quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Tomorrowland

Título no Brasil: Tomorrowland
Título Original: Tomorrowland
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Studios
Direção: Brad Bird
Roteiro: Damon Lindelof, Brad Bird
Elenco: George Clooney, Britt Robertson, Hugh Laurie, Raffey Cassidy, Tim McGraw, Keegan-Michael Key
  
Sinopse:
Durante a feira mundial de 1964 o garoto Frank Walker (Thomas Robinson) acaba sendo levado para um mundo futurista, com naves e inventos maravilhosos. Os anos passam e agora é a vez da garota Casey Newton (Britt Robertson) de ser levada até Tomorrowland! Antes porém ela precisará ser salva do ataque de robôs do futuro enviados pelo maquiavélico governador Nix (Hugh Laurie). Filme indicado ao Teen Choice Awards e ao Visual Effects Society Awards.

Comentários:
Esse filme acabou se tornando um dos maiores fracassos comerciais da história da Disney. Com orçamento próximo de 200 milhões de dólares não conseguiu render nem um terço disso nas bilheterias. Um fracasso merecido. A questão é que temos aqui um dos roteiros mais mal escritos que já vi na minha vida. Só para se ter uma ideia de como ele soa confuso na tela: o espectador fica perdido, no ar, sem saber direito tudo o que está acontecendo, por aproximadamente 90 minutos! (isso em um filme com pouco mais de 110 minutos de duração!). Haja paciência! Pouca coisa é explicada e quando a trama finalmente é revelada se torna uma decepção enorme por ser boba, vazia e sem novidades. Até mesmo a cena final é cheia de clichês saturados. Basicamente é uma ficção ao estilo aventura infanto-juvenil (para usar de uma expressão bem antiga), baseada em um universo com duas dimensões paralelas, uma que seria a nossa realidade e a outra, futurista, com um mundo perfeito. Não adianta tentar encontrar algo a mais porque simplesmente não há! O projeto nasceu quando a Disney resolveu levar para as telas um brinquedo temático de um de seus parques de diversões (isso mesmo, um filme baseado em um brinquedo!). A que ponto se chegou na falta de originalidade não é mesmo?... Pois bem, para isso criaram um enredo tão descartável que não é preciso ir muito além para saber que o filme se resume a uma orgia visual de efeitos visuais com roteiro praticamente inexistente. Uma perda de tempo. Depois que o filme afundou comercialmente o ator George Clooney explicou que fez o filme por causa de sua mensagem ao estilo "Vamos salvar o planeta enquanto há tempo!". Isso é o que dá ser chatinho e politicamente correto além da conta não é mesmo Sr. Clooney? Francamente...

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Atividade Paranormal

Título no Brasil: Atividade Paranormal
Título Original: Paranormal Activity
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Solana Films, Blumhouse Productions
Direção: Oren Peli
Roteiro: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Amber Armstrong, Ashley Palmer
  
Sinopse:
Um jovem casal se muda para uma nova casa no subúrbio. No começo tudo vai muito bem, eles estão apaixonados e felizes por estarem finalmente em sua casa própria. Os problemas porém não tardam e começam a surgir durante as madrugadas. Para registrar tudo o casal decide deixar câmeras filmando tudo, 24 horas por dia! O que estas imagens revelam deixam todos apavorados. Uma presença demoníaca ronda as noites escuras naquela casa. Filme indicado ao Fangoria Chainsaw Awards, ao Independent Spirit Awards e ao MTV Movie Awards.

Comentários:
Esse foi o primeiro filme da franquia "Paranormal Activity". Quem é fã de terror sabe muito bem que esse filme, para o bem ou para o mal, acabou sendo um dos mais influentes dos últimos anos. Isso se deve ao fato de que a estética que é utilizada nessa produção acabou virando uma febre entre filmes de terror mais recentes. A fórmula realmente é muito tentadora pois é muito barata, fácil de se produzir, contando com uma falsa realidade para assustar o público. É o estilo Mockumentary, mais conhecido entre nós como "falso documentário", ou seja, uma obra cinematográfica que tenta reproduzir filmagens amadoras, feitas por qualquer pessoa, captando eventos extraordinários. Tudo é colocado para o público como se fossem registros amadores verdadeiros e não pura ficção. Isso acaba criando uma identificação que ajuda bastante na construção do medo e do terror. Esse tipo de filme começou a virar recorrente com o sucesso de "A Bruxa de Blair" que tentou convencer o público de que tudo o que se via na tela era a mais pura (e assustadora) verdade. Com "Atividade Paranormal" a ideia vai além. O foco é aquela típica família suburbana americana sendo assustada por eventos paranormais que simplesmente não se pode explicar. Nos cinemas o trailer valorizava mais a reação do público do que o filme em si, mostrando as reais intenções dos realizadores desse tipo de filme. Deu certo. Com orçamento extremamente enxuto e econômico a fita rendeu uma excelente bilheteria que justificaria uma infinidade de sequências, cada vez mais fracas e ruins. Não importa, em Hollywood como diz o ditado "money talks", ou seja, o dinheiro manda. Enquanto houver público para esse tipo de filme certamente haverá continuações, ano após ano.

Pablo Aluísio.

