quinta-feira, 6 de julho de 2017

A Múmia

Tom Cruise já não é mais o mesmo. Esse seu novo filme na Universal Pictures não conseguiu se tornar um sucesso, apesar da agressiva campanha de marketing. Com orçamento de 125 milhões de dólares faturou pouco mais de 30 milhões no mercado americano. Foi um pouquinho melhor no mercado internacional, mas mesmo assim ainda não se pagou nas bilheterias. Em resumo: é praticamente um fracasso comercial. E isso não foi injusto. O problema é que Cruise tem se concentrado apenas em fazer blockbusters vazios nesses últimos anos e o público já demonstra sinais de estar cansado disso. Cansaram do Cruise, essa é a verdade. Mas e o filme, é bom? Esse filme na verdade é o primeiro de uma série que a Universal quer lançar, todos trazendo os velhos monstros clássicos do estúdio. Com o selo de Dark Universe, eles querem resgatar filmes com Drácula, Frankenstein, Lobisomen, o Homem Invisível, enfim, toda a galeria dos antigos personagens de terror da era clássica da Universal Pictures. É uma boa ideia, mas também é preciso caprichar um pouco mais nesse resgate. Esse primeiro filme com a Múmia deixa bastante a desejar nesse ponto. Cheio de efeitos especiais e furos de roteiro, jamais consegue convencer ou prender a atenção. Ao contrário disso deixa aquela sensação incômoda de que mais uma vez estamos perdendo tempo.

O enredo gira em torno de um grupo de militares que no Iraque acaba descobrindo uma antiga tumba de uma princesa que viveu no antigo Egito. Na verdade ela fez um pacto com o Set, o Deus da Morte. Por isso jamais deixou de viver. Aprisionada numa tumba com mércurio (retiraram essa ideia da tumba real do primeiro imperador da China), a princesa ganha vida novamente depois que seu sarcófago é aberto. Tom Cruise interpreta um desses militares que acaba virando alvo da maldição da múmia, ficando preso pela eternidade ao destino da monstruosidade que retorna à vida. Através de um roteiro pouco original (consegui rapidamente ver plágios envolvendo diversos filmes como "Força Sinistra" e "Um Lobisomem Americano em Londres" com direito a um amigo em estado de putrefação avançada ao longo do filme), esse novo "A Mùmia" não me convenceu. Para piorar os roteiristas resolveram colocar personagens de "O Médico e o Monstro" no meio da trama. O que funcionou em séries como "Penny Dreadfull" aqui não deu muito certo. Enfim, se depender desse primeira produção da Dark Universe não teremos muitos revivals interessantes. Uma pena!

A Múmia (The Mummy, Estados Unidos, Inglaterra, 2017) Direção: Alex Kurtzman / Roteiro: David Koepp, Christopher McQuarrie / Elenco: Tom Cruise, Russell Crowe, Sofia Boutella, Annabelle Wallis / Sinopse: Equipe de militares americanos descobre por acaso a tumba milenar da princesa do antigo Egito Ahmanet (Sofia Boutella). No passado ela matou sua família em busca do poder absoluto do império. Também fez um pacto com Set, o Deus da Morte. Agora ela está de volta à vida, trazendo morte e destruição por onde passa.

Pablo Aluísio.

Drácula

O livro de Bram Stoker é provavelmente o romance mais adaptado para o cinema, em todos os tempos. São inúmeras as versões. Essa aqui procurou seguir, em linhas gerais, a estória criada por Stoker. Como todos sabemos tudo começa quando o jovem advogado Jonathan Harker (Murray Brown) chega numa região isolada da Hungria (o correto seria a Romênia, mas o roteiro do filme preferiu as terras húngaras). Ele está lá para negociar com um antigo nobre, o Conde Drácula (Jack Palance). Sua intenção é vender propriedades ao redor de Londres. O Conde é um sujeito estranho, de poucas palavras e nada amigável. Seu castelo parece abandonado há décadas e tudo cheira a morte. Casualmente Drácula vê a foto de uma jovem e ele fica impressionado com a semelhança dela com seu grande amor do passado. Depois dessa introdução (que leva praticamente dois terços do filme) as coisas começam a acontecer rapidamente (sim, a edição não é das melhores). Quando reencontramos Drácula ele já está na Inglaterra, colecionando vítimas. Quem primeiro se interessa pelas mortes é um pesquisador e médico, o Dr Van Helsing (Nigel Davenport). Ele tem teorias próprias sobre o acontecido, entre eles o fato de haver vampiros na cidade, algo que ninguém acredita. Mesmo assim o médico começa a criar um plano para capturar Drácula.

Como se vê o enredo é praticamente o mesmo do livro original escritor por Bram Stoker. Há modificações pontuais, que não mudam sua essência. Para os cinéfilos a grande atração vem do fato do Conde Drácula ser interpretado por Jack Palance. Atuar em filmes de terror era algo completamente novo em sua carreira. Palance fez carreira interpretando cowboys, pistoleiros, em filmes de western e depois grandes e fortes guerreiros em épicos. Nada com contos e histórias de horror. Sua caracterização do famoso vampiro se resume a alguns grunhidos e algumas frases breves que ele declama em tom firme, pautado e quase inaudível (como se fosse um psicopata!). A maquiagem se resume aos dentes postiços. Efeitos especiais são praticamente inexistentes. Com poucos recursos o diretor usa mais de luz e sombra para criar o clima adequado. No geral não chega a ser uma grande adaptação, sendo mais louvável pelo fato de optar por tentar seguir os escritos de Stoker mais ao pé da letra. Fora isso é uma produção bem mediana com resultados igualmente modestos.

