quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Laurence Olivier e Shakespeare

Um dos sonhos de vida do ator Laurence Olivier era levar a obra de William Shakespeare para as grandes massas. De formação Shakesperiana ele começou a tentar colocar sua ideia em prática no teatro londrino. O ator abriu mão de faturar mais alto nas bilheterias para que escolas e colégios de Londres levassem seus alunos para apresentações vespertinas de Olivier e sua companhia. Aos poucos ele foi percebendo que seria mais complicado do que pensava. O texto, extremamente rico e rebuscado de Shakespeare, soava de complicado entendimento para o público mais jovem. Não era de se admirar. Shakespeare escreveu para as pessoas de sua época, em uma linguagem tão rica que muitos historiadores ainda hoje cultivam uma certa dúvida se todas as peças atribuídas a Shakespeare teriam sido escritas por ele realmente, uma vez que era difícil aceitar que tanta riqueza cultural teria vindo de apenas uma pessoa!

Assim Olivier se debruçou sobre "Hamlet" e escreveu uma nova versão, procurando usar uma linguagem mais moderna, que soasse mais compreensível para aqueles alunos. Sua real intenção era apresentar Shakespeare aos mais jovens para que eles criassem curiosidade sobre o famoso escritor, indo assim atrás de suas peças no original. Como a experiência deu certo e deu ótimos frutos Laurence procurou ir além. Ele quis levar para o cinema seu texto adaptado. Afinal de contas uma coisa era se apresentar para um determinado grupo de estudantes ingleses, em número limitado, outra completamente diferente seria levar isso para o mundo inteiro através do grande meio que estava à sua disposição: o cinema!

Sobre essa atitude corajosa de Laurence Olivier o grande ator Marlon Brando comentaria: "Certa vez encontrei Laurence e ele me disse que eu deveria me dedicar a Shakespeare já que tinha talento para tanto! Fiquei lisonjeado com sua opinião e de certo modo ele tinha razão em me falar aquilo. Eu só seria um grande ator se me dedicasse a interpretar Shakespeare no teatro. O problema é que eu tinha que viver, tinha contas a pagar, pois qualquer ator americano que se dedicasse completamente aos textos de Shakespeare ficaria extremamente pobre. Os americanos não possuem esse tipo de cultura. Na verdade os britânicos são os únicos a cultivarem a riqueza da língua inglesa justamente por causa de Shakespeare. A cultura americana é a da TV e a do cinema. Não temos cacife cultural para tornar Shakespeare popular em nossa sociedade".

Brando tinha razão. O americano médio é de certo modo um simplório que mal conhece o nome de outros países. Ele não tem a sutileza e a sofisticação cultural para tornar uma obra desse nível popular. Mesmo com tantas coisas contras Laurence foi em frente. Conseguiu financiamento e em 1948 lançou sua versão cinematográfica de "Hamlet". Ele ficou tão obcecado com sua atuação que resolveu também dirigir o filme. Era sua obra mais cativante e ele certamente não estava disposto a dividir isso com absolutamente ninguém. Para sua alegria e realização o filme se tornou um sucesso e acabou sendo consagrado no Oscar um ano após quando foi premiado com os prêmios de Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e os dois mais importantes Oscars da noite: Melhor Filme e Melhor Ator (onde o grande premiado seria ele mesmo, Laurence Olivier). Não haveria maior consagração para ele do que esse reconhecimento histórico. O Bardo certamente teria ficado orgulhoso de Laurence.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sociedade Secreta

É uma velha história sob uma roupagem moderna. Eu me lembro que havia um clássico com esse mesmo tema. Basicamente o roteiro investe nas sociedades secretas, formadas por estudantes universitários. Esse roteiro é baseado livremente numa famosa sociedade secreta do qual fez parte o ex-presidente George W. Bush. Inclusive o nome da sociedade secreta lembra bastante a de Bush, The Skulls. Na estória  Luke McNamara (Joshua Jackson) é um jovem estudante na universidade que acaba recebendo o convite para fazer parte desse tipo de sociedade.

No começo tudo parece bem. Ele se sente inclusive lisonjeado pelo convite, porém... é a tal coisa. Tudo não passa de uma grande armadilha, pior do que tudo que ele poderia imaginar. Essa produção veio na onda de uma série de filmes de terror teen dos anos 90, mas não ia para o lado do horror como os filmes da franquia Pânico. O elenco é formado de jovens, mas quem se destaca mesmo é o ídolo juvenil Joshua Jackson que, na época em que o filme foi realizado, fazia sucesso na série "Dawson's Creek". Em suma um filme comum, nada demais. Passável, mas também bem esquecível.

Sociedade Secreta (The Skulls, Estados Unidos, 2000) Direção: Rob Cohen / Roteiro: John Pogue / Elenco: Joshua Jackson, Paul Walker, Hill Harper / Sinopse: Jovem universitário, recém chegado na universidade, recebe o convite para fazer parte de uma sociedade secreta, sem saber que na verdade está entrando numa armadilha. Filme indicado ao Teen Choice Awards.

