quarta-feira, 10 de junho de 2015

O Garoto da Casa ao Lado

Título no Brasil: O Garoto da Casa ao Lado
Título Original: The Boy Next Door
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Rob Cohen
Roteiro: Barbara Curry
Elenco: Jennifer Lopez, Ryan Guzman, Kristin Chenoweth
  
Sinopse:
Claire Peterson (Jennifer Lopez) é um professora de ensino médio que precisa lidar com o fim de seu casamento. Após a traição do marido ela deseja se divorciar dele. Com um filho adolescente e vários problemas pessoais ela comete o erro fatal de se envolver com o jovem que acaba de se mudar para a casa ao lado. Noah Sandborn (Ryan Guzman) se mudou recentemente para a casa vizinha para ajudar seu tio-avô que está passando por problemas de saúde. O que começa como um flerte casual acaba saindo do controle ao Claire perceber que o jovem tem sérios problemas psicológicos, o que dá origem a uma obsessão perigosa por parte dele.

Comentários:
Filme bem fraco estrelado pela atriz e celebridade Jennifer Lopez. Pelo visto sua carreira entrou em uma curva descendente, acumulando fracassos comerciais e filmes sem repercussão ou importância. Esse aqui tem um roteiro rasteiro, cheio de clichês batidos. Basicamente se trata de uma professora mais velha que acaba se envolvendo com um garotão que não demora a demonstrar ter sérios problemas mentais, se tornando obsessivo e um homicida em potencial depois que ela o rejeita após uma noite de sexo casual. O viés moralista é mal conduzido e leva a uma série de cenas sem originalidade alguma. Para tentar salvar a fita do desastre completo o roteiro procura explorar de forma apelativa a imagem de símbolo sexual da atriz Jennifer Lopez a colocando em uma cena que supostamente deveria elevar o clima de sensualidade do filme. Não consegue. A cena é convencional, rápida e não passa erotismo algum. Depois que o jovem começa a agir feito um louco após ela o dispensar discretamente a fita desanda de vez. Ele a chantageia, dizendo que vai revelar seu caso amoroso no colégio onde ela ensina (e onde ele também é aluno), além de começar a ir em sua casa para visitas completamente constrangedoras. Em pouco tempo o comportamento inconveniente se transforma em ameaças veladas. Se tornando amigo de seu filho o sujeito também começa a usar o adolescente para jogá-lo contra sua própria mãe. Quando a situação fica completamente insuportável começam os atos de violência que acabam dando origem a uma cena particularmente trash quando ela enfia o dedo em seu olho, o mesmo onde momento antes afundou uma seringa imensa! Enfim, chega! É muita besteira para um thriller que se propunha a ser mais interessante. Do jeito que ficou, tudo o que conseguiu mesmo foi se tornar uma grande perda de tempo!

Pablo Aluísio.

Fora de Alcance

Título Original: Beyond the Reach
Título no Brasil: Fora de Alcance
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Furthur Films
Direção: Jean-Baptiste Léonetti
Roteiro: Robb White, Stephen Susco
Elenco: Michael Douglas, Jeremy Irvine, Martin Palmer
  
Sinopse:
Madec (Michael Douglas) é um milionário empresário apaixonado por caças. Ele agora pretende ir até o Novo México para caçar um veado selvagem muito raro de se encontrar livre na natureza. Tudo com o objetivo de ter mais um belo prêmio pendurado em sua lareira. Para tanto contrata os serviços de Ben (Jeremy Irvine) que conhece como ninguém a região. Durante a caçada porém Madec comete um erro fatal, atingindo um morador do lugar, pensando se tratar de seu alvo. A fatalidade o coloca numa situação delicada pois como homem de negócios ele não pode se dar ao luxo de ser acusado de um homicídio. Ele precisa esconder o acontecimento, mesmo que para isso necessite eliminar o jovem Ben que pretende denunciar o ocorrido para o xerife local. Não demora muito e começa uma verdadeira caçada humana para encobrir tudo o que aconteceu.

Comentários:
Já houve um tempo em que Michael Douglas era sinônimo de sucesso de bilheteria. Seus filmes geralmente chegavam facilmente no top 10 da indústria cinematográfica americana. Os tempos agora são outros. Veja o caso desse "Beyond the Reach". O filme teve lançamento discreto nos Estados Unidos e na Europa e sequer encontrou uma empresa distribuidora interessada em lançá-lo no Brasil. Assim continua inédito em nosso mercado. Deixando esses aspectos comerciais de lado o fato é que realmente se trata de um thriller sem maiores novidades. A premissa até que é interessante ao colocar um ser humano no lugar de um animal sendo caçado. Muito provavelmente o criador da história (o escritor Robb White) tenha desejado mostrar o absurdo das caçadas de animais selvagens, a maioria delas proibidas em diversas partes do mundo. Que melhor jeito de mostrar seu ponto de vista do que usar um homem no lugar de um animal em fuga? O caçador interpretado por Michael Douglas é um capitalista selvagem que está pouco se importando com a questão ética de seu hobbie preferido. Enquanto tenta alvejar seu alvo ele segue negociando milhões com empresários chineses do outro lado do mundo. Assim fica fácil de entender as duas principais críticas subliminares de seu texto, numa mensagem nitidamente social e ecológica. Na questão puramente cinematográfica "Beyond the Reach" também não empolga muito. O roteiro explora apenas uma situação - a própria caçada humana - e não sai muito disso. A coisa só não fica pior porque o diretor Jean-Baptiste Léonetti teve o bom senso de rodar um filme curto, justamente por entender que não tinha muita história para contar. Ponto para ele que acabou realizando um filme que, se não consegue ser marcante em nenhum momento, pelo menos se mostra eficiente.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Cinderela