O Chacal

Título no Brasil: O Chacal
Título Original: The Jackal
Ano de Produção: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Michael Caton-Jones
Roteiro: Kenneth Ross, Chuck Pfarrer
Elenco: Bruce Willis, Richard Gere, Sidney Poitier, Diane Venora, Mathilda May, J.K. Simmons, Jack Black
  
Sinopse:
Durante anos um assassino profissional conhecido apenas como "O Chacal" cometeu crimes em vários países do mundo. Agora ele está nos Estados Unidos, pronto para cumprir um contrato de setenta milhões de dólares para eliminar um influente político americano. O FBI e a CIA precisam descobrir seu paradeiro antes que o crime seja cometido, porém poucos conhecem o rosto do Chacal. Uma dessas pessoas é um ex-terrorista do grupo irlândes IRA. Assim o condenado Declan Mulqueen (Gere) aceita colaborar na caça do Chacal em troca de certos benefícios para si próprio.

Comentários:
A ideia original era até muito boa. Uma nova adaptação para o famoso livro "O Dia do Chacal", um dos mais consagrados livros de ficção dos últimos anos. O filme original de 1973, dirigido por Fred Zinnemann, é sem dúvida um dos maiores clássicos modernos do cinema. O problema é que logo que começou a adaptação o estúdio resolveu ir por outro caminho. Ao invés de adaptar o enredo original procurou-se criar uma nova trama, com outros rumos. Aí a coisa toda desandou. O filme virou uma fita de ação genérica (embora competente) que muito pouco utilizava do romance original. O grande atrativo assim saia das páginas da literatura para o puro cinema. Entre eles o fato do filme contar com um excelente elenco, com direito a presença do veterano Sidney Poitier. O diretor Michael Caton-Jones sem dúvida criou um filme muito ágil, com excelente sequências de ação, porém algo se perdeu nesse processo. Bruce Willis como o assassino profissional Chacal não convence muito, porque está de certo modo preguiçoso em cena. Melhor se sai, quem diria, Richard Gere. Com um modo de interpretação mais sofisticado, menos brutamontes, ele acabou roubando grande parte do filme para si. No geral é isso. uma fita competente de ação, mas que fica longe, bem longe, do clássico "O Dia do Chacal", aquele sim um dos melhores da história do cinema.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Jovens Adultos

Título no Brasil: Jovens Adultos
Título Original: Young Adult
Ano de Produção: 2011
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Diablo Cody
Elenco: Charlize Theron, Patrick Wilson, Patton Oswalt, Elizabeth Reaser, Collette Wolfe, Jill Eikenberry
  
Sinopse:
Prestes a chegar aos 40 anos, a vida para Mavis Gary (Charlize Theron) parece não ir para frente. Ela está divorciada, se envolvendo com os homens errados em relacionamentos fracassados e casuais que não vão para lugar nenhum. Pior é olhar para o passado e se lembrar de seus tempos de escola quando era muito popular entre seus amigos. Agora ela descobre que sua antiga paixão da juventude está casado e muito feliz, pai de um lindo garotinho. Irritada com o seu destino Mavis resolve então voltar para sua velha cidadezinha natal onde pretende reconquistar o coração de seu namorado do passado. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Charlize Theron).

Comentários:
Bom filme, bem valorizado pela inspirada atuação da atriz Charlize Theron (que de certo modo deixou a vaidade de lado!). Ela interpreta uma mulher amarga, frustrada e magoada pelo tempo que tenta voltar para o passado, quando era admirada pelos amigos e colegas da escola. Um linda garota loira e popular dos tempos de escola que pareceu não ter dado muito certo! O problema é que esse passado obviamente não existe mais. Nem seu antigo namorado a quem ela nunca esqueceu tampouco é a mesma pessoa de antes. Mesmo assim ela resolve ignorar tudo e partir para o ataque, causando todos os tipos de constrangimentos, mal entendidos e problemas ao tentar voltar para um mundo ao qual ela não mais pertence. O filme é supostamente uma comédia, porém o humor que vemos aqui é obviamente bem negro, sarcástico até. O roteiro, escrito pela roteirista e stripper Diablo Cody explora muito bem a geração que já está nos "trinta e tantos" chegando perigosamente aos "quarenta e poucos", em um um momento da vida em que vários sonhos se evaporaram no ar e nada mais parece muito promissor pela frente. É um tipo de humor que também vai deixar uma estranha sensação de desconforto em que assiste ao filme. E é justamente por isso que vale a pena a sessão. Assista, se divirta e se possível se identifique. O sorriso amarelo logo surgirá, constrangido, em seu rosto.

Pablo Aluísio.

Quantico

Ontem assisti ao episódio piloto dessa nova série Quantico. De antemão já sabia que não era grande coisa. Basta dar uma olhada no elenco para verificar que não vinha nada de muito bom pela frente. O canal abc não se notabilizou por ser ousado em termos de séries. Como convém a uma canal aberto americano eles ficam por ali mesmo, no esquema mainstream, tudo formulaico e cheio de clichês. O alvo é o público médio, que apenas quer curtir um enlatado no fim da noite de um dia de trabalho duro. Não existe espaço para ousadias ou inovações. O tema é batido. Um grupo de jovens de todos os lugares e origens dos Estados Unidos vão até a cidade de Quantico onde funciona a academia do FBI. Eles sonham se tornar agentes federais. No meio do caminho para lá, numa viagem de trem, a futura agente Alex Parrish (interpretada pela bonita atriz indiana Priyanka Chopra) resolve dar uns pegas em um cara bonitão que encontra por acaso. Depois dos amassos ela o dispensa sem maiores rodeios, dizendo que ele não é o seu tipo. Mero sexo casual. Para sua surpresa acaba encontrando ele de novo, só que em Quantico! Pois é, ele também era um dos novatos da Academia.

