sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Vida Bandida

Título no Brasil: Vida Bandida
Título Original: Bandits
Ano de Produção: 2001
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Harley Peyton
Elenco: Bruce Willis, Billy Bob Thornton, Cate Blanchett, January Jones, Troy Garity
  
Sinopse:
Joe (Bruce Willis) e Terry (Billy Bob Thornton) são dois condenados que fogem da prisão. De volta às ruas eles começam a usar um novo método para roubar bancos, invadindo as casas dos gerentes na noite anterior ao roubo, fazendo suas famílias de reféns. Em pouco tempo o novo jeito se revela ser muito bem sucedido e eles começam a ganhar todas as manchetes. Em um desses roubos acabam esbarrando em Kate (Cate Blanchett), uma jovem mulher que está entediada com sua vida, sempre em busca de emoções. Em pouco tempo ela então se junta à dupla de ladrões. Ambos ficam apaixonados por ela, enquanto a política os persegue, pensando que Kate é uma refém do bando.

Comentários:
Muito fraco. O elenco é inegavelmente bom. Bruce Willis, em um estilo mais bem humorado e menos brutamontes. Billy Bob Thornton, sempre um ator interessante, geralmente interpretando o caipira malvado e sem misericórdia e finalmente a maravilhosa Cate Blanchett, uma das atrizes mais talentosas de sua geração, aqui em um papel que sinceramente não lhe faz jus. Até a bela January Jones está no elenco. Não está ligando o nome à pessoa? Ora, Jones é a Betty Francis Draper de "Mad Men", aquele tipo de mulher belíssima que se afunda em um casamento suburbano, cheia de filhos e pouco glamour. Aqui ela ainda estava bem jovem - e mais bonita do que nunca!. Pois é, mesmo com esse excelente elenco, com um diretor respeitado como Barry Levinson, pouca coisa funciona. O filme foi relativamente bem recebido pela crítica, mas o público não comprou muito bem a ideia. No geral, não há como negar, o filme é uma negação, uma decepção. Leva três estrelas com muita, mas muita boa vontade mesmo. Na realidade não levaria nem duas... Enfim, é tipicamente aquele tipo de película ruim que nem o bom elenco consegue salvar.

Pablo Aluísio.

O Pesadelo de Darwin

Título no Brasil: O Pesadelo de Darwin
Título Original: Darwin's Nightmare
Ano de Produção: 2004
País: França, Alemanha, Bélgica, Áustria
Estúdio: Mille et Une Productions
Direção: Hubert Sauper
Roteiro: Hubert Sauper
Elenco: Elizabeth 'Eliza' Maganga Nsese, Raphael Tukiko Wagara, Dimond Remtulia
  
Sinopse:
Em meados do século XX uma empresa acabou soltando um tipo de peixe no grande lago Vitória, na Tanzânia. A espécie não seria natural daquele país. Com sua soltura na natureza e sem inimigos naturais acabou dominando a pesca da região, causando grande fome entre a população local, impedida de pescar a cara iguaria que seria então exportada para a Europa.

Comentários:
Esse filme foi indicado ao Oscar de Melhor documentário. É uma produção entre vários países da Europa que tentam demonstrar que nem sempre um produto de exportação bem sucedido traz riqueza para as populações mais pobres dos países que o exportam. O cenário é a Tanzânia, no lago Vitória, o maior lago tropical do mundo. Nesse rico manancial de águas cristalinas tentou-se criar uma experiência que deu certo. Uma espécie de peixe foi colocada no lago para adaptação. Deu certo, só que a custa das espécies nativas do lago. Assim o povo que o pescava ficou sem opção de alimentos. O título do filme, "O Pesadelo de Darwin" faz uma referência óbvia sobre a Teoria da Evolução e da seleção natural do cientista Charles Darwin que previa que apenas as espécies mais fortes e resistentes, adaptadas ao seu habitat natural, sobreviveriam. Deu no que deu. De certa maneira tudo o que aconteceu no lago Vitória apenas confirmou as teorias do grande cientista inglês. Em suma, um documentário muito interessante, principalmente para aqueles que gostam e estudam sobre temas biológicos e ecológicos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

William Holden - O Tigre dos Mares

Antes de literalmente beber até morrer o ator William Holden teve uma das carreiras mais bem sucedidas da história em Hollywood. Em uma época em que o western estava no auge de sua popularidade, Holden se notabilizou mesmo pelos dramas românticos e pelos filmes de guerra. Da primeira safra basta lembrar dos clássicos "Sabrina", "Crepúsculo dos Deuses" e "Suplício de uma Saudade". Da segunda leva logo nos vem à mente obras primas como "A Ponte do Rio Kwai", "O Inferno Nº 17" e "As Pontes de Toko-Ri". Era um grande astro.

Esse "O Tigre dos Mares" (Submarine Command, EUA, 1951) foi realizado um pouco antes de Holden se tornar um dos atores mais bem pagos do cinema americano. Ainda bastante jovem e ainda colhendo os frutos do maravilhoso "Crepúsculo dos Deuses" (onde havia sido indicado pela primeira vez ao Oscar), Holden resolveu aceitar a proposta da Paramount Pictures para trabalhar em um filme sobre os submarinos americanos na Segunda Guerra Mundial. Como a paz havia sido assinada pelos japoneses apenas seis anos antes os navios ainda estavam intactos e prontos para servirem de cenário para a produção.