Drácula (Dracula, Estados Unidos, 1974) Direção: Dan Curtis / Roteiro: Richard Matheson / Elenco: Jack Palance, Simon Ward, Nigel Davenport / Sinopse: Depois de comprar uma propriedade nos arredores de Londres, o misterioso Conde Drácula (Palance) começa a fazer suas vítimas na região. A série de mortes desperta a atenção do Dr. Van Helsing (Nigel Davenport) que acredita existir um vampiro como o autor das mortes. Logo ele começa uma verdadeira caçada contra a estranha criatura da noite. Filme também conhecido no Brasil como "Drácula - O Demônio das Trevas".

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Wilson

Esse filme "Wilson" é mais um adaptado dos quadrinhos, só que ao invés de super-heróis salvando o mundo temos aqui um sujeito bem comum... ou quase isso. O desenhista Daniel Clowes, que criou o personagem principal, realmente teve uma grande inspiração. Ele apenas deu vida a um solteirão na faixa dos 40 anos que apenas passeia por sua própria existência, muitas vezes exagerando na sinceridade de seu modo de ser. Sua mulher o abandonou anos atrás, pois era viciada em drogas, e ele ficou sozinho ao lado de sua cadelinha de estimação. Casualmente acaba descobrindo seu local de trabalho e ao reencontrá-la descobre que é pai! Wilson pensava que sua esposa havia abortado, mas ela acabou dando a criança (uma menina) para adoção! Com isso ele vai atrás dela, dando origem a todos os tipos de situações constrangedoras.

O roteiro tem uma certa ternura por seu protagonista, mas sem fugir da realidade de que ele é um tremendo de um esquisitão. A interpretação do ator Woody Harrelson caiu muito bem, já que ele também sempre foi um ator especializado em tipos bizarros e esquisitos. Seu Wilson não é uma pessoa que você queira muito por perto. Ele é sem noção, fala coisas absurdas e na maioria das vezes sua sinceridade sem filtros acaba chocando todo mundo. É aquele tipo de sujeito que muitas vezes fala verdades inconvenientes sem ter maldade nenhuma, apenas por não ter muita noção das coisas e do mundo em que vive. Poderia ser qualificado até mesmo como um portador da síndrome de Asperger... quem sabe... só que obviamente o roteiro não quer transformar nada em drama. É uma comédia para rir dos momentos embaraçosos, e é só!

De maneira em geral gostei do filme e de sua proposta. Não é aquele tipo de filme que vai além, rompendo com todas as barreiras, nada disso. Na verdade se formos analisar bem o que temos aqui é apenas uma comédia sobre um homem excêntrico, fora dos padrões, que no final das contas só quer se encaixar nesses mesmos padrões ditados pela sociedade (como ter um relacionamento convencional, com filhos e uma casa suburbana, etc). Por isso a grande tragicomédia de Wilson é saber que mesmo quando critica as banalidades da sociedade em geral, tudo o que ele mais quer é se enquadrar dentro desses mesmos limites banais. Um filme que faz refletir nesse sentido, embora na superfície seja apenas uma produção levemente divertida para se dar alguns sorrisos nervosos, nascidos do puro constrangimento.

Wilson (Wilson, Estados Unidos, 2017) Direção: Craig Johnson / Roteiro: Daniel Clowes / Elenco: Woody Harrelson, Laura Dern, Isabella Amara / Sinopse: Wilson (Woody Harrelson) é um quarentão meio esquisito que acaba descobrindo que é pai! Anos atrás sua ex-esposa, uma viciada em cocaína, havia lhe dito que tinha abortado da gravidez, mas ela estava mentindo pois deu a filha do casal para adoção. Sem pensar duas vezes Wilson então parte em busca da filha perdida, que ele nem sabia existir até aquele momento.

Pablo Aluísio.

A Reconquista

Título no Brasil: A Reconquista
Título Original: Battlefield Earth
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Roger Christian
Roteiro: Corey Mandell, J.D. Shapiro
Elenco: John Travolta, Forest Whitaker, Barry Pepper, Michael Byrne, Kim Coates, Sabine Karsenti

Sinopse:
Em um futuro distante o planeta Terra é invadido por uma raça de aliens gigantes que planejam escravizar toda a humanidade. Após a invasão devastadora, um grupo de humanos resolve então formar um grupo de resistência rebelde contra os seres espaciais. Filme vencedor de sete "prêmios" no Framboesa de Ouro, entre eles o de pior filme, pior ator (John Travolta), pior ator coadjuvante (Forest Whitaker) e pior diretor (Roger Christian).

Comentários:
Essa estranha ficção foi o maior fracasso comercial da carreira do ator John Travolta. Como se sabe ele faz parte de uma seita americana chamada Cientologia. A esquisita doutrina religiosa deles prega que o mundo foi colonizado por seres espaciais com três metros de altura! Baseando-se nisso o ator convenceu a Warner Bros a investir mais de 70 milhões de dólares na produção desse filme. Massacrado pela crítica americana, não rendeu praticamente nada nas bilheterias. Existem fracassos no cinema que são bem merecidos. Esse é um caso desses. Não há outro veredito, pois o filme é muito, muito ruim. Como se não bastasse o roteiro cheio de clichês por todos os lados temos ainda que aguentar o estranho visual de Travolta e companhia, tentando se passar por alienígenas gigantes com cabelos rastafaris! É demais da conta, vamos convir. Pior de tudo é que os efeitos especiais não convencem muito, deixando tudo cair rapidamente no tédio e no ridículo. Com tanta ruindade junta acabou vencendo um prêmio Framboesa de Ouro especial de "Pior filme da década!". Não precisa dizer mais nada! Provavelmente se exista um filme que Mr. Travolta quer esquecer em sua longa filmografia seguramente é esse! Uma bomba espacial de proporções épicas!