Bom, pela simples menção dessa pequena sinopse já deu para perceber que a série é mais uma daquelas bem bobinhas da TV americana. Essa mania de usar um monte de atores que mais parecem modelos como policiais já se esgotou, principalmente em programas do tipo Chicago Fire, Chicago PD ou até mesmo Rookie Blue. Também não espere por roteiros bem escritos ou surpreendentes. Nesse piloto há duas linhas temporais. No passado vamos acompanhando a chegada dos novos alunos de Quantico, as primeiras experiências, antipatias e simpatias entre eles. Depois vamos descobrindo gradualmente que muitos deles escondem algo. Já no presente encontramos a agente Alex no meio de um prédio que acabou de sofrer um atentado terrorista. O seu chefe acredita que alguém de sua turma de formandos esteve envolvido na tragédia. Inclusive ela própria vira uma suspeita. Quem seria o terrorista? Pronto, acaba por aí mesmo. Não me convenceu, não me animou e muito provavelmente não seguirei acompanhando. Depois de muitos anos assistindo séries você vai criando um bom instinto sobre o que presta ou não presta nesse universo. Em se tratando de algumas séries você não precisa nem perder seu tempo.

Quantico (Quantico 1.01 - Run, EUA, 2015) Direção: Marc Munden / Roteiro: Joshua Safran / Elenco: Priyanka Chopra, Josh Hopkins, Jake McLaughlin. / Sinopse: Um grupo de jovens estudantes vão para Quantico para começar seus estudos na famosa academia policial do FBI. Série produzida pelo canal abc.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de setembro de 2016

Até o Fim

Título no Brasil: Até o Fim
Título Original: All the Way
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: HBO Films
Direção: Jay Roach
Roteiro: Robert Schenkkan
Elenco: Bryan Cranston, Frank Langella, Bradley Whitford, Melissa Leo, Stephen Root, Anthony Mackie
  
Sinopse:
Após o assassinato de JFK em Dallas, assume a presidência dos Estados Unidos seu vice, Lyndon Johnson (Bryan Cranston). Na Casa Branca seu grande desafio passa a ser a aprovação pelo Congresso da Lei dos Direitos Civis. Para isso ele passa a contar com o apoio do pastor e líder negro Martin Luther King, Jr (Anthony Mackie). Os desafios porém são muitos, inclusive dobrar a ferrenha oposição de parlamentares do Sul, região tradicionalmente mais racista daquele país. Enquanto tenta a aprovação da lei o presidente Johnson também precisa lidar com o crescente envolvimento militar americano em um país asiático distante chamado Vietnã. Filme indicado a oito prêmios Emmy, entre eles melhor filme, melhor direção (Jay Roach), melhor ator (Bryan Cranston) e melhor atriz (Melissa Leo).

Comentários:
Lyndon Johnson (1908 - 1973) foi um presidente americano diferente. Ele era um político tradicional e meio apagado que de repente se viu no meio do furação após o assassinato em Dallas do presidente John Kennedy. Como era o vice de JFK assumiu a presidência. Ao contrário de seu antecessor ele passava longe de ser um grande estatista. Meio bronco e chucro, um autêntico caipira sulista, ele tinha um jeito diferente de tratar com todos os problemas políticos que lhe surgiam pela frente. Era um sujeito pragmático, que nem sempre pensava com muita sensatez. Também sondava constantemente com a ilegalidade, como podemos ver no filme em suas delicadas relações com o diretor geral do FBI, J. Edgar Hoover. Esse presidente ficou marcado na história por dois eventos principais durante seu mandato, um positivo e outro negativo. O positivo foi a aprovação da lei dos direitos civis, uma velha bandeira de JFK. O negativo foi o envolvimento cada vez maior dos Estados Unidos na lama do Vietnã, o conflito armado mais desastroso da história daquela nação. Como ele não tinha muita visão de política internacional foi enviando cada vez mais tropas para o Vietnã, o que acabou causando aquele desastre imenso que bem conhecemos. 

O roteiro do filme porém pouco lida com a questão dessa guerra (que inclusive foi determinante para que ele depois desistisse de se reeleger por uma segunda vez). Ao invés disso prefere mostrar os esforços de Johnson em aprovar as leis de direitos civis em prol da população negra, sem desviar a atenção do presidente da tormentosa questão de sua própria reeleição. Quem interpreta o presidente nesse bom filme é o talentoso ator Bryan Cranston. Usando forte maquiagem para se parecer com Lyndon Johnson, ele pouco lembra de seu papel mais famoso, o do professor de química Walter White da série "Breaking Bad". Penso que nessa altura do campeonato ninguém mais tem dúvidas de como ele é um grande ator. Aqui, na pele do presidente Johnson, ele consegue simplesmente desaparecer em seu personagem (algo que apenas os grande atores conseguem realizar). Outro grande destaque vem da interpretação do veterano Frank Langella. Ele interpreta um velho senador do sul chamado Richard Russell, um político que luta para derrubar a lei que amplia os direitos dos negros, embora ele próprio seja um grande amigo pessoal do presidente. Enfim, muito bom esse filme. Historicamente bem realizado, é um interessante retrato desse presidente que se considerava acima de tudo um mero acidente da história.

Pablo Aluísio.

