixa do disco, a animada "Honky Cat" já mostra a que veio. Aliás ela daria nome ao disco como um todo e Elton John só mudou de ideia sobre isso no último momento, poucos dias antes da prensagem das primeiras cópias. O produtor Gus Dudgeon o convenceu que um nome mais estiloso ficaria melhor. Assim Elton John surgiu com esse título "Honky Château", algo como o castelo do  Honky-Tonk. Ficou bom, bem melhor do que o primeiro título que seria usado.

A segunda faixa do disco é uma balada, a boa "Mellow". Há quem implique com o refrão usado à exaustão. Bom, digamos que o bom e velho Elton sabia muito bem que um refrão pegajoso, que grudasse na mente do ouvinte já na primeira audição seria um potencial hit nas paradas. É uma bela música, gosto dela. A única coisa que envelheceu bastante foi o órgão que sola na segunda parte da canção. É um tipo de instrumento que evoca ao passado, não sendo muito utilizado em discos após os anos 70. De qualquer forma e música já havia sido salva pelo piano tocado por Elton John. Não há muito o que reclamar sobre isso. Não sejamos tão chatos!

Não é segredo para ninguém que o grande hit desse disco, o grande sucesso que fez o álbum vender milhões de cópias na época de seu lançamento original foi a canção "Rocket Man" Não é para menos. Essa balada é até hoje considerada uma das obras primas da carreira de Elton John. É o mais curioso de tudo é que sua letra é muito diferente do que ele estava acostumado a escrever na época. Esse tipo de tema era mais associado a artistas como David Bowie.

A letra contava as agruras e sentimentos de um astronauta que tinha de ir para o espaço, para cumprir mais uma missão enquanto deixava as pessoas amadas na Terra. Isso ficava bem claro em versos como: "Eu sinto tanta falta da Terra / Eu sinto saudades da minha esposa / É tão solitário no espaço / Em um vôo tão eterno". Naqueles tempos, em plenos anos 70, ainda se pensava que em poucos anos o homem iria fazer viagens a outros planetas com uma certa facilidade e regularidade. 50 anos depois e ainda estamos na Lua, ou melhor dizendo, nem na Lua, pois faz décadas que o homem não pisa por lá novamente.

Outra balada que gosto desse disco é "Salvation" que abria o lado B do vinil original. Existem aqueles que consideram o refrão cheio de clichês musicais, algo banal. Pode até ser, mas é impossível negar que mesmo sendo algo meio batido, ainda funcionava muito bem. A dobradinha de arranjos usando apenas instrumentos tradicionais de uma banda de rock e um bonito coro ao fundo completam a sonoridade agradável, acima de tudo. Aliás uma das melhores decisões de Elton John nesse disco foi deixar tudo mais clean, sem exageros desnecessários.

 "I Think I'm Gonna Kill Myself" é uma das faixas que mais lembram o verdadeiro estilo Honk-Tonk. Por isso ela se parece muito com aquelas antigas músicas do começo do século XX, mais precisamente da década de 1920. Aqui Elton John caprichou mesmo, embora seu refrão em coro no meio da faixa seja algo bem anos 1970. Assim Elton John acabou unindo duas décadas do século XX em apenas uma canção. Ficou excelente.

"Susie (Dramas)" é uma boa música. Sua sonoridade é um pouco fora do comum. Começa praticamente como uma súplica, então vai subindo o tom conforme a canção avança. Nesses álbuns dessa época o Elton John valoriza bastante também os arranjos da bateria. Claro, o piano sempre estaria em primeiro plano, mas isso não significava que ele não valorizasse os efeitos de percussão. A guitarra também surge em bonito solo. Uma boa canção do disco, mas em minha opinião não está entre as melhores.

"Slave" em inglês significa "escravo". Aqui Elton John compôs uma bela balada, toda arranjada tal como foi composta, com um bonito violão de doze cordas se destacando. O Elton também acrescentou efeitos de Slide-Guitar. A intenção dele assim se tornou bem clara e óbvia. Ele quis aqui cantar e tocar uma balada country ao velho estilo, ao estilo de Nashville. Ficou bonita, sem dúvida. O ouvinte até se pega imaginando estar andando naquelas estradas do sul dos Estados Unidos, nas antigas plantações de algodão onde havia, em um passado nem tanto distante assim, escravos trabalhando de sol a sol. Tempos de escravidão, tempos de vergonha.

Outra canção com nome de garota, "Amy" é um Honkey Tonkey mais nervosinho. Começa com acordes de balada, mas vai acelerando aos poucos, coisas de Elton John. Depois tudo explode no refrão. Os arranjos são interessantes, com destaque para o longo e bonito solo de guitarra. É um lado B do disco. Não fez sucesso, nem se destacou na época em nenhuma parada, porém inegavelmente é uma boa faixa desse álbum. Elton John em grande forma.

"Mona Lisas and Mad Hatters" é muito conhecida. Basta os primeiros acordes tocaram para lembrar dela. Não digo que seja um "Golden Hit" da carreira do Elton John, mas inegavelmente é bem conhecida. Tanto isso é verdade que quando coloquei o disco para tocar a primeira vez me lembrei imediatamente dessa faixa e isso sendo um conhecedor pouco aprofundado da discografia do Elton John. Ouvi a música e me lembrei na hora. Acredito que quem viveu os anos 70 vai lembrar dessa melodia.

E como acontece em praticamente todas as gravações desse disco, tudo é executado com um grande bom gosto. Elton John ao piano sempre foi um presente aos ouvintes de bom gosto. E para melhorar ainda mais a bela melodia ele colocou uns instrumentos clássicos ao fundo. Penso que há até mesmo a presença de uma Balalaica (ou balalaika, como dizem alguns), tradicional instrumento da música folclórica russa. Coisa de mestre. Ficou bela a canção.

"Hercules" é a música que fecha o álbum. Som agradável, melodia idem. Tem uma bonita introdução de violão (bem tocado, é claro), bem ao estilo do country and western de Nashville. Se tem uma coisa boa que Elton John fez nesse disco foi simplificar os arranjos. E outra coisa que merece aplausos foi esse vocal de apoio, muito bom, lembrando velhas músicas dos anos 50. Muito nostálgico, muito bom. É uma faixa para cima que fecha o LP original de maneira perfeita. Muito bom momento de Elton John e sua banda. Nota 10 mesmo, sem favor algum.

O disco "Honky Château" chegou nas lojas do mundo em 19 de maio de 1972. Foi sucesso imediato. O conjunto das músicas havia sido gravado em Château d'Hérouville, Hérouville, França, em janeiro daquele mesmo ano. Elton John sempre priorizou viver bem e trabalhar em lugares agradáveis também. Está certo. Os trabalhos foram produzidos por Gus Dudgeon, mas obviamente o prórpio Elton John comandou o show, embora ele pedisse que seu nome fosse retirado dos créditos na produção. Sujeito modesto e muito talentoso esse Elton John.

Pablo Aluísio.

David Bowie - Blackstar

Esse é o último CD do cantor David Bowie. Eu confesso, logo de cara, que nunca fui seu fã. Obviamente sempre respeitei sua importância para o mundo da música, porém não era realmente o tipo de som que tocava em minha lista de preferidos. Talvez minhas reservas em relação a Bowie nem tenha muito a ver com sua música, mas com sua imagem. Aqui estou escrevendo apenas como um ouvinte comum, uma pessoa normal que tem seus gostos pessoais, como qualquer outra. Gostar de um cantor, uma banda ou um artista, tem muito a ver com empatia. Os próprios produtores e executivos do meio musical sabem muito bem disso. Por essa razão também as imagens dos músicos geralmente são minuciosamente trabalhadas, justamente para criar empatia com o maior número possível de pessoas, gerando a partir daí o tão esperado sucesso.

