terça-feira, 10 de maio de 2016

Friday the 13th - Sexta-Feira 13

Como hoje é Sexta-Feira 13 nada melhor do que relembrar uma das mais populares séries de filmes de terror de todos os tempos: Friday the 13th. Tudo começou em 1980 quando a Paramount Pictures deu autorização e liberou o orçamento de um novo filme sobre psicopatas. A ideia inicial era realizar uma espécie de "Psicose" mais moderno e com menos papo sobre psicologia e psiconeuroses. Ao invés de criar todo um passado cheio de traumas para justificar o ato do psicopata protagonista do filme o estúdio queria realmente algo bem sangrento, que não perdesse muito tempo com Freud.

Nasceu assim o personagem Jason Voorhees. Como havia sido determinado pelo estúdio seu passado não deveria dominar muito tempo do filme - partindo-se logo para os finalmentes, com adolescentes e jovens sendo trucidados na sinistra região de Crystal Lake. Ele era filho de Pamela Voorhees, cozinheira da estação de turismo local. Por problemas de gestação de sua mãe, Jason nasceu com deformidades físicas e mentais, o que logo o transformou em alvo de bullying das demais crianças que o chamavam de monstro. Tudo mudou até o dia em que dois jovens foram encontrados mortos em Crystal Lake. Quem os teria matado?

Após a morte de sua mãe, Jason continuou vivendo pelas florestas da região, sempre evitando contato com outras pessoas. Complexado por sua aparência jamais se deixou ver e com problemas mentais começou a se vingar daqueles que o zombavam. Assim muitos jovens foram desaparecendo, sendo que a polícia nunca conseguia decifrar completamente os crimes. Isso obviamente abriu margem para uma série tão popular quanto econômica. Os filmes de Jason custavam pouco, rendiam muitos lucros e não contavam em seu elenco com atores caros. Nem o personagem custava muito para a Paramount já que como usava máscara poderia ser interpretado por dublês que eram mudados a cada nova produção.

A franquia original rendeu 10 filmes. O primeiro chamado simplesmente Sexta-Feira 13 foi dirigido pelo cineasta Sean S. Cunningham. Nesse que é considerado um dos melhores o roteiro procurava explicar as origens do psicopata, embora a trama trouxesse novidades e surpresas. O primeiro ator a interpretar Jason foi Ari Lehman. A famosa máscara de hockey não havia surgido ainda. Com o sucesso começaram a surgir as sequências em série. Steve Dash assumiu o personagem e começou a dar a força sobrenatural que caracterizava o assassino. Não importava o que era feito a Jason, ele nunca parecia morrer!

Os filmes seguintes seriam meras imitações dos dois primeiros filmes. Os roteiros eram praticamente os mesmos. Um grupo de jovens ignoravam a lenda de mortes de Crystal Lake e iam para lá acampar. Não demorava muito e as mortes começavam. A única novidade de filme para filme era as maneiras como Jason matava suas vítimas. Conforme os anos iam passando essas cenas com muito sangue iam se tornando cada vez mais exageradas, até caírem completamente no caricato e burlesco. De assustador Jason passou a ser ridículo. O único sobro de inovação veio com a sexta parte que trazia pela primeira vez em anos algumas divertidas mudanças no roteiro.

Os filmes continuaram e foram até o limite. Os orçamentos iam ficando cada vez menores e as bilheterias também. A crítica detestava cada novo lançamento. A Paramount porém não parecia desistir de Jason até que em 2001 a franquia original chegou ao final com o péssimo Jason X, uma mistura mal feita de terror e ficção onde o humor trash definitivamente não funcionava e nem tampouco os efeitos especiais, simplesmente pavorosos. Infelizmente o psicopata Jason parece ter pendurado seu facão. Embora a Paramount tenha tentado renovar Jason no cinema com filmes ruins como "Jason vs Freddy" e o remake mais recente, nada parece dar muito certo. O tempo de Jason passou. Ele foi interessante, principalmente nos anos 80, quando o cinema de terror viveu seu auge criativo. Hoje em dia já não existe mais razão de ser. É hora de finalmente Crystal Park descansar de suas matanças.

1. Sexta-Feira 13 (1980)
Direção: Sean S. Cunningham
2. Sexta-Feira 13 Parte 2 (1981)
Direção: Steve Miner
3. Sexta-Feira 13 Parte 3 (1982)
Direção: Steve Miner
4. Sexta-Feira 13 Parte 4: O Capítulo Final (1984)
Direção: Joseph Zito
5. Sexta-Feira 13 Parte 5: Um Novo Começo (1985)
Direção: Danny Steinmann
6. Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive (1986)
Direção: Tom McLoughlin
7. Sexta-Feira 13 Parte 7: A Matança Continua (1988)
Direção: John Carl Buechler
8. Sexta-Feira 13 Parte 8: Jason Ataca Nova Iorque (1989)
Direção: Rob Hedden
9. Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (1993)
Direção: Adam Marcus
10. Jason X (2001)
Direção: James Isaac
11. Freddy vs. Jason (2003)
Direção: Ronny Yu
12. Sexta-Feira 13 (2009)
Direção: Marcus Nispel

Pablo Aluísio . 

As Profecias do Dr. Terror

Uma boa dica para quem gosta de filmes antigos é rever (ou ver pela primeira vez, conforme o caso) velhas produções inglesas de terror. A minha indicação de hoje vai para o clássico "As Profecias do Dr. Terror" (Dr. Terror's House of Horrors, Inglaterra, 1965). Veja bem, havia uma sofisticação nessas produções que não se via em lugar nenhum do mundo naquela época. Enquanto Hollywood produzia faroestes e dramas em ritmo industrial, os ingleses se especializaram em filmes de terror, alguns hoje em dia considerados verdadeiras obras primas do gênero.