A ação do filme se passa praticamente toda a bordo do USS Tiger Shark (Tubarão-Tigre). Um submarino veterano, com mais de 18 vitórias em batalhas navais durante a guerra. É para ele que o Tenente Ken White (Holden) é designado. A guerra então vivia seus últimos dias, com o Japão praticamente destruído. White não era bem conceituado ou considerado entre a tripulação, justamente por ser um oficial ainda sem muita experiência de fogo. E para seu azar tudo começa a acontecer rápido demais. Assim que chega no submarino esse é atacado com cargas de profundidade por navios de guerra do Japão. A violência das bombas acaba causando o caos. White manda a embarcação submergir rapidamente, mas não presta muita atenção ao fato de que o Capitão do Tiger ainda se encontrar no convés. Suas ordens acabam selando o destino do oficial. Ele morre e seu corpo desaparece para sempre no mar.

Isso cria um estigma bem ruim para White. A tripulação cria uma ojeriza em relação a ele. De volta aos Estados Unidos ele é destituído do comando, enviado para trabalhar atrás de uma mesa, em um serviço burocrático sem muita importância (uma verdadeira pena disfarçada pelo que havia acontecido). Quando a guerra da Coreia finalmente surge no horizonte sua carreira dá uma guinada novamente e o alto comando da Marinha o designa novamente como comandante do USS Tiger Shark! E agora, terá como desmistificar tudo o que foi falado de tão mal dele como oficial depois de tantos anos? É justamente em cima disso que o roteiro a partir daí desenvolve seu enredo. No geral é um bom filme de guerra, mas perde e muito se formos compará-lo com outros clássicos da filmografia de Holden. Era o tipo de papel ideal para o ator, mas em uma produção mais modesta, sem tanta pretensão de ser uma obra prima da sétima arte. Como indicação para quem gosta de filmes militares passados no front do Pacífico Sul porém não há o que reclamar. É certamente uma boa pedida.

Pablo Aluísio.

Santos e Soldados - A Última Missão

Título no Brasil: Santos e Soldados - A Última Missão
Título Original: Saints and Soldiers - The Void
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Go Films
Direção: Ryan Little
Roteiro: Ryan Little
Elenco: K. Danor Gerald, Timothy S. Shoemaker, Adam Gregory, Michael Todd Behrens, Brenden Whitney, Joel Bishop
  
Sinopse:
II Guerra Mundial. Os soldados americanos começam a entrar em território alemão. Há ainda focos de resistência das tropas nazistas. Assim um grupo de tanques dos Estados Unidos são enviados para limpar o terreno antes que mais batalhões sejam enviados além do Rio Reno. Entre eles estão um sargento negro chamado Jesse Owens (K. Danor Gerald) que após ter seu caminhão destruído encontra um tanque do exército americano e seu une a ele na luta contra os alemães. Filme premiado pelo Filmed in Utah Awards.

Comentários:
Essa série "Saints and Soldiers" tem lançado regularmente filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. Os roteiros são simples, assim como a própria produção dos filmes, porém tudo tem um certo padrão de qualidade que faz valer a pena. Nesse aqui o foco é centrado nas colunas de tanques. Assim como foi visto no recente "Corações de Ferro" com Brad Pitt o roteiro mostra um pequeno grupo de militares americanos que rompe as linhas inimigas em uma coluna de tanques. É interessante pois demonstra que em termos técnicos os tanques americanos eram bem inferiores aos do exército alemão. O diferencial aqui foi numérico. Embora fossem piores em termos de robustez, capacidade de armamento e força, eles eram bem mais numerosos do que os alemães. Assim a guerra de tanques foi vencida não pela qualidade e sim pela quantidade. Outro ponto que o roteiro se esforça para explorar é o racismo que existia dentro do próprio exército dos Estados Unidos. Além de ser frontalmente e diretamente hostilizado o personagem do sargento negro interpretado pelo ator K. Danor Gerald tinha que passar por situações absurdas como, por exemplo, quando alguns militares racistas se recusavam a ficar sob suas ordens, mesmo sendo ele o oficial mais graduado entre os sobreviventes do front. Em suma, um filme modesto em suas pretensões, sem grande produção, mas que diverte se você ficar focado na história em si e não em exageros orçamentários da produção como um todo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Tess - Uma Lição de Vida

Um filme de Roman Polanski  que hoje em dia já não é mais tão lembrado. Uma pena pois é um dos meus preferidos da safra do diretor. O enredo mostra a vida da jovem Tess (Nastassja Kinski), uma camponesa, extremamente humilde, mas igualmente linda! Seu pai é um sujeito ganancioso que descobre pertencer a uma linhagem familiar de nobres. Embora ele seja extremamente pobre, resolve explorar esse grau de parentesco para subir na vida. Seu grande trunfo é sua própria filha, na idade de casar e arranjar um pretendente. Assim Tess acaba virando uma moeda de troca na ascensão social, indo parar nas mãos de homens de gestos e atitudes pouco nobres.