Contos de fadas sempre são fascinantes, mesmo depois que nos tornamos adultos e deixamos as coisas de criança para trás. O império Disney foi construído em cima justamente dessa base. Sabendo disso os executivos do estúdio descobriram uma nova fórmula de faturar grandes bilheterias no cinema com a produção de filmes convencionais que nada mais são do que remakes de suas animações mais famosas do passado. Assim temos agora essa nova versão de "Cinderela". A historinha é por demais conhecida, mostrando a sofrida vida de Ella (Lily James), uma jovem de bom coração, muito doce e cheia de bons sentimentos, que acaba ficando numa situação muito complicada após a morte dos pais, tendo que morar ao lado da sua madrasta (Cate Blanchett), uma verdadeira megera e suas duas filhas fúteis e frívolas.

Humilhada e transformada praticamente numa serva, com muitas obrigações e quase nenhum direito dentro de sua própria casa, ela vê sua cinzenta vida tomar um rumo bem mais feliz e colorido ao conhecer o jovem Kit (Richard Madden) numa floresta. Na verdade ele, que se passa como um simples aprendiz, é na verdade o príncipe herdeiro de seu reino. Para não assustar a jovem e bela camponesa o nobre rapaz assim acaba escondendo sua verdadeira identidade. Quando o Rei decide que chegara o momento de seu filho se casar ele decreta que todas as jovens do reino devem comparecer no grande baile do ano. Cinderela assim vê uma bela oportunidade para rever seu apaixonado, enquanto as filhas de sua madrasta estão mais interessadas em casar com o príncipe para colocarem suas mãos em sua fortuna. A partir daí o roteiro segue os passos do desenho clássico, com as passagens que tanto conhecemos, os sapatinhos de cristal, a fada madrinha, a carruagem de abóbora, os ratinhos que se transformam em lindos cavalos brancos, o bater dos sinos da meia-noite e a desesperada busca do príncipe por sua amada, usando para isso um de seus sapatinhos de cristal que ficou para trás. Tudo mais ou menos igual (com pequenas modificações) ao conto de fadas original.

A direção foi entregue para Kenneth Branagh, uma decisão acertada pois o ator e diretor irlandês tem grande experiência com adaptações de obras literárias do passado. Basta lembrar de suas famosas transições para a tela da obra de William Shakespeare em filmes como "Henrique V", "Muito Barulho por Nada" e "Hamlet". Assim não seria grande desafio trazer a história de "Cinderela" para os cinemas dessa vez. Algumas de suas características mais marcantes estão presentes, como a bela direção de arte que acaba recriando com um belo visual, reinos encantados de um tempo distante indefinido. Outra decisão interessante foi colocar atores e atrizes provenientes de séries americanas em papéis coadjuvantes. Uma das filhas da madrasta, Anastasia, é interpretada pela linda Holliday Grainger que se destacou muito na série "Os Bórgias" no papel de Lucrécia Bórgia. Nonso Anozie, que foi o fiel escudeiro de Drácula na série de mesmo nome, também está presente no elenco como um capitão da guarda fiel ao príncipe. Sophie McShera, a Daisy de "Downton Abbey", também atua como a outra filha da madrasta de Cinderela.

Já no elenco principal quem se destaca mesmo (e isso já era bem previsível) é a atriz Cate Blanchett. Usando um figurino exótico ela dá vida para a personagem da madrasta, uma mulher com uma personalidade desprezível mesmo. Seus olhares já dizem tudo sobre ela. A atriz Lily James que surge como Cinderella não chega a impressionar, mas pelo menos também não estraga o filme. Nada surpreendente, leva sua atuação em um termo médio. Ela é bonitinha, mas sinceramente poderia ser mais, pois esse é um papel que exige uma beleza extrema, tal como no desenho. O roteiro segue até bem fiel com o conto de fadas que todos conhecemos, mas os roteiristas resolveram acrescentar alguns pequenos detalhes que não descaracterizam em nenhum momento o conto clássico. No final fica a sensação de se ter visto um belo filme, com uma mensagem bonita e pertinente (o verdadeiro amor não tem preço). Tudo realizado com muito bom gosto, classe e beleza.