Nessa fita temos um atrativo a mais, a presença de dois ícones em cena, Christopher Lee e Peter Cushing. Enquanto Lee interpreta um cético, um arrogante homem que vive como crítico de arte em Londres, Cushing dá vida (ou morte, dependendo do ponto de vista) ao protagonista. Ele se apresenta como o Dr. W. R. Schreck aos demais passageiros de um trem durante uma viagem noturna partindo de Londres. Ao cochilar acaba deixando cair ao chão sua bagagem que revela um baralho de cartas de tarot. Quem conhece esse tipo de filme sabe que nada acontece ao acaso. As cartas despertam a curiosidade dos demais passageiros que pedem ao sinistro doutor que leia o futuro de cada um deles.

Esse gancho narrativo assim abre a oportunidade do roteiro contar cinco contos de terror, cada um deles explorando algum tipo de estória clássica de horror. Há espaço para todos os gostos nesse menu. No primeiro conto um jovem arquiteto é contratado para ir até uma velha casa nos arredores da cidade. Sua dona deseja fazer reformas nela. Para verificar se isso seria possível ele desce até o porão e lá encontra uma velha tumba que reza a lenda pertenceu ao antigo morador que nas noites de lua cheia se transformava em uma criatura, metade homem, metade lobo (o nosso conhecido lobisomem dos filmes clássicos). Não é por outra razão que esse primeiro conto se chama "Werewolf".

Os dois seguintes são os mais fracos. O segundo, intitulado "Creeping Vine", é certamente o mais sem graça. Chegou a me lembrar de "A Pequena Loja de Horrores". Nele uma planta desconhecida começa a aterrorizar uma família quando começa a atacar todos os moradores (e até o cachorrinho de estimação) da região. Fraquinho realmente. O terceiro é um pouco melhor. Em "Voodoo" um trombonista inglês paga caro quando em turnê com sua banda numa ilha do Caribe resolve fazer chacota de uma velha divindade da religião vodu local. O quarto conto de terror se sobressai pois tem o excelente Christopher Lee no elenco. Ele é um crítico de arte boçal que paga caro por sua arrogância. Por fim em "Vampire" um jovem Donald Sutherland acaba descobrindo que seu casamento não é a maravilha que ele pensava já que sua própria esposa é uma vampira.

Pelas resenhas dos contos já deu para perceber que há muito humor negro inglês envolvido. O filme foi produzido pela Amicus Productions que concorria com a Hammer por esse mercado de produções de terror. Ambas se notabilizaram pela sofisticação, bom gosto e bons filmes. Certamente uma época de ouro para quem era fã de filmes desse estilo.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Brooklyn

Minha recomendação de hoje vai para o filme Brooklyn de John Crowley. Em um momento em que dramas humanos são cada vez mais raros nas telas nada melhor do que encontrar esse drama muito sensível, baseado em fatos reais, sobre a vida de uma jovem irlandesa que decide mudar tudo em sua vida, indo morar nos Estados Unidos no começo do século XX. O roteiro explora assim a vida de milhões de pessoas que emigraram de seus países de origem em busca de novas oportunidades, novas perspectivas de vida. Com produção muito bem realizada (de encher os olhos do espectador), Brooklyn se destaca também pela maravilhosa interpretação da atriz Saoirse Ronan. Dona de expressivos olhos azuis e uma maravilhosa capacidade dramática, ela tem aqui a oportunidade de estrelar o filme de sua vida.

Sua personagem é maravilhosa porque no final das contas é uma pessoa comum. De família humilde ela percebe que provavelmente morrerá trabalhando no mesmo empreguinho de sempre na sua pequena cidade na Irlanda. Por isso toma a corajosa decisão de cruzar o Atlântico, indo morar no bairro Nova Iorquino do Brooklyn. Logo arranja emprego numa loja de departamento, conhece um jovem trabalhador italiano, honesto e de boa índole, e se matricula em um curso noturno. Em poucas palavras, começa a lutar por uma vida melhor. Gostei bastante desse filme e não poderia deixar de recomendar ao todos. Brooklyn é uma ótima pedida para o fim de semana.

Brooklyn (Brooklyn, 2015) Direção: John Crowley - Direção de fotografia: Yves Bélanger - Estúdio: Wildgaze Films, Parallel Film Productions - País: Inglaterra, Canadá, Irlanda - Roteiro: Nick Hornby, baseado no livro de Colm Tóibín - Elenco: Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson - Sinopse: A história de uma garota, seus sonhos e amores.

Pablo Aluísio.

Capitão América: Guerra Civil

Eu já ando um tanto saturado de filmes com super-heróis de quadrinhos. Não é questão de gostar mais da Marvel ou da DC Comics, a questão é outra. Acho que esse gênero já anda sem novidades há tempos. Essas são palavras ao vento porque enquanto os filmes renderem bilhões de dólares eles continuarão a serem produzidos. Cinema é indústria e indústria precisa de receitas e lucros. Tudo bem, nada contra. O cinema comercial precisa existir para que filmes mais artísticos sejam realizados. Pois bem, mesmo com essa opinião formada, diria até má vontade, confesso que ainda consegui me divertir com esse Civil War.

Não, eu não li nenhuma revista da saga Civil War nos quadrinhos. Sei porém de antemão que a trama desenvolvido foi infinitamente mais complexa, com dezenas de outros personagens que simplesmente foram ignorados no filme. É normal, como condensar uma trama extensa, cheia de detalhes, em apenas uma película cinematográfica de duas horas e meia de duração? É impossível. Por isso os roteiristas passaram a tesoura sem dó. Personagens foram descartados e a longa estória mostrada nos quadrinhos foi reduzida a uma fac-símile, um resumão do que foi usado nas revistas. É o preço a se pagar em toda adaptação, seja em relação a livros, seja em relação a HQs.