O que mais é interessante nesse roteiro é o fato de explorar a fragilidade do papel de uma mulher, principalmente quando se é bela, mas sem condições financeiras ou materiais. A vulnerabilidade de Tess nesse sentido fica logo evidente. Por outro lado o diretor Polanski, que escreveu o roteiro, procura fugir do lugar comum, colocando aspectos mais humanos em todos os personagens. Os "vilões" também possuem qualidades, assim como a "mocinha" Tess também apresenta sentimentos vis e nada condizentes com as heroínas idealizadas de outros romances. Por falar em Tess o grande atrativo desse filme segue sendo a presença da atriz Nastassja Kinski. Quando o filme foi realizado ela ainda era bem jovem e estava lindíssima, no auge de sua beleza. Em minha opinião ela sempre transpareceu uma sensualidade natural, muito erótica, sem a necessidade para apelar para cenas mais ousadas. Tanto isso é verdade que Polanski conseguiu dela uma atuação muito sedutora, sem nunca apelar para a vulgaridade.

Tess - Uma Lição de Vida (Tess, França, Inglaterra, 1979) Direção: Roman Polanski / Roteiro: Gérard Brach, Roman Polanski / Elenco: Nastassja Kinski, Peter Firth, Leigh Lawson / Sinopse: Tess (Kinski) é uma jovem camponesa, extremamente bonita e naturalmente sensual, que acaba virando alvo da sedução de homens que desejam lhe explorar. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Geoffrey Unsworth, Ghislain Cloquet), Melhor Direção de Arte (Pierre Guffroy, Jack Stephens) e Melhor Figurino (Anthony Powell). Também indicado nas categorias de Melhor Filme, Direção e Música Original (Philippe Sarde).

Pablo Aluísio.

O Homem do Perigo

Título no Brasil: O Homem do Perigo
Título Original: Tombstone - The Town Too Tough to Die
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: William C. McGann
Roteiro: Dean Riesner, Charles Reisne
Elenco: Richard Dix, Kent Taylor, Edgar Buchanan
  
Sinopse:
Tombstone é uma cidadezinha violenta do velho oeste americano. Infestada por bandidos, ladrões de gado e bandoleiros, a população já não sabe mais o que fazer para manter a lei a e ordem. Tudo muda com a chegada de Wyatt Earp (Richard Dix). Vendedor de pele de bufalos, pistoleiro e ás do gatilho, ele é o homem certo para ostentar a estrela de prata que lhe dá a autoridade de xerife no condado. Ao lado de seus irmãos e do pistoleiro Doc Holiday (Kent Taylor) ele resolve impor uma nova ordem na região, enfrentando todos os bandidos face a face, em especial os Daltons, um grupo de facínoras que o desafia publicamente. Ao se encontrarem no OK Curral acabam protagonizando uma das histórias mais conhecidas da mitologia do faroeste americano. Roteiro parcialmente baseado em fatos reais.

Comentários:
De todos os gêneros cinematográficos americanos o western sempre fora um dos mais lucrativos. Vários estúdios em seus primórdios faziam caixa justamente com esse tipo de filme. Ele tinha bilheteria certa, era muito bem sucedido em outros países (se tornando um produto de fácil exportação) e eram relativamente bem baratos de se produzir, só sendo necessário um figurino básico de época, cavalos, diligências e algumas armas antigas. A Universal, por exemplo, comprou um grande rancho na década de 1940 apenas para produzir seus filmes. A Paramount foi pelo mesmo caminho, produzindo uma série de filmes B em escala industrial que tinham como objetivo principal gerar lucros para a companhia. Tudo muito eficaz e rápido. Um deles foi esse "Tombstone - The Town Too Tough to Die". Apostar na história do xerife Wyatt Earp (Richard Dix) era seguramente uma ótima ideia. Colocar em destaque seu companheiro e amigo, o dentista e jogador inveterado Doc Holiday (Kent Taylor), também. Assim o filme acabou fazendo um belo sucesso nas matinês, onde os ingressos eram bem mais baratos e a garotada poderia se divertir sem problemas. Em termos de qualidade técnica a produção, por se tratar de um filme B, deixa um pouco a desejar. O roteiro é básico, sem muito desenvolvimento dos personagens, e a ação é usada muitas vezes para melhorar esse aspecto. Mesmo assim não há como negar que se trata de um bom faroeste, valorizado pelo bom elenco, procurando dar o melhor de si. A nostalgia para muitos também vai se tornar um ingrediente fundamental para se curtir esse filme. Boa diversão.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Arquivo X - Décima Temporada

Ontem eu terminei de assistir a décima temporada de "Arquivo X". Foram apenas seis episódios. Provavelmente os produtores resolveram fazer uma temporada curta, mais como teste de audiência do que qualquer outra coisa. A nona temporada foi em 2001 - então a pergunta era se ainda havia um público para a série. Os índices dessa temporada nova foram bons, fazendo com que uma décima primeira temporada seja possível (embora nada ainda tenha sido confirmado). Se em termos de popularidade a série parece ter passado no teste o mesmo infelizmente não se pode dizer dos roteiros dos episódios. Não há basicamente uma coluna central nos enredos, mas basicamente dois aspectos ganham importância: o filho de Mulder e Scully, que pode ter DNA alien correndo em suas veias e um suposto projeto genético do governo americano que injetou DNA extraterrestre em grande parte da população, levando os demais a uma espécie de extinção por contaminação com um vírus letal e desconhecido da ciência.