Pois bem, eu nunca consegui criar empatia com David Bowie. Sempre achei sua figura muito excessiva, diria até estrambólica demais da conta (pelo menos em minha forma de pensar). Seu estilo completamente kitsch me afastou de sua música. Eu nunca embarquei em coisas como Ziggy Stardust - até achava original e bem criativo, porém ficava aquela sensação de algo muito parecido com o cinema trash de ficção (esse sim do qual gostava realmente). Suas roupas estranhas, seu cabelo cor de laranja, tudo conspirava para que eu não fosse atrás de Bowie como artista, nunca comprasse seus álbuns ou fosse em busca de seu trabalho para ouvir com maior atenção. É uma questão de puro gosto pessoal e não existe nada de errado nisso. Bowie realmente não era a minha praia.

Dito isso devo dizer que esse seu último álbum me agradou. Bowie, já na beira da morte, procurou se livrar de todos os excessos, de todas as perucas, roupas espaciais, androginia, saltos altos, etc. Aqui ele se mostrou da forma mais simples e honesta possível e talvez por essa razão eu tenha finalmente gostado de seu trabalho. De certa maneira isso já havia acontecido antes, em especial com o cantor Cazuza. Na beira da mortalidade, sob pressão psicológica total, esse tipo de artista parece retomar a sobriedade, tentando dar o melhor de si antes do momento final. Uma das coisas mais curiosas é que nesse último adeus, Bowie procurou pelo mais tradicional, pelo bom e velho jazz.

Um cantor que se notabilizou toda a vida por destruir velhos padrões sonoros e de comportamento acabou abraçando o conservadorismo musical em seu último momento. Como eu disse, a partir do momento que se chega na hora da verdade, muitos se transformam e no caso de Bowie essa transformação foi para melhor. Os dias de Ziggy Stardust também tinham ficado para trás definitivamente e isso fez muito bem a Bowie. Assim esse último CD me fez parar para uma reavaliação. Não vou aqui mentir dizendo que começarei a gostar de seus discos anteriores, isso não tem volta. Eles estão no passado e se depender da minha vontade ficarão lá para sempre. Porém uma coisa é certa, "Blackstar" sempre terá um espaço na minha coleção de CDs, tanto pelo fato de ser o último suspiro de Bowie como principalmente por ser um belo trabalho musical. Esse realmente vale a pena.

David Bowie - Blackstar (2015)
Blackstar
Tis a Pity She Was a Whore
Lazarus
Sue (Or in a Season of Crime)
Girl Loves Me
Dollar Days
I Can’t Give Everything Away

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Stevie Wonder - Send One Your Love

Um dos clássicos do repertório de Stevie Wonder. A canção lançada em single em 1979 conseguiu chegar ao primeiro (e cobiçado) primeiro lugar da disputada parada Billboard Hot 100. Aqui Wonder mostra que finalmente tinha conseguido chegar na fórmula certa para emplacar nas principais paradas americanas e não apenas naquelas mais categorizadas como Soul (na qual sempre reinou).

Nessa época o artista ainda fazia parte da gravadora Motown, aquele selo mitológico tão importante para a música negra dos Estados Unidos. Curiosamente a gravadora tratava seus artistas com mão de ferro mas Wonder conseguiu impor suas decisões, tanto que aqui surge como produtor também, algo que seria impensável nos primeiros anos da Motown, sempre controlando excessivamente todas as gravações a ponto de alguns astros deixarem o selo por se sentirem literalmente sufocados pela ditadura de Berry Gordy.

O que temos aqui é uma balada muito agradável, com ótimo acompanhamento instrumental. A música depois seria inserida no belo álbum "The Secret Life of Plants", até hoje considerado um dos momentos mais inspirados da carreira do cantor e compositor. No lado B para amenizar os custos de produção, Gordy resolveu colocar a mesma canção, só que apenas instrumental. Isso é curioso porque os colecionadores de vinil sabem bem como isso era comum, até mesmo em outros artistas. Uma pena pois o Lado B com músicas inéditas nos singles eram bem mais saborosos, tanto que daria origem a uma expressão que significava justamente isso, belas canções pouco conhecidas. Aqui não temos um lado B nesse estilo mas o single certamente é maravilhoso. Item para colecionador sem a menor sombra de dúvida.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Jimmie Rodgers - Secretly

A primeira vez que esse single caiu em minhas mãos eu ainda era um jovem colegial bem interessado em materiais históricos do rock americano da virada dos anos 1950 para 1960. Havia uma garota no meu colégio que também curtia muito esse tipo de "arqueologia musical" e assim estávamos sempre trocando figurinhas e conhecimento sobre esse assunto entre as aulas, nos intervalos - e isso em uma época (anos 80) em que sequer existia a internet.

Eu já naquele tempo curtia muito o som melódico do Jimmie Rodgers. Sua geração era muito malhada pela crítica porque ele e todos os cantores que surgirem nesses anos suavizaram bastante o rock e por isso foram tachados de açucarados, cantores teens e coisas semelhantes.

É óbvio que esse tipo de pensamento também era um preconceito (um conceito criado antes de observar bem a música em si). Hoje em dia eu vejo toda essa geração do rock "sugar" americano de uma maneira bem mais amena, diria até simpática. Muitos deles foram chamados de "Mini-Elvis", porque naquela virada de década, dos 50´s para os 60´s, Elvis era apenas um recruta na Alemanha cumprindo seu serviço militar. Assim um vácuo foi aberto com sua saída dos Estados Unidos e muitos jovens com topetes vistosos procuraram seguir os passos do garoto de Memphis.

Paul Anka, Neil Sedaka, até Frankie Avalon, nadaram nessas mesmas ondas. O Rodgers é menos conhecido, o que é uma tremenda pena pois adoro seu rock mais sentimental, cheio de paixão e arranjos que são até hoje o suprassumo da sonoridade do fim dos anos 1950 e começo dos anos 1960. Essa canção "Secretaly" é seu maior sucesso no Brasil pois fez parte da trilha sonora internacional da novela "Estúpido Cupido", um grande sucesso de audiência da TV brasileira.

Aliás outro fato bem curioso é que Jimmie Rodgers cruzaria com Elvis nos estúdios da RCA Victor de Nashvillie, um encontro de duas gerações que se encontravam de forma inesperada. Segundo Priscilla o próprio Elvis tinha receios de ser trocado pela juventude justamente por ídolos mais jovens como Rodgers. Um velho trauma que ele carregou por anos. Mas enfim, essa é uma outra história... Por enquanto deixo aqui a dica de Jimmie Rodgers e seus amores adolescentes... Uma ótima nostalgia dos tempos em que os namoros eram bem mais inocentes e sentimentais, românticos e belos... uma era de ouro do romantismo ao estilo rocker americano.

Pablo Aluísio.

The Doors - Love Her Madly

Quando os Doors terminaram as gravações do álbum "L.A. Woman" eles enviaram as fitas para a Elektra Records. Os executivos da gravadora iriam escolher as canções que viriam a ser trabalhadas nas rádios, além das que seriam escolhidas para fazer parte dos singles (que eram os compactos simples, sempre trazendo a chamada "música de trabalho" para divulgar todo o álbum). "Love Her Madly" foi uma das escolhidas. O próprio Jim Morrison ficou muito surpreso com isso pois achava a canção a mais simples do disco. Em um trabalho tão cheio de blues e músicas mais enraizadas e profundas, era mesmo de se admirar que a simpática, mas nada complexa, "Love Her Madly" seria lançada em single para divulgar o resto do disco.