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de julho de 2017

A Jovem Rainha

Esse filme traz uma versão romanceada da vida da Rainha Kristina da Suécia. Durante a guerra dos trinta anos no século XVII seu pai, o Rei Gustaf, é morto em campo de batalha. Kristina assim se torna sua sucessora, mas era jovem demais para assumir o trono. Quando finalmente se torna monarca ela propõe uma série de reformas em seu país. Em sua opinião a Suécia não passava de uma nação gelada, isolada, povoada por pessoas ignorantes e sem cultura. Uma grande reforma educacional era assim necessária. Amante dos livros e da cultura, as propostas de Kristina iam contra os valores dos líderes protestantes que dominavam seu reinado. Outro ponto de choque contra esses religiosos era o fato de que Kristina queria assinar um tratado de paz com os reinos católicos, um dos principais motivos da guerra. Obviamente os luteranos queriam a guerra e fizeram de tudo para destronar a Rainha que queria a paz, acima de tudo.

Talvez por sofrer tanta repressão e oposição dos protestantes em seu reinado, Kristina aos poucos foi se aproximando dos católicos, absorvendo sua doutrina e o mais escandaloso de tudo: se convertendo ao catolicismo! Naquele período histórico os grandes pintores, escritores, escultores e artistas da Europa eram patrocinados pela Igreja Católica. Kristina, uma mulher apaixonada por arte e literatura acabou sendo atraída por Roma, para desespero de seus líderes religiosos do Luteranismo que condenavam qualquer tipo de arte sagrada, pois a considerava pura heresia! Para Kristina não poderia haver mentalidade mais obtusa e atrasada do que aquela!

O filme assim segue contando parte da vida da Rainha, inclusive lidando sem problemas com temas polêmicos, como a suposta homossexualidade de Kristina, que se recusava a casar para trazer um herdeiro ao trono da Suécia. Ao invés disso se tornava cada vez mais próxima de sua dama de companhia, uma condessa jovem a quem ela tinha verdadeira paixão. Até hoje historiadores discutem sobre a sexualidade de Kristina, mas sem chegar a uma conclusão definitiva. O roteiro do filme porém abraça sem problemas o lesbianismo da Rainha. De maneira em geral gostei muito dessa produção, pois via de regra adoro temas relacionados às grandes dinastias monárquicas da Europa. Caso esse seja também o seu caso deixo assim a recomendação desse bom filme, extremamente interessante do ponto de vista histórico.

A Jovem Rainha (The Girl King, França, Canadá, Suécia, 2015) Direção: Mika Kaurismäki / Roteiro: Michel Marc Bouchard / Elenco: Malin Buska, Sarah Gadon, Michael Nyqvist / Sinopse: O filme narra uma versão em tom de romance histórico de parte da vida da Rainha Kristina da Suécia (Malin Buska). Mulher culta e amante das artes e da ciência ela passa a sofrer uma constante e dura oposição dos líderes religiosos protestantes de sua país, que eram contra as reformas educacionais que a monarca queria implantar em sua nação. Filme indicada ao Canadian Screen Awards (Marjatta Nissinen).

Pablo Aluísio.

Alice Através do Espelho

Título no Brasil: Alice Através do Espelho
Título Original: Alice Through the Looking Glass
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Pictures
Direção: James Bobin
Roteiro:  Linda Woolverton
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Sacha Baron Cohen, Alan Rickman

Sinopse:
Alice (Mia Wasikowska) agora é uma capitã de um grande navio que cruza os sete mares. Ela retorna a Londres e encontra problemas envolvendo sua mãe. Ela corre risco de perder sua própria casa, agora hipotecada. Ao entrar dentro de um espelho acaba sendo levada de volta ao país das maravilhas, onde reencontra seus antigos amigos e a rainha má Iracebeth (Helena Bonham Carter) que agora quer manipular o tempo em seu favor. Filme indicado ao Grammy Awards na categoria Melhor Música - trilha sonora ("Just Like Fire" de Pink).

Comentários:
Era mais do que previsível o lançamento dessa sequência de "Alice" de Tim Burton. O primeiro filme rendeu mais de um bilhão de dólares nas bilheterias, um sucesso comercial fabuloso. Assim a Disney jamais deixaria passar a oportunidade de lançar mais um filme. O roteiro adaptou outro livro de Lewis Carroll lançado em 1871 chamado "Alice Através do Espelho e o Que Ela Encontrou Por Lá". Tim Burton porém resolveu cair fora, deixando a direção, se concentrando apenas na produção. O novo diretor escolhido foi James Bobin de "Os Muppets". Feito com um orçamento de 170 milhões de dólares esse segundo filme de "Alice" acabou decepcionando nas bilheterias, para grande decepção da Disney. Esse fracasso comercial foi até merecido. Ao invés de adaptarem mais fielmente o livro de Lewis Carroll, a Disney resolveu apostar em um roteiro que para as crianças vai soar confuso demais, com viagens no tempo e conceitos que ficariam bem em um filme da série "De Volta Para o Futuro", mas não em um filme infantil como esse, com a adorável personagem Alice. Exageraram demais nas mudanças da história, nos efeitos especiais e na maquiagem. O que era simples e inteligente virou burro e exagerado. O que de certa forma funcionava bem no primeiro filme, aqui acabou soando muito desnecessário. A atriz  Mia Wasikowska continua muito carismática e simpática, mas ela não tem mais idade para a personagem. Johnny Depp está mais bizarro do que o normal, com estranhos efeitos de computação gráfica que o deixaram com olhos enormes e estranhos. A novidade em termos de elenco vem com a participação do comediante Sacha Baron como o "Tempo". Pena que no meio dessa confusão de estilos e tramas, ele não faça mesmo qualquer diferença.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Ave, César!