Isso levou o último episódio da temporada a apostar numa espécie de apocalipse zumbi biológico que não deu muito certo. A correria em encontrar uma cura, a forma como isso foi feito - sem muita imaginação e capricho - e o ressurgimento do canceroso em nada ajudaram o resultado final. A porta ficou aberta para uma continuação, com aquela sensação de que os produtores esperam que haja uma nova temporada. Mulder, agonizante na cadeira de um carro, vê uma nave espacial chegando e... Melhor não entregar. Basta apenas dizer que de saturação os roteiristas de "Arquivo X" certamente entendem. Espero que não caiam nesse tipo de armadilha narrativa.

Arquivo X - Décima Temporada (EUA, 2016) Direção: Chris Carter, James Wong, Darin Morgan, Glen Morgan / Roteiro: Chris Carter, James Wong, Darin Morgan, Glen Morgan / Elenco: David Duchovny, Gillian Anderson, Mitch Pileggi. /  Sinopse: Depois de anos desativado o FBI resolve retomar o departamento conhecido como "Arquivo X". O ex-agente Fox Mulder (Duchovny) não parece muito disposto a voltar, mas sua antiga companheira Dana Scully (Anderson) o convence a investigar um estranho caso envolvendo manipulação genética, mutações e DNA extraterrestre.

Pablo Aluísio.

A Lenda de Tarzan

Alguns personagens jamais devem ficar fora do cinema. Principalmente quando se trata de criações literárias que fazem parte também da história da sétima arte. Tarzan é um deles. O Rei das Selvas foi criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs em 1912. Mal chegou nas páginas na literatura ganhou seu primeiro filme, ainda nos tempos do cinema mudo. Depois disso criou-se uma verdadeira mitologia em torno de suas aventuras nas telas de cinema. No total são mais de cem filmes - um número de respeito, sob qualquer ponto de vista! Apesar disso o herói andava longe das telas nos últimos tempos, uma lacuna que finalmente foi coberta com o lançamento desse "A Lenda de Tarzan". Particularmente gostei muito da decisão dos roteiristas em seguir em frente com as aventuras de Tarzan sem aquela coisa cansativa de contar suas origens pela milésima vez. Não que o filme não conte os primórdios de sua trajetória, mas sim que o realiza de forma eficiente e rápida, em flashbacks pontuais.

Assim o Lord Greystoke (Alexander Skarsgård) já está de volta ao mundo civilizado, morando numa Inglaterra vitoriana de fins do século XIX. O passado de garoto e jovem criado nas selvas ficou para trás. Ele agora já parece completamente adaptado ao mundo europeu, seguindo os conselhos que seu pai havia deixado em um velho diário que sobreviveu aos anos na floresta. Ao seu lado está a bela Jane (Margot Robbie), uma jovem que conheceu na África e que ficou ao seu lado desde então. Tudo começa a mudar novamente em sua vida quando recebe um convite do Rei Belga para que retorne ao continente africano para dar seu aval ao trabalho que os colonizadores europeus estão promovendo por lá. Escolas, estradas e igrejas estão sendo construídas para a melhoria da vida das populações locais. Parece ser algo positivo, que merece seu apoio. O que ele nem desconfia é que tudo não passa de uma armadilha de Leon Rom (Christoph Waltz), um agente colonial que pretende trocar o lendário Tarzan por um manancial de diamantes localizado nas terras de um tribo cujo líder jurou destruir o Rei das Selvas por ele ter supostamente matado seu único filho no passado.

O diretor David Yates (de vários filmes da série "Harry Potter") optou por seguir uma linha bem tradicional nessa nova versão, procurando respeitar a longa e histórica linhagem de filmes sobre Tarzan. Assim embora o roteiro cumpra a função de apresentar um bom background histórico sobre o protagonista, a opção é realmente valorizar a aventura e a ação. Os animais que vão surgindo na tela são todos digitais, assim como os momentos em que Tarzan sai voando nos cipós das grandes árvores da floresta. Em tempos atuais não poderia ser diferente. A sorte é que o filme apresenta um bom elenco, plenamente adaptado aos personagens. Alexander Skarsgård é um bom ator (quem acompanhou seu trabalho na série "True Blood" sabe bem disso) e escolheu o caminho de dar um semblante introspectivo ao seu Tarzan. Uma decisão acertada. Christoph Waltz interpreta o vilão. Ele aliás tem cada vez mais desempenhado esse tipo de papel, com ótimos resultados. Agora está mais contido, mas tem pelo menos duas boas cenas para atuar (numa delas usa um terço católico como arma mortal). Numa estória com tantos europeus e africanos o roteiro achou também um jeito de encaixar Samuel L. Jackson como um agente americano. Ele funciona praticamente como um alívio cômico (mas claro, sem muitos exageros nesse sentido).

O resultado é dos melhores. Claro que não pode ser considerado o melhor filme de Tarzan já feito, uma vez que esse posto ainda pertence ao grandioso "Greystoke - A Lenda de Tarzan" de Hugh Hudson. Há alguns probleminhas no roteiro aqui e acolá, mas sem nunca estragar o filme como um todo. Aqui o que temos é mesmo uma aventura honesta, bem realizada, cujo maior mérito é manter a chama acessa dessa mitologia. Afinal, como eu escrevi, o bom e velho Tarzan não pode mesmo ficar longe das telas de cinema. Um personagem tão icônico como esse deve sempre ser revisado, com lançamentos nos cinemas de tempos em tempos. A chama do Rei da Selva na sétima arte jamais deve ser apagada. Que venham novos filmes... sempre!