Jim obviamente deu de ombros. Ele já tinha comprado sua passagem para Paris onde pretendia escrever um novo livro de poemas. Ao seu lado viajaria sua eterna namorada Pam. Só uma coisa deixava Jim feliz: o fato da canção ser do guitarrista Robbie Krieger. Ele era seu melhor amigo na banda, o que não deixava de ser uma surpresa já que Robbie era um sujeito introvertido, fechado, que não era muito de fazer amizades. Com Jim acabou se dando muito bem. Era o extremo oposto do bateria John Densmore, que vivia brigando com Jim em todas as ocasiões. Ambos se odiavam na verdade. John queria mais profissionalismo por parte de Jim e esse como todos sabemos era um porra louca, típico dos anos 60. Jim sabia que John conspirava para ele ser expulso da banda, bem ao contrário de Robbie com quem tinha amizade verdadeira. Assim sempre que Robbie fosse valorizado (como nesse caso de "Love Her Madly") ele ficaria duplamente satisfeito. Afinal amigos são feitos justamente para esse tipo de situação.

Pablo Aluísio. 

Jim Morrison

Se estivesse vivo o cantor e compositor Jim Morrison estaria completando 70 anos de idade. Falar sobre Jim Morrison em meu caso é simples, familiar até. Descobri o The Doors há muitos anos quando ouvi pela primeira vez "L.A. Woman" em uma festa. Não demorou nada para ela virar uma das minhas canções preferidas de todos os tempos, sem exagero nenhum. Depois do interesse inicial despertado pela música corri atrás para conhecer melhor sua vida, sua poesia e suas letras. Obviamente já tinha ouvido falar bastante de Morrison desde muito cedo em minha vida mas só depois realmente me interessei por ele a ponto de comprar livros, assistir filmes e completar toda a coleção de sua discografia (ainda na era do vinil quando os discos dos Doors não eram assim tão fáceis de achar). O interessante em relembrar isso é que hoje em dia já não tenho mais interesse em conhecer nenhum grupo ou cantor da atualidade a fundo como antigamente. Mudei pessoalmente ou a música é que virou uma porcaria mesmo?

Pois bem, voltemos. Por volta do início dos anos 90 já tinha tudo do grupo. Do primeiro ao último disco. Ouvir The Doors em minha vida foi tão gratificante quanto ouvir o Pink Floyd. Claro que o Floyd é muito mais rico em termos musicais mas isso não desmerece o grupo de Jim Morrison. Na verdade o diferencial entre esse artista e os demais é que sua biografia é tão interessante, tão rica que ficamos até absorvidos por ela. Afinal quando se é jovem encontrar um ídolo (palavra essa que não uso mais em minha vida) pela frente é algo bem marcante.

O problema de Jim Morrison era que ele ainda era um jovem quando morreu. Imagine morrer aos 27 anos apenas! Quem vê suas últimas fotos vai perceber que Morrison estava parecendo um velho, um sujeito barbado, gordo, inchado aparentando muito mais de 40 anos fácil. A explicação é que ele entrou fundo nas drogas, nas bebidas e nos excessos. Quase não conseguia mais se apresentar ao vivo porque ou estava embriagado ou narcotizado. Mas verdade seja dita, ele não era esse doidão todo apenas pela diversão ou pelo vício. Morrison tinha essa postura de exageros e auto-destruição também por uma questão de ideologia. Ele era fã da frase: "As portas do excesso abrem os pilares do conhecimento". Assim para atravessar para o "outro lado" ele pagou o preço de todos os excessos possíveis e imagináveis. E o preço de uma bad trip dessas era a própria vida!

Hoje em dia já não ouço os Doors como antigamente. A discografia do grupo é relativamente pequena (não chega nem a dez discos oficiais) e assim em pouco tempo você esgota, ouve todos os discos, todas as canções e se cansa mais rapidamente do que o habitual. Passa longe de ser uma obra extensa. Ainda considero o Doors um dos melhores grupos de rock dos anos 60 e Morrison um baita de um cantor. Recentemente vi um famoso jornalista brasileiro na Globo falando que Jim Morrison não era um bom cantor. Discordo completamente, acho que ele era extremamente talentoso. Em entrevistas dizia que um dia queria cantar como Sinatra e Elvis. Não chegou lá, mas fez bonito.

Infelizmente ele entrou de cabeça naquela ideologia que dominava a juventude dos anos 60 e morreu cedo demais. Tudo se resumia em "Viver intensamente e morrer jovem". Era o máximo para os garotos daqueles anos loucos e psicodélicos. Assim como Hendrix e Joplin morreu com apenas 27 anos, se tornando um mito trágico tal como Dionísio que adorava. Quem sabe o que ele faria se tivesse tido a oportunidade de viver mais alguns anos? Morreu cedo e foi enterrado em sua próprio mito. O único consolo é saber que se o mito se foi pelo menos a obra ficou. Descanse em paz Rei Lagarto!

Pablo Aluísio.

Cream - Fresh Cream

O Cream foi um grupo de blues rock inglês da década de 1960 que não durou muito mas influenciou um monte de artistas que vieram após seu surgimento. O conjunto nasceu por acaso. Durante uma carona dada a Eric Clapton o músico Ginger Baker comentou que gostaria de formar uma nova banda pois estava insatisfeito com o grupo que tocava. Isso veio bem de encontro ao que também sentia Eric Clapton. Ele estava no Yardbirds mas não se sentia mais à vontade por lá. Como eles estavam pensando em mudar de ares resolveram apostar na nova ideia, com a formação de um grupo de rock mais livre, sem amarras e compromissos impostos pelas gravadoras. Clapton sugeriu assim a contratação do baixista Jack Bruce e então eles começaram os primeiros ensaios. Estava nascendo o Cream, cujo nome já dizia tudo, pois eles se consideravam a nata, o creme do mundo musical de sua época. No Cream Clapton finalmente teria liberdade para tocar o que bem entendesse, com foco, é claro, no blues mais tradicional que ele adorava. Já Ginger Baker procurava por um som mais ácido, pesado. Dessa combinação de vários estilos nasceu uma sonoridade única que segundo especialistas daria origem tanto ao rock progressivo como ao Heavy Metal dos anos 70. A liberdade de criação do Cream foi o grande diferencial.

Hoje em dia o Cream é considerada uma das superbandas da história do rock mas em seu começo as coisas eram bem diferentes. Quando gravaram esse primeiro disco ainda eram completamente desconhecidos nos Estados Unidos (só depois da gravação foram à América em busca de projeção e sucesso). "I Feel Free", uma canção símbolo dessa fase, não entrou no álbum em sua primeira edição, sendo lançada em separado, como single, para tornar o som da banda mais popular entre os ingleses. Deu certo. Mesmo em uma gravadora pequena eles conseguiram chamar a atenção do público e emplacaram um sexto lugar entre os mais vendidos. A partir daí o Cream decolaria mas infelizmente o grupo implodiria apenas três anos depois, fruto das constantes brigas entre Ginger Baker e Jack Bruce. Clapton que já tinha vivenciado algo parecido com o Yardbirds nem pensou duas vezes, pegou seu boné e foi embora causando o fim do Cream. De qualquer maneira isso não importa pois o registro continua para a eternidade. Cream é um som maravilhoso que não pode ser ignorado por verdadeiros fãs de rock. Se ainda não conhece corra para conhecer!