Os irmãos Coen se enquadram naquele seleto grupo de cineastas que você deve acompanhar de perto, assistindo a todos os seus filmes, mesmo os que são apenas medianos. Eles são tão criativos que pelo menos alguma coisa relevante você encontrará em suas obras. Esse "Ave, César!" se propõe a ser uma comédia, uma sátira aos bons e velhos tempos da Hollywood dos anos clássicos. Porém o humor é tão sofisticado, que você terá que saber um pouco da história do cinema americano para se divertir completamente. Cada personagem, cada evento mostrado no filme, tem uma referência histórica com algo que efetivamente aconteceu no passado. A trama é relativamente simples e muito divertida. Um astro de Hollywood, um galã canastrão chamado Baird Whitlock (George Clooney), é sequestrado bem no meio das filmagens de um grande épico que conta a história de um general romano nos dias de Jesus. Levado a uma casa isolada ele encontra um grupo de roteiristas e escritores comunistas que tentam fazer sua cabeça sobre as injustiças do capitalismo. É obviamente uma referência aos anos do Macartismo, quando se iniciou uma verdadeira caça às bruxas contra profissionais de Hollywood que tivesse algum contato com o partido comunista. Tudo é levado numa fina ironia, muito bem desenvolvida.

O mais interessante é que o filme não fica por aí. Há inúmeras referências a diversos atores e diretores da era de ouro do cinema americano, passando por um ator cowboy que não tinha talento nenhum para atuar (mesclando Tom Mix a Audie Murphy), um dançarino de musicais que é na verdade o grande elo de ligação com os soviéticos (uma mistura de Errol Flynn com Gene Kelly), até uma atriz cheia de problemas pessoais, especializada em fazer filmes com danças em piscinas (numa óbvia referência à atriz sereia Esther Williams). E tentando contornar todas as situações delicadas surge Eddie Mannix (Josh Brolin), um sujeito contratado pelos estúdios cujo trabalho consistia basicamente em abafar escândalos, resolver problemas pessoais dos astros e estrelas, mantendo o estúdio funcionando normalmente.

É um bem humorado retrato da época em que imperava o Star System, quando os estúdios cuidavam pessoalmente de cada ator e atriz que estivesse sob contrato. Esse sistema durou até meados dos anos 1960, quando os grandes estúdios americanos se cansaram de exercer a função de babás de adultos infantilizados com problemas emocionais (algo que poderia ser dito de praticamente 90 por cento das estrelas). A partir daí cada um que cuidasse de sua própria vida. Assim esse "Ave, César!" é uma aula nostálgica, com muito bom humor, de um tempo que não existe mais. Gostei bastante desse filme. Bem produzido, com ótimo roteiro, é uma dessas produções inteligentes que estão cada vez mais raras ultimamente.

Ave, César! (Hail, Caesar!, Estados Unidos, 2016) Direção: Ethan Coen, Joel Coen / Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen / Elenco: Josh Brolin, George Clooney, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Alden Ehrenreich, Channing Tatum, Frances McDormand, Jonah Hill, Christopher Lambert / Sinopse: Eddie Mannix (Josh Brolin) é um "faz tudo" de um grande estúdio de cinema em Hollywood que precisa resolver todos os problemas que vão surgindo envolvendo astros e estrelas. As coisas pioram quando o ator Baird Whitlock (George Clooney) é raptado por roteiristas comunistas que pedem 100 mil dólares de resgate. Filme indicado ao Oscar e ao BAFTA Awards na categoria Melhor Design de Produção (Jess Gonchor e Nancy Haigh).

Pablo Aluísio.

Supernova

Título no Brasil: Supernova
Título Original: Supernova
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Walter Hill
Roteiro: William Malone, Daniel Chuba
Elenco: James Spader, Lou Diamond Phillips, Angela Bassett, Peter Facinelli, Robin Tunney, Wilson Cruz

Sinopse:
No século 22 uma espaçonave recebe um chamado de socorro de uma equipe médica há muito desaparecida. A região do universo onde estão é praticamente desconhecida, no espaço profundo da galáxia. Quando resgatam parte da tripulação um dos membros demonstra ter um comportamento estranho. Além disso agora a nave precisa sobreviver á força gravitacional de uma estrela em supernova, prestes a explodir.

Comentários:
Boa ficção que gostei bastante quando assisti pela primeira vez. Hoje em dia esse filme está praticamente esquecido, o que é uma pena, pois tem muitos méritos. Seguindo de certa maneira os passos de "Aliens" (não tem jeito, essa franquia influenciou toda uma geração de filmes do estilo Sci-fi), o roteiro procura ter um aspecto mais científico e até mesmo filosófico. Durante a trama um objeto ganha destaque, um artefato que pode conter vida alienígena. Claro que algo assim acaba criando uma tensão entre todos os tripulantes. Esse aspecto serve para desenvolver ainda mais o suspense dentro do roteiro, com ótimos resultados. Mesmo que os efeitos especiais estejam um pouco datados (o que era previsível acontecer), o filme ainda se mantém interessante, por causa justamente de sua história. Temos que reconhecer que a presença de James Spader no elenco ajuda muito no quesito atuação. Spader, atualmente fazendo sucesso na série "The Blacklist", é aquele tipo de ator cool, quase sempre fazendo o papel de vilão, que vale sempre a pena acompanhar, seja qual for o filme ou série em que estiver atuando. Por fim uma Curiosidade: o diretor Walter Hill assinou o filme com o pseudônimo de Thomas Lee! Ótimo cineasta, muito reconhecido por seus filmes de ação, não se sabe ao certo o que o fez se esconder atrás de um nome de ficção! Provavelmente estava inspirado pelo próprio filme que estava dirigindo, quem sabe...