A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, Estados Unidos, 2016) Direção: David Yates / Roteiro: Adam Cozad, Craig Brewer, baseados na obra de Edgar Rice Burroughs / Elenco: Alexander Skarsgård, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Margot Robbie / Sinopse: Anos após sobreviver nas selvas da África, Lord Greystoke, mais conhecido como Tarzan, decide aceitar o convite do governo belga para retornar ao continente. O que ele não desconfia é que na verdade está sendo manipulado em um mortal jogo envolvendo diamantes, escravidão e exploração dos nativos da região.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Edge

Título Original: Edge
Título no Brasil: Ainda não definido
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Amazon Studios
Direção: Shane Black
Roteiro: Shane Black, Fred Dekker
Elenco: Max Martini, Ryan Kwanten, Yvonne Strahovski
  
Sinopse:
Um grupo de soldados da União cerca um jovem rancheiro em busca de uma suposta caixa onde haveria ouro e joias, pertencente ao seu irmão mais velho. Como ele se recusa a entregar acaba sendo enforcado pelos soldados. Quando seu irmão finalmente chega no rancho jura vingança contra aquele ato bárbaro por parte daqueles militares. Ele então parte em busca de cada um dos membros daquele pelotão. Sua sede de justiça precisa ser saciada.

Comentários:
Telefilme produzido para ser exibido no canal a cabo Amazon (que não está disponível no Brasil). A primeira coisa que chama a atenção é que o filme tem uma curta duração (meros 62 minutos), justamente para ser encaixado na grade de programação desse canal (que é especializado, entre outras coisas, em séries tais como "The Man in the High Castle"). Essa curta duração o qualificaria como um media-metragem, tecnicamente falando. Por se tratar de uma produção para a TV a produção é bem mais modesta, porém digna. Os produtores informaram que seria uma espécie de remake de uma antiga série americana chamada "Edge". Em minha opinião está mais para um episódio piloto de uma nova versão desse mesmo seriado, uma vez que o próprio enredo é inconclusivo (dando margem a futuros episódios ou novos filmes). Outro fato que me chamou a atenção é que um dos roteiristas é o ex-diretor Fred Dekker. Ele dirigiu no passado um pequeno clássico de terror dos anos 80 chamado "A Noite dos Arrepios" e depois a desastrosa terceira sequência da franquia "RoboCop". Sua presença no roteiro justifica em parte alguns exageros em termos de sangue e tripas nas cenas de tiroteio. Em termos de elenco além do brutamontes inexpressivo Max Martini que interpreta o protagonista temos a linda atriz australiana Yvonne Strahovski que infelizmente tem uma participação muito pequena e sem importância. Em conclusão, eis aqui um filme feito para a TV a cabo, sem grandes atrativos ou inovações, que pode ser dispensado sem maiores problemas.

Pablo Aluísio.

Caça-Fantasmas

Título no Brasil: Caça-Fantasmas
Título Original: Ghostbusters
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Paul Feig
Roteiro: Katie Dippold, Paul Feig
Elenco: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon, Leslie Jones, Charles Dance, Andy Garcia, Bill Murray, Sigourney Weaver
  
Sinopse:
Prestes a ser escolhida como a nova professora titular de uma prestigiada universidade, a estudiosa e pesquisadora Erin Gilbert (Kristen Wiig) acaba tendo uma surpresa nada agradável ao perceber que sua antiga amiga da escola, Abby Yates (Melissa McCarthy), está vendendo um livro escrito por ela sobre fantasmas! Isso pode prejudicá-la pois ela considera o tema ridículo. Despedida da instituição ela resolve então se unir a Abby para formar um grupo de caçadoras de fantasmas. Elas querem limpar a cidade de fenômenos paranormais.

Comentários:
Pelo amor de Deus, que filme péssimo!!! Eu assisti os dois filmes originais "Ghostbusters" no cinema. Embora o segundo seja bem fraco, o primeiro é uma bobeirinha pop muito divertida, um dos mais lembrados dos anos 80. Eu gosto bastante dessa franquia para falar a verdade. Por isso fui esperando pelo menos um filme mediano. Sabia que não seria tão bom quanto o primeiro, por causa das reações negativas do público e das inúmeras críticas alertando que o filme era muito ruim, mas mesmo assim havia um pouquinho de esperança de assistir algo pelo menos assistível. Eu me equivoquei. O filme é bem ruim, ruim mesmo. O roteiro é apenas uma cópia mal feita, mal escrita, do filme de 1984. Uma cópia que sequer consegue criar nostalgia nos fãs. É só embaraçoso de tão fraco. O filme foi envolvido numa polêmica ridícula envolvendo o fato de que o elenco agora seria todo feminino. Isso é o de menos. Embora Melissa McCarthy e Kristen Wiig sejam comediantes talentosas elas não conseguem superar a ruindade do roteiro. É impossível não ser soterrado por um material tão imbecil! Por falar em elenco as pontas de Bill Murray e Sigourney Weaver só servem para piorar ainda mais o cenário pois o espectador acaba lembrando de como era bom o primeiro "Ghostbusters" nesse quesito. Eu também fiquei decepcionado com os efeitos especiais. Como é possível um filme dos anos 80 ser tão superior nesse aspecto a um filme atual? Pois é, basta lembrar dos fantasmas das primeiras versões para ver como aqui soa tudo tão decepcionante. Parece um episódio daquele "Goosebumps" de tão ruim! É a tal coisa, se ainda não viu no cinema, não vá perder seu dinheiro. E se não conferiu em outro meio, pelo menos agradeça por não ter caído numa fria, não perdendo seu precioso tempo com essa bobagem. Assim não há outra conclusão, esse novo "Ghostbusters" é mesmo uma grande porcaria, sinceramente... Fuja!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Um Corpo Que Cai