Cream - Fresh Cream (1966)
I Feel Free
N.S.U. (Non-Specific Urethritis)
Sleepy Time Time
Sweet Wine
Spoonful
Cat's Squirrel
Four Until Late
Rollin' and Tumblin
I'm So Glad
Toad

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Roy Orbison

Muita gente conhece apenas superficialmente Roy Orbison. No Brasil poucos conseguem citar mais de uma canção dele. Na maioria das vezes vem a mente seu grande sucesso "Pretty Woman" e nada mais. Uma pena pois esse texano de Vernon, Texas, foi um grande cantor e compositor americano. Seu estilo era uma perfeita combinação de todos os ritmos que deram origem ao bravo Rock ´n´ Roll em seus anos iniciais, com enfase na country music. Tímido, de estrutura física frágil, o que lhe caia muito bem quando interpretava introspectivas baladas românticas, Roy teve o privilégio de ter sido apontado como o "Melhor cantor do mundo" por ninguém menos do que Elvis Presley! O elogio não era exagerado pois Roy conseguia realmente vivenciar aquilo que estava cantando. Suas interpretações vindas do fundo da alma marcaram época e até hoje emocionam os fãs de seu inconfundível estilo vocal.

Foi certamente uma carreira longa, produtiva e importante. Infelizmente ele se foi muito cedo, com apenas 52 anos, enquanto levava uma vida sossegada em Madison, Tennessee. Era o dia 6 de dezembro de 1988. Para não deixar a data passar em branco resolvemos antecipar essa homenagem para esse ícone da música popular americana (e mundial). Em breve escreverei mais sobre Roy aqui, inclusive comentando seus discos que são em sua maioria excepcionais. Aguarde.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A-ha - Scoundrel Days

Segundo disco do A-ha. O primeiro álbum como todos sabemos fez bastante sucesso mas nada se compararia ao que aconteceria nesse segundo disco. Lançado nos EUA em 1986 o grupo logo estourou novamente nas paradas, abrindo mais portas na América para eles. Não é para menos pois "Scoundrel Days" está cheio de grande sucessos com destaque para a simbólica e nostálgica "Cry Wolf", que até hoje arrepia por seu refrão pegajoso e marcante. Outro ponto que ajudou muito o A-ha por essa época foi o advento da popularidade do canal MTV.

Hoje em dia ela está em baixa por uma série de fatores (inclusive no Brasil está literalmente fechando suas portas) mas na década de 80 a MTV era o canal que todo jovem sintonizava. O A-ha assim surgiu como algo exótico e diferente, afinal os americanos não sabiam (como ainda hoje não sabem) o que era a Noruega ou onde ela ficava no mapa. Só sabiam que era um país muito frio e distante que conquistava as paradas americanas através desse trio de caras de nomes pra lá de esquisitos. Com as portas abertas o grupo aproveitou cada espaço, cada programa na TV americana para ganhar fama e divulgar de quebra sua música. Tanta divulgação surtiu efeitos bem positivos pois esse é seguramente um dos discos do A-ha com o maior número de hits FM da história do grupo.

Todas as faixas são destaques, de uma forma ou outra. A canção título é uma balada muito bem escrita, seguindo a tendência de dar nome ao disco como aconteceu em seu primeiro álbum. Gosto muito dos arranjos inspirados de "October" e "The Swing of Things". O mesmo pode-se dizer da simpática e cativante "Maybe, Maybe" que me lembra e muito o clima descontraído e levemente despretensioso das músicas dos anos 50. A canção mais marcante é certamente "Cry Wolf" mas gostaria de chamar a atenção para a diferente "Manhattan Skyline" que em minha opinião é uma das gravações mais simbólicas do som que se fazia na década de 80. Arranjos, letras, tudo nos remete para aqueles anos. Sinal que o som do A-ha ficou datado? Não diria isso, na verdade é apenas a prova que a música que eles fizeram cativou bastante, mesmo após tantos anos, afinal de contas você só se lembrará daquilo que realmente ficou gravado em sua memória não é mesmo? Maior prova que o A-ha não é uma banda descartável como se diz por ai não há.

A-ha - Scoundrel Days (1986)
Scoundrel Days
The Swing of Things
I've Been Losing You
October
Manhattan Skyline
Cry Wolf
We're Looking for the Whales
The Weight of the Wind
Maybe, Maybe
Soft Rains of April

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Engenheiros do Hawaii - O Papa É Pop

Esse é provavelmente o álbum mais popular do grupo de rock nacional Engenheiros do Hawaii. Esse disco vendeu muito, tocou bastante nas rádios e se tornou um marco da banda. Tem grandes sucessos nessa lista, principalmente a faixa "Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones". Não era uma música original do grupo. Era uma música antiga, dos anos 60. Segundo Augusto Licks, essa faixa foi gravada porque os Engenheiros queriam participar das campanhas eleitorais, tocando nos comícios de Leonel Brizola. E foi justamente isso que aconteceu. A música antiga caiu no gosto do público e virou um hit!

"Pra Ser Sincero" é maravilhosa! Mostra bem como eles eram bons em letras e ritmo. A música título "O Papa é Pop"  foi composta quando o grupo lembrou da visita do Papa João Paulo II no Brasil. Ele tinha se tornado não apenas um símbolo religioso, mas também um ícone pop, plenamente incorporado dentro da cultura pop da época. Uma visão completamente correta. Visão de intelectuais, categoria que se encaixa bem para os membros dessa banda. Enfim, quer conhecer o melhor que o Rock no Brasil produziu? Ouça esse disco.

Engenheiros do Hawaii - O Papa É Pop (1990)
O Exército de um Homem Só I
Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones
O Exército de um Homem Só II
Nunca Mais Poder
Pra Ser Sincero
Olhos Iguais aos Seus
O Papa é Pop
A Violência Travestida Faz Seu Trottoir
Anoiteceu em Porto Alegre
Ilusão de Ótica
Perfeita Simetria

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Duran Duran - Rio

Outro dia lendo uma publicação inglesa vi uma lista que colocava o Duran Duran como um dos mais influentes grupo de rock da Inglaterra! Como é?! Eu sempre me recusei a considerar o Duran Duran uma banda de rock. Em minha opinião esse grupo era uma transição entre o pop mais plástico e uma variação bunda mole de um tipo de rock mais inofensivo (perdão por usar a palavra rock), uma categoria que costumo chamar de rock de FM (quem viveu os anos 1980 e a era de ouro das estações de frequência modulada irá entender de imediato o que estou querendo dizer). 

Além de implicar com o som mela cueca do "Duran Duran" ainda nunca fui com a cara do Simon Le Bon! Na boa, nada tenho contra gays em geral; mas o Le Bon sem dúvida foi o astro pop rock mais gay da música inglesa - nem Boy George e nem muito menos George Michael, símbolos da musicalidade GLS British, conseguiram chegar perto. Também foi o músico mais cara de pau que já vi, usando roupinhas pra lá de bregas, mesmo na época. Coisas de oncinha que entregavam completamente o Le Bon. E ainda chamavam o sujeito de charmoso e elegante! Please... Lixo cultural é isso aí, my friend! Tantas primas donas reunidas em um mesmo grupo só poderia dar mesmo em brigas com luvas de pelica e o Duran Duran logo se implodiria, dando origem a outros grupos, igualmente farofas, mas isso é uma outra história que depois contarei por aqui... 