Quadrilha do Inferno

Título no Brasil: Quadrilha do Inferno
Título Original: Posse from Hell
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Herbert Coleman
Roteiro: Clair Huffaker
Elenco: Audie Murphy, John Saxon, Lee Van Cleef, Zohra Lampert Vic Morrow, Robert Keith, Rodolfo Acosta
  
Sinopse:
Uma quadrilha de bandoleiros violentos chega numa cidadezinha do velho oeste chamada Paradise e toma vários moradores como reféns. Eles querem assaltar o banco da cidade e para isso usam as pessoas como verdadeiros escudos humanos. O Xerife tenta evitar, mas cai em uma emboscada e morre. Depois que roubam o banco os bandidos fogem com uma refém, uma jovem chamada Helen (Zohra Lampert). Os moradores então resolvem forma um grupo de resgate, comandados pelo assistente do xerife, Banner Cole (Murphy). Juntos vão para o deserto para tentar capturar os criminosos e libertar a refém.

Comentários:
Faroeste B da Universal estrelado pelo astro da época Audie Murphy (que se tornou estrela em Hollywood após ser o soldado americano mais condecorado na II Guerra Mundial). Pois bem, o roteiro como se pode perceber na sinopse, é bem básico, praticamente uma caçada a ladrões de bancos pelo deserto. Murphy interpreta um personagem um pouco antipático, um sujeito durão que não parece estar muito preocupado em ser educado ou gentil com os que lhe ajudam nessa empreitada. Em certos aspectos o sujeito é bastante rude e mal-educado. Assim quem acaba se destacando são dois coadjuvantes. O primeiro deles é o ator John Saxon. Ele interpreta um almofadinha, um empregado que o banco que foi roubado envia junto da patrulha comandada por Audie Murphy. Um sujeito de Nova Iorque que não parece acostumado nem a montar um cavalo, quanto mais a usar uma arma de fogo. A despeito de sua falta de jeito acaba se revelando uma surpresa quando finalmente o bando de ladrões é confrontado. 

Outro destaque vem da presença de  Lee Van Cleef. Ele interpreta um bandido, em um papel sem maior importância. Para os fãs de suas fitas de western spaghetti (que iria realizar depois quando foi para a Itália), é no mínimo curioso ver o ator, ainda bem jovem, dando os seus primeiros passos em sua longa lista de homens maus que iria interpretar no cinema. Por fim um aspecto do roteiro que merece ser citado. A jovem que é sequestrada pela quadrilha deixa claro para o personagem de Audie Murphy que foi estuprada por todos os criminosos que a tinham como refém. A forma direta que isso é tratado pelo roteiro causa surpresas, pois na época esse tema ainda era considerado tabu dentro do cinema americano. No máximo um crime como estupro era sugerido pelos roteiros e não tratado de forma tão aberta! Ela inclusive fica tão enojada e envergonhada por ter sido estuprada que se recusa a voltar para sua antiga cidadezinha, com receios de ficar estigmatizada. Esse detalhe do roteiro certamente era algo bem inovador na época, demonstrando que o filme, pelo menos nesse quesito, foi bem inovador.

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de setembro de 2016

O Maior Amor do Mundo

Título no Brasil: O Maior Amor do Mundo
Título Original: Mother's Day
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Lionsgate Pictures
Direção: Garry Marshall
Roteiro: Anya Kochoff, Matthew Walker
Elenco: Jennifer Aniston, Kate Hudson, Julia Roberts, Timothy Olyphant, Shay Mitchell, Margo Martinda
  
Sinopse:
Perto da chegada do dia das mães um grupo de mulheres, das mais diversas faixas etárias, precisa lidar com os problemas de relacionamento envolvendo suas mães e sua própria maternidade. Há a mãe divorciada (Aniston) que agora precisa lidar com o fato do ex-marido estar casado com uma jovem, praticamente uma adolescente, que poderia ser sua filha; uma esposa (Hudson) que esconde da própria mãe que se casou com um indiano (já que ela tem um claro preconceito contra imigrantes e estrangeiros) e uma irmã que agora vive um relacionamento gay escondido de seus pais. Tudo tratado com bom humor e leveza.

Comentários:
Esse é aquele tipo de filme feito por e para mulheres que dificilmente despertará o interesse do público masculino. Para o cinéfilo em geral o único atrativo virá realmente do elenco (que conta com três estrelas de Hollywood) e nada muito além disso. Como o título original sugere ("Mother's Day" ou Dia das Mães), o roteiro explora a maternidade em suas diversas fases e peculiaridades. Todas as protagonistas são mães que enfrentam todos os tipos de problemas e desafios em seu dia a dia. Embora o enredo tivesse um potencial dramático, envolvendo questões emocionais e familiares, tudo desanda para o humor bem mais leve, totalmente inofensivo e com carga dramática praticamente nula. Esse talvez seja o maior problema do filme. Não há espaço para conflitos entre os personagens, tudo parece ser solucionado com um sorrisinho no rosto, sem traumas, sem brigas, sem nada. O diretor Garry Marshall (falecido recentemente, sendo esse seu último filme) parecia ter receios de traumatizar seu público ou algo assim. De certa forma ele trata e subestima completamente o público, evitando qualquer tipo de cena mais forte ou mais relevante. Quando o filme fica inofensivo demais, mesmo sendo uma comédia romântica, a coisa toda desanda para a pura água com açúcar, tornando tudo tão plastificado e falso que fica complicado seguir o filme até o seu final (igualmente inócuo e desprovido de carga dramática). Outro problema vem do tratamento em relação aos homens. Não há figuras masculinas fortes no roteiro. Todos os homens parecem ou fracos ou idiotas, imbecilizados e idiotizados. Nenhum deles tem um papel positivo dentro da trama. Olyphant, por exemplo, é um boboca que se apaixona por uma jovem, ignorando que ela talvez só esteja atrás de seu dinheiro. De certa forma tudo parece se desenvolver em uma realidade fake, que definitivamente não convence ninguém. As situações são manipuladas demais e não são muito divertidas e nem particularmente engraçadas. É tudo tão bobinho pra falar a verdade... e não há como negar que o filme no geral é de um vazio absurdo! Assim as piores situações - como ver seu ex-marido se apaixonando por uma gatinha praticamente adolescente ou o preconceito racial de seus pais para com o seu marido de origem estrangeira - acabam virando meras piadinhas de salão, estorinhas engraçadas para você contar para suas amigas em sessões de fofocas e fuxicos. Francamente...