Outro filme que gostei muito de rever recentemente foi "Vertigo" (no Brasil, "Um Corpo Que Cai") também do mestre Alfred Hitchcock. Certa vez durante uma entrevista o cineasta explicou a tênue tese que permeava todo o enredo do filme. Tudo era uma metáfora sobre a diferença entre a realidade e a fantasia, o mundo concreto e o mundo idealizado.

Na estória um detetive aposentado chamado John 'Scottie' Ferguson (interpretado pelo sempre ótimo James Stewart) aceita a proposta de fazer um último serviço de investigação para um velho amigo. O sujeito é um daqueles homens bem sucedidos casados com mulheres bem mais jovens. Ela ultimamente vem apresentando um comportamento estranho, o que acende o alerta na cabeça do maridão. Todas as tardes ela sai por San Francisco, sem rumo certo, com comportamento fora do normal. Ele contrata assim Scottie para seguir seus passos, descobrir onde ela vai, o que faz e com quem anda nesses momentos...

Traição? Nem tanto. A jovem (na pele de Kim Novak, no auge da juventude e beleza) parece ter desenvolvido algum tipo de obsessão em relação a uma parente distante, sua trisavô, que teria se matado. Ela vai até seu túmulo, visita sua antiga casa, passeia por lugares onde ela viveu e por fim tenta se matar nas águas geladas da baía de San Francisco. Para salvá-la Scottie acaba se aproximando dela, nascendo daí uma paixão avassaladora. Tudo parece seguir numa certa normalidade, porém o que o velho detetive nem desconfia é que tudo o que surge na sua frente não é a realidade, mas um mundo de manipulação, onde ele é apenas um instrumento de ilusão numa teia criminosa.

A tese de Alfred Alfred Hitchcock era justamente essa. A diferença entre o que pensamos ser a realidade e aquilo que realmente é. De um lado o mundo real, concreto. Do outro a fantasia, a imaginação, a mentira. Uma metáfora sobre o próprio cinema no final das contas. O roteiro de "Vertigo" tem várias reviravoltas, algumas delas bem intrigantes e surpreendentes, mas o que mais deixa o espectador surpreso mesmo é ver como uma atriz de talento trivial como Kim Novak conseguiu ter um trabalho de atuação tão bom.

Ela no filme interpreta duas personagens, o seu eu real e a máscara que se apresenta para o velho policial de James Stewart. Uma de suas personalidades tem classe, finesse e por ter um comportamento reservado apresenta um ar misterioso e sedutor que se revela irresistível ao tira aposentado. A outra é uma mulher completamente ordinária (no sentido de ser comum), nada sofisticada, chegando ao ponto de ser simplesmente vulgar. Pura decepção. Uma trabalhadora tentando sobreviver em um emprego meramente medíocre. Certa vez Hitchcock disse que atores eram como gado e deveriam ser tratados como gado. Embora seja uma opinião forte, diria até ofensiva, quando vemos atuações como a de Kim Novak nesse filme acabamos entendendo que apesar de ser um jeito bem heterodoxo de direção a coisa parecia mesmo funcionar perfeitamente...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Janela Indiscreta

Nessa última semana decidi rever dois filmes do mestre Alfred Hitchcock. Fazia bastante tempo desde que os havia assistido pela última vez (alguns deles há mais de vinte anos!) e por essa razão achei uma boa ideia revê-los. Afinal de contas qualquer filme assinado por Hitchcock vale muito a pena rever, sob qualquer ponto de vista. Os dois que escolhi  foram os clássicos absolutos "Um Corpo Que Cai" e "Janela Indiscreta". Em minha memória havia gostado muito mais do primeiro do que do segundo. A impressão que tinha de "Vertigo" era muito mais sólida, mais forte, mais consistente.

Nessa revisão tardia acabei me surpreendendo pois adorei muito mais rever "Rear Window"! Embora "Um Corpo Que Cai" tenha um roteiro bem mais complexo e coeso, com ótimas tomadas externas e variedade maior de situações e cenários (com um ótimo final), "Janela Indiscreta" nos pega por sua extrema criatividade e originalidade. Para quem nunca viu ou não se lembra o filme conta a estória (simples) de um fotógrafo profissional (interpretado pelo grande James Stewart) que fica preso numa cadeira de rodas em seu apartamento após quebrar sua perna. Sem ter o que fazer para passar o tédio ele começa a espiar com uma câmera seus vizinhos de prédio (em uma maravilhosa recriação em estúdio de um típico condomínio de apartamentos residencial de Nova Iorque). Sim, ele se torna um voyeur da vida alheia!