Título Original: Rio
Artista: Duran Duran
Ano de Produção: 1982
País: Inglaterra
Estúdio / Selo: Capitol / EMI
Produção: Colin Thurston
Formato Original: Vinil
Músicos: Simon Le Bon, Nick Rhodes, John Taylor, Roger Taylor

Faixas: Rio / My Own Way / Lonely In Your Nightmare / Hungry Like the Wolf / Hold Back the Rain / New Religion / Last Chance on the Stairway / Save a Prayer / The Chauffeur.

Pablo Aluísio.

Ray Charles - I Got a Woman

Ray Charles tinha tudo contra si no começo de sua vida. Ele nasceu negro em uma família muito humilde em uma das regiões mais segregadas e racistas dos Estados Unidos. Além disso ficou com problemas na visão muito cedo, se tornando deficiente visual. A questão é que ele também tinha um grande talento musical e isso o salvou completamente da vida cheia de privações e miséria de onde veio. No começo da carreira Ray se virou como podia para arranjar trabalho. Assim ele começou a copiar o estilo de Nat King Cole, afinal cantando daquela forma ele sempre arranjava contratos com as boates da região.

Obviamente Ray Charles tinha seu próprio estilo, único e maravilhoso, mas por questões puramente comerciais deixava isso um pouco de lado. O importante era sobreviver. Depois de uma temporada numa pequena gravadora ele foi finalmente contratado pela conhecida e poderosa Atlantic Records. Foi a grande chance de sua vida. As coisas porém não começaram muito bem pois Charles continuava a seguir os passos de Nat King Cole. Após lançar quatro singles e perceber que nenhum havia feito sucesso ele finalmente tomou coragem para assumir seu próprio estilo em seus discos. Assim levou "I Got a Woman" para gravar. Se fizesse sucesso seria ótimo, caso contrário ele voltaria para o estilo anterior.

"I Got a Woman" estourou nas paradas e levou o nome de Ray Charles pela primeira vez ao topo das paradas. A fórmula era mais do que interessante. A melodia era claramente inspirada na Gospel Music Negra, nos hinos religiosos que Ray conhecia tão bem desde criança. A letra porém não tinha nada a ver com religião, era aliás bem ousada, quase escandalosa naqueles tempos moralistas e conservadores. A fusão entre Gospel e uma letra tão profana deu origem a um novo gênero musical, a Soul Music, a música que vem de dentro, do fundo da alma. Finalmente após tantos anos de luta em busca do sucesso o maravilhoso Ray Charles havia finalmente encontrado seu caminho.

Claro que "I Got a Woman" abriu todas as portas para Ray Charles a partir daí. Desse ponto em diante ele não mais deixaria os picos da fama e do sucesso. A canção em si se tornou um marco e para muitos especialistas foi um dos primeiros registros de rock da história! Afinal de contas o que é o Rock em sua essência? Uma mistura talentosa de gêneros musicais diversos. "I Got a Woman" se enquadra perfeitamente nesse conceito. Consagrada por crítica e público a música ainda seria gravada por outros mitos, entre eles Elvis Presley e os Beatles. Maior prova de sua imortalidade não há!


Pablo Aluísio.

Raul Seixas - Metrô Linha 743

Era uma época complicada na vida de Raul Seixas. Ele havia passado por várias gravadoras, Philips, WEA, CBS e em todas elas tinha criado algum tipo de atrito com os executivos. Raul não fazia concessões e as gravadoras não o respeitavam como o artista criador que era. Em uma dessas gravadores um executivo lhe sugeria que fizesse uma canção em homenagem à Princesa Diana para voltar a tocar nas rádios! Raul achou um disparate! Isso era lá sugestão que se desse a um roqueiro verdadeiro como ele? Assim por volta de 1983 Raul foi parar na pequena "Estúdio Eldorado" que pertencia ao grupo Estadão. Raulzito achava esse jornal reacionário e quadradão mas precisando trabalhar encarou o desafio de gravar um disco que teria que vender 80 mil cópias de todo jeito. Para isso Raul compôs "O Carimbador Maluco" que fez parte de um programa infantil de grande sucesso da Globo e virou sucesso nas estações de rádio pelo Brasil afora. Depois disso cansado desse jogo comercial ele foi parar na Som Livre. Raul havia achado seu LP na Eldorado muito singelo, sem uma base musical sólida como ele estava acostumado a fazer em seus álbuns anteriores.

Em suas próprias palavras aquele tinha sido um trabalho bastante decepcionante para ele. Tanto que assim que terminou de gravar o disco literalmente vomitou a letra e música de "Metrô Linha 743". A canção não fazia concessões de nenhum tipo, era um momento raulseixista que lembrava os seus bons tempos de artista diferente, contestador e fora dos padrões. Raul também se dizia cansado das "fórmulas de sucesso" das gravadoras e por isso decidiu fazer um trabalho "preto e branco", sem firulas, todo baseado em arranjo acústico, com forte vocação para um som mais cru, mais verdadeiro, de origem mesmo. Em pleno furor de sucesso do chamado Rock Brasil, Raul então surgia com uma sonoridade bem diferenciada, que não fazia nenhuma questão de ser comercial. Curiosamente Raul não via graça nenhuma na leva de bandas de rock brasileiras dos anos 80. Para ele todos, sem reservas, eram alienados, acomodados. Para Raul não havia mais franco atirador para levantar a poeira do rock no Brasil. "Metrô Linha 743" era assim sua carta de intenções para o rock nacional não cair na mediocridade! Infelizmente para Raul a crítica da época não gostou muito do disco. O álbum foi acusado de não ter idéias novas - algo que deve ter sido cruel para Raul, logo ele que vinha trilhando a estrada do rock há tantos anos. A crítica para variar errou. "Metrô Linha 743" é um ótimo trabalho de Raul e hoje tem um status inegável de clássico e cult. Quem dera os queridinhos da mídia de hoje pudessem compor um trabalho tão criativo e consistente como esse.

Raul Seixas - Metrô Linha 743 (1984)
Metrô Linha 743
Um Messias Indeciso
Meu Piano
Quero Ser o Homem Que Sou
Canção do Vento
Mamãe Eu Não Queria
Mas I Love You (Pra Ser Feliz)
Eu Sou Egoísta
O Trem das Sete
A Geração da Luz

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - A Legendary Performer - Volume 3

Quando Elvis Presley morreu sua gravadora, a RCA Victor, lançou muitos discos ruins. A maioria eram coletâneas sem maior importância. Meras edições visando apenas tirar dinheiro de admiradores desavisados. Velhas gravações, sem novidade nenhuma, com bonitas capas. Nada muito além disso. Porém havia coisa boa também chegando ao mercado. Essa série intitulada "A Legendary Performer" foi uma das poucas coisas importantes lançadas naqueles anos. Aqui havia sim uma certa preocupação em trazer material inédito para os fãs do cantor. E era justamente isso, gravações inéditas, que os colecionadores mais procuravam.

Aqui, nessa terceira edição, foi lançada pela primeira vez a música "Danny". Ela havia sido gravada para a trilha sonora do filme "Balada Sangrenta". Era uma excelente gravação, tecnicamente perfeita, mas os produtores na época, em 1958, resolveram tirá-la do disco! A razão dessa decisão? Até hoje não se sabe ao certo. Era então uma música inédita, coisa rara, algo que valia pelo LP inteiro. Outras novidades vinham em duas faixas inéditas dentro da discografia de Elvis, "It Hurts Me" e "Let Yourself Go". Não eram as versões oficiais, mas sim gravações do NBC TV Special. Além disso o ouvinte ainda era presenteado com uma versão inédita, ao vivo, de "Let It Be Me". Trocando em miúdos, era coisa que o colecionador não tinha acesso naqueles tempos. Um excelente lançamento para a ocasião.