Cinderela (Cinderella, Estados Unidos, 2015) Direção: Kenneth Branagh / Roteiro: Chris Weitz / Elenco: Lily James, Cate Blanchett, Richard Madden, Helena Bonham Carter, Stellan Skarsgård, Holliday Grainger, Sophie McShera, Nonso Anozie, Derek Jacobi, Ben Chaplin. / Sinopse: Remake com atores de carne e osso da famosa animação da Disney, "Cinderela". A historinha narra a vida da gata borralheira, uma jovem de boa índole que cai nas garras de uma madrasta cruel e desalmada que a explora, junto de suas duas odiosas filhas, enquanto ela procura reencontrar o grande amor de sua vida, um jovem que se diz ser um mero aprendiz que conhecera em um bosque próximo de sua casa.

Pablo Aluísio.

Whiplash: Em Busca da Perfeição

Tudo o que o jovem Andrew (Miles Teller) sonhou na vida foi se tornar um grande baterista. Em busca desse objetivo ele acabou sendo admitido numa das mais prestigiadas escolas de música dos Estados Unidos. Lá acaba tendo que lidar com o professor Fletcher (J.K. Simmons), um mestre rígido, extremamente disciplinador e irascível. Tentando conciliar seus estudos musicais com uma vida privada quase inexistente, Andrew acaba se interessando por uma garota que trabalha no cinema onde costuma frequentar. Assim tentará vencer tanto no mundo da música como em seu complicado relacionamento com a nova namorada. "Whiplash" foi bastante elogiado pela crítica americana em seu lançamento, ao ponto inclusive de ter faturado uma improvável indicação ao Oscar de Melhor Filme desse ano. Sinceramente achei um pouco superestimado. 

Não há dúvida que é um bom filme, muito bem conduzido pelo (ainda inexperiente) diretor Damien Chazelle. O resultado agrada, mas não chegaria ao ponto de o qualificar como um dos dez melhores filmes do ano. Talvez um dos problemas seja a incômoda sensação de que o ainda praticamente novato cineasta não conseguiu resistir a certos clichês. A luta pelo protagonista em se tornar um grande músico, ao ponto de se mirar em seu ídolos do passado transformando tudo numa verdadeira obsessão, muitas vezes assume um tom exageradamente épico, principalmente quando ele surta em seu instrumento, tendo ataques, com as mãos ensanguentadas, finalizando tudo com socos e chutes em sua própria bateria! O que ele estaria pensando? Que seria um Rocky, um Lutador, das baquetas? Tudo aquilo tem apenas a finalidade de impressionar o espectador, ou em outras palavras, são cacoetes narrativos... clichês! Há uma cena que resume bem isso quando Andrew passa por uma verdadeira odisséia para chegar a tempo em uma apresentação. Além de seu ônibus furar o pneu e ele ter que alugar um carro, no caminho ainda sofre um sério acidente ao colidir com uma carreta! Cheio de sangue escorrendo pela face, bastante ferido, ele (pasmem!) acaba chegando a tempo para o concerto! Um pouco exagerado demais não é mesmo?

Bom, mesmo com tanto exagero narrativo duas coisas salvaram "Whiplash" do lugar comum. A primeira fica clara desde as cenas iniciais: a música! Não é nada mal ouvir um belo e sofisticado jazz tradicional desde os caracteres de abertura. O filme, como não poderia deixar de ser, tem uma trilha sonora sofisticada e de alto nível, diria até maravilhosa. Embora em parte a beleza sonora seja muitas vezes ofuscada pelo duelo de egos que se trava entre Andrew e seu mestre, a verdade é que ela acaba se sobressaindo, uma forma ou outra. O outro ponto forte vem da atuação brilhante do veterano J.K. Simmons. Relegado por anos a papéis secundários em filmes meramente medianos, ele aqui encontrou o personagem de sua vida. O professor e maestro que interpreta é um sujeito arrogante ao extremo, petulante, ofensivo e rude e o mais supreendente de tudo é que ao final do filme você acabará gostando dele, de suas ideias e de seu mau-caratismo! 

A cena final inclusive, quando Andrew sem saber acaba caindo em uma ardilosa armadilha para que seja destruído no meio musical, é extremamente bem bolada! Apesar das lágrimas de crocodilo derramadas em estúdio a verdadeira face de Fletcher se revela justamente ali! Isso foi particularmente interessante porque o roteiro não se rendeu a uma solução fácil, previsível, fugindo (finalmente) dos clichês que vinham pontuando o enredo. Nem é necessário dizer que mesmo em um papel meramente coadjuvante o ator J.K. Simmons domina o filme da primeira à última cena. Seu trabalho foi devidamente reconhecido e ele levou para casa todos os mais importantes prêmios do cinema na categoria. Tudo devidamente merecido é bom frisar. Assim, no saldo final, temos um belo filme, muito bom em seus resultados, com ótimas atuações, mas que tampouco pode ser considerada uma obra prima cinematográfica perfeita como alguns quiseram fazer crer. Por fim recomendo ativamente sua trilha sonora que aliás não sai do meu player já há um bom tempo. Assista o filme, mas não esqueça de também curtir a trilha, pois sem dúvida ela é um complemento essencial para compreender "Whiplash" inteiramente.

Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, Estados Unidos, 2014) Direção: Damien Chazelle / Roteiro: Damien Chazelle / Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist. / Sinopse: Um professor absurdamente rígido de música encara o desafio de testar todos os limites psicológicos e musicais de um jovem aluno na prestigiada escola de música onde leciona. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (J.K. Simmons), Melhor Edição (Tom Cross) e Melhor Mixagem de Som. Também indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado (Damien Chazelle). Vencedor do Globo de Ouro, BAFTA Awards e Screen Actors Guild Awards na categoria de Melhor Melhor Ator Coadjuvante (J.K. Simmons).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros

Título no Brasil: Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros
Título Original: Jurassic World
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Amblin Entertainment, Legendary Pictures
Direção: Colin Trevorrow
Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Ty Simpkins
  
Sinopse:
Duas décadas depois dos trágicos acontecimentos vistos em "Jurassic Park" há um novo parque temático em funcionamento na Costa Rica, chamado Jurassic World. Sucesso de público, a empresa que administra o parque temático investe em novos dinossauros, não se contentando em apenas recriar espécies do passado, mas também criando novas criaturas em laboratório. Afinal de contas uma nova atração certamente traria mais lucros para a empresa. Fruto de engenharia genética, o Indominus rex é a grande aposta para atrair um novo público. Criado a partir de combinações de animais diferentes o novo dinossauro mostra ter uma inteligência acima da média, além de uma ferocidade jamais vista antes.

Comentários:
Quarto filme da franquia "Jurassic Park". Os roteiristas resolveram ignorar os acontecimentos das partes 2 e 3 e criaram um ponte direta com o primeiro filme. Embora Steven Spielberg não tenha dirigido "Jurassic World", preferindo só atuar como produtor executivo, o que temos aqui é uma obra com a marca registrada do cineasta. Talvez por isso também não seja um filme muito inovador, procurando mesmo repetir as velhas fórmulas do passado. Os personagens humanos, vamos colocar desse modo, não são muito interessantes. Há duas irmãs, sendo uma delas a executiva que cuida do parque. Ela tem que conviver por alguns dias com seus sobrinhos, mas não encontra muito tempo para isso. Na verdade nem está muito preocupada com esse tipo de coisa, pois é uma mulher moderna que não está definitivamente muito preocupada em ter filhos ou se casar, preferindo investir em sua carreira, ao contrário da irmã que virou uma dona de casa típica (e pra lá de chata). Os garotos são protagonistas típicos dos filmes de Spielberg, jovens de famílias suburbanas que estão enfrentando alguns problemas como o iminente divórcio do pais (velha obsessão de Steven, presente em praticamente todos os seus filmes com personagens jovens, talvez impulsionado pelo fato de que os próprios pais do diretor se divorciaram quando ele era garoto, criando um certo trauma em sua mente!).

Por fim há um ex-militar, Owen (Chris Pratt de "Guardiões da Galáxia"), que está promovendo um treinamento básico para velociraptors. Uma das boas cenas do filme surge justamente quando um funcionário do parque cai acidentalmente na jaula dos animais e Owen precisa colocar em prática suas técnicas de treinamento. Bom, a verdade porém é que ninguém vai ver algum filme de "Jurassic Park" em busca de personagens profundos ou psicologicamente interessantes, mas sim para ver os dinossauros. O primeiro a surgir em cena leva cerca de vinte minutos de filme para aparecer, o que deixará a garotada meio frustrada. Depois disso as grandes novidades são mesmo o novo dino geneticamente modificado Indominus rex e um grupo de velociraptors que parecem responder a um treinamento de adestramento (por mais absurdo que isso possa parecer!). Essa foi a forma encontrada pelos roteiristas para reaproveitar mais uma vez esses predadores pré-históricos que tanto sucesso fizeram nos filmes anteriores. Uma maneira de colocá-los ao lado dos mocinhos na história. Outros monstros jurássicos que se destacam são os pterodáctilos que promovem um verdadeiro massacre quando são libertados de seu aviário (esses dinossauros alados já tinham se destacado na parte 3 da franquia). Cheio de erros e equívocos científicos por todos os lados (não vá levar nada do que vê em cena muito à sério), "Jurassic World" se mostra acima de tudo como uma boa diversão, para assistir no cinema comendo pipoca sem stress. O resultado final é bom, mas nada excepcional. De todos os filmes da série "Jurassic Park" ele se apresenta superior apenas a "Jurassic Park 3", sendo superado por boa margem por todos os demais. O enredo simples ao extremo demonstra que os produtores não estavam em busca de nada marcante, mas apenas a produção de mais um blockbuster do circuito comercial, com tudo o que de ruim e quadrado que isso possa significar.

Pablo Aluísio.