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de julho de 2017

Becoming Cary Grant

Título Original: Becoming Cary Grant
Título no Brasil: Ainda não definido
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: Yuzu Productions
Direção: Mark Kidel, Mark Kidel
Roteiro: Mark Kidel, Mark Kidel
Elenco: Cary Grant,  Judy Balaban, Mark Glancy, Barbara Jaynes, Kent Victor Schuelke, David Thomson

Sinopse:
Documentário exibido recentemente nos Estados Unidos pelo canal Showtime mostrando aspectos privados e bem pessoais da vida do ator americano Cary Grant. Baseado em relatos do próprio Grant o filme desvenda a conturbada infância do futuro astro de Hollywood, quando ele foi abandonado pelos pais, indo morar em um orfanato mantido pelo Estado. O filme procura também mostrar sua ascensão rumo à fama e ao sucesso. Documetário indicado no Cannes Film Festival.

Comentários:
Excelente documentário que mostra um lado pouco conhecido da vida do ator Cary Grant. Seu pai internou sua mãe por problemas psiquiátricos quando Grant era apenas uma criança. Sem ter a menor intenção de ter a responsabilidade de criá-lo sozinho, acabou jogando o garoto em um orfanato. Por essa razão Grant levou por toda a vida esse trauma, tentando superar o sentimento de abandono e perda. Também criou uma personalidade mesquinha em relação ao dinheiro. Sua sovinice era lendária, mesmo rico e famoso não jogava suas roupas foras, usando meias furadas, tudo para economizar o máximo possível. O documentário também explora o problema de Grant com as drogas e as bebidas. Ele sempre procurou afogar suas mágoas no copo, em bares por toda a Los Angeles. Em relação às drogas encontrou o LSD nos anos 60 e pensando tratar-se apenas de mais uma substância química que servisse como remédio para seus problemas emocionais foi fundo no uso da droga. O roteiro só traz uma falha digna de nota, ao não explorar a grande amizade que ele teve com outro ator famoso, o cowboy Randolph Scott. Provavelmente para não dar pano para a manga sobre as inúmeras fofocas de que eles tiveram um caso homossexual, os produtores resolveram deixar isso de fora. De qualquer maneira esse "Becoming Cary Grant" é certamente o melhor documentário já realizado sobre esse grande astro de Hollywood, em sua fase de ouro, no auge do inesquecível cinema clássico dos Estados Unidos. Não deixe de assistir.

Pablo Aluísio.

A Última Fronteira

A atriz Charlize Theron interpreta a diretora de uma organização não governamental que presta assistência médica em regiões de conflito e miséria na África ocidental. A região é devastada por uma guerra civil que parece nunca ter fim. Por essa razão todos os médicos que trabalham naquele lugar sofrem risco de vida. Durante uma viagem de reconhecimento, ela acaba se apaixonando por um cirurgião idealista, Miguel Leon (Javier Bardem). Inicialmente relutantes eles acabam vivendo um conturbado caso amoroso, bem no meio do caos do inferno do continente africano. O tipo de idealismo que move um médico que vai até a África trabalhar em organizações ao estilo "Médicos Sem Fronteiras" é algo admirável. Principalmente quando sabemos que todos eles podem ser mortos por guerrilheiros africanos a qualquer momento. Essa gente não deseja a paz e nem o bem das pessoas. Pelo contrário, quanto maior o dano promovido contra as populações, melhor é o resultado para esses grupos armados. Não é por outra razão que a África hoje é o continente onde mais se realizam massacres e genocídios em massa. Diante de um quadro tão avassalador é de se perguntar por que um médico europeu (ou americano) joga fora um bom trabalho em hospitais de primeira linha para ir trabalhar em um lugar que mais se parece o inferno na Terra?

O roteiro desse filme investe em duas linhas. Mostra o relacionamento problemático entre o casal de médicos e a situação de caos que vive essa parte da África. Há cenas de extrema brutalidade, principalmente quando milícias armadas invadem os acampamentos dos médicos estrangeiros ou quando seus comboios são assaltados, geralmente por crianças armadas até os dentes! Nada é tão ruim que não possa ser piorado no continente africano. Por fim fica a reflexão: por anos os africanos culparam o colonialismo europeu por seus problemas. Pois bem, passaram-se décadas de independência e a maioria dos países africanos continuam miseráveis e devastados por sangrentas e insanas guerras civis! De quem seria a culpa agora?

A Última Fronteira (The Last Face, Estados Unidos, 2016) Direção: Sean Penn / Roteiro: Erin Dignam / Elenco: Charlize Theron, Javier Bardem, Adèle Exarchopoulos / Sinopse: Wren (Charlize Theron) e Miguel Leon (Javier Bardem) são dois médicos que se apaixonam na África, durante uma expedição de ajuda médica a populações pobres da África ocidental. Filme indicado a Palma de Ouro no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de julho de 2017

Drone

Esse filme conta a história de um especialista em tecnologia que trabalha para uma empresa a serviço da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos. Sua função é controlar os ataques de Drones no Oriente Médio. Assim que um terrorista é localizado, seja no Paquistão ou Afeganistão, um drone é enviado. Cabe a Neil Wistin (Sean Bean) apertar o botão que envia os mísseis em seus alvos. O interessante de tudo é que apesar de operar em todas essas missões de ataque ele nunca chegou sequer a sair de sua cidade na América. Ele apenas vai ao trabalho, como outro empregado qualquer. Faz seu serviço e volta para a casa, onde vive com sua esposa e seu filho adolescente. Uma vida aparentemente bem comum. Quando seu pai falece, Neil resolve colocar à venda o barco que pertenceu a ele. Certo dia chega em sua casa um estrangeiro, muçulmano, interessado em comprar esse veleiro. O problema é que apesar de demonstrar ser um bom homem, esse islâmico chamado Imir Shaw (Patrick Sabongui) parece ter também interesse em Neil e em sua família. Quais afinais seriam suas reais intenções? Estaria ele apenas interessado no barco ou estaria escondendo algo? Seria ele na verdade um potencial terrorista que conseguiu localizar Neil, o operador de drones, nos EUA? Estaria ele em busca de vingança?