Elvis Presley - A Legendary Performer Volume 3 (1978)
Hound Dog
Interview - TV Guide
Danny
Fame and Fortune
Frankfurt Special
Britches
Crying in the Chapel
Surrender
Guadalajara
It Hurts Me
Let Yourself Go
In the Ghetto
Let It Be Me

Pablo Aluísio.

Rolling Stones - Satisfaction

Eis a canção mais popular da carreira dos Stones. Chegou ao mercado pela primeira vez em 1965 e acertou em cheio no gosto dos jovens da época. A letra, temos que convir, não é a força motriz da música, mas sim sua linha melódica. São apenas três notas, compostas por Keith Richards, mas o que parece tão singelo é até hoje considerado um dos mais pegajosos riffs de guitarra da história do rock. Vai direto ao ponto e uma vez ouvida jamais será esquecida - afinal de contas esse é o grande segredo do sucesso. Embora seja creditada a Mick Jagger e Keith Richards a verdade é que a dupla mantinha um pacto ao estilo Lennon e McCartney, ou seja, mesmo que a canção fosse composta por apenas um deles, ambos levariam o crédito. Richards em algumas entrevistas enfureceu Jagger ao dizer que ele não tinha contribuído em nada na criação de "(I Can not Get No) Satisfaction". Para Keith essa é uma filha de um pai apenas, claro que ele mesmo!

Hoje, passado tantos anos, não há como saber quem tem ou não razão. A letra, que repito, não é grande coisa, tenta falar sobre frustração sexual e materialismo. Curiosamente existem rumores que os Stones estavam prontos a arquivar a canção. Sua salvação veio justamente pelo fato de ter entrado dentro do projeto do disco "Out of Our Heads", um dos mais interessantes trabalhos do grupo em sua primeira fase, ainda na onda do "Yeah, Yeah, Yeah" dos Beatles. Uma vez gravada - de forma impecável em minha opinião - o single chegou nas rádios, porém as grandes corporações inglesas de comunicação acharam a letra muito vulgar e obviamente ofensiva. Coube então as pequenas rádios (e as piratas) divulgarem o novo single.

Quando o sucesso pegou e não houve mais como ignorar, nem a poderosa BBC conseguiu jogá-la para debaixo do tapete. Falar hoje em dia da importância da música dentro da história do rock inglês é chover no molhado. Afinal ela foi eleita a segunda maior canção de rock já escrita dentro da lista da Rolling Stone (a revista) em sua edição comemorativa das "500 Maiores Músicas de Todos os Tempos". Listas são sempre idiotas, mas no caso dessa aqui serve ao menos para mostrar a importância desse rock dentro do mais popular estilo musical da história.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Summer Festival 72

Mais um lançamento da FTD (Follow That Dream) enfocando a temporada de verão de Elvis em Las Vegas no ano de 1972. O CD denominado "Summer Festival 72" conta com as apresentações de Elvis realizadas no Dinner e no Midnight Show dos dia 11 e 12 de agosto daquele ano. Essa temporada em Vegas foi um pouco problemática para Elvis, logo na estréia ele se sentiu mal no palco e teve que cancelar a apresentação. Depois voltou a ter novamente problemas de saúde, como aumento de peso e sintomas de depressão, e mais uma vez procurou a solução mais rápida e perigosa, com o crescente consumo de medicamentos. Mesmo assim não conseguiu evitar de se apresentar bastante pálido e gordo, embora cantando corretamente em vários shows. Nessa apresentação do dia 11 de agosto novamente Elvis não se afasta muito de sua tradicional set list de músicas, embora procure também apresentar coisas novas. Infelizmente Elvis em pouco tempo abandonaria esse costume de apresentar canções novas em seu repertório talvez por seguir um conselho de Frank Sinatra que dizia que grandes cantores sempre deveriam fazer o mesmo show para não decepcionar seus fãs. De uma forma ou outro esse CD se torna essencial para quem quer conhecer mais sobre essa temporada e fase de Elvis.

O fato é que Presley tinha muitos problemas pessoais e profissionais por essa época. O casamento com Priscilla estava no fim, as temporadas em Las Vegas já não mais despertavam grande interesse no cantor que naquele período começou a se interessar muito mais pelos shows nas outras cidades americanas (como os realizados em Nova Iorque) como uma melhor oportunidade de conhecer novos públicos, novos desafios, enquanto que em Vegas as coisas iam ficando mais ou menos na mesma. A correria aliada a muitos shows e turnês levou Elvis a aumentar o consumo de drogas, o que acabou refletindo em problemas de saúde, cada vez mais graves. Seu aumento de peso também começou a ser notado pela imprensa, que muitas vezes ficava mais interessada nisso do que em sua música. Mesmo assim não podemos deixar de destacar alguns bons momentos nesse show como por exemplo a apresentação de "Until It's Time For You To Go" de seu novo LP na época, "Elvis Now". "For The Good Times" era outra novidade em meio a uma certa saturação de seu repertório. O bom é que o CD também traz gravações do chamado Midnight show (ou show da meia-noite) do dia 11 onde Elvis apresentou boas canções de rock como no medley "Little Sister / Get Back" (uma curiosa fusão entre um hit próprio dos anos 60 com a famosa canção dos Beatles). Já "It's Over" foi uma forma encontrada por Elvis para mostrar sua vitalidade e maturidade vocal. "Never Been To Spain", um belo blues, era outro sopro novo nos shows. Elvis a levaria inclusive para os shows no Madison Square Garden onde se tornaria um dos destaques do álbum ao vivo. Muito charme e balanço acompanham a faixa. Assim recomendo especialmente o título para os fãs de Elvis que gostem desse ano em particular. Afinal esse foi o ano do "Elvis on Tour", do "Madison Square Garden" e do "Elvis Now". Para muitos um dos períodos mais interessantes de toda a sua carreira.

Elvis Presley - FTD "Summer Festival '72" (FTD #34) 
Dinner show, August 11, 1972
Also Sprach Zarathustra
See See Rider
I Got A Woman
Until It's Time For You To Go
You Don't Have To Say You Love Me
You've Lost That Loving Feeling Polk Salad Annie
What Now My Love
Fever
Love Me
Blue Suede Shoes
One Night
All Shook Up
Teddy Bear / Don't Be Cruel
Heartbreak Hotel
Hound Dog
Love Me Tender
Suspicious Minds
Introductions
My Way
An American Trilogy
Can't Help Falling In Love 

Midnight show, August 11, 1972
Little Sister / Get Back
It's Over

Midnight show, August 12, 1972
Proud Mary
Never Been To Spain
For The Good Times
A Big Hunk O' Love
Tiger Man (opening only)

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Elvis Presley - He Walks Beside Me

Aqui temos outro álbum póstumo de Elvis Presley. Lançado em 1978, no ano posterior ao falecimento do artista, esse disco foi produzido por Felton Jarvis, o produtor que acompanhou Elvis na fase final de sua vida, quando lançou discos extremamente interessantes. Bom, o foco desse LP foi a música gospel, a música religiosa. Praticamente todas as faixas são desse estilo, com breves exceções (em minha opinião). Todas as canções gospel em essência foram retiradas dos 3 álbuns religiosos gravados por Elvis (His Hand in Mine, How Great Thou Art e He Touched Me). As demais foram pinceladas de outros discos do cantor.