E assim ele vai conhecendo os tipos mais variados. Há uma senhorita muito solitária e deprimida que passa os seus dias a idealizar o encontro romântico de seus sonhos, o jovem casal em lua de mel, a dançarina bonitona que é cortejada por um batalhão de pretendentes, um estranho casal que dorme na sacada de seu apê, usando uma cesta para descer seu cachorrinho de estimação até o pátio lá embaixo e por fim um velho casal que aparenta toda a saturação de um casamento em frangalhos que vai se arrastando por anos e anos. A esposa está inválida sobre uma cama e seu marido, um vendedor cansado da vida, não parece ter mais paciência para cuidar dela. É a massacrante rotina de uma vida ordinária cobrando seu preço.

É justamente sobre eles que as lentes de Stewart começam a prestar mais a atenção pois durante uma noite chuvosa ele acaba se convencendo que o homem matou sua esposa, a cortou em pedaços e colocou seus restos mortais em várias malas que ele vai tirando de seu apartamento aos poucos, durante as madrugadas! Chocante demais para você? Não para o mestre do suspense... Claro que o assassinato deixa alarmado o personagem de Stewart, mas nem seu velho amigo da guerra acredita em sua versão dos fatos. Para o velho tira seu colega está apenas entediado, inventando estórias em sua própria cabeça! Assim o roteiro joga o tempo todo com a dualidade sobre o que de fato estaria acontecendo... Teria havido realmente um crime ou tudo não passaria de uma maluquice na mente entediada do protagonista? Perceba que com tão pouco em mãos o grande Hitchcock acabou criando uma verdadeira obra prima do suspense, inclusive com toques de fino humor negro! E como se isso tudo ainda não bastasse o filme ainda traz a beleza eterna de Grace Kelly no auge de sua juventude e carisma! Dizem que o velho diretor ficou caidinho por ela - completamente apaixonado! Quem poderia condená-lo? Absolutamente ninguém...

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Sua Majestade, o Aventureiro

O ator Burt Lancaster começou sua carreira no circo, como malabarista. Quando foi para Hollywood os produtores o viram como se fosse um novo Douglas Fairbanks, o acrobata dos filmes de piratas durante o auge do cinema mudo. Claro que o tempo iria provar que Lancaster não era apenas um atlético homem de circo, mas sim um ator realmente muito bom, que conseguia se sair bem tanto em filmes de pura ação, como essa aventura, como àqueles em que tinha que atuar muito mais dramaticamente (como o sempre lembrado "O Homem de Alcatraz").

Em 1954 porém a imagem de Burt Lancaster ainda não tinha evoluído muito. O que havia sido posto sobre a mesa dos grandes chefões era a de que ele poderia se sair muito bem em aventuras dos sete mares. Assim o ator foi escalado para esse filme sobre um capitão que no Pacífico Sul tentava tirar a sorte grande ao explorar uma ilha remota povoada por nativos ainda bem primitivos. O lugar, cheio de coqueiros, era um manancial de riquezas. O óleo da casca do coco era fartamente usado na época pela indústria recém nascida. Levar aquele óleo para a distante Europa seria a sua salvação. Certamente ele ficaria rico. Só faltava saber como...

O protagonista interpretado por Burt Lancaster porém teria que antes disso vencer uma série de desafios. O principal deles era arranjar uma nova embarcação pois seu último navio havia sido tomado pela própria tripulação em um motim violento. Preso e jogado no mar em um pequeno bote o capitão só conseguiu sobreviver por causa das marés que o levaram até uma paradisíaca ilha em Fiji (um dos cartões postais mais bonitos do planeta, com suas águas límpidas, cristalinas e azuis). E é justamente nesse lugar que o velho capitão vivido por Lancaster começa novos planos de exploração. É claro que sob um ponto de vista atual tudo soará meio indigesto. O homem branco americano de Lancaster nem pensa duas vezes em colocar todos aqueles nativos morenos e primitivos para trabalharem em seu proveito pessoal, quase numa relação de escravismo. E olha que o personagem era visto como um herói naqueles distantes anos 50.

Deixando essas questões puramente ideológicas de lado o fato é que o filme como diversão funciona muito bem. O roteiro é redondinho, bem articulado e só derrapa mesmo na cena final, na conclusão do enredo que soa meio forçado. A ilha de Lancaster acaba virando um barril de pólvora, com disputas internas envolvendo o poder entre os selvagens. Alguns decidem apoiar Lancaster e outros ficam do lado de colonizadores franceses e belgas (que também querem explorar comercialmente a ilha). Qual seria a conclusão óbvia de uma situação assim? Claro que no mínimo uma sangrenta guerra civil, mas o roteiro parece ignorar a natureza humana, tudo terminando em um improvável Happy Ending, com todos de braços dados, felizes e sorridentes. De qualquer forma, levando-se em consideração a época em que o filme foi produzido, até que isso não incomoda muito. Embargue em sua proposta aventuresca e procure se divertir o máximo possível. Agindo assim esse "Sua Majestade o Aventureiro" vai servir bem aos seus objetivos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Ponte do Rior Kwai

Muito bem, se você gosta de cinema eu aconselho conhecer a filmografia de alguns maravilhosos diretores do passado, entre eles David Lean que em 1957 realizou essa obra prima chamada "The Bridge on the River Kwai" (A Ponte do Rio Kwai, no Brasil). O roteiro foi baseado no livro de Pierre Boulle, que por sua vez usou como fonte a história real do tenente coronel inglês Philip Toosey. Ele se tornou prisioneiro do exército japonês durante a II Guerra Mundial. Ao seu lado de seus subordinados foi enviado para as florestas tropicais da Birmânia, um dos lugares mais hostis do mundo por causa de sua natureza implacável.