Pablo Aluísio.

Imperium

Foi meio enervante assistir a essa filme porque seu roteiro foi baseado em fatos reais! Quando tudo acaba você acaba sentindo um frio na espinha ao se dar conta de que vivemos em um mundo cheio de lunáticos, malucos e fanáticos perigosos. Na história do filme o ator Daniel Radcliffe interpreta um agente do FBI chamado Nate Foster. Ele é um sujeito meio tímido e por fora que acaba sendo escolhido para se infiltrar em um grupo de supremacia branca em Washington DC. Como se sabe há muitos grupos como esse, de tendências neonazistas, em praticamente todos os estados americanos.

Com o avanço do terrorismo islâmico eles foram deixados um pouco de lado pelo FBI, o que o bureau logo descobriu ter sido um erro e tanto já que eles também poderiam ser tão perigosos e letais como os violentos seguidores do Jihad muçulmano. Pois bem, determinada sua missão Nate recebe nova identidade (a de um veterano da marinha descontente com os rumos do governo) e começa a frequentar locais e manifestações desses seguidores do lema "White Power". Suas suspeitas maiores recaem sobre um locutor de rádio que mantém um programa de mensagens radicais e racistas. O tempo porém provará a Nate que o perigo não estava nesse sujeito, mas sim em alguém que parecia ser a pessoa mais sensata no meio de todo aquele fanatismo.

Essa história é bem preocupante porque demonstra como essas organizações são bem estruturadas, organizadas e o pior de tudo: possuem todos os meios para causar grandes danos aos seus inimigos, sejam eles reais ou imaginários. Sempre pregando uma mensagem de ódio racial contra negros, judeus e imigrantes, esses movimentos de tempos em tempos se degeneram para ações terroristas violentas. No caso do enredo do filme um pequeno, mas atuante grupo, decide fazer um atentado usando Césio 137 (o mesmo que causou uma tragédia no Brasil alguns anos atrás). Seu objetivo é causar o maior número de mortes em prol de uma suposta mensagem Hitleriana de dominação ariana - uma coisa de deixar qualquer um de cabelos em pé!

Além do tema importante o filme também se destaca pela boa direção do jovem cineasta Daniel Ragussis. Amigo pessoal do ator Daniel Radcliffe, ele soube aproveitar a oportunidade de dirigir esse seu primeiro longa-metragem e conseguiu realizar um filme bem redondinho, sem exageros ou erros, contando corretamente sua história. Entre o elenco eu destacaria a boa atuação de Sam Trammell. O fã de séries certamente o reconhecerá de "True Blood". Ele interpreta um sujeito que parece ser extremamente normal e equilibrado, com família e filhos, admirador de música clássica e tudo mais. Um verdadeiro pilar da comunidade. Mal se sabe que por debaixo de toda aquela fachada se esconde um insano e feroz seguidor das ideias racistas mais absurdas e enlouquecidas. Enfim, deixo aqui a dica desse muito bom "Imperium". Um filme para ver e refletir sobre os caminhos tortuosos pelas quais anda a humanidade ultimamente.

Imperium (Estados Unidos, 2016) Direção: Daniel Ragussis / Roteiro: Michael German, Daniel Ragussis / Elenco: Daniel Radcliffe, Toni Collette, Tracy Letts, Sam Trammell / Sinopse: Agente do FBI disfarçado se infiltra no meio de organizações de supremacia branca nos Estados Unidos para descobrir quem estaria por trás dos planos de um grande atentado terrorista na capital da nação. Roteiro baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Ciladas da Sorte

Título no Brasil: Ciladas da Sorte
Título Original: Albino Alligator
Ano de Produção: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: Miramax
Direção: Kevin Spacey
Roteiro: Christian Forte
Elenco: Matt Dillon, Faye Dunaway, Gary Sinise, William Fichtner, Viggo Mortensen, M. Emmet Walsh, Joe Mantegna
  
Sinopse:
Após cometerem crimes pela noite adentro, três ladrões são caçados pela força policial. Tentando escapar do cerco eles acabam em um modesto bar, localizado em um porão. Lá acabam fazendo cinco reféns, entre clientes e empregados do pequeno estabelecimento. O lugar é uma verdadeira arapuca, com apenas uma saída. Como eles poderiam sair vivos de um bar como aquele? Assim nasce a ideia desesperada de se utilizar um plano ao estilo "Albino Alligator", onde uma pessoa é sacrificada para atrair a atenção dos policiais, enquanto os outros fogem do cerco dos tiras.