Pablo Aluísio.

Santos ou Soldados - Missão Berlim

Título no Brasil: Santos ou Soldados - Missão Berlim
Título Original: Saints and Soldiers - Airborne Creed
Ano de Produção: 2012
País: Estados Unidos
Estúdio: Go Films
Direção: Ryan Little
Roteiro: Lamont Gray, Lincoln Hoppe
Elenco: Corbin Allred, David Nibley, Jasen Wade
 
Sinopse:
Segunda Guerra Mundial. Agosto de 1944. Um esquadrão de paraquedistas do exército americano salta no sul da França para dar apoio às tropas aliadas que marcham em direção a Berlim. Três dos militares ficam isolados do resto da tropa por caírem longe do ponto certo. Agora eles precisam sobreviver aos ataques do inimigo, ao mesmo tempo em que decidem ajudar um grupo da resistência que se encontra prisioneiro das tropas nazistas.

Comentários:
Uma pequena produção de guerra que se propõe dar continuidade à franquia "Saints and Soldiers". Eu confesso que me recordo apenas vagamento do primeiro filme (sequer me lembro se cheguei a escrever algo sobre ele), mas de qualquer forma não é complicado de antever o que virá pela frente para o espectador. Em termos gerais os roteiros são simples e o orçamento limitado. A produção fica na fronteira entre um telefilme e um filme barato para o cinema. Não há grandes estrelas e o diretor é praticamente um desconhecido. Mesmo assim, com tantas limitações, ainda é uma fita que dá para assistir sem problemas, desde que você não esteja esperando nada excepcional como, por exemplo, "O Resgate do Soldado Ryan" ou coisas desse nível. Não, você encontrará apenas um filme modesto que se propõe a contar uma boa estória, sem exageros e sem produção luxuosa ou classe A. Olhando sob esse ponto de vista até que essa linha de filmes não é tão mal. Como diversão ligeira compensa suas deficiências.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Furyo: Em Nome da Honra

Título no Brasil: Furyo - Em Nome da Honra
Título Original: Merry Christmas Mr. Lawrence
Ano de Produção: 1983
País: Inglaterra, Japão, Nova Zelândia
Estúdio: National Film Trustees
Direção: Nagisa Ôshima
Roteiro: Nagisa Ôshima
Elenco: David Bowie, Tom Conti, Ryuichi Sakamoto
  
Sinopse:
A frágil harmonia existente dentro de um campo de prisioneiros de guerra localizado na ilha de Java é quebrada com a chegada de um oficial inglês, o Major  Jack 'Strafer' Celliers (David Bowie), que não está nem um pouco interessado em colaborar com os japoneses. Como inimigos de guerra, naquele momento em uma luta feroz no Pacífico, os dois oponentes, o Major britânico e o comandante japonês que administra o campo, entram em uma guerra psicológica entre si, tudo com o objetivo de determinar quem sairia vencendo em sua própria guerra particular. Filme indicado à Palma de Ouro no Cannes Film Festival. Vencedor do Awards of the Japanese Academy na categoria de Melhor Filme.

Comentários:
Ao longo de sua vida o cantor David Bowie fez inúmeras participações em filmes, alguns bons, outros medianos e até mesmo alguns lixos. Sua carreira cinematográfica foi irregular, mas não isenta de filmes extremamente interessantes. Quer um exemplo? Veja o caso desse aqui. Esse drama de guerra chamado "Furyo - Em Nome da Honra" (cujo roteiro foi baseado no romance escrito por Laurens van der Post) é certamente um dos melhores filmes da (curta) carreira como ator de David Bowie. Dirigido pelo polêmico Nagisa Ôshima, cuja filmografia foi marcada pelas controvertidas obras O Império dos Sentidos (1976) e O Império da Paixão (1978), o filme explora a tensão crescente entre um oficial britânico interpretado pelo próprio Bowie e o comandante de um campo de prisioneiros na ilha de Java durante a Segunda Guerra Mundial (a trama do filme se passa em 1942, bem no auge do maior conflito armado da história). O interessante de tudo é que Ôshima procura o tempo todo fugir do velho clichê envolvendo soldados aliados sendo torturados e submetidos a todos os tipos de absurdos pelos carrascos japoneses. Claro que esse aspecto também é desenvolvido no roteiro, porém o diretor vai além, criando até mesmo uma polêmica em torno de uma subliminar atração homoafetiva entre os dois personagens principais, algo completamente surreal para um filme passado na II Guerra. Com boa produção, roteiro criativo e excelentes atuações, até mesmo do astro David Bowie, o filme merece ser redescoberto, ainda mais agora com a recente morte do cantor. Para aqueles que acreditam que seu melhor momento nas telas foi "Labirinto" deixo aqui a dica de um filme que causou uma melhor recepção da crítica em seu lançamento (já que em termos de público a fita não foi tão bem como se esperava). Vale a pena conhecer para finalmente reconhecer agora todos os seus méritos e qualidades.