Cavalos Selvagens

Título Original: Wild Horses
Título no Brasil: Cavalos Selvagens
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Patriot Pictures
Direção: Robert Duvall
Roteiro: Robert Duvall, Michael Shell
Elenco: Robert Duvall, James Franco, Josh Hartnett
  
Sinopse:
Scott Briggs (Robert Duvall) é um velho rancheiro texano que se considera um bom homem, honesto, cristão e honrado. Um sujeito da velha escola com seus valores tradicionais e conservadores. Ele tem três filhos e sonha que sua extensa propriedade seja levado adiante por eles, como manda a tradição no Texas. Agora, no final de sua vida, precisa lidar com uma investigação policial de um caso de desaparecimento de um de seus ex-empregados. O jovem sumiu após Briggs descobrir que ele estava tendo um caso com seu próprio filho, Ben (James Franco), que sempre teve uma relação conturbada com seu pai pelo fato de ser homossexual. Teria o velho Briggs alguma ligação com o sumiço desse jovem no passado?

Comentários:
"Wild Horses" é um projeto bem pessoal do ator Robert Duvall. Ele dirigiu, produziu, atuou e escreveu o roteiro do filme. Para completar ainda escalou sua própria esposa, Luciana Pedraza (aqui surgindo nos créditos como Luciana Duvall), para interpretar a Texas Ranger que resolve reabrir um velho caso de desaparecimento envolvendo o ex-empregado de um rancheiro rico e próspero da região. Por falar nisso o personagem de Duvall é um presente e tanto para qualquer grande intérprete. O ator dá vida a um homem com valores firmes e sólidos, tipicamente texanos, que precisa lidar com um filho homossexual. Em um ambiente rural, conservador e rústico como aquele isso seria a última coisa que ele poderia esperar. O conflito se instala rapidamente e o choque de gerações e valores se torna cada vez mais forte. Em pouco tempo a situação vai ficando insuportável para ambas as partes e Ben Briggs (Franco) resolve ir embora. Anos depois retorna ao rancho pois seu velho pai deseja fazer algumas modificações em seu próprio testamento, o que faz ressurgir velhos fantasmas do passado. Para piorar ainda mais a tensa relação entre eles, Ben desconfia que seu pai teve algo a ver com o desaparecimento de Jimmy Davis, um antigo capataz da fazenda que teve um caso amoroso com ele no passado. 

Com uma nova policial na cidade, disposta a reabrir velhos casos arquivados, o cerco vai cada vez mais se fechando sobre o velho Briggs. Robert Duvall assim encarna esse veterano que precisa viver em um mundo que se parece cada vez menos com o que ele aprendeu a viver. Os valores se modificaram e de repente tudo o que ele acreditava ser o certo vai sendo colocado de lado. É um bom homem que pensa estar fazendo o certo, mas que se vê enganado por seus próprios instintos e atos impensados. O argumento obviamente procura explorar algo que é mais comum do que se pensa, as tensões familiares que surgem quando uma pessoa resolve se assumir gay. O melhor desse roteiro é que ele não levanta bandeiras e nem sai defendendo a causa gay de forma ostensiva e panfletária, o que tornaria tudo muito chato e maçante. Ao contrário disso se contenta em apenas explorar e mostrar uma situação de conflitos que surge dentro dessa família para tirar o melhor proveito disso. A mensagem assim fica nas entrelinhas, nunca ofendendo a inteligência do espectador. Será esse, em última análise, que irá entender e tirar suas próprias conclusões do que está assistindo. Assim o próprio público poderá criar uma certa identificação tanto com o personagem de Duvall, o velho rancheiro conservador, como com seu filho Ben, representando essa nova mentalidade de ser da sociedade. O resultado final é muito bom, um belo filme que toca em assuntos importantes. Assista e escolha seu lado.

Pablo Aluísio, 

domingo, 7 de junho de 2015

The Eichmann Show

Título Original: The Eichmann Show
Título no Brasil: Ainda Não Definido
Ano de Produção: 2015
País: Inglaterra
Estúdio: British Broadcasting Corporation (BBC)
Direção: Paul Andrew Williams
Roteiro: Simon Block
Elenco: Martin Freeman, Anthony LaPaglia, Rebecca Front
  
Sinopse:
O filme acompanha os preparativos e filmagens do julgamento do Coronel Nazista Adolf Eichmann em 1961, após ele ser capturado por agentes israelenses na Argentina, onde o criminoso de guerra se escondia há anos. Esse foi um dos primeiros julgamentos a serem transmitidos para todo o mundo pela televisão, causando comoção e indignação internacionais por causa das testemunhas do holocausto que contaram seus dramas e as atrocidades que sofreram em campos de concentração por toda a Europa. Também foi a primeira vez que a TV transmitiu as cenas captadas por tropas americanas em campos da morte como Auschwitz e Treblinka. Filme baseado em fatos reais.