São perguntas que você só saberá ao assistir ao filme. Agora, vamos convir que o roteiro desse filme deixa muito a desejar. Imagine que você seja um contratado da CIA que opera drones que envia mísseis no Oriente Médio. Agora imagine que um belo dia surja em sua casa um sujeito muçulmano dando a maior pinta de que seria um homem-bomba! Você seria completamente amigável a esse sujeito? Convidaria ele a jantar ao seu lado e de sua família? Claro que não! São situações absurdas demais para acreditar. Ninguém que trabalharia com um drone de ataque teria tamanha inocência! Pois é justamente esse tipo de coisa que o roteiro desse filme quer que você engula! As situações são forçada demais e completamente inverossímeis! Além disso a mensagem do filme, principalmente em seu final, é bem perigosa. Não irei dar spoiler, mas basta apenas dizer que o roteiro tenta, mesmo que de forma sutil, justificar um ato terrorista! Não é cabível algo assim... Dessa forma apesar da boa premissa faltam duas coisas básicas nesse filme chamado "Drone": bom senso e nexo com a realidade. Sem isso o filme fica simplesmente irreal demais para se levar à sério.

Drone (Drone, Estados Unido, 2017) Direção: Jason Bourque / Roteiro Paul A. Birkett, Jason Bourque / Elenco: Sean Bean, Patrick Sabongui, Mary McCormack / Sinopse: Um operador de drones, contratado pela CIA, recebe a visita de um muçulmano que lhe diz estar interessado na venda de um barco. Inicialmente o americano pensa estar conhecendo uma boa pessoa, que deseja mesmo comprar o veleiro que ele herdou de seu pai, mas aos poucos as coisas vão se revelando, demonstrando as verdadeiras intenções daquele islâmico em sua residência.

Pablo Aluísio.

Rei Arthur: A Lenda da Espada

Esse filme é o maior fracasso da temporada. Custou 175 milhões de dólares, mas só conseguiu faturar 14 milhões em seu primeiro final de semana nos Estados Unidos. Um desastre comercial monumental. Conferido os números é hora de se perguntar se o fracasso foi merecido. Lamento dizer, mas foi sim. O diretor Guy Ritchie deveria tomar vergonha na cara e parar de destroçar grandes personagens da literatura e da história. Ele já fez muita bobagem com Sherlock Holmes e agora parecia decidido a aniquilar o mais lendário monarca inglês, o nobre Arthur da Távola Redonda. O que mais me impressiona é que todos os elementos da mitologia de Arthur já estão sobre a mesa. É só adaptar sem fazer besteira que certamente dará certo. Muitos filmes do passado provaram exatamente isso. É praticamente tiro e queda! Dessa maneira não haveria muito como errar, mas Ritchie pelo visto não aprendeu essa lição. Ele resolveu mexer no mito, trocando elementos da história, personagens e o pior de tudo, mexendo na própria personalidade de Arthur. Um crime de lesa majestade!

O ator que dá vida a Arthur nessa nova versão é o motoqueiro de "Sons of Anarchy", o marrento Charlie Hunnam. Quando ele anda, com aquele gingado de motociclista californiano da série, você logo percebe que o filme vai afundar. Ele não tem a classe, a honradez e nem demonstra ter qualquer sinal da bravura do rei da lenda. Ao contrário disso é praticamente um pusilânime, um sujeito covarde que é levado pela espada Excalibur, quase como se fosse uma extensão dela! E ele não se esforça em nada em pelo menos disfarçar um bom sotaque inglês! Nada, sua caracterização do Rei é zero! Muito ruim. Esse é o segundo grande fracasso dele no cinema (o primeiro foi "Círculo de Fogo"), então provavelmente ele vai voltar para as séries, porque no mundo da indústria cinematográfica americana afundar duas vezes nas bilheterias é praticamente fatal. Volte para as motos e casacos de couro, Hunnam!

De fato o único bom ator desse filme é Jude Law. Ele interpreta o tio de Arthur, o sinistro rei  Vortigern, que faz de tudo para manter a coroa, até mesmo matar o irmão, a esposa e sua filha. O sujeito é realmente um monstro em todos os aspectos. Mais malvadão do que isso, impossível! Law sobrevive ao desastre, mas para não deixar nada de bom passar ileso, o equivocado Guy Ritchie mais uma vez erra a mão, o soterrando sob toneladas de efeitos digitais! Quando Law finalmente vai enfrentar Arthur, naquela que poderia ser a cena que salvaria o filme, o diretor resolve deixar tudo com cara de vídeo game! Para quem sumiu com o mago Merlin, bem, o que você poderia esperar? Sim, esse é um filme de Rei Arthur, mas sem o Merlin! Sumiram com o velhinho! Depois dessa só restava a Guy Ritchie ser punido pelo público, deixando as salas de cinema completamente vazias! Bem feito.