Como não sou expert em quadrinhos entrei no cinema sem saber de muita coisa a não ser que os Vingadores iriam rachar ao meio, sendo um grupo formado liderado pelo Homem de Ferro e outro pelo Capitão América. Esse formato de enredo onde os super-heróis acabam quebrando o pau entre si mesmos é indiscutivelmente bem sucedido nas bancas. E isso vale para as duas maiores editoras. Se o Superman pode sair no braço com o Batman, porque a turma da Marvel não pode fazer o mesmo? É uma ideia até muito simplista e diria até boba, coisa de adolescente, mas que no final das contas funciona muito bem. De quebra ainda traz a participação do Homem-Aranha numa canja. Assim tudo se torna mesmo irresistível para quem é fã desses personagens.

Dito isso devo dizer que o roteiro de "Captain America: Civil War" não é nenhuma maravilha e começa muito mal. Há excesso de personagens, situações e subtramas. A primeira meia hora do filme é dispersa demais, pouco objetiva, mal escrita, complicada e confusa (pelo menos para quem nunca leu os gibis). O roteiro se mostra vacilante, mal arranjado e sem rumo a seguir. As coisas só melhoram mesmo quando os roteiristas finalmente resolvem enxugar tudo o que vinha acontecendo de forma um tanto aleatória na trama. Sim, há um tratado internacional que quer colocar freios nos Vingadores. Sim, eles não concordam em assinar ou não o tal tratado e sim, eles quebram o pau por essa razão. Quem diria que uma questão de direito internacional público iria ser o estopim dessa guerra entre eles? O resto é curtir a briga entre Homem de Ferro e Capitão América e todos os demais super-heróis (com a sentida ausência do Hulk no meio da briga!).

Assim o filme se revela um pouco problemático, mas ao mesmo tempo divertido, bem pipoca. As lutas andam cada vez mais bem coreografadas e os efeitos especiais são classe A. Em termos de narrativa a única coisa que achei bem esquisito foi a ausência de um vilão melhor, mais bem resolvido. Filme de super-herói sem um vilão bacana - e igualmente espalhafatoso - quase nunca funciona muito bem. De qualquer maneira se você estiver em busca de pura diversão, daquelas bem escapistas, "Civil War" pode funcionar que é uma beleza. Só não vá esperar por cinema como sétima arte. Aqui o que vale mesmo são os sopapos e a pipoca. Uma overdose pop sem culpas. Todo o resto é mero detalhe secundário.

Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, EUA, 2016) Direção: Anthony Russo, Joe Russo / Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely / Elenco: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Don Cheadle, Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Paul Rudd, Emily VanCamp / Sinopse: O grupo de super-heróis dos Vingadores racha ao meio quando um tratado internacional é ratificado por centenas de países ao redor do mundo colocando um freio em suas atividades. O Homem de Ferro concorda com as novas medidas, mas o Capitão América se recusa a concordar com ele. Assim duas equipes antagônicas são formadas dentro dos Vingadores e elas logo entram em conflito.

Pablo Aluísio. 

domingo, 8 de maio de 2016

Mombasa, a Selva Negra

O filme em questão se chama "Beyond Mombasa" (no Brasil ele recebeu o título de "Mombasa, a Selva Negra"). É curioso perceber que o cinema americano, muito provavelmente influenciado pelo sucesso dos filmes de Tarzan, tenha produzido uma série de filmes de aventuras na África. Alguns desses filmes hoje em dia são considerados clássicos absolutos da sétima arte enquanto outros só estavam tentando se transformar em entretenimento lucrativo.

É justamente o caso desse aqui. Dirigido por George Marshall, que era um cineasta especializado em faroestes como "A Conquista do Oeste" e "O Irresistível Forasteiro", a fita tinha a proposta de divertir o público e não se tornar uma obra de arte ou qualquer coisa parecida. É o que o público brasileiro da época costumava chamar de filme de selva ou filme de aventuras na África. Esse tipo de produção ficou tão popular que acabou se tornando um gênero próprio como os filmes de western, ficção ou terror. Infelizmente esse tipo de fita hoje em dia está em franca decadência, até porque a própria figura do caçador branco já não tem mais nenhum charme ou apelo. Ao invés disso os caçadores hoje em dia são vistos como figuras desprezíveis, justamente por causa da consciência ecológica que predomina nos dias atuais.

Pois bem, o filme é estrelado pela dupla Cornel Wilde e Donna Reed. Aqui temos um diferencial onde a "mocinha" era muito mais conhecida do que o "mocinho". De fato, Donna Reed era quase uma estrela da Columbia, enquanto Cornel nunca chegou a ser um astro de primeira grandeza. Na verdade hoje em dia, mesmo entre grupos de cinéfilos, poucos se lembram de seu nome. Falecido em 1989, Wilde se notabilizou em filmes B de aventuras, sejam eles passados na África, na II Guerra Mundial ou em um campo de prisioneiros. Ele geralmente interpretava protagonistas mais farofeiros, que eram quase anti-heróis. O exemplo vem até mesmo desse Mombasa onde ele desfila seu repertório de cantadas baratas (praticamente cantadas de pedreiro) para cima da inteligente, bela e equilibrada Donna Reed. No mundo real ele seria solenemente esnobado, mas os roteiristas deram uma colher de chá para seu personagem e no final ele conquista a garota (ficou meio forçado e falso, mas era algo da época).