Comentários:
Bom, que Kevin Spacey é um dos mais talentosos atores de sua geração isso praticamente todo mundo já sabe. Agora, como ele se saiu atrás das câmeras, como diretor de cinema? Quem estiver procurando por uma resposta a encontrará em apenas dois filmes (os dois únicos que ele dirigiu até hoje). Um deles é "Uma Vida Sem Limites" de 2004, uma bela homenagem do ator para com o cantor Bobby Darin. Nostálgico e com ótima trilha sonora é realmente um belo musical biográfico. Antes disso porém Spacey se aventurou na direção com esse "Albino Alligator". Aqui temos um thriller policial com toques teatrais em sua concepção que acabou funcionando muito bem. Como era de se esperar Spacey filmou pensando em seus atores. Tudo é direcionado para valorizar cada diálogo, cada detalhe de atuação. Para isso ele reuniu realmente um excelente elenco onde se destacaram os veteranos Joe Mantegna e Faye Dunaway. Outro destaque vem com o belo trabalho de Gary Sinise, que sempre teve um estilo de interpretação bem próximo do próprio Kevin Spacey. Seria o alter ego do diretor no filme? É possível. Em suma, deixamos aqui a dica desse bom filme policial dos 90s. Uma bela produção, um roteiro bem escrito e um elenco afiado marcam um filme que fez jus ao talento de Spacey e todo o seu elenco.

Pablo Aluísio.

Guerra de Canudos

Título no Brasil: Guerra de Canudos
Título Original: Guerra de Canudos
Ano de Produção: 1997
País: Brasil, Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures, Rio Filme
Direção: Sergio Rezende
Roteiro: Paulo Halm, Sergio Rezende
Elenco: José Wilker, Cláudia Abreu, Paulo Betti, Marieta Severo, José de Abreu, Selton Mello
  
Sinopse:
Filme baseado em um fato histórico real, "Guerra de Canudos" recria o terrível conflito armado que aconteceu no interior do nordeste brasileiro entre as forças armadas e um grupo de pessoas liderados por um líder religioso carismático chamado de Antônio Conselheiro (José Wilker). Pregando o fim dos tempos, ele conseguiu reunir uma grande população em um pequeno vilarejo chamado Canudos. Pregando contra o fim da monarquia e se declarando independente do resto do país, Conselheiro acabou se tornando um alvo para o governo, dando origem a um massacre sem precedentes na história do Brasil. 

Comentários:
Eu gosto bastante desse filme. Aliás sou meio suspeito para opinar pois sempre gostei de filmes adaptados de eventos marcantes da história do Brasil. O beato Antônio Conselheiro acabou sendo um desses protagonistas da história que até hoje segue sendo motivo de muitas controvérsias. Teria sido ele um lunático, um fanático religioso ou um homem com uma visão de mundo bem a frente de seu tempo? O bom roteiro dessa produção prefere apenas contar corretamente todos os fatos históricos, sem se tornar panfletário de uma causa ou uma mera propaganda ideológica. Assim acabou encontrando o caminho certo para o bom cinema. Até porque a história desse homem místico já é por si só demais interessante. Outro aspecto digno de nota que também vale ressaltar é o fato de que o massacre de Canudos jamais foi esquecido, mesmo após dois séculos. Um dos momentos mais curiosos e singulares da história do nosso país também deu origem a um banho de sangue que mesmo hoje em dia jamais podemos compreender bem. Que Antônio Conselheiro era um homem estranho, com ideias fora do comum, isso todos os historiadores já sabem bem. Agora, era necessário mesmo uma verdadeira guerra apenas por ele pensar diferente do poder dominante? Afinal qual seria a importância de uma vilazinha no meio do semi árido nordestino para o resto de um país continental como o Brasil? Assista ao filme e tente entender ou encontrar todas essas respostas.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Tobruk

Nesse fim de semana resolvi assistir a um antigo filme clássico de guerra chamado "Tobruk". Por um desses esquecimentos da vida não conseguia mais recordar se tinha ou não assistido antes essa produção da Universal! A única certeza que tinha era que se tinha visto mesmo foi há muitos anos, a ponto da memória falhar completamente. Assim, na dúvida, resolvi conferir. Além disso o tema sempre me interessou pois gosto bastante de livros históricos sobre a II Guerra Mundial. Pois bem, se você sabe o mínimo sobre essa guerra vai lembrar da figura do general Rommel. Ele foi um dos maiores estrategistas da Alemanha Nazista. Sob o comando da Afrika Korps ele venceu várias batalhas importantes na guerra, mesmo com inúmeros problemas que envolviam as tropas sob seu comando. Sem dúvida era um gênio da estratégia militar.

Pois é justamente no cenário onde Rommel brilhou, localizado no norte da África, que o enredo de "Tobruk" se desenvolve. Aliás o nome Tobruk era referente ao importante porto onde Rommel mantinha uma incrível divisão de tanques do III Reich que estava apenas à espera da chegada das tropas aliadas para destroçar completamente com elas. Como deter o avanço dessa coluna mortal de armas de guerra? Ora, um tanque só funcionaria com combustível, como era óbvio deduzir. Toda essa gasolina estava armazenada em grandes depósitos situados no mesmo porto. Então essa era a missão dos homens, a maioria deles britânicos, em Tobruk: Localizar os depósitos e tocar fogo em todos eles. Pareceu fácil? Nada disso. A região era fortemente guarnecida pelo exército alemão. Como entrar lá então?

A única maneira de entrar além das linhas inimigas era se disfarçar dos próprios inimigos. Assim todos se vestem de nazistas e começam a viajar rumo a Tobruk. Rock Hudson, o eterno galã de Hollywood, interpretou nesse filme um Major canadense especializado na região onde estavam os grandes depósitos do Reich. Apenas ele poderia conduzir todos eles por aqueles desertos sem fim. George Peppard (lembra dele de "Esquadrão Classe A", série popular nos anos 80?) interpretava o Capitão Bergman que tinha que garantir que todos sairiam salvos daquela missão praticamente suicida.

