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sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte 6

Era uma Vez em... Hollywood
Quando eu soube que o novo filme de Quentin Tarantino iria ter como tema o assassinato da atriz Sharon Tate naquele trágico crime envolvendo membros da seita de Charles Manson, fiquei completamente desanimado. Não acredito que coisas assim devem ser resgatados do passado pelo cinema. Algumas histórias são tão horríveis que os mortos devem ser deixados em paz. Porém o que não levei em conta é que Tarantino não deve ser subestimado. Ele realmente nunca faria um filme banal sobre aquilo tudo que aconteceu. Ele encontraria uma maneira original de explorar esse tema tão espinhoso. 

E eis que fui surpreendido completamente por esse filme quando o assisti. De fato é algo muito bem desenvolvido. Em seu roteiro Tarantino misturou pessoas reais, que existiram mesmo, com personagens puramente de ficção. E criativo como ele é, não poderia dar em outra coisa. Os personagens de Leonardo DiCaprio e Brad Pitt são referências da cultura pop. Uma miscelânea de tipos que eram bem comuns na Hollywood dos anos 60. O ator de seriados de faroeste interpretado por DiCaprio é uma ótima criação. Com ecos de Clint Eastwood e outros atores de segundo escalão da época, ele retrata bem aquele tipo de ator que nunca conseguiu se tornar um astro em Hollywood. Vivendo de seriados popularescos, o que lhe sobra em determinado momento é ir para Roma filmar faroestes do tipo Western Spaghetti. Produções B, bem ruins e mal feitas.

Brad Pitt é o dublê desempregado que mora em um trailer. Para sobreviver ele se torna uma espécie de assistente pessoal e "faz-tudo" para o ator decadente de DiCaprio. As melhores cenas do filme inclusive estão com ele. Na visita ao rancho onde a "família Manson" vivia e no clímax final que é puro nonsense criativo. Margot Robbie está um pouco em segundo plano, apesar de interpretar Sharon Tate. Isso foi consequência do próprio roteiro que vai girando ao largo, na periferia dos acontecimentos. E sua Sharon é bem retratada no roteiro. Uma mocinha bonita, mas meio cabeça de vento, que passava o dia ouvindo música. Não tinha mesmo muita coisa na cabeça. Era uma starlet dos anos 60, nada mais.

Por fim tenho que tecer breves comentários sobre o final do filme, mas isso sem entregar nenhuma surpresa, que afinal de contas é o grande trunfo desse novo Tarantino. Conforme o filme foi se desenvolvendo eu fui gostando de praticamente tudo. Dos personagens, da ambientação anos 60, de tudo. Acontece que na meia hora final chega o momento da verdade. Eu não queria ver de novo a matança de Sharon Tate e seus amigos. Aí Tarantino foi mesmo um mestre. Saiu completamente do lugar comum, criou sua própria realidade paralela. Genial. Não é à toa que o filme é quase uma fábula, um faz de conta. A realidade foi tão trágica... por que não ir por outro caminho? Ao fazer isso Tarantino acabou criando uma pequena obra-prima. Palmas para ele.

Era Uma Vez em... Hollywood (Once Upon a Time... in Hollywood, Estados Unidos, Inglaterra, China, 2019) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Emile Hirsch, Al Pacino, Dakota Fanning, Timothy Olyphant, Bruce Dern, Luke Perry / Sinopse: Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de segundo escalão em Hollywood. Decadente, ele aceita ir para Roma filmar filmes de western spaghetti. Cliff Booth (Brad Pitt) é um dublê desempregado que trabalha para Dalton como seu assistente pessoal. Eles não sabem, mas vão fazer parte de um dos eventos mais trágicos da história de Hollywood... ou quase isso!

Não Olhe Para Cima
Dois cientistas do campo da astronomia (interpretados por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence) descobrem a existência de um novo cometa. No começo ficam felizes com a descoberta, afinal no mundo da astronomia isso é algo importante na vida de qualquer profissional da área. Só que a alegria dura pouco. Eles logo descobrem também que a rota do cometa vem direto em direção ao nosso planeta Terra. E agora, o que fazer? Logo uma questão que deveria ser tratada apenas pela ciência se torna politizada. E aí é o caos... os cientistas querem seguir o que diz a ciência para salvar o planeta, os conservadores liderados por uma presidente idiota (Meryl Streep) adotam uma postura de negacionismo com o slogan "Não Olhe para Cima". Pronto, a humanidade está literalmente com os dias contados. Estamos todos ferrados!