Rei Arthur: A Lenda da Espada (King Arthur: Legend of the Sword, 2017) Direção: Guy Ritchie / Roteiro: Joby Harold, Guy Ritchie / Elenco: Charlie Hunnam, Jude Law, Eric Bana, Astrid Bergès-Frisbey,  / Sinopse: Após ter seu pai morto por seu ambicioso tio, o garoto Arthur é enviado para a cidade de Londres, através do rio, tal como se fosse um Moisés da história inglesa, onde acaba sendo acolhido, crescendo sob os cuidados de mulheres que vivem nos bordéis da cidade. Ele cresce a acaba tirando a espada Excalibur de uma rocha, algo que simboliza seu direito legítimo ao trono da Inglaterra.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Jezebel

A atriz Bette Davis costumava dizer que o diretor William Wyler era um verdadeiro tirano durante as filmagens e que paradoxalmente a isso ele havia conseguido lhe tirar as melhores interpretações de sua carreira. O filme "Jezebel" vem justamente para confirmar as afirmações de Davis. Aqui ela interpreta Julie Marsden, uma jovem dama sulista na New Orleans do século XIX. Mimada, geniosa e dada a ataques de capricho, ela coloca seu romance com o banqueiro Preston Dillard (Henry Fonda) em risco, justamente por causa de sua personalidade.

Preston gosta dela, é verdadeiramente apaixonado, porém a paciência vai se acabando. Durante um tradicional baile sulista, onde as jovens solteiras sempre vão com lindos vestidos brancos, numa tradição muito valorizada no sul, Julie decide aparecer com um vestido todo vermelho, bem berrante, para escândalo da sociedade local. Essa "vergonha" começa a minar o romance dela com o jovem banqueiro, que afinal de contas é muito suscetível a qualquer problema dentro das regras daquela sociedade, uma vez que é um banqueiro que precisa preservar sua imagem perante seus clientes.

Dois aspectos históricos bem interessantes acompanham o enredo de "Jezebel". O primeiro é o fato da história se passar apenas poucos anos antes do começo da guerra civil americana. Já naquela época os ânimos surgem bem aflorados, dominando as conversas dos sulistas pelos salões das cidades. Outro é o surgimento da febre amarela no sul, levando morte e destruição em uma escala jamais vista. Essa doença que se dissemina com extrema rapidez vai ser essencial no desenrolar da história, culminando numa forte cena final que certamente marcou época e é o grande momento de todo o filme.

"Jezebel" foi baseado numa peça escrita por Owen Davis. De certa forma foi uma produção que antecipou em um ano o impacto do clássico "E o Vento Levou". As duas histórias dos filmes são bem parecidas, com enredos se passando no sul escravocrata, nos tempos da guerra civil. As duas protagonistas também são bem semelhantes. Até mesmo em termos de premiação da academia temos semelhanças pois Bette Davis foi merecidamente premiada com a estatueta de melhor atriz do ano com essa interpretação. Ela era ainda bem jovem, mas já imprimia a marca de sua forte personalidade em sua personagem. Décadas mais tarde, após o falecimento de Bette Davis, o diretor Steven Spielberg compraria o Oscar que ela havia sido premiada por esse filme e que estava à venda em um leilão em Londres. Ele comprou a estatueta e a devolveu para o museu da academia em Hollywood. Um gesto de preservação da história do cinema. Em suma, esse é de fato um dos melhores filmes históricos desse momento crucial na história dos Estados Unidos. Um clássico absoluto do cinema americano em sua era de ouro.

Jezebel (Jezebel, Estados Unidos,1938) Direção: William Wyler / Roteiro: Clements Ripley, Abem Finkel / Elenco:  Bette Davis, Henry Fonda, George Brent / Sinopse: Julie (Bette Davis) é uma jovem mimada e de personalidade forte. Ela tem um romance com um jovem banqueiro chamado Preston (Fonda), mas esse vai aos poucos perdendo a paciência com seus inúmeros caprichos. Quando a febre amarela assola a região o casal se colocará a prova, principalmente quando Julie descobrir que o grande amor de sua vida se casou com uma jovem do norte após o rompimento de seu conturbado namoro. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Música (Max Steiner). Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Calvário da Glória

Um filme realmente magnífico. A história se passa no meio teatral de Nova Iorque durante os anos 1950. É para lá que viaja Sam Lawson (Anthony Franciosa). Vindo de uma cidadezinha do interior ele tem muitos sonhos de se tornar um ator de sucesso na grande cidade. Para trás ele deixa a noiva Barbara (Joan Blackman). Assim que embarca no trem seu coração dispara, afinal é uma nova fase que vai nascendo em sua vida. E então vem a decepção. Assim como ele, há milhares de outros atores em Nova Iorque em busca de uma chance. A imensa maioria deles está desempregada. Os testes são extremamente competitivos e se torna mais fácil ganhar na loteria do que ser escolhido para atuar em uma peça.

Essa dura realidade vai minando os sonhos de Sam. Ele conhece um produtor de peças, Maurice 'Maury' Novak (Dean Martin), tão fracassado como ele e Shirley Drake (Shirley MacLaine), a filha de um dos produtores mais prestigiados de Nova Iorque, um boçal arrogante que parece ter prazer em humilhar os atores que buscam um espaço em suas peças teatrais. Como se pode perceber é uma galeria de personagens cruéis, violentos, irascíveis... todos tentando vencer em uma ramo verdadeiramente selvagem da grande metrópole. Para Sam a tragédia é ainda maior porque sua bela e jovem noiva não reage bem ao seu fracasso profissional. Ela fica grávida, perde o filho e o casamento não sobrevive a tantos problemas. Sam tenta muito ter uma oportunidade, mas todas as portas parecem estar fechadas para ele.

O roteiro desse filme sobre fracasso, desesperança e também persistência, é brilhante. Ele foi escrito pelo genial Dalton Trumbo que fez uma crônica sobre a destruição dos sonhos do protagonista. Obviamente Trumbo conheceu muitos atores que viveram a mesma situação de Sam. Pessoas cheias de sonhos que foram trucidadas pela realidade da vida. O personagem principal porém não deixa de ser um exemplo, principalmente pelo desfecho do filme. Trumbo preferiu a esperança do que o fracasso, a glória de uma vida de lutas do que passar uma mensagem pessimista, sórdida e cruel. Nesse aspecto ele conseguiu fechar com chave de ouro seu maravilhoso texto. Deu-se ao privilégio inclusive de colocar elementos de sua própria vida pessoal no enredo, como a perseguição aos comunistas na época, os impedindo de trabalharem e sobreviverem.