Sob a competente direção do cineasta Arthur Hiller, um veterano diretor com mais de 70 filmes no currículo, que inclusive morreu recentemente no último dia 17 de agosto aos 92 anos de idade, o filme funciona muito bem. Ele criou um filme de guerra ao velho estilo, seguindo os dogmas da antiga escola de Hollywood. Não há muito espaço para dubiedades, pois todos os militares são heróis em potencial, mesmo quando surgem momentos de ironia ou humor. O filme é uma mistura de ficção e fatos históricos reais que satisfaz plenamente as exigências do cinéfilo que aprecia esse tipo de produção. Um dos destaques vem da bem realizada cena final quando Rock e seus companheiros precisam destruir imensos canhões de praia dos nazistas. Uma cena tão tecnicamente bem feita que legou ao filme sua única indicação ao Oscar na categorias de Efeitos Especiais. Até Rommel teria batido palmas se ainda estivesse vivo.

Pablo Aluísio.

Era uma Vez no Oeste

Título no Brasil: Era uma Vez no Oeste
Título Original: C'era una volta il West
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos, Itália
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Donati, Sergio Leone
Elenco: Henry Fonda, Charles Bronson, Claudia Cardinale, Jason Robards, Gabriele Ferzetti, Paolo Stoppa
  
Sinopse:
Quando a bela Jill McBain (Claudia Cardinale) chega de viagem de New Orleans em uma pequenina cidade do velho oeste americano para se unir ao homem com o qual se casou e descobre que toda a sua família foi morta, ela percebe que sua vida praticamente acabou. O lugar está dominado pela quadrilha liderada pelo pistoleiro e sádico Frank (Henry Fonda), um mercenário que protege com extrema violência os interesses da companhia ferroviária, cujas linhas irião passar em breve pela região. O marido de Jill estava atrapalhando os planos da ferrovia e por essa razão foi eliminado por Frank e seus bandoleiros. Apenas dois homens parecem dispostos a proteger Jill da ameaça sempre constante de Frank, o rápido no gatilho Cheyenne (Jason Robards), um foragido da lei, e o introspectivo "Harmonica" (Bronson), um pistoleiro misterioso de origem desconhecida.

Comentários:
Para muitos críticos e especialistas em cinema esse é o melhor western spaghetti de todos os tempos. É a obra máxima que sintetiza como nenhuma outra a genialidade do mestre Sergio Leone. De fato, sob qualquer ponto de vista é impossível negar as qualidades cinematográficas desse verdadeiro clássico. Leone construiu uma verdadeira ópera visual, explorando com maestria todos os valores e dogmas sagrados do faroeste. Uma prova de seu inigualável talento acontece logo na primeira cena. Um grupo de pistoleiros mal encarados chegam em uma estação ferroviária. Eles esperam a chegada do próximo trem. Aqui Leone explora todas as possibilidades narrativas sem praticamente usar o recurso do diálogo. Tudo acontece apenas se utilizando os elementos que estão ao redor. O ruído de um velho moinho todo enferrujado, o som desolador do vento do deserto e até mesmo uma mosca incômoda que insiste em pousar no rosto do bandido, se tornam elementos narrativos extremamente ricos nas mãos de Leone. Essa sequência inicial aliás entrou na história do western como uma das mais bem realizadas já mostradas na história do cinema. Um verdadeiro toque de mestre. E assim seguirá no transcorrer de todo o filme. Sergio Leone não parece apressado em contar sua estória, mas sim em explorar todos os elementos narrativos e psicológicos possíveis. 

A simples chegada de um bando de assassinos numa fazenda já se torna para ele uma ótima oportunidade de mostrar e explorar toda a sua técnica de narração cinematográfica. Leone parecia realmente se deliciar com esse tipo de situação. O close nos olhos dos bandidos, as situações minuciosamente trabalhadas (como a da morte do irmão do personagem de Charles Bronson, ainda criança) demonstram bem como Leone era mestre nesse tipo de cena. Além do domínio completo na arte de narrar a estória de seu filme, o diretor ainda conseguiu a proeza de extrair ótimas interpretações de todo o seu elenco. Henry Fonda, por exemplo, um veterano, poucas vezes esteve tão assustador em cena. Claudia Cardinale, uma das atrizes mais bonitas do cinema europeu, nunca esteve tão talentosa como aqui sob a direção de Leone. Até mesmo Charles Bronson, com seus poucos recursos dramáticos, acaba se saindo muito bem como o pistoleiro calado, introspectivo e misterioso, sempre com uma gaita na boca, tentando com isso trazer alguma mensagem sombria que poucos conseguem decifrar. Enfim, se você tiver que ter apenas um western na sua coleção de filmes recomendamos esse grande clássico assinado por Sergio Leone. Uma obra prima maravilhosa, realmente indispensável para todo e qualquer cinéfilo que se preze.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O Mar de Árvores

Existe uma floresta no Japão, aos pés do Monte Fuji, que ao longo dos anos acabou virando um lugar procurado por suicidas em geral. De complicado acesso, com mata fechada, o lugar acabou se tornando um refúgio para quem realmente desejava acabar com a própria vida. E é justamente para lá que vai o escritor americano Arthur (Matthew McConaughey). Sua vida está destruída depois que sua jovem esposa faleceu. O casamento ia de mal a pior, mas depois que ela foi diagnosticada com câncer eles se reaproximaram fortemente. A velha paixão reacendeu em seus corações. Muitas vezes as dificuldades da vida acabam também trazendo coisas positivas para um relacionamento que parecia falido. 