Wilde interpreta basicamente um americano que vai à África para trabalhar ao lado de seu irmão numa mina de ouro. Chegando lá vem o choque. Ele foi assassinado. Rezava a lenda na região de que guerreiros leopardos o teriam matado, mas Wilde não acredita nessa versão. A ganância por ouro não era algo que interessasse aos selvagens, aos nativos, mas sim ao homem branco ocidental. Dessa maneira o roteiro explora a real identidade do assassino que poderia ser qualquer um ali, visando justamente colocar as mãos na fortuna. É curiosa essa associação entre fazer fortuna em regiões selvagens. Isso é do centro mesmo desse tipo de filme, haja vista que há quase sempre nesses roteiros um tesouro perdido ou algo semelhante. No geral é um filme bom, divertido e com boas cenas. Exatamente como desejou o diretor George Marshall. Não é como "Uma Aventura na África" ou "Entre Dois Amores", filmes conceituados e premiados. É uma aventura B, típica dos anos 50. Bem ao estilo pura diversão realmente. No meu caso gostei e me diverti. Então está valendo.

Pablo Aluísio.

As Neves do Kilimanjaro

Ontem assisti ao clássico "As Neves do Kilimanjaro" (The Snows of Kilimanjaro, EUA, 1952). O filme é uma adaptação para o cinema de um conto escrito por Ernest Hemingway em 1936. Em seus escritos Hemingway quase sempre falava sobre si mesmo. Embora seus livros fossem romances, com personagens de ficção, todos eles traziam um pouco do próprio escritor em suas personalidades. Aqui não foi diferente. O protagonista interpretado por  Gregory Peck também é um escritor. Alguém que almeja viver de seus livros. Ele se vê numa situação limite após ter sua perna infeccionada em pleno safári na África. Em cima desse momento decisivo se desenvolve toda a trama do filme.

Enquanto fica prostrado numa maca, vendo a morte de perto, cercado por animais selvagens como hienas e abutres esperando por sua carcaça, ele começa a fazer um balanço de sua vida. Embora tenha tido relativo sucesso com seus romances isso passa longe de ser considerado um alívio para ele. Muito autocrítico considera-se um fracassado que levou toda a sua vida em vão. O único pensamento que lhe consola é um velho amor do passado, a exuberante Cynthia (Ava Gardner). Eles tiveram um belo romance no passado que resultou inclusive em uma gravidez. Street (Peck) porém não soube dar o devido valor ao que acontecia em sua vida naquele momento. Mais preocupado em fazer sucesso como escritor acabou negligenciando aquela que seria o grande amor de sua vida. Agora, à beira da morte, ele relembra e lamenta. O sucesso com os livros nada significou pois o fracasso na vida pessoal é o que mais pesa nesse momento final.

O roteiro assim se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma no presente, onde o personagem de Gregory Peck agoniza em um acampamento aos pés da montanha do Kilimanjaro (a mais alta da África) e outra em diferentes passagens de seu passado, focando principalmente em amores que não deram certo. O uso de flashback situa assim o espectador sobre tudo o que aconteceu nos anos anteriores da vida do protagonista. Além de Cynthia (Gardner), o grande amor de sua vida, ainda há lembranças referentes à Condessa Liz (Hildegard Knef), uma bonita, mas frívola, nobre europeia com quem ele passou bons momentos no começo de sua carreira. É justamente o tio de Liz que resolve deixar uma fortuna para Street com um enigma para decifrar referente inclusive ao Kilimanjaro.

O elenco tem três grandes estrelas. Gregory Peck interpreta o personagem principal. É curioso ver esse trabalho do ator porque ele era muito diferente de Ernest Hemingway (cuja personalidade foi transportada para as páginas da literatura em seu personagem). Enquanto o escritor era uma explosão de sentimentos, fúria e vontade de experimentar todos os aspectos da vida, Peck sempre se caracterizou como um homem fino e elegante, bastante discreto. Mesmo assim ele conseguiu convencer plenamente em cena. Já Ava Gardner era pura sensualidade. Aqui ela curiosamente apresenta um aspecto mais vulnerável, o que a diferencia bem de outros trabalhos no cinema. Por fim há a presença de Susan Hayward como a esposa de Peck. Uma mulher paciente e muito dedicada ao marido, ainda mais agora que ele passa por uma situação extrema no coração do continente africano. Enfim, um belo filme que resgata a obra de Ernest Hemingway, especialmente indicado para neófitos em sua literatura.

Pablo Aluísio. 

sábado, 7 de maio de 2016

Chocolate

Título no Brasil: Chocolate
Título Original: Chocolat
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Miramax
Direção: Lasse Hallström
Roteiro: Robert Nelson Jacobs, baseado no romance de Joanne Harris
Elenco: Juliette Binoche, Johnny Depp, Judi Dench, Alfred Molina, Carrie-Anne Moss
  
Sinopse:
Vianne Rocher (Juliette Binoche) resolve abrir uma pequena loja de doces numa cidadezinha do interior da França. Para sua surpresa a sua presença e seu modo de vida acaba chocando os padrões morais da comunidade. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Juliette Binoche), Melhor Atriz Coadjuvante (Judi Dench), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Música (Rachel Portman). Indicado ao Globo de Ouro em quatro categorias, entre elas a de Melhor Filme - Comédia ou Musical.