No filme o roteiro parte da mesma premissa, só que a figura de Toosey foi transformado no personagem do Coronel Nicholson (em ótima interpretação do grande Alec Guinness). Oficial britânico orgulhoso e determinado ele resolve enfrentar os abusos do comandante japonês Saito (Sessue Hayakawa), A convenção de Genebra é um tratado internacional que rege as relações entre prisioneiros de guerra e é baseado nesse documento jurídico que Nicholson resolve se apoiar para enfrentar as arbitrariedades de Saito. Claro que isso dá origem a uma série de atritos entre eles, levando Nicholson a pagar caro por suas opiniões, porém com uma fibra absoluta ele resolve não ceder às torturas e pressões que sofre.

No começo da produção o produtor Sam Spiegel queria que uma maquete fosse usada para reproduzir a famosa ponte do Rio Kwai, mas o diretor David Lean, extremamente perfeccionista, recusou a sugestão. Assim uma ponte real, tal como a que realmente existiu, foi erguida de verdade a um custo recorde na época de 250 mil dólares. E tudo para depois ser destruída na apoteótica cena final quando ela finalmente é dinamitada por ingleses. O tempo mostrou que Lean estava totalmente certo em suas decisões já que a cena ainda hoje surpreende e o faz simplesmente por ser real, com um trem de verdade despencando nas águas do Rio Kwai.

Um fato histórico interessante é que a construção da ponte real durante a II Guerra Mundial foi mais trágica do que os acontecimentos vistos no filme. No total morreram 12 mil prisioneiros de guerra em sua construção. Ela levou não dois meses para ser erguida, como vemos no filme, mas oito meses. As doenças tropicais mataram muitos homens, além da conhecida brutalidade do exército japonês. Um verdadeiro inferno na Terra que foi recriado com raro brilhantismo por David Lean, um diretor que sempre mereceu ser chamado de mestre da sétima arte. É certamente um dos filmes clássicos de guerra mais imperdíveis da história. Por essa razão se ainda não viu, não deixe de completar essa lacuna em sua cultura cinematográfica.

Pablo Aluísio. 

Mister Roberts

Em 1955 o mestre John Ford rodou uma de suas poucas comédias na carreira. Ford se celebrizou na história do cinema por causa de seus faroestes clássicos, grandes produções que louvavam a coragem do pioneiro colonizador americano que foi para o oeste selvagem com o objetivo de construir uma nação. Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial Ford se alistou para trabalhar no esforço de guerra. São suas as imagens mais impressionantes das grandes batalhas desse conflito, como as que mostram o desembargue das forças aliadas na Normandia no Dia D.

Esse filme "Mister Roberts" foi realizado dez anos após o fim da guerra. Nesse tempo já havia uma certa tranquilidade em tratar aquele conflito, onde muitos americanos morreram, de uma forma mais bem humorada, sem tanto heroísmo como era comum em filmes do gênero na época. Assim as câmeras de Ford se concentram na história de marinheiros que poderiam ser tudo, menos heróis de guerra ao velho estilo. Enquanto seus companheiros de farda lutavam em grandes e decisivas batalhas épicas contra as forças japonesas a tripulação desse velho cargueiro caindo aos pedaços (chamado de "banheira" por seus próprios marinheiros) se limitava a transportar papel higiênico, frutas e utensílios para as tropas que lutavam no front.

Essa aliás passa a ser a grande frustração do Tenente Doug Roberts (Henry Fonda). Ele se alistou para ser um herói, não para transportar papel higiênico. Pior do que isso é estar sob o comando de um louco varrido, o Capitão Morton (James Cagney), um oficial que só pensa em subir na carreira, tratando mal todos os seus subordinados, com uma estranha obsessão por uma palmeira que ele mantém a bordo do navio, longe do alcance de todos os seus homens. Essa obsessão maluca dá origem a uma das melhores (e mais divertidas) cenas do filme quando Doug em um ato de revolta joga a planta no mar! O que pode parecer um ato sem maiores consequências acaba virando o fim do mundo para seu capitão!

"Mister Roberts" foi a adaptação para o cinema de uma peça de teatro da Broadway que fez muito sucesso na década de 1940. Isso também trouxe certas características teatrais ao filme, principalmente em relação aos diálogos e a própria forma da dramaturgia do roteiro pois tudo se passa dentro do navio, sem muitas cenas externas. Melhor para Jack Lemmon que levou o Oscar. Percebam como ele manteve a postura teatral em sua atuação. Esse foi o segredo do prêmio que acabou levando para casa. No fim de tudo o grande interesse em assistir "Mister Roberts" é conferir como um grupo de atores não acostumados ao gênero comédia (com exceção do próprio Lemmon, é claro), dirigido por um diretor de épicos do velho oeste (John Ford) conseguiu realizar um filme tão bom e divertido como esse. Quem diria que tantos veteranos dramáticos teriam tanto êxito assim em uma produção como "Mister Roberts"...

Pablo Aluísio.