Antes dela morrer Arthur acaba jurando a ela que não iria embora dessa existência para outra em um hospital, cercado de pessoas desconhecidas. Ao invés disso iria procurar um lugar bonito, com muito verde, para se despedir dessa vida. Quando ela morre precocemente e de forma até inesperada, ele decide, depois de uma profunda depressão, acabar com tudo. Em seu interior fica completamente devastado. A floresta Aokigahara então se torna seu destino final. Sem malas, apenas com a roupa do corpo, compra uma passagem para o Japão. Ele só leva algumas pílulas consigo e mais nada. A intenção é realmente se suicidar. Adentra a mata e quando está prestes a consumar seu próprio suicídio é surpreendido por um homem que parece vagar a esmo pelo lugar. Com as roupas em frangalhos, aparentando estar com muita fome e sede, Arthur então resolve ajudá-lo. E assim começa verdadeiramente a trama de todo o filme.

Essa nova película do diretor Gus Van Sant lida com um tema que muitos provavelmente vão querer evitar. Afinal de contas quem realmente iria se interessar por um protagonista que no fundo só deseja mesmo acabar com a sua própria vida? O tema da morte já é por demais complicado para grande parte do público, agora imagine acrescentar a isso a dor do luto e da depressão pela morte de um ente querido! O roteiro não subestima a inteligência do espectador e nem tenta amenizar o que acontece. De certa forma essa escolha por um filme pesado, triste, mas ao mesmo tempo espiritualizado, seja o grande mérito cinematográfico dessa produção. Além disso a tal floresta dos suicidas realmente existe, o que torna tudo ainda mais interessante para quem ousar ter a coragem que encarar esse drama existencial sobre a morte e o fim dos sonhos. Partindo do grande Gus Van Sant (um cineasta de quem sempre gostei muito) essa coragem de lidar com algo tão delicado, melancólico e controvertido ao mesmo tempo realmente não me surpreendeu em nada.

O Mar de Árvores (The Sea of Trees, Estados Unidos, 2015) Direção: Gus Van Sant / Roteiro: Chris Sparling / Elenco: Matthew McConaughey, Naomi Watts, Ken Watanabe / Sinopse: Arthur (McConaughey) é um jovem escritor americano que decide acabar com sua própria vida após a morte da esposa, Joan (Watts). Assim ele decide ir para o Japão para morrrer em um lugar de mata fechada aos pés do Monte Fuji conhecido como a floresta dos suicidas. Quando está prestes a tomar as pílulas que irá acabar com sua vida ele é surpreendido pela chegada de Takumi (Ken Watanabe), um senhor que também tentou se matar ao perder o emprego, mas que agora deseja ir embora daquele lugar sinistro. Filme indicado à Palma de Ouro no Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

Café Society

O octagenário e polêmico Woody Allen nos brinda com uma verdadeira pérola da sétima arte: o charmoso e envolvente "Café Society". Sob a batuta de um dos poucos cineastas vivos que realmente sabem fazer cinema de qualidade (o outro é Clint Eastwood), Allen - que também faz a narração do filme - entregou a responsabilidade de uma iluminação quase lisérgica nas mãos do genial Vittorio Storaro, o italiano responsável pelas fotografias de "Apolcalypse Now" e "O Último Tango em Paris".

O longa discorre sobre a história de Phil (Steve Carrel) um agente de sucesso e influência, com trânsito fácil entre os maiores atores de Hollywood da década de 30, a década de ouro do cinema. Phil recebe, num certo dia, o telefonema de sua irmã que mora em Nova York pedindo-lhe ajuda de emprego para seu filho caçula, Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg - o Mark Zuckerberg de "A Rede Social"). O garoto, sobrinho de Phil, larga a joalheria dos pais, desembarca na charmosa e mítica Hollywood e passa a trabalhar no escritório de seu tio.

Não demora muito para que o sonhador e desajeitado Bobby apaixone-se pela ambiciosa, Vonnie (Kristen Stewart). Pouco depois do inicio do namoro, Bobby se decepciona com Vonnie, retorna para Nova York e lá com sua verve empreendedora, passa a prospectar restaurantes e bares da moda frequentados pela chamada "Café Society", movimento de ponta entre artistas famosos e grandes empresários da época. Bobby muda o rumo de sua vida, envereda-se pelo caminho empresarial, mas jamais esquece de sua vaporosa e bela Vonnie, seu verdadeiro amor.

Todos os elementos que sempre compuseram a obra artística de Allen, estão lá: a referência aos judeus, a homenagem ao cinema, o romance, com seus mistérios, seus acordes duvidosos e suas escolhas incertas, e, por fim, a comédia. Aliás, desta vez, Allen caprichou nos tons irônicos e na comédia. O longa, com seu descompromisso e com sua incrível leveza e simplicidade acerta em cheio em dois pontos nevrálgicos: o triângulo amoroso entre Phil, Bobby e Vonnie e na fotografia em tons que oscilam entre o sépia de Hollywood e o cinza de Nova York, que saíram da cartola do mágico, Vittorio Storaro. Um filme absolutamente notável e um dos melhores do famoso diretor neste século.

Café Society (Idem, Estados Unidos, 2016) Direção: Woody Allen / Roteiro: Woody Allen / Elenco: Kristen Stewart, Jesse Eisenberg, Steve Carell, Corey Stoll.

Telmo Vilela Jr.