Pablo Aluísio

De Volta Para o Futuro Parte III

Terceiro e último filme da série. Também é considerado (com toda a razão) como o mais fraco da trilogia. É a tal coisa, misturar gêneros cinematográficos diversos pode até soar interessante, mas tem que dosar bem as coisas. O exemplo de  "Cowboys & Aliens" está aí para provar que não estou exagerando. Aqui o diretor Robert Zemeckis misturou ficção com western. Funciona? Apenas em termos. Durante uma das entrevistas de promoção do filme o cineasta explicou que o roteiro não passa de um puro capricho seu. Acontece que a Paramount resolveu produzir as duas sequências (Parte II e III) de uma só vez, para economizar custos e aumentar lucros. O problema é que Zemeckis só tinha de fato um roteiro pronto, acabado e lapidado (justamente o do segundo filme). Então surgiu a dúvida de como ele poderia criar algo para a terceira parte. Meio na correria ele teve essa ideia de levar McFly e o Dr. Brown para o velho oeste americano. Como ele adorava filmes de faroeste seria algo no mínimo divertido.

A questão é que apenas uma ideia divertida não garante um bom filme. "De Volta Para o Futuro III" assim usa de todos os meios para trazer elementos clássicos do western (como cenas clichês e nomes de mitos do gênero) para divertir o máximo possível. No fundo, se formos analisar bem, o filme nem é uma ficção e nem um western, mas sim uma comédia de costumes. Conforme o filme vai seguindo em frente vamos percebendo que as tais ideias originais vão sumindo, se esgotando. Para segurar a barra até o The End, Zemeckis então resolveu reciclar tudo o que já havia sido visto nos dois filmes anteriores. É como eu sempre digo: um dos problemas mais recorrentes em franquias de sucesso do cinema americano é a falta de originalidade, a ausência de uma coragem maior para inovar - parece que os produtores têm medo de investir em algo que não seja mais do mesmo (vide esse último "Star Wars" para perceber bem isso). Diante de tudo o que sobra é apenas um prato requentado, sem grandes inovações, a não ser o contexto histórico da América dos tempos dos índios e cowboys. Muito pouco, para falar a verdade.

De Volta para o Futuro Parte III (Back to the Future Part III, Estados Unidos, 1990) Direção: Robert Zemeckis / Roteiro: Robert Zemeckis, Bob Gale / Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Mary Steenburgen / Sinopse: No presente, após retornar de mais uma viagem de volta ao passado, o jovem Marty McFly (Fox) recebe uma carta do Dr. Brown (Lloyd) lhe informando que está agora no passado, no velho oeste americano. Ele encontrou o grande amor de sua vida, a bela e doce Clara Clayton (Mary Steenburgen), mas está enfrentando também alguns sérios problemas. Caberá a McFly voltar para aqueles tempos pioneiros para ajudar seu velho amigo de aventuras. Filme premiado pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films nas categorias de Melhor Música (Alan Silvestri) e Melhor Ator Coadjuvante (Thomas F. Wilson).

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de janeiro de 2016

De Volta Para o Futuro Parte II

Título no Brasil: De Volta Para o Futuro Parte II
Título Original: Back to the Future Part II
Ano de Produção: 1989
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis, Bob Gale
Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson, Elisabeth Shue, Thomas F. Wilson
  
Sinopse:
De volta para o futuro, o jovem Marty McFly (Michael J. Fox) e o cientista maluco Doc Brown (Lloyd) descobrem que algo inesperado aconteceu no passado, mudando a realidade do presente deles. Eles então percebem que precisam voltar mais uma vez até 1955 para modificar mais uma vez o passado, colocando tudo no caminho certo de uma vez por todas. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Ken Ralston, Michael Lantieri, John Bell, Steve Gawley). Também vencedor do BAFTA Awards na mesma categoria.

Comentários:
Na primeira vez que assisti "De Volta Para o Futuro II" não gostei muito. Em minha opinião a metalinguagem do roteiro (onde os personagens entravam nos acontecimentos que vimos no primeiro filme) não funcionou muito bem. Com os anos o filme foi me parecendo bem melhor, embora até hoje considere apenas o primeiro filme da série realmente impecável. O terceiro também foi prejudicado pela falta de ideias novas, além das brincadeiras com o western, que nem sempre funcionavam direito. Aliás ambos os filmes foram rodados de forma simultânea pois a Paramount acreditava tanta na franquia que por questão de aproveitamento de custos resolveu rodar logo as duas sequências uma atrás da outra para maximizar seus lucros. Nesse segundo, como já escrevi, o maior problema vinha mesmo do roteiro que ficou excessivamente truncado. Algo semelhante aconteceu com a franquia do Exterminador do Futuro. Em ambos os casos o que temos é uma ótima ideia, realmente genial, que só funcionava muito bem em apenas um filme. Era realmente tudo muito bem bolado, porém também limitado em termos temporais. Tentar esticar uma trama por si simples para algo expansivo demais acabou de certa maneira esvaziando o que havia de mais criativo nesses filmes. Nesse filme, por exemplo, parte do charme do primeiro filme se foi. Temos dois Marty McFly em cena, o do primeiro filme que volta para 1955 e o segundo que volta lá para impedir que uma coisa importante venha a acontecer, mudando definitivamente os rumos do futuro. Esse segundo McFly fica o tempo todo caracterizado como se fosse um espião, com blusão de couro negro e um tipo de rádio amador portátil (pois é, não existia ainda o celular quando o filme foi realizado). De maneira em geral passa longe da qualidade do primeiro filme, embora seja longe de ser um filme ruim. Ele apenas não funciona tão bem quanto todos estavam esperando.