A canção de louvor à Virgem Maria, chamada "Miracle of the Rosary" foi tirada do disco "Elvis Now" de 1972. "If I Can Dream" foi buscada lá em 1968. Essa foi a música mais representativa do especial de TV que Elvis realizou no canal NBC. De terno branco, ele realizou uma apresentação memorável da faixa. Um fato curioso é que Felton Jarvis também colocou músicas menos óbvias nessa coletânea, como "Who Am I", uma bela música que nunca havia sido aproveitada bem dentro da carreira de Elvis. Por fim vale os elogios para essa capa, uma das melhores da longa discografia de Mr. Elvis Presley.

Elvis Presley -  He Walks Beside Me (1978)
He Is My Everything
Miracle of the Rosary
Where Did They Go Lord
Somebody Bigger Than You or I
An Evening Prayer
The Impossible Dream
If I Can Dream
Padre
Known Only to Him
Who Am I
How Great Thou Art

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Mahalo From Elvis

Esse disco foi lançado em dezembro de 1977. Elvis morreu em agosto desse mesmo ano. Assim podemos perceber facilmente que esse foi um dos primeiros LPs póstumos desse grande e inesquecível cantor. Por essa razão o "Mahalo From Elvis" tem sua importância histórica. Agora, dito isso, também não podemos deixar de criticar a seleção musical do álbum. Ao ler a lista fico com a sensação de que o produtor desse lançamento não sabia nada com nada em relação a Elvis Presley. O disco foi assim uma mistureba dos diabos, misturando fases da carreira do Rei do Rock.

O Lado A do disco traz uma curiosa seleção musical evocando as ilhas havaianas, talvez daí venha seu título original. Aqui pegaram músicas da trilha sonora do disco "Blue Hawaii" e a misturaram com uma faixa dos anos 70, "Early Morning Rain" que apesar de não ser uma música havaiana pelo menos foi usada no especial de TV "Aloha From Hawaii". E o lado B? Não vejo nada de muito especial ligando as canções. São apenas faixas pinceladas de diversas trilhas sonoras dos anos 60. Enfim, organização e coerência você certamente não encontrará aqui nesse primeiro disco póstumo.

Elvis Presley -  Mahalo From Elvis (1977)
Blue Hawaii
Early Morning Rain
Hawaiian Wedding Song
KU-U-I-PO
No More
Relax
Baby, If You'll Give Me All Of Your Love
One Broken Heart For Sale
So Close, And Yet So Far (From Paradise)
Happy Ending

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Sun Records, 1955

Elvis Presley - Sun Records, 1955
Estamos nos anos 50. Bob Luman, um cantor country daquela época relembra como eram as apresentações de Elvis Presley: "O cara apareceu de calças vermelhas, paletó verde, meias e camisa cor de rosa, com aquela cara de deboche e ficou parado em frente ao microfone por cinco minutos antes de fazer qualquer movimento. Então começou a tocar seu violão e quebrou duas cordas, eu toco há dez anos e no total ainda não quebrei duas cordas! E lá estava ele, as cordas arrebentadas e as garotas gritando e correndo até o palco. Ele mexia os quadris, como se tivesse algum caso de amor com o violão. Assim era Elvis Presley tocando em Kilgore, Texas. Ele me deixou arrepiado cara!"

Single nas lojas
That's All Right (Arthur Crudup) - Esta é uma música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Philips: Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de Provar seu talento graças a interferência da secretária de Philips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "Cara de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "Thats All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Ela foi lançada pela primeira vez no Compacto Simples SUN 209 e depois pela RCA no disco "For LP Fans Only". Em 2003 "That's All Right (mama)" foi eleita a canção mais inovadora da História.

Blue Moon Of Kentucky (Bill Monroe) - Originalmente foi lançada em 1948 pelo próprio autor pelo selo Columbia. Em julho de 1954 chegava às lojas do sul dos Estados Unidos o single "SUN 209" que trazia as duas primeiras canções comerciais interpretadas pelo futuro Rei do Rock'n'Roll. No lado A "That's All Right" e no lado B esta simples balada country. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada contando apenas com Elvis, Scotty Moore e Bill Black. O produtor Sam Philips sempre afirmava que o "dia que encontrasse um branco que cantasse como um negro iria ganhar um milhão de dólares", esta frase iria se tornar verdade com a descoberta de "The Pelvis" em Memphis. Sem dúvida este é um dos grandes momentos do cantor pois registrou para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música Popular Mundial.

Pablo Aluísio.

Cliff Richard - The Shadows - Thunderbirds Are Go!

"Thunderbirds" foi um programa infantil muito popular na Inglaterra durante os anos 1960. Exibido durante duas temporadas nos anos de 1965 e 1966 a série é até hoje lembrada por fãs saudosistas por causa da técnica utilizada nas filmagens: os personagens eram na verdade marionetes, cujos movimentos dependiam da habilidade de seus controladores, usando fios de náilon que muitas vezes se tornavam bem nítidos durante os programas (e que só aumentavam seu charme nostálgico para dizer a verdade). Claro que no mundo dos games de última geração de hoje os Thunderbirds não teriam nenhuma chance com a garotada, mas na época em que foram lançados fizeram a alegria de muitos guris.

Deixando um pouco de lado o programa em si eu gostaria de chamar a atenção para esse vinil que comprei recentemente em um sebo chamado "Thunderbirds Are Go!" trazendo a trilha sonora do seriado inglês. Esse EP traz nada mais, nada menos, do que dois artistas de primeiro time interpretando quatro canções que fizeram bonito nas paradas quando chegaram ao mercado inglês. Quem diria que The Shadows iria executar uma música chamada "Lady Penelope"? (uma das principais personagens da série); Eles ainda gravaram o tema principal de abertura e "Zero X", uma delícia tipicamente dos anos 60. Coisa de louco (e de colecionador) Já o grande Cliff Richard emplaca "Shooting Car", um roquinho dos mais simpáticos. Esse compacto duplo raríssimo nunca foi lançado no Brasil, embora a série dos Thunderbirds tenha sido exibida com sucesso durante muitos anos na TV aberta brasileira. Como não poderia deixar de comentar essa curiosa aquisição digna das grandes coleções de antiguidades, resolvi deixar tudo aqui registrado para os fãs da série e da música instrumental dos anos 60. Afinal é coisa fina!

Cliff Richard - The Shadows - Thunderbirds Are Go! (1965)
Shooting Star (Cliff Richard)
Lady Penelope (The Shadows)
Zero X (The Shadows)
Thunderbirds (The Shadows)

Erick Steve. 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A-ha - Stay On These Roads

Incrível, mas esse álbum completou 30 anos de de seu lançamento original! Como o tempo passa rápido! O disco chegou nas lojas exatamente no dia 3 de maio de 1988. É desde aquela época um dos meus discos preferidos do grupo. Muita gente acredita que o A-ha foi apenas uma banda norueguesa que fez muito sucesso na década de 1980 com suas canções de refrães pegajosos e depois disso sumiu do mapa sem deixar vestígios. Nada mais longe da realidade. Na verdade o A-ha é um dos grupos europeus mais interessantes que já surgiram no mundo da música. E eles se mantém na ativa até os dias atuais.

Embora realmente tenham tido uma fase de sucesso FM, o fato é que eles seguiram em frente após isso e gravaram trabalhos excelentes, acima da média mesmo. Muitos desses álbuns não fizeram grande sucesso entre o público brasileiro, mas devem ser redescobertos, como por exemplo, o excepcional "Memorial Beach", cuja qualidade é inversamente proporcional ao seu fraco sucesso comercial. Considerado por muitos o melhor disco do grupo ele demonstra que mesmo não alcançando mais o topo das paradas o A-ha conseguiu manter um bom nível de qualidade em seus discos.