Comentários:
Nunca considerei um grande filme. Na verdade era um típico filme da Miramax na época. E o que isso exatamente significava? Bom, basicamente uma produção com jeitão de filme europeu, roteiro que se propunha a ser cult, mas tudo embalado com um rótulo mais comercial. Não é um produto autêntico ou original, mas uma imitação para consumo popular do americano médio. Um dos problemas desse filme é que seu enredo não vai para lugar nenhum. Depp obviamente deve ter adorado seu personagem, meio cigano, meio andarilho, que nos remete ao velho ideal do herói romântico sem passado e sem destino pela frente. O que vale realmente a pena nessa produção meio fake é o elenco - cheio de atores e atrizes talentosos - e os belos cenários naturais pois o filme foi rodado numa região bem bucólica da França. Aquelas pequenas comunidades, algumas delas fundadas na Idade Média, ainda mantém um charme irresistível, ainda mais para quem adora história em geral. Então é isso, o filme é bonito, mas um pouco vazio. Vale conhecer uma vez e é só.

Pablo Aluísio.

Além da Vida

Título no Brasil: Além da Vida
Título Original: Hereafter
Ano de Produção: 2010
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Peter Morgan
Elenco: Matt Damon, Cécile De France, Bryce Dallas Howard
  
Sinopse e comentários:
Com base no excelente roteiro de Peter Morgan, o octagenário e genial Clint Eastwood, ergueu um filme excelente e que por pouco não se tornou uma obra prima. Mesmo com um título ruim, "Além da Vida" (Hereafter - 2010), uma espécie de drama-paranormal, extrapola as expectativas e nos brinda, não só com um roteiro de primeira grandeza, mas também com uma atuação soberba do ótimo Matt Damon, além é claro da direção impecável de um diretor, quase perfeito, Clint Eastwood. O viés espiritualista do longa está calcado basicamente em duas histórias ligadas à morte. Na primeira, a jornalista Marie LeLay (Cécile de France) uma famosa âncora de um jornal da TV francesa, passa férias na Indonésia com o namorado, quando, arrastada por uma terrível tsunâmi, fica desacordada e vive uma experiência de "quase-morte".

Enquanto isto, quase simultaneamente, num bairro pobre de Londres, o menino Marcus, experimenta uma situação de morte na família. Mesmo sem qualquer ligação afetiva e com endereços bem diferentes e distantes, o destino dessas pessoas irá se cruzar com o do médium, George, personagem de Matt Damon, que mora na cidade de São Francisco e possui uma enorme capacidade paranormal de falar com os mortos. George porém, já está cansado de trabalhar como médium, pois ele considera as comunicações com o mundo espiritual uma maldição que o afasta de uma vida comum e de um amor de verdade. Sendo assim, passa a trabalhar numa fábrica, num emprego comum, como operador de empilhadeira elétrica. No entanto ele não poderá fugir por muito tempo da sua vocação mediúnica, pois esses três destinos podem estar intimamente interligados.

Telmo Vilela Jr.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Operação França II

Assistir a essa sequência do clássico original é essencial. Isso porque o filme parte do final do anterior e traz a conclusão de toda a trama. Agora o policial Popeye Doyle (Gene Hackman) está na França. O departamento de narcóticos de Nova Iorque o envia para colocar um ponto final no caso do tráfico internacional de heroína que vimos no primeiro filme. Como se sabe o chefe de toda aquela operação, o traficante conhecido como Charnier (Fernando Rey). conseguiu escapar da lei americana. O jeito é pegá-lo em seu país natal. Os policiais franceses por outro lado não parecem muito dispostos a ajudar Popeye. Eles mostram muita má vontade com o tira americano e o proíbem de usar armas em solo francês. Mesmo com tantas limitações Doyle segue em frente. Em pouco tempo consegue seguir os rastros de Charnier, mas acaba caindo numa emboscada. Nas mãos dos traficantes acaba sendo dopado com heroína para desenvolver um vício na droga.

Essa parte do enredo dá ao ator Gene Hackman a oportunidade de atuar em ótimas cenas de torpor químico seguido de uma grave crise de abstinência. Ótimo trabalho físico e dramático de Hackman que se sai extremamente bem em todos os momentos. Depois de recuperado ele finalmente parte para o acerto de contas e não deixa barato - em um dos melhores momentos resolve tocar fogo em um hotel barato onde ficou refém da quadrilha de Charnier. O diretor John Frankenheimer deixou um pouco as sutilezas do primeiro filme para investir em ação, muita ação. A sequência no cais é um exemplo perfeito disso. Optando por um filme mais movimentado a continuação de "Operação França" acabou sendo ignorada pela Oscar, mas isso não fez muita diferença. Posso dizer que esse filme tem melhor ritmo e melhor desenvolvimento do que o original que é tão elogiado pela crítica. Provavelmente por ter sido uma fita policial de ação poucos tenham reconhecido seu valor, porém nunca é tarde para corrigir uma injustiça. Não se engane sobre isso, "Operação França II" é muito melhor do que dizem.

Operação França II (French Connection II, EUA, 1975) Direção: John Frankenheimer / Roteiro: Alexander Jacobs, Robert Dillon / Elenco: Gene Hackman, Fernando Rey, Bernard Fresson, Philippe Léotard / Sinopse: O policial americano Popeye Doyle (Hackman) vai até a França para colocar as mãos no traficante internacional Alain Charnier (Fernando Rey). Não será uma missão fácil de cumprir. Filme indicado ao Globo de Ouro e ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Gene Hackman).

Pablo Aluísio.

O Homem que Burlou a Máfia

Charley Varrick (Walter Matthau) e sua quadrilha decidem assaltar um pequeno banco de interior nos Estados Unidos. A intenção é roubar uma quantia razoável de dinheiro e partir para mais um novo assalto em outra cidade. Os planos porém ficam pelo meio do caminho. Dos quatro membros do bando dois são mortos em confronto com a polícia na fuga. Varrick porém percebe que se tiveram azar na execução no crime, por outro lado tiveram muita sorte em relação ao valor que conseguiram roubar: uma pequena fortuna, algo que nem mesmo eles estavam esperando. Quase um milhão de dólares em dois grandes sacos. O que eles não poderiam esperar era que todo aquele dinheiro pertenceria à máfia que logo coloca um assassino profissional, Molly (Joe Don Baker), na caça de Varrick e seu comparsa. O objetivo agora passa a ser outro: sobreviver ao cerco dos mafiosos.