Pablo Aluísio.

Karate Kid II - A Hora da Verdade Continua

Título no Brasil: Karate Kid II - A Hora da Verdade Continua
Título Original: The Karate Kid, Part II
Ano de Produção: 1986
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: John G. Avildsen
Roteiro: Robert Mark Kamen
Elenco: Pat Morita, Ralph Macchio, Pat E. Johnson
  
Sinopse:
Para resolver um velho problema de família o mestre Sr. Miyagi (Pat Morita) decide retornar para sua terra natal, Okinawa, no Japão. Sem esperar acaba descobrindo que o jovem Daniel San (Ralph Macchio) também está decidido a lhe acompanhar em sua volta para a velha casa. Juntos eles então vão até a terra do sol nascente. Lá o Sr. Miyagi acaba reencontrando o grande amor de sua vida, além de um grande rival. Já Daniel acaba conhecendo a bela Kumiko (Tamlyn Tomita), se apaixonando imediatamente por ela. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Música Original ("Glory of Love" de Peter Cetera). 

Comentários:
Considero o melhor filme da franquia. Isso não se deve ao roteiro, que muitas vezes não consegue escapar de ser um mero derivativo do primeiro filme, mas sim pela mudança de ares. Acontece que nessa segunda parte a ação é transportada para o Japão, para Okinawa, uma bela localidade daquele país que um dia serviu de base da Marinha Americana. A imersão do personagem americano Daniel (Macchio) dentro da cultura japonesa acaba criando algumas das melhores situações de toda a franquia. Outro ponto muito positivo vem da participação da linda atriz Tamlyn Tomita como a namoradinha do protagonista. Ela era apenas uma adolescente na época e chama todas as atenções por seu beleza juvenil. Curiosamente Tamlyn Tomita acabaria tendo uma carreira com mais destaque de um modo em geral do que o próprio Ralph Macchio. Ela atuou em produções bem interessantes como "Grande Hotel" e "Bem-Vindos ao Paraíso", além de ter desenvolvido paralelamente ao cinema uma longa e produtiva carreira na TV, atuando em dezenas de séries americanas. Chegou inclusive a virar musa teen com sua participação em "Babylon 5". Beleza e carisma certamente não lhe faltavam. Curiosamente Tomita que era natural de Okinawa acabou sendo revelada justamente por esse filme, indo depois para os Estados Unidos para continuar sua carreira de atriz. Já Macchio também estava em um bom momento, ainda com cara e jeito de adolescente (embora pela idade já não o fosse mais). Sua sintonia com Pat Morita nas inúmeras cenas que seu mestre tenta lhe ensinar os ensinamentos mais importantes da cultura oriental acabam sendo a melhor coisa do enredo do filme. Em suma, aqui está o mais bem acabado filme da franquia, se você curte Karate Kid não deixe de conferir (ou rever) na primeira oportunidade. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Lembranças

Tyler Hawkins (Robert Pattinson) é um jovem nova-iorquino como qualquer outro de sua idade. Ele tenta levar sua vida em frente apesar dos problemas de relacionamento que tem com o pai, um executivo bem sucedido e distante. Sua namorada acaba sendo o grande diferencial no que parece ser uma vida cinzenta, sem grandes alegrias ou atrativos. Tudo porém mudará em questão de segundos numa trágica manhã na cidade. Filme vencedor do Teen Choice Awards na categoria de Melhor Ator - drama (Robert Pattinson). Começa quase como um falso documentário ou algo equivalente. A linguagem procura aproximação com o espectador, usando praticamente uma técnica amadora de filmagem, mostrando a realidade e o cotidiano de um rapaz normal de Nova Iorque. Ele tem seus problemas pessoais e familiares como todo mundo e enfrenta um momento de decisão na vida, a chamada hora da verdade. Como jovem, tem muitos planos para seu futuro, sua vida, mas tudo acaba mudando por causa de um evento histórico que marcaria para sempre o coração de toda a América (a tragédia de 11 de setembro, o maior ataque terrorista da história dos Estados Unidos).

Particularmente gostei do argumento, que nada revela ao espectador até o dia da grande tragédia. Ao mesmo tempo o filme termina exatamente na manhã daquele dia, se concentrando apenas no que acontece poucos dias antes. O roteiro obviamente opta por dar um rosto e uma identidade para todas as vítimas do ataque ao World Trade Center e o faz com bastante delicadeza e cuidado. O filme chamou mais atenção do que normalmente faria por causa da presença do ídolo adolescente Robert Pattinson. Aqui ele desfila seu repertório de gestos inspirados em James Dean. Pouco expressivo, não acrescenta muito em termos de qualidade no quesito atuação, mas tampouco atrapalha. Um bom filme valorizado pelo background histórico de fundo explorando esse dia que entrou para a história e como tal o título original sugere não deve ser esquecido jamais.