Comentários:
Adolf Eichmann (1906 - 1962) foi um dos principais mentores da chamada "solução final para o problema judeu na Alemanha nazista". O nome pomposo camuflou um dos maiores crimes da história da humanidade, quando o regime nazista decidiu eliminar os judeus que lotavam seus campos de concentração. Para isso criou-se as câmaras de gás e toda uma estrutura direcionada para a destruição do povo judeu. Adolf Eichmann era um tenente-coronel da SS que se empenhou pessoalmente para que o holocausto nazista se tornasse operacional e eficiente. Durante a guerra ele e seus subordinados promoveram todos os tipos de crimes, levando à morte idosos, crianças e mulheres que eram deportados de toda a Europa para os campos de concentração nazistas. Quando a guerra chegou ao final ele conseguiu fugir como centenas de outros criminosos de guerra. No começo da década de 1960 os israelenses finalmente o acharam, vivendo escondido na América do Sul, na Argentina. Preso e enviado para israel ele foi levado a julgamento por crimes contra a humanidade. O roteiro de "The Eichmann Show" explora um aspecto diferente desse julgamento, a do trabalho desenvolvido pelo produtor Milton Fruchtman (Martin Freeman) e do diretor Leo Hurwitz (Anthony LaPaglia) em registrar todos os detalhes do julgamento, realizando aquele que foi considerado o primeiro documentário televisivo da história. E é justamente na oportunidade de se assistir a cenas reais captadas no julgamento de Eichmann que se encontra o grande atrativo para se conhecer essa produção. 

O diretor Hurwitz era um americano judeu que havia entrado na lista negra do Macartismo e por essa razão não conseguia mais encontrar trabalho nos Estados Unidos. Sem chance no mercado americano ele acabou indo para Israel para dirigir as filmagens desse evento histórico. O interessante é que Hurwitz tinha esperanças em captar para a posteridade algum sinal de humanidade no infame criminoso nazista. Por essa razão estava sempre muito preocupado em que seus cameramens sempre o focassem em close. Para sua decepção porém não conseguiu captar nada, nenhuma lágrima, nenhum sinal de remorso ou arrependimento, nem mesmo um sorriso irônico na face de Eichmann que confirmasse sua personalidade psicopata. Ao contrário disso só encontrou uma frieza impressionante no sujeito. Já para o produtor Fruchtman o mais importante era realizar um bom trabalho, mesmo sob condições adversas, incluindo aí ameaças de morte feitas contra ele e sua família. A produção desse filme é da BBC, então não é necessário se preocupar com qualidade técnica, pois essa é certamente garantida. No final de tudo a grande lição que fica é a de que os nazistas não estavam em busca de humanidade ou redenção, mas sim colocar em prática seus planos fanáticos, por mais absurdos e sanguinários que fossem. Alguns deles foram realmente nazistas até o fim, até o seu último suspiro na forca.

Pablo Aluísio.

A Incrível História de Adaline

Título no Brasil: A Incrível História de Adaline
Título Original: The Age of Adaline
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Lakeshore Entertainment
Direção: Lee Toland Krieger
Roteiro: J. Mills Goodloe, Salvador Paskowitz
Elenco: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford
  
Sinopse:
Adaline Bowman (Blake Lively) é uma jovem comum de sua época. Ela vive na década de 1930. Sua vida vai muito bem, pois finalmente encontrou o amor de sua vida, um jovem engenheiro que trabalha na construção da grande ponte elevada de San Francisco. Depois de alguns anos de relacionamento feliz e estável ela decide se casar com ele. Dessa união nasce uma linda filha. Sua existência de felicidade acaba mudando repentinamente quando Adaline sofre um terrível acidente de carro. Seu veículo cai em uma barreira, indo parar em um lago logo abaixo, onde Adaline é exposta a uma incrível soma de fatores atmosféricos e físicos que acaba mudando sua estrutura celular, fazendo com que a partir daquele momento seu processo natural de envelhecimento seja interrompido. Com a mudança Adaline começa a conservar sempre a mesma aparência, mesmo com o passar de décadas e décadas de vida. 

Comentários:
Um filme em tom de fábula que nos agradou bastante. Embora em determinados momentos o roteiro queira dar explicações pseudocientíficas em uma incômoda narração em off para o fato da protagonista nunca envelhecer, a verdade é que isso é o de menor importância. O que mais existe de importante nesse argumento é a mensagem de que o envelhecimento faz parte natural do ciclo da vida e que nem sempre esse processo deve ser visto como algo negativo ou algo a se combater. A personagem principal sofre justamente por não seguir o caminho natural de sua existência. Os anos passam e ela fica parada no tempo, com a mesma aparência, sem sinais de envelhecimento. Isso acaba destruindo seu meio social pois de tempos em tempos ele precisa deixar tudo para trás, seus amigos, seus amores e sua vida profissional. Mesmo sabendo que essa mensagem não será captada por todos, principalmente por aqueles mais fúteis que fazem da juventude eterna uma constante obsessão de vida, o que se sobressai de fato aqui é a delicadeza de sua proposta. Afinal de contas unir a beleza dos jovens com a sabedoria dos mais velhos seria mesmo algo muito invejável para o ser humano. Por falar nisso esse foi um dos aspectos que mais gostei do roteiro. Adaline Bowman (Blake Lively) mantém sua aparência jovem, mas ao mesmo tempo consegue convencer plenamente com pequenos gestos, pequenos detalhes de sua personalidade de que fato é uma pessoa bem mais velha e vivida. Seu figurino é sóbrio, conservador e seus modos estão de acordo com o padrão de comportamento da etiqueta de um passado há muito tempo esquecido.