Don Siegel era genial. Exagero? Basta conferir esse filme para entender como esse cineasta era talentoso. Ele conta com maestria a estória de um assalto a banco que acabou saindo muito do controle. O roteiro é muito bem escrito (baseado no romance policial de  John Reese). Praticamente não há mocinhos nesse enredo, mas apenas bandidos tentando passar a perna em outros bandidos. O protagonista Varrick é um mestre em se safar da piores armadilhas. Inicialmente ele desconfia que tal montante de dinheiro só poderia vir do mundo do crime pois o assalto que realizam foi feito numa pequena agência de interior, onde geralmente circula um pequeno valor em seus cofres. Por um ato de sorte eles assaltam o lugar logo no dia em que uma fortuna da máfia está por lá, pronto para ser enviada ao exterior numa típica manobra de lavagem de dinheiro. Agora é lutar para sobreviver pois com os mafiosos não existirá julgamento e nem negociação. Todos os envolvidos são caçados para serem mortos sem piedade. Varrick só conta assim com sua esperteza e sua capacidade de se sair das piores situações. Além de Siegel outro que merece todos os elogios é o ator Walter Matthau. Ele era aquele tipo de ator que conseguia se sair bem tanto em comédias, dramas ou filmes policiais como esse. Ao seu modo o velho Matthau também era um gênio, só que da atuação.

O Homem que Burlou a Máfia (Charley Varrick, EUA, 1973) Direção: Don Siegel / Roteiro: Howard Rodman, baseado no romance de Howard Rodman / Elenco: Walter Matthau, Joe Don Baker, Andrew Robinson, Felicia Farr, Woodrow Parfrey / Sinopse: Um bando de assaltantes de bancos assalta uma agência e rouba uma pequena fortuna, para sua completa surpresa pois eles não estavam esperando colocar as mãos em tanto dinheiro como aquele. Acontece que o dinheiro roubado pertenceria na verdade à Máfia que não definitivamente não deixaria barato aquele crime. Filme premiado no BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Walter Matthau).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Terremoto - A Falha de San Andreas

O cinema catástrofe, que teve seu auge nos anos 1970, nunca realmente saiu de cena. De tempos em tempos surgem filmes nesse estilo, principalmente atualmente quando não existem mais limites para a computação gráfica. Assim temos mais um exemplo desse tipo de produção. A bola da vez agora é explorar a falha de San Andreas, um acidente geográfico que atravessa a Califórnia na costa oeste dos Estados Unidos. São duas placas que mais cedo ou mais tarde vão se chocar causando um terremoto de proporções gigantescas e imensuráveis. O roteiro do filme assim explora como seria esse desastre natural, mas procurando dar um ponto de vista subjetivo a tudo o que acontece. E esse ponto de vista é representado justamente pelo protagonista Ray (Dwayne Johnson). Em seu dia a dia ele já salva vidas pois é um piloto de helicóptero de salvamentos. Agora imagine em uma situação de calamidade pública... Ele tenta salvar sua filha no meio do caos, mas logo percebe que isso não será nada fácil.

O filme, como era de esperar, é extremamente bem feito. A computação gráfica atingiu um nível de veracidade absurdo onde em muitos momentos não conseguimos mais distinguir o que é real e o que é digital do que vemos na tela. O ator Dwayne Johnson, vulgo The Rock, se sai bem, tanto em termos de ação - quando seu preparo físico é levado ao extremo - como nos momentos em que ele tenta trazer alguma humanidade para seu personagem, principalmente em relação à sua filha. Eu considero Johnson um ator carismático. No começo não o achava nada mais do que um halterofilista em cena, mas agora ele vem desenvolvendo bem seu carisma em cada filme, em cada nova produção que estrela. O roteiro é básico, não muito bom e nem original. Há situações em que se força muito a barra. Porém temos que entender que essa é uma característica desse tipo de produção. É preciso dar um desconto. Agora o que realmente faltou mesmo foi um desfecho melhor pois achei o final e a conclusão não muito bem bolados. De qualquer maneira, como pura diversão chiclete, até que San Andreas cumpre seus objetivos.

Terremoto - A Falha de San Andreas (San Andreas, Estados Unidos, Austrália, 2015) Direção: Brad Peyton / Roteiro: Carlton Cuse, Andre Fabrizio / Elenco: Dwayne Johnson, Carla Gugino, Paul Giamatti / Sinopse: Pai que trabalha como piloto de helicópteros de salvamento tenta salvar sua própria filha quando um enorme terremoto se instala em cidades da Califórnia, nos Estados Unidos, em decorrência de uma falha natural chamada San Andreas.

Pablo Aluísio.

Holidays

São nove contos de terror com duração de 10 a 12 minutos aproximadamente cada um. Os roteiros são temáticos explorando sempre algum feriado. Kevin Smith coordenou a produção e dirige um deles, o mais divertido sobre o Halloween. Alguns deles são ótimos, outros apenas medianos e alguns realmente ruins. Vamos comentar alguns deles brevemente. No primeiro chamado "Valentine's Day", dirigido por Kevin Kolsch, vemos uma garota sofrendo bullying na escola. Ela é apaixonada platonicamente pelo professor de natação e ganha dele um cartão no dia dos namorados. Claro que ela vai às nuvens, mas antes precisa acertar as contas com algumas garotas maldosas que sempre ficam pegando em seu pé. No final ainda consegue arranjar um "presentinho" especial para seu amado professor. Esse é certamente o mais bem bolado conto do filme. "Easter" sobre a Páscoa é um dos mais bizarros. Nele uma garotinha espera ansiosamente pela chegada do coelhinho da Páscoa, mas acaba ficando apavorada com o que encontra pela frente. Esse é especialmente recomendado para quem gosta de monstros em geral. É surrealisticamente estranho e bizarro, como já frisei.