Lembranças (Remember Me, Estados Unidos, 2010) Direção: Allen Coulter / Roteiro: Will Fetters / Elenco: Robert Pattinson, Pierce Brosnan, Emilie de Ravin, Caitlyn Rund / Sinopse: Um jovem americano comum, com problemas de relacionamento com seu pai e sua namorada, vê o destino mudar completamente sua vida e seus planos para o futuro. História baseada em fatos reais.

Pablo Aluísio.

Obrigado por Fumar

Título no Brasil: Obrigado por Fumar
Título Original: Thank You for Smoking
Ano de Produção: 2005
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman, Christopher Buckley
Elenco: Aaron Eckhart, J.K. Simmons, William H. Macy, Robert Duvall, Katie Holmes, Sam Elliott, Rob Lowe, Adam Brody
  
Sinopse:
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é um lobista da indústria do tabaco que não está nem um pouco preocupado com as milhões de mortes causadas pelo fumo todos os anos. Tudo o que interessa a ele é defender o lobby da extremamente bem sucedida máquina industrial do cigarro americano. Para isso ele ignora quaisquer aspectos morais ou éticos daquilo que defende. Sua vida porém vira de cabeça para baixo quando resolve se envolver com a jornalista Heather Holloway (Katie Holmes), que também não está nem aí para valores éticos ou morais, só se envolvendo com ele para descobrir os mais obscuros segredos da indústria no qual trabalha. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Ator - Comédia ou Musical (Aaron Eckhart).

Comentários:
Excelente comédia de humor negro que havia até agora me passado em branco. Lançado há mais de dez anos ainda não havia assistido. Uma pena. É realmente uma pequena obra prima do gênero. O protagonista (interpretado com maestria pelo ator Aaron Eckhart) é um escroque que defende como lobista a indústria do tabaco. Em torno dele giram os tipos mais incomuns e interessantes. Além da jornalista mau caráter que o leva para a cama apenas para descobrir os podres da indústria de cigarro (papel que coube à gracinha Katie Holmes) ainda há o magnata da indústria do fumo interpretado pelo veterano Robert Duvall, que ironicamente está morrendo de câncer no pulmão. Mesmo assim não larga a mão de ser um verdadeiro canalha cínico e sem sentimentos. Há ainda o executivo estressado (J.K. Simmons, em seu tipo habitual), o senador hipócrita que defende a proibição do comércio de cigarros (William H. Macy, novamente ótimo) e até mesmo o primeiro cowboy, conhecido como o "Homem de Marlboro" (Sam Elliott), que ameaça a indústria, se colocando à disposição de revelar certos segredos para a imprensa. Todos os personagens carregam uma característica em comum: são verdadeiros patifes em busca de um pouco do naco da fortuna gerada pela milionária comercialização de cigarros nos Estados Unidos. Tudo porém é levado em ritmo de humor negro, bem sofisticado, daqueles que fazem você sorrir com uma certa dose de culpa por dentro. Por fim para os cinéfilos um aspecto curioso do roteiro: o lobista Nick sugere ao magnata do tabaco que ele suborne um importante produtor de cinema (vivido por Rob Lowe) para que ele coloque os astros fumando novamente nas telas - algo que era bem comum na era de ouro do cinema americano, durante sua fase clássica. Tudo para que os jovens passem a pensar que fumar seria algo positivo, charmoso, até mesmo glamoroso. Aconteceu no passado e poderia acontecer agora. Realmente não há limites para essa gente.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Carol

Baseado na obra literária homônima da escritora americana Patricia Highsmith de 1952, o thriller-romance-homoerótico, "Carol", Dirigido pelo californiano Todd Haynes, conta a bela história de amor entre Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara). Carol, uma rica, charmosa e classuda mulher novaiorquina e mãe de uma garotinha, vive uma vida infeliz atrelada a um casamento de fachada. Certo dia, vai até a uma loja de departamento para comprar uma boneca para a sua filhinha. A bela ninfeta Therese, balconista da seção de brinquedos, ajuda a loura charmosa a escolher o melhor presente para a menina, dando início assim aos primeiros olhares de ternura. Na saída, Carol esquece o par de luvas de couro no balcão, pronto! é a senha para as duas voltarem a se encontrar. Sufocada por um marido rico, ciumento e desinteressante e absolutamente atraída por Therese, a louraça pede o inexorável divórcio, despertando assim a ira de seu marido. Livre das algemas de um casamento fracassado, Carol convida Therese a viajarem juntas pelas estradas americanas, sem destino e sem data para voltar. Therese, que além de vendedora sonha em ser fotógrafa, aceita sem pestanejar o convite. Faz as malas, separa do noivo chato e preconceituoso e mergulha de cabeça num verdadeiro conto de fadas com Carol.