Ela faz parte de uma era em que as mulheres eram verdadeiramente damas, educadas, de fino trato, elegantes no modo de ser e agir. Nada da vulgaridade que impera nos dias atuais. Blake Lively, que você provavelmente se lembre da série "Gossip Girl", se transforma, ao invés da jovem esfuziante daquele programa surge uma mulher elegante, de modos delicados, fala pausada e educada, além daquele olhar de sabedoria ao ter que lidar com pessoas mais jovens. Gostei bastante de seu trabalho de atuação. O roteiro, que repito é bem escrito e desenvolvido, realmente só derrapa um pouco quando ela supostamente se apaixona perdidamente por um rapaz, obviamente bem mais jovem do que ela (e quando digo mais jovem estou me referindo a décadas de diferença!). Em uma situação real será que haveria espaço para a paixão envolvendo duas pessoas em momentos tão diferentes da vida? Acredito que não! Nem sempre pessoas com uma grande diferença de idade entre si realmente conseguem se apaixonar verdadeiramente, isso porque no final a mentalidade e as experiências de vida acabam formando uma barreira quase invisível entre o casal. Uma pessoa mais velha pode até procurar por uma mais jovem, em busca dos encantos de sua beleza, porém jamais conseguirá se igualar a ela em termos de mentalidade, por isso a maioria desses relacionamentos acabam afundando com o passar dos anos. Assim se comportar como uma jovem adolescente, logo para Adaline, que tantas experiências teve ao longo de sua longa vida, soa banal e desnecessário, além de implausível. De qualquer maneira, mesmo com esse pequeno deslize de lógica, o filme ainda agrada bastante. Um bom romance, valorizado pelo seu enredo de realismo fantástico, que certamente vai agradar a muitos.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de junho de 2015

Infini

Título Original: Infini
Título no Brasil: Ainda Sem Título Definido
Ano de Produção: 2015
País: Austrália
Estúdio: Storm Vision Entertainment, Eclectik Vision
Direção: Shane Abbess
Roteiro: Shane Abbess
Elenco: Daniel MacPherson, Grace Huang, Luke Hemsworth
  
Sinopse:
Após toda uma tripulação sumir sem deixar vestigios, uma equipe de resgate e salvamento é enviada para uma estação espacial orbital mineradora localizada nos confins do universo. Uma vez lá descobrem um ambiente de destruição e morte, corpos congelados e mutilados, sem que se saiba exatamente a causa de todo aquele cenário desolador. Aos poucos os membros da equipe vão descobrindo que um organismo desconhecido da ciência humana pode estar por trás das mortes. Um tipo de fungo ou vírus indefinido que causa uma forte reação de ira e cólera em todos os contaminados por ele.

Comentários:
A sinopse obviamente fará com que o cinéfilo mais veterano encontre semelhanças demais com a franquia "Aliens". De fato existe mesmo um ponto de identidade com a famosa série de filmes estrelados pela atriz Sigourney Weaver. Afinal seres humanos sendo contaminados e atingidos por uma estranha forma de vida tem tudo a ver com as aventuras da tenente Ripley. O diferencial é que "Infini" procura deixar um pouco de lado a ação para investir na destruição psicológica gradual que se abate sobre todos os membros de uma expedição de resgate no espaço profundo. Por essa razão não temos aqui um roteiro muito fácil de digerir. Apostando mais no lado subjetivo dos personagens o texto pode vir a confundir muita gente, principalmente na conclusão da história, que falando sinceramente não me agradou muito. Na verdade o filme deveria ter acabado com mais ou menos 90 minutos de duração quando se chega a um momento crucial na trama. Se o roteirista e diretor Shane Abbess tivesse encerrado ali o filme poderíamos considerar essa uma pequenina obra prima da ficção. Infelizmente ele foi em frente e acabou com isso criando um final em aberto, dado a inúmeras interpretações (e não espere que o roteiro vá lhe explicar muita coisa!). A produção não é de primeira linha, afinal de contas se trata de um filme B. Isso porém não faz grande diferença já que o roteiro está mais preocupado em mostrar a insanidade que vai abatendo sobre cada membro do grupo de resgate. Visualmente "Infini" lembra algumas ficções dos anos 1990, o que não chega a ser uma desvantagem. No geral se trata de um filme interessante, nada memorável, mas que levanta algumas questões intrigantes que nos fazem pensar um pouco sobre ele após seu fim. Pelo bem, pelo mal, vale a pena ao menos conhecer para se tirar suas próprias conclusões.

Pablo Aluísio.