Em "Father's Day" o diretor Anthony Scott Burns conseguiu o melhor clima de suspense. Nele uma garota encontra uma velha fita K7 gravada por seu pai que ela pensava estar morto. Seguindo o caminho descrito na velha gravação ela sai então para reencontrar seu amado pai em uma velha igreja em ruínas. Muito bom, com um final ainda melhor. Poderia até mesmo virar um longa se o enredo fosse mais desenvolvido. Os contos "St. Patrick's Day" e Mother's Day" são os mais fracos. Ambos lidam com a mitologia da serpente como começo de todo o mal. A do dia de São Patrício (feriado popular entre imigrantes irlandeses nos Estados Unidos) não convence e chega a ser bobo em seu final. Definitivamente não gostei. O do dia das mães é um pouquinho melhor, mas nada muito criativo ou interessante. Por fim, para subir o nível geral, temos os dois contos finais que são bem divertidos e com um humor negro à toda prova. Em "Halloween" o diretor e roteirista Kevin Smith coloca um dono asqueroso de site, onde shows de cam com garotas são exibidos, provando de seu próprio veneno. Ele trata mal todas as jovens com quem trabalha e acaba pagando muito caro por isso. Por fim, fechando "Holidays" temos "New Year's Eve" de Adam Egypt Mortimer. Nesse um psicopata usa sites de encontro da internet para encontrar suas vítimas, a maioria delas mulheres solitárias e deprimidas, mas acaba se dando mal em um encontro às escuras marcado justamente para a noite de  Réveillon. Em termos gerais gostei bastante do filme, fazendo me lembrar até mesmo em alguns momentos de séries de TV antigas como "Amazing Stories" e "Twilight Zone", só que mais voltados para o gênero terror. Vale a pena conhecer certamente.

Holidays (Holidays, Estados Unidos, 2016) Direção: Kevin Smith, Anthony Scott Burns, Kevin Kolsch, Nicholas McCarthy, Adam Egypt Mortimer, Ellen Reid, Gary Shore, Sarah Adina Smith, Scott Stewart, Dennis Widmyer / Roteiro: Kevin Smith, Anthony Scott Burns, Kevin Kolsch / Elenco: Kevin Smith, Lorenza Izzo, Seth Green, Ruth Bradley / Sinopse: Nove contos de terror passados em feriados como Dia dos Pais, Dia das Mães, Páscoa, Natal, Ano Novo, Halloween e Dia dos Namorados.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 4 de maio de 2016

A Dama Dourada

Durante a Segunda Guerra Mundial os nazistas se apropriaram (roubaram mesmo) grandes coleções de arte, fossem elas de museus ou de coleções particulares. A protagonista desse filme, chamada Maria Altmann (Helen Mirren), é uma senhora de família judia que foi morar nos Estados Unidos para sobreviver ao holocausto. Seus familiares que ficaram na Europa foram mortos e seus bens, incluindo preciosos quadros, foram levados pelos alemães. Muitos anos depois ela se une a um jovem advogado, Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), para tentar reaver essas pinturas nos tribunais. Inicialmente ela enfrenta uma barreira jurídica enorme pois a grande maioria dessas obras de arte foram parar em museus europeus após o fim da guerra. Até a Suprema Corte dos Estados Unidos se torna um empecilho para ela, que não desiste e vai em frente.

Todos os historiadores sabem que uma das paixões de Hitler era a arte. Artista frustrado na juventude (ele chegou a ser reprovado em um exame de admissão na prestigiada escola de artes de Viena) o líder nazista levou sua obsessão às últimas consequências. O curioso é que tudo deveria ser de acordo com seu gosto pessoal, o que não se enquadrava no estilo preferido de Hitler era considerado arte decadente, degenerada, espúria, que deveria ser banida. Por essa razão assim que ocupava um novo país as tropas do exército alemão eram orientadas a recolher todos os quadros e pinturas para serem levadas à Berlim. E se elas pertencessem a famílias de judeus a expropriação era seguida de punição para os antigos proprietários, sendo eles enviados para campos de concentração imediatamente. Foi o que aconteceu com todos os familiares de Maria Altmann. Vivendo de uma pequena lojinha em Los Angeles ela então decide lutar pelas obras que pertenceram à sua família no passado, entre eles um quadro avaliado em 100 milhões de dólares! O principal tema desse filme é a perenidade da justiça. Essa deve ser buscada, não importando o tempo passado. O filme é assim um belo exemplo de perseverança e luta justamente por esse valor, a justiça. Especialmente indicado para profissionais da área jurídica.

A Dama Dourada (Woman in Gold, Inglaterra, 2015) Direção: Simon Curtis / Roteiro: Alexi Kaye Campbell, E. Randol Schoenberg / Elenco: Helen Mirren, Ryan Reynolds, Katie Holmes, Elizabeth McGovern / Sinopse: Uma senhora judia, dona de uma pequena lojinha em Los Angeles, decide lutar nos tribunais pela propriedade de antigas e valiosas obras de arte que foram roubadas de sua família pelos nazistas durante a II Guerra Mundial.

Pablo Aluísio.