O roteiro, transformado pelas lentes de Haynes numa ode ao mais puro e singelo amor, faz de "Carol" uma celebração poética do amor contido, dos gestos contidos, do medo e da incrível, não paixão. Isso mesmo, "não paixão", pois paixão é para os fracos e Carol e Therese foram direto ao amor. O amor e o desejo são prospectados num cruzamento constante, e quase ininterruptos, de olhares, toques e finalmente o sexo. Aliás, sejamos honestos: o filme é sobre o amor e não sobre sexo. Haynes foi brilhante na criação de uma estética puramente retrô, mostrando uma América dos anos 50, com suas cores pastéis, vermelhos e mostardas, predominando sobre o cinza escuro dos prédios de Nova York. Têm ainda os estilosos carrões arredondados americanos da época, com sua pompa, seu charmes, seus vidros ovais, além de suas arestas e vincos insuspeitados. Nas cenas de viagem das duas amigas pelas estradas, a leveza, a pureza, uma paz incontida e desejos reprimidos, esboçam um verdadeira celebração, não só do amor, mas de uma paz e liberdade que quase faz as duas mulheres levitarem de tanta felicidade. A visão de Haynes sobre a nobreza, a pureza e o brilho iridescente do amor entre Carol e Therese é tão honesta e tão marcante que o termo "amor lésbico" acaba ficando em segundo (ou terceiro) plano. Realmente, um belíssimo e singelo filme.

Carol (Carol, Inglaterra, Estados Unidos, 2015) Direção: Todd Haynes / Roteiro: Phyllis Nagy, Patricia Highsmith / Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson. / Sinopse: O filme narra o romance entre duas mulheres diante das pressões e preconceitos da sociedade. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Atriz Coadjuvante (Rooney Mara), Melhor Roteiro Adaptado (Phyllis Nagy), Melhor Fotografia (Edward Lachman), Melhor Figurino (Sandy Powell) e Melhor Música original (Carter Burwell).

Telmo Vilela Jr.

O Coração da Justiça

Título no Brasil: O Coração da Justiça
Título Original: The Heart of Justice
Ano de Produção: 1992
País: Estados Unidos
Estúdio: Amblin Television
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Keith Reddin
Elenco: Eric Stoltz, Jennifer Connelly, Dermot Mulroney, Dennis Hopper, William H. Macy, Vincent Price

Sinopse:
Investigando um caso de assassinato, o detetive David Leader (Eric Stoltz) acaba conhecendo a família Burgess, uma gente estranha, mas muito rica, que parece girar em todos os aspectos em torno de sua filha, a perigosa e igualmente sedutora Emma Burgess (Jennifer Connelly).

Comentários:
Filme fraquinho feito para a TV americana, com direção do brasileiro Bruno Barreto. O telefilme foi produzido pela produtora de Steven Spielberg. Tudo muito convencional, sem pretensão de ser algo a mais ou inovador. Se vale por alguma coisa, temos que admitir que a atriz Jennifer Connelly estava linda, bem na fase de sua transição de filmes adolescentes para algo mais sério. Já Eric Stoltz não ajuda muito. Sempre foi um ator por demais genérico, sem maiores atrativos. Desde que ele perdeu o papel do jovem McFly em "De Volta Para o Futuro", nunca mais acertou na carreira. De qualquer forma hoje em dia é um filme bem complicado de achar. Chegou a ser lançado no Brasil em VHS, mas depois desapareceu, inclusive da programação das TVs a cabo. No elenco, é sempre bom salientar, há a presença de dois veteranos importantes na história do cinema: Dennis Hopper e Vincent Price. Provavelmente a dupla seja a melhor razão para ver esse filme hoje em dia.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O Inferno de São Judas

Irlanda, 1939. O professor William Franklin (Aidan Quinn) chega para ensinar em um reformatório católico. Ele acaba se tornando o único mestre laico da instituição pois todos os demais professores são padres. Os jovens que foram enviados para lá cometeram algum tipo de crime e por essa razão o local tem uma disciplina extremamente rígida e austera. O encarregado de cuidar da ordem é o Padre John (Iain Glen) um sujeito que não admite a menor indisciplina, impondo severas punições, inclusive com uso de violência física e psicológica contra os jovens internados na instituição. Sem dúvida é um filme com temática forte e até mesmo impressionante (acredite, vai marcar você por um bom tempo). Baseado em fatos reais, mostra um reformatório na Irlanda nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. Em um ambiente extremamente controlado, onde qualquer sinal de desobediência gera uma reação violenta de volta, surge esse professor com um sentimento mais liberal, mas de acordo com os novos tempos. Franklin (Quinn) realmente acredita em um futuro para aqueles jovens, mesmo que eles tenham cometida alguma falha mais grave em seu precoce passado (até porque muitos não passam de garotos mal entrados na puberdade). O problema é que seu modo de ser logo o coloca em choque contra o Padre John (Glen) um religioso com requintes de sadismo, responsável pela disciplina do reformatório, que segue aproveitando qualquer deslize dos garotos para usar de toda a violência imaginável.