Esse é o filme do momento. Todo mundo está falando, debatendo, trocando ideias. Fazia tempo que a Netflix não lançava algo tão polêmico. A boa notícia é que é um bom filme, que faz pensar! É simplesmente impossível não perceber a analogia que esse inteligente roteiro faz com o mundo polarizado e imbecilizado em que vivemos. E aqui sobram críticas e farpas para todos os lados. Enquanto os dois cientistas tentam alertar para o perigo do cometa, os telejornais e o público em geral só se importam com as coisas mais imbecis, como o namorico de uma cantora adolescente pop e um cantor de rap! Você vai dar boas risadas, mas se tiver mais inteligência vai rir mesmo de nervoso, porque embora absurdas as situações, são plenamente condizentes com o momento atual. E você também pode trocar o cometa pela pandemia, aquecimento global ou qualquer outro tema desses e verá que faz o mesmo sentido.
 
E as redes sociais? Se tornam o maior meio de estupidez jamais visto. Enquanto o cometa avança em direção ao planeta Terra, as pessoas só se preocupam com memes, besteiras e imbecilidades. E surgem milhares de teorias da conspiração, uma mais idiota do que a outra! Dá nos nervos! Penso que se uma situação como a mostrada no filme realmente fosse verdade seria exatamente assim que iria acontecer. Vivemos em uma era tão estúpida! É triste, mas é a mais pura verdade! Então o roteiro mira e acerta em muitos alvos e se sai maravilhosamente bem em meu ponto de vista. É um filme que parece simples, mas que nas entrelinhas expressa tantas verdades que você ficará surpreso.

No final tirei duas conclusões importantes. A primeira é que o mundo atual é o horizonte perfeito das idiotices, tanto das pessoas em geral como também dos que foram eleitas por elas. A pior situação para uma nação é ser liderada por uma idiota como a presidente interpretada por Streep. Pessoas vão morrer por esse tipo de escolha errada na hora de votar. E assim surge a segunda grande lição do roteiro. Não votem em imbecis para altos cargos, pois no final quem será mais prejudicado será você mesmo, quem sabe até mesmo perdendo a própria vida. Parece radical? Não, é só uma verdade mesmo.

Não Olhe para Cima (Don't Look Up, Estados Unidos, 2021) Direção: Adam McKay / Roteiro: Adam McKay, David Sirota / Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, Jonah Hill, Rob Morgan / Sinopse: Dois cientistas tentam alertar o mundo do perigo que se aproxima na forma de um enorme cometa que está vindo em direção ao nosso planeta. Só que isso vai ser quase impossível em um mundo onde as pessoas só se importam com celebridades vazias e os que detém o poder político são altamente estúpidos.

Assassinos da Lua das Flores
No começo do século XX um bando de caipiras de interior, homens brancos criminosos, começam a se casar com nativas herdeiras de vastas terras com muito petróleo em seu subsolo. Após o casamento eles planejam envenenar suas esposas, tudo com o claro objetivo de se tornarem os únicos donos do rico ouro negro! 

Não me entenda mal, Martin Scorsese continua sendo um mestre do cinema, mas inegavelmente esse seu novo filme apresenta problemas. E é um problema conceitual. Veja, os personagens principais da história são seres asquerosos, repugnantes. Basicamente homens brancos que se aproveitavam de mulheres indígenas para roubar suas terras cheias de petróleo. E como atingiam seus objetivos? Casando com elas e depois as matando envenenadas! Como alguém em sã consciência vai criar um vínculo com esse tipo de pessoa? Não dá! E Scorsese falha miseravelmente ao tentar retratar esses caipiras homicidas com uma lente de leve simpatia e bom humor! Ficou bizarro! 

Eu lamento tudo isso porque o filme é tecnicamente impecável. Apresenta uma ótima produção, roteiro bem escrito e elenco classe A - embora os astros interpretem esses seres humanos de quinta categoria! Outro ponto que acredito que Scorsese errou foi na duração do filme. Mais de três horas de duração em uma história que com uma edição mais equilibrada seria contada no tempo médio dos filmes atuais. Até porque esses jovens atuais não aguentam mesmo ficar 3 horas no cinema assistindo a um filme! Alguém deveria ter alertado Scorsese sobre isso. Enfim, filme muito bem realizado, mas com uma postura equivocada em relação aos principais personagens nessa história de crime que se propõe a contar. 

Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, Estados Unidos, 2023) Estúdio: Apple Studios / Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Eric Roth, Martin Scorsese / Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, John Lithgow, Brendan Fraser / Sinopse: Uma história de traição, mesquinhez e traições, com o objeivo final de ter riquezas e dinheiro, mesmo enganado o próximo. Filme indicado ao Oscar em dez categorias. 

Pablo Aluísio. 

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