Operação Resgate

Depois de conferir esse novo filme do Bruce Willis cheguei na conclusão de que talvez seja melhor ele se aposentar mesmo. Pelo visto Bruce chegou ao fundo do poço. Eu sei que é clichê falar que um filme como esse tem muitos clichês, mas nesse caso aqui não existe mesmo outra saída. Da primeira à última cena tudo o que você verá são amontoados de clichês baratos em um roteiro que não apresenta absolutamente nada de original, um zero absoluto em termos de criatividade. O enredo? Vejam que coisa saturada e batida: Bruce Willis interpreta um agente da CIA que durante uma operação tem sua esposa morta por criminosos internacionais. Apenas seu filho sobrevive e mesmo assim com uma grande culpa pois estava armado na ocasião da morte de sua mãe e não teve a devida coragem para atirar para defendê-la. Os anos passam e o garoto se torna um adulto que desejando impressionar seu pai também entra na CIA, mas jamais consegue ser um agente de campo, ficando sempre atrás de uma mesa, em serviços burocráticos.

Isso muda completamente quando seu pai cai nas garras de bandidos internacionais que estão em busca de uma moderna arma tecnológica. Agora ele terá que mostrar ao seu pai de uma vez por todas que tem coragem e sabe resolver situações como essas. O filho de Bruce Willis no filme é interpretado pelo "ator" Kellan Lutz. Não o conhecia até assistir a esse filme (ainda bem!). Mesmo com todo a boa vontade do mundo você não terá outra opinião do trabalho do rapaz a não ser que ele é mesmo muito ruim pois não atua nada bem, sendo completamente inexpressivo. Tudo bem que seu papel também não exige muito, até porque na verdade ele só entra em cena para sair na pancadaria contra os inúmeros inimigos anônimos que vão cruzando seu caminho.  Absurdamente porém nem isso o tal de Lutz consegue fazer direito. Há ainda uma terceira personagem interpretada pela bonita Gina Carano, mas que também faz pouca diferença. Acreditar que ela seja uma agente da CIA super treinada é tão absurdo quanto aceitar qualquer coisa que aconteça nesse filme de ação muito ruim e sem novidades. Uma grande perda de tempo (e olha que o filme nem é tão grande assim). Melhor ignorar completamente.

Operação Resgate (Extraction, Canadá, 2015) Direção: Steven C. Miller / Roteiro: Max Adams, Umair Aleem / Elenco: Bruce Willis, Kellan Lutz, Gina Carano / Sinopse: Harry Turner (Lutz) é um agente da CIA novato que deseja provar ao pai, um veterano da agência de inteligência, que ele tem coragem e garra para enfrentar situações perigosas. Quando seu pai Harry (Willis) cai nas mãos de terroristas internacionais que querem uma moderna arma tecnológica para dominar os meios de comunicação do globo, ele vê a grande chance de provar seu valor.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Operação França

"Operação França" é um caso raro dentro do cinema americano. Foi um dos poucos filmes do gênero policial que foi premiado pelo Oscar na categoria de Melhor Filme! Mais surpreendente do que isso é constatar que se formos bem sinceros numa avaliação isenta perceberemos que não há nada de excepcional nessa produção. Claro que o diretor William Friedkin (que também dirigiu outra obra prima, "O Exorcista") era um cineasta realmente excepcional, mas devo dizer que aqui temos apenas um filme de policiais e bandidos bem realizado, porém nada muito além disso. O cenário é um Nova Iorque saturada, em plenos anos 70. Uma cidade mal cuidada, suja e cheia de criminosos pelas ruas. Em um fervor quase messiânico o tira da narcóticos Jimmy "Popeye" Doyle (Gene Hackman) faz da caça de traficantes de drogas o seu objetivo na vida. Durante um happy hour em um bar local com outro policial, Buddy Russo (Roy Scheider), ele implica com um bandido italiano pé de chinelo chamado Sal Boca (Tony Lo Bianco).

Acontece que Boca está muito bem vestido, em ternos impecáveis, usufruindo da presença de pessoas bem acima do que ele na hierarquia do crime. Para Popeye só há uma explicação para o que ele está vendo: Boca deve estar envolvido em algo grande. Dito e feito. O policial e seu parceiro começam a seguir os passos do italiano e em pouco tempo descobrem uma conexão internacional de tráfico de drogas para Nova Iorque. A partir daí o tempo fecha. Popeye não é conhecido por sua delicadeza, muito pelo contrário, ele geralmente chega nos lugares tocando o terror na bandidagem, com métodos violentos e fora das regras. A melhor cena do filme, que inclusive foi imitada por anos e anos, acontece quando Popeye sai em disparada na perseguição de um atirador de elite sob comando da máfia francesa. O sujeito segue no metrô, enquanto Popeye o persegue em um velho carro todo estropiado. Na década de 70 havia uma preocupação maior com realismo e por essa razão não espere por cenas muito espetaculares como o público se acostumaria nos anos 80, com seus filmes ultra violentos. Para Friedkin o importante era contar de forma eficiente sua estória e nesse ponto ele novamente se saiu muito bem.

Operação França (The French Connection, EUA, 1971) Direção: William Friedkin / Roteiro: Ernest Tidyman, baseado no livro escrito por Robin Moore / Elenco: Gene Hackman, Roy Scheider, Fernando Rey, Tony Lo Bianco / Sinopse: Dois tiras do departamento de narcóticos da cidade de Nova Iorque investigam um criminoso italiano de baixo nível que muito provavelmente está envolvido num grande esquema de tráfico de drogas internacional, com carregamentos de cocaína vindos diretamente da França. Filme premiado pelo Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Gene Hackman), Melhor Direção (William Friedkin), Melhor Roteiro Adaptado (Ernest Tidyman) e  Melhor Edição (Gerald B. Greenberg). Também indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Roy Scheider).

Pablo Aluísio.