É um filme realmente muito bom, porém (quase) desliza em alguns aspectos mais maniqueistas. Os padres apresentados no filme são carregados com tintas fortes. O Padre John, por exemplo, é um infame e um calhorda, mais se parecendo com um psicopata nazista do que com um religioso que resolveu dedicar sua vida à Igreja. Seu auxiliar direto é ainda pior, mesmo sendo jovem e aparentando ser mais bondoso o Padre Mac (Marc Warren) não consegue esconder que é na verdade um pedófilo que abusa de um dos jovens internos, o violentando de todas as maneiras durante os intervalos das aulas. No meio de tantos canalhas surge então esse professor Franklin, um homem com formação de esquerda que inclusive chegou a lutar na guerra civil espanhola do lado dos camponeses sem terra. Em outros termos, um comunista de carteirinha. Colocar dois personagens antagônicos dessa maneira, representando cada um de certa maneira sua própria ideologia poderia ter sido o grande desastre do filme. Felizmente os roteiristas amenizam esse discurso, nem exaltando os socialistas como seres superiores e nem muito menos demonizando completamente a Igreja Católica. No final quem ganha é o espectador pois o filme, apesar de derrapar levemente em determinados momentos, conseguiu superar o panfletismo que todos esperavam. É uma obra muito tocante e com boa mensagem, que ainda bem fugiu do discurso barato. Como obra puramente cinematográfica porém não há o que criticar. É certamente um excelente filme, extremamente recomendado.

O Inferno de São Judas (Song for a Raggy Boy, Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, 2003) Direção: Aisling Walsh / Roteiro: Aisling Walsh, Kevin Byron Murphy / Elenco: Aidan Quinn, Iain Glen, Marc Warren, John Travers / Sinopse: William Franklin (Aidan Quinn) é um professor de literatura e poesia que vai ensinar numa escola católica justamente quando a Europa começa a se preparar para entrar em um dos maiores conflitos armados da história, a II Grande Guerra Mundial. Roteiro baseado em fatos reais. Filme premiado no Copenhagen International Film Festival e no Irish Film and Television Awards na categoria de Melhor Filme.

Pablo Aluísio.

Meu Primeiro Amor

Título no Brasil: Meu Primeiro Amor
Título Original: My Girl
Ano de Produção: 1991
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Howard Zieff
Roteiro: Laurice Elehwany
Elenco: Anna Chlumsky, Macaulay Culkin, Dan Aykroyd
 
Sinopse:
Vada Sultenfuss (Anna Chlumsky) é uma garotinha obcecada pela morte. Sua mãe é falecida, e seu pai trabalha em uma funerária. Ela também é apaixonada por seu professor de Inglês, e se junta a uma aula de poesia durante o verão somente para impressioná-lo. Seu amiguinho Thomas J. Sennett (Macaulay Culkin) parece ser alérgico a tudo! No meio das brincadeiras típicas de crianças de sua idade eles começam a descobrir os segredos do amor e da paixão. Filme indicado aos prêmios da MTV Movie Awards, Chicago Film Critics Association Awards e Young Artist Awards.

Comentários:
Bem bonitinho esse filme sobre a descoberta do amor na infância / adolescência. Confesso que embora o roteiro seja bem escrito a relação dos dois guris nunca me convenceu muito, nem da parte dele e nem da parte dela. No fundo parecem estar mais se divertindo do que qualquer outra coisa. Rever filmes como esse (que foi reprisado à exaustão na Sessão da Tarde) também nos serve como um alerta da passagem do tempo. Nessa época Macaulay Culkin era o xodó de Hollywood, um dos grandes astros mirins da indústria. Infelizmente como acontece com atores mirins, que fazem sucesso bem cedo em suas carreiras, Macaulay Culkin também sucumbiu ao fato de ter se tornado um adulto. Longe do cinema, tentando fazer decolar uma banda de rock meio fracassada, ele não lembra mais em nada o garotinho que enchia as salas de cinema dos anos 90. De fato virou um sujeito esquisitão com problemas relacionados a drogas pesadas. Bom, melhor deixar isso de lado e curtir esse pequeno romance sobre duas crianças que descobrem as maravilhas de se estar apaixonado uma pela outra. O resto é irrelevante. PS: A trilha sonora é um achado, uma das melhores coisas da fita, cheia de canções clássicas dos tempos dourados do rock americano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Com 007 Viva e Deixe Morrer

Título no Brasil: Com 007 Viva e Deixe Morrer
Título Original: Live and Let Die
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Eon Productions
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Tom Mankiewicz
Elenco: Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour
  
Sinopse:
O agente secreto inglês James Bond (Roger Moore) vai até os Estados Unidos para descobrir quem teria matado um agente britânico no país. Suas investigações o levam a procurar entender como funciona uma complexa rede de tráfico de drogas no país. Algo de muito estranho acontece pois um traficante conhecido apenas como Mr. Big está se propondo a vender drogas a um preço absurdamente baixo, a preço de custo praticamente, tudo para destruir a concorrência com quadrilhas rivais. O problema é que Bond nem desconfiaria que essa missão o levaria a um submundo ainda mais sinistro, de magia e vodu. Filme baseado no livro escrito por Ian Fleming.