"Stay On These Roads", por outro lado, faz parte da fase de maior sucesso do grupo. Lançado em 1988 o disco emplacou nas rádios e paradas com várias de suas canções, que viraram hits como "You Are the One", "Touchy!", "The Blood That Moves the Body", "The Living Daylights" e a própria faixa título do disco, a baladona "Stay on These Roads". Esse foi o terceiro disco do A-ha na gravadora Warner e contou com todo o apoio da gravadora multinacional que não mediu esforços para continuar divulgando o grupo, inclusive escalando a banda para compor e cantar o tema do novo filme de James Bond, "Marcado Para Morrer". A faixa "The Living Daylights" é inclusive considerada até hoje um dos melhores temas do agente inglês no cinema. Composta em quatro mãos por Paul Waaktaar-Savoy e John Barry, não fez feio nem nas paradas e nem na avaliação dos principais críticos de música na época de seu lançamento. Um grande êxito.

Para promover o disco o A-ha caiu na estrada e realizou mais de 80 concertos mundo afora. Uma turnê exaustiva e muito produtiva em termos de divulgação. Para os fãs brasileiros essa turnê marcou época pois o grupo a encerrou justamente no Brasil ao realizar cinco shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. A presença dos noruegueses por aqui inflamou as vendas do conjunto que foi premiado pela Warner Brasil com um Disco de Platina pelas vendas excepcionais. Como se não bastasse a filial brasileira da Warner até mesmo inventou uma coletânea chamada "A-ha In Brazil" que também fez bonito nas lojas, vendendo milhares de cópias.

Infelizmente "Stay On These Roads" marcaria o fim da fase de maior sucesso da carreira do A-ha. Depois da enorme turnê eles resolveram dar um tempo. Cada um foi para seu lado produzir trabalhos próprios e o A-ha como grupo só voltaria ao mercado dois anos depois com o álbum "East of the Sun, West of the Moon" que ficou famoso por causa do hit "Crying in the Rain", uma regravação de um antigo sucesso da dupla The Everly Brothers. Não faz mal. "Stay On These Roads" está aí como um disco acima da média com nada mais, nada menos, do que cinco grandes sucessos em um álbum com apenas 10 faixas - um resultado excepcional em termos de popularidade. Se você gosta do A-ha ou da sonoridade da década de 80 então “Stay On These Roads” é simplesmente indispensável em sua coleção.

A-ha - Stay On These Roads (1988)
Stay on These Roads
The Blood That Moves the Body
Touchy!
This Alone Is Love
Hurry Home
The Living Daylights
There's Never a Forever Thing
Out of Blue Comes Green   
You Are the One
You'll End up Crying

Pablo Aluísio.

Dean Martin

Dino Paul Cocetti, ou simplesmente, Dean Martin, nasceu em 7 de junho de 1917, em Steubenville, Ohio, Estados Unidos. Filho de imigrantes italianos, só começou a falar inglês aos cinco anos. Depois de largar a escola muito cedo, tornou-se um boxeador peso médio, e respeitado no meio do boxe com apenas 15 anos de idade. Carregando o codinome Kid Crochet vencera todas as doze lutas que disputara. Mas o sonho do jovem Dino era ser como Bing Crosby, de quem imitava todos os maneirismos e o jeito de andar. Em pouco tempo, e com o nome de Dino Martini, passou a se apresentar como crooner de bandas de sua região. Aos vinte anos foi contratado para ser o vocalista da Ernie McKay Orchestra.

No início dos anos 40 foi contratado pela banda de Sammy Watkins. Sammy, seu novo patrão, foi quem sugeriu a troca de nome para Dean Martin. Depois de excursionar com a banda de Sammy por todo o norte de Ohio, Dean mudou-se para Nova York a fim de tentar um novo rumo para a carreira. Mas com a chegada da Segunda Guerra, foi convocado e serviu durante um ano. Em 1946, Dean ja era um cantor conhecido nos night clubs da Costa Leste americana, quando gravou seu primeiro disco e conheceu o comediante Jerry Lewis durante uma temporada de shows em Nova York. Os dois se apresentarm separadamente, até que em uma noite resolveram encerrar os espetáculo juntos.

Meses depois voltaram a se encontrar em Atlantic City e repetiram a performance com enorme sucesso. No início do ano seguinte, estrearam a turnê "Martin e Lewis". Em 1949 o show chegou ao rádio e a dupla estreou no cinema com "Amiga da Onça" (My Friend Irma - 1949). Martin e Lewis foram a grande sensação do business dos anos 50. Fizeram juntos 16 filmes, mas se separaram em 1956. Muitos apostavam que longe de Jerry Lewis, Dean Martin ficaria com a carreira estagnada. Mas não foi bem assim. No final da década de 50 participou de filmes de primeira linha, como "Os Deuses Vencidos" (The Young Lions - 1958), ao lado de lendas como Marlon Brando e Montgomery Clift. "Deus Sabe Quanto Amei" (Some Came Running - 1958), de Vincent Minelli, com Frank Sinatra e Shirley MacLaine.

Mas a fama internacional de ator dramático veio com o clássico do western: "Onde Começa o Inferno" (Rio Bravo - 1959) de Howard Hawks, onde contracenou com John Wayne. Dessa fama internacional no cinema, veio outro clássico: "Onze Homens e Um Segredo (Ocean`s Eleven - 1960). No qual dividiu a tela com os amigos do famoso grupo chamado "Rat Pack": Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop. O Rat Pack (ou clã) como também eram conhecidos, agitava o universo artístico, fazendo filmes de sucesso, discos clássicos e inspirados, além de espetáculos que eram disputados a tapa em boates sofisticadas. O Rat Pack protagonizou ainda mais dois filmes: "Os Três Sargentos" (Sergeants 3 - 1962) e "Robin Hood de Chicago" (Robin and the 7 Hoods - 1964).

Música e Televisão - Mesmo tendo vencido como ator, Dean Martin, jamais abandonou a sua carreira de cantor. Entre os anos de 1951 e 1968, Martin cravou 40 singles na lista Hot 100 da Billboard. Três deles ficaram em primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos. E em 1964, sua canção, "Everybody Loves Somebody" chegou a desbancar "A Hard Day's Night", sucesso dos Beatles.

A televisão foi outro campo de sucesso de Martin. Em 1965, ele estreou na Rede NBC a série, "The Dean Martin Show", que lhe valeu um Globo de Ouro como melhor estrela de TV e ficou no ar até 1973. Entre 1974 e 1984, comandou o programa "The Dean Martin Celebrity Roasts", também com um enorme sucesso. Nessa época voltou ao cinema com dois longas, "Quem Não Corre Voa" (The Cannonball Run - 1981), além de "Um Rally Muito Louco" ( The Cannonball Run II - 1984). Ambos estrelados por Burt Reynolds. Em 1987, Martin entrou em profunda depressão após a morte de seu filho, Dean Paul, num desastre de avião. A partir daí suas aparições públicas ficaram mais raras.

Dois anos depois, em 1989, realizou alguns shows em Las Vegas. Foi lá que aconteceu seu último encontro com o ex-companheiro de velhas jornadas, Jerry Lewis. Sua última aparição na TV aconteceu em 1990 no especial de TV, "Sammy Davis Jr. 60th Aniversary Celebration". Dean Martin aposentou-se por volta de 1991. Em 1993 recebeu de seu médico o diagnóstico de câncer de pulmão. No Natal de 1995, Dean Martin perdeu a batalha contra a terrível doença, vindo a falecer aos 78 anos.

Telmo Vilela Jr.