Além do roteiro que é inegavelmente uma obra prima, outro aspecto chama a atenção do espectador: o maravilhoso elenco. Todos estão em momento de graça. Até mesmo o cantor Dean Martin surpreende com sua atuação. Ele é um produtor de peças baratas do circuito Off-Broadway que vai vivendo um dia de cada vez. Shirley MacLaine é outro destaque absoluto. Uma menina rica, abusada, alcoólatra, com problemas psicológicos, que vira um elo nada sólido entre o fracasso e o sucesso daqueles que orbitam ao seu redor. Um fato curioso é que muitos astros recusaram o convite para atuar nesse filme. O tema do fracasso de um ator certamente assustou as estrelas de Hollywood. Coube então ao corajoso Anthony Franciosa assumir o papel principal, nesse que foi seguramente seu mais brilhante trabalho de atuação. "Calvário da Glória" é isso. Uma crônica sobre os sonhos em pedaços, mostrando o valor daqueles que persistem na busca por uma vida melhor.

Calvário da Glória (Career, Estados Unidos, 1959) Direção: Joseph Anthony / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Anthony Franciosa, Dean Martin, Shirley MacLaine, Carolyn Jones, Joan Blackman / Sinopse: Sam (Franciosa) é um ator fracassado que tenta de todas as formas vencer no concorrido mercado teatral de Nova Iorque. Apesar de seus esforços todas as portas parecem estar fechadas para seus sonhos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Joseph LaShelle), Melhor Figurino (Edith Head) e Melhor Direção de Arte (Hal Pereira e Walter H. Tyler). Filme vencedor do Globo de ouro na categoria de Melhor Ator - Drama (Anthony Franciosa).

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de junho de 2017

Enigma de uma Vida

O filme começa com Ned Merrill (Burt Lancaster) chegando na casa de amigos, vizinhos, velhos conhecidos. Há muito tempo que ele não aparecia por lá. A recepção é a melhor possível. É um domingo pela manhã, lindo dia de sol. Ned está animado para nadar na piscina da casa deles. Ele parece estar com ótimo humor, uma pessoa de bem com a vida. Entre conversas triviais ele fica sabendo que a maioria das casas vizinhas agora possuem sua própria piscina. É uma longa caminhada de Ned até chegar na sua residência, então ele decide fazer uma coisa inusitada: nadar em todas as piscinas que encontrar, até chegar em sua casa. Ele quer, em suas próprias palavras, chegar nadando até lá!

Então sem perder muito tempo Ned começa sua estranha jornada. Apenas com calção de banho, ele vai indo de casa em casa, pedindo licença aos moradores, para dar uma bela nadada em suas piscinas. No começo tudo parece bem fútil e até mesmo bobo, porém conforme Ned vai reencontrando velhos amigos e pessoas de seu passado, sua própria vida vai se revelando nessa sua caminhada. Ele revê sua antiga amante, uma mulher amargurada que está decidida a não mais cair em seus braços, também reencontra a babá de seus filhos, uma garota que agora está com 20 anos e que confessa que na adolescência havia criado uma paixão platônica avassaladora por ele. Cada uma dessas pessoas vai deixando uma marca em Ned. Ele porém não encontra apenas pessoas amigáveis, pelo contrário, também se vê diante de inimizades, moradores ricos e esnobes e gente que o trata mal.

Olha, o roteiro desse filme clássico "Enigma de uma Vida" pode até parecer bem simples numa visão superficial. Porém conforme o enredo vai se desenvolvendo percebemos que há muito mais por trás de sua suposta singeleza. O personagem interpretado por Burt Lancaster parece otimista e cheio de vida no começo do filme, mas quando começa sua jornada pelas piscinas da vizinhança ele começa a cair, sofrer ataques de pessoas que tinham alguma mágoa ou contas a acertar com ele e assim sua animação vai se esvaziando conforme ele avança. Lancaster já não era um garotão quando fez esse filme, mas estava em ótima forma física. Ele mescla uma atuação mais física com ótimos momentos em que demonstra grande talento dramático.

O título original do filme em inglês, que significa "o nadador" (The Swimmer), pode até dar a impressão que o protagonista só quer cumprir uma tarefa bem boba, auto imposta por ele mesmo, porém ao encontrar seus vizinhos e pessoas do passado, sua própria vida vai se revelando. O roteiro é assim uma verdadeira metáfora da vida do personagem. A vida começa cheia de esperanças, otimismo e alegria. Conforme o tempo vai passando e sofremos perdas, decepções, revezes e infortúnios, o sol que brilhava tanto já não brilha mais. Por isso a cena final é toda passada em uma grande chuva torrencial. Quando ele finalmente bate a porta de sua antiga casa, tudo é revelado. Em suma, ótima filme em roteiro que surpreende por sua profundidade (até mesmo filosófica). Uma verdadeira obra prima, para dizer a verdade.

Enigma de uma Vida (The Swimmer, Estados Unidos,1968) Direção: Frank Perry, Sydney Pollack / Roteiro: Eleanor Perry, John Cheever / Elenco: Burt Lancaster, Janet Landgard, Janice Rule / Sinopse: Ned Merrill (Burt Lancaster), um morador da região, decide fazer uma maratona nas piscinas de seus vizinhos. O que inicialmente parece ser uma grande bobagem acaba se revelando um momento de reflexão sobre sua vida, seu passado e as pessoas que conheceu ao longo de todos esses anos.

Pablo Aluísio.