Comentários:
Com a saída definitiva de Sean Connery da série sobre o agente inglês mais famoso da história do cinema os produtores tiveram que correr atrás de um sucessor. Encontraram o que procuravam na figura do ator Roger Moore. Ele quase havia sido escolhido alguns anos antes, mas acabou perdendo a disputa justamente para Connery. Depois de tantos anos a oportunidade voltou a bater em sua porta e dessa vez Moore estava mais preparado para viver o famoso 007 nos cinemas. Curiosamente ele resolveu também imprimir suas próprias características ao personagem nascendo daí um James Bond mais divertido, irônico e até mesmo bonachão. Esse filme acabou sendo uma grata surpresa pois ao contrário dos que viriam (que iriam exagerar no deboche) esse aqui ainda conseguia manter bem os pés no chão, assumindo uma postura bem humorada, é verdade, mas não galhofeira. O grande destaque além da presença de Roger Moore veio da música tema, uma das mais populares de todos os tempos, que foi composta, gravada e lançada pelo ex-Beatle Paul McCartney. O grupo mais famoso da história do rock havia se separado há apenas 3 anos e Paul estava disposto a mostrar serviço, mostrando que tinha talento suficiente para se destacar como artista solo (algo aliás que ele faria de forma maravilhosamente brilhante nos anos que viriam, sozinho ou com seu grupo The Wings). Além do sucesso de público (o single com a música vendeu milhões de cópias ao redor do mundo) a canção ainda conseguiu a proeza de ser indicado ao Oscar de Melhor Música original. Nada mal para um filme de James Bond estrelado por Roger Moore.

Pablo Aluísio.

Os Oito Odiados

Como o próprio material promocional do filme deixa claro temos aqui o oitavo filme de Quentin Tarantino, o segundo no gênero western. O enredo é dos mais simples: O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) aluga uma diligência para levar sua prisioneira Daisy (Leigh) até Red Rock. A viagem é dura pois é realizada no meio de uma forte nevasca. No caminho eis que surge o Major Marquis (Jackson). Seu cavalo morreu por causa do clima hostil e ele está com dois corpos de foragidos. Pretende também levá-los a Red Rock para embolsar o prêmio de suas capturas. No começo Ruth reluta em lhe dar uma carona, mas depois de um diálogo dos mais interessantes (marca registrada de Tarantino) resolve lhe ajudar. A viagem segue. Mais a frente outra surpresa. Eles encontram Chris Mannix (Goggins) no meio da estrada coberta de neve. Ele se diz o novo xerife de Red Rock. Abrindo mais uma exceção Ruth resolve lhe ajudar também. Juntos acabam parando em uma estalagem, usualmente usada como posto de paradas em longas viagens. Ela pertence a uma velha conhecida de Ruth, mas para sua surpresa ela não está lá. Também não está seu fiel companheiro. No lugar deles há um grupo de homens. Não demora muito para que Marquis desconfie que algo muito estranho está prestes a acontecer naquele lugar esquecido por Deus.

"Os Oito Odiados" é mais uma tentativa de Tarantino em levar seu estilo único para o velho oeste. A boa notícia é que ele realizou realmente um bom filme. Não diria porém que está isento de críticas. Há uma duração excessiva (quase três horas de duração para um enredo tão simples é certamente um exagero), violência insana e gratuita (nada que irá decepcionar os fãs do diretor), atos de vulgaridade desnecessários (como a cena de sexo oral com o personagem de Samuel L. Jackson) e uma quebra de ritmo no terceiro ato do filme. Mesmo assim diverte e agrada. O que salva esse filme é a mesma característica que salvou em último análise todos os filmes anteriores do diretor, ou seja, uma profusão de ótimos diálogos, o desenvolvimento psicológico de praticamente todos os personagens, além do sempre presente clima surreal de contar suas histórias. Tarantino parece ter uma mente dual, pelo menos em relação aos seus personagens e isso volta a se refletir por aqui. No geral é certamente muito interessante, longe da banalidade do que anda se vendo nas telas. Não é o melhor em termos de Quentin Tarantino, mas certamente é muito melhor do que noventa por cento do que se vê hoje em dia nas telas. Vale a pena assistir, não tenha dúvidas disso.

Os oito odiados (The Hateful Eight, EUA, 2015) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth, Walton Goggins, Demián Bichir, Michael Madsen, Bruce Dern / Sinopse: O caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) acaba levando de carona em sua diligência dois homens que encontrou por acaso no meio da estrada, durante uma forte tempestade. Eles acabam parando numa velha estalagem que mais se parece com um armadilha mortal. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Trilha Sonora (Ennio Morricone).

Pablo Aluísio.