Blueberry - Desejo de Vingança

Título no Brasil: Blueberry - Desejo de Vingança
Título Original: Blueberry
Ano de Produção: 2004
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia TriStar Pictures
Direção: Jan Kounen
Roteiro: Matthieu Le Naour, Alexandre Coquelle
Elenco: Vincent Cassel, Michael Madsen, Juliette Lewis

Sinopse: 
Quando jovem, Mike Blueberry (Vincent Cassel) foi abandonado pela família, sendo entregue a um tio abusivo e brutal. Depois de uma briga ele é deixado para morrer no deserto mas acaba sendo salvo por nativos americanos. Isso cria um vínculo sentimental entre eles e os índios da região. Os anos passam e finalmente Blueberry se torna um agente federal. Sua tranquilidade como homem da lei é quebrada com a chegada de um perigoso assassino e pistoleiro. Esse está atrás de um tesouro enterrado numa mina de ouro abandonada em terras pertencentes a uma tribo local, algo que o xerife Blueberry não deixará acontecer pois as montanhas onde a mina é localizada são consideradas sagradas para os nativos que lá vivem.

Comentários:
Mais um western moderno que tenta revitalizar o gênero. O resultado é até interessante mas obviamente fica muito além dos antigos clássicos. Um dos pontos mais positivos é o elenco. Gosto de todo o trio de atores principais desse filme. Vincent Cassel, por exemplo, que interpreta Mike Blueberry, tem um tipo bem ideal para fazer personagens do velho oeste. Um sujeito marcado pela rudeza e dureza do western selvagem. Seu oponente não se sai pior. Michael Madsen ao longo da carreira se especializou em interpretar pequenos escroques das ruas de Nova Iorque, membros do chamado baixo clero da Máfia italiana em vários filmes mas aqui acaba se destacando como um pistoleiro rude e cruel. Quem diria. Já Juliette Lewis não me surpreendeu tanto assim. Ela criou uma persona nas telas que sempre chama atenção. Suas personagens femininas são garotas fronteiriças entre a sanidade e a insanidade. Sua intensidade e paixão quando faz esse tipo de papel acaba salvando ela em cena. "Blueberry - Desejo de Vingança" passou muito discretamente no Brasil e por anos foi reprisado no canal HBO. Não é um western indispensável que vá fazer falta em sua coleção mas vale a pena ser conhecido e assistido pelo menos uma vez na vida pois mostra que o faroeste sobrevive, mesmo que em produções menores como essa.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

McFarland dos EUA

Título no Brasil: McFarland dos EUA
Título Original: McFarland, USA
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Walt Disney Pictures
Direção: Niki Caro
Roteiro: Christopher Cleveland
Elenco: Kevin Costner, Maria Bello, Ramiro Rodriguez
  
Sinopse:
Jim White (Kevin Costner) é um treinador de futebol americano que acaba sendo demitido de seu emprego após jogar um capacete em um aluno indisciplinado de seu time. Por acidente o equipamento acaba ferindo o rosto do rapaz e White acaba mesmo indo para o olho da rua. Sem opções de empregos melhores ele acaba aceitando um trabalho numa cidadezinha pobre da Califórnia chamada McFarland, um lugar com forte presença de imigrantes mexicanos na população. Lá começa a dar aulas de educação física e percebe que há muito potencial em determinados alunos que vão todos os dias para a escola correndo pelos campos da região. Em pouco tempo ele então resolve criar uma equipe de cross country com sete dos melhores corredores da escola. O que começa como um projeto sem grandes ambições toma um rumo inesperado quando a cidade inteira se mobiliza para apoiar e torcer por seus jovens atletas. Filme vencedor do prêmio da Heartland Film na categoria de Melhor Filme inspirado em uma história real.

Comentários:
Baseado em fatos reais não deixa de ser em nenhum momento um filme muito bem intencionado. Na verdade a história procura explorar um aspecto positivo na união envolvendo um treinador tipicamente americano com um grupo de alunos latinos, descendentes de famílias mexicanas pobres formadas por humildes trabalhadores rurais das plantações da Califórnia. Após uma aproximação um pouco ressabiada o treinador vai finalmente descobrindo que naquela cidade existem pessoas realmente maravilhosas e que a origem delas nada diz sobre seu caráter e bondade. Como se sabe existe uma certa tensão racial na América, causada principalmente por ondas e mais ondas de imigrantes ilegais que vão em busca de uma vida melhor nos estados americanos. Muitos deles vão trabalhar na lavoura ou em empregos mal remunerados. O racismo infelizmente está em todas as partes e é potencializado com esse movimento imigratório cada vez mais intenso, mas sabiamente o roteiro não procura bater muito nessa tecla, preferindo se concentrar no valor pessoal de cada um daqueles atletas. Um aspecto curioso é o choque cultural que a família do treinador White leva ao chegar pela primeira vez em McFarland. Supostamente deveria ser uma típica cidadezinha americana, mas eles acabam encontrando mesmo é uma forte presença da comunidade mexicana, criando inclusive uma situação inusitada, a de americanos ou gringos que acabam sendo considerados praticamente estrangeiros em seu próprio país!

Uma amostra do que vem acontecendo dentro das fronteiras dos Estados Unidos. Gradualmente a  cultura americana tradicional vai sendo substituída pela cultura proveniente da grande presença latina de imigrantes. De uma maneira ou outra o argumento acerta em promover a integração dessas duas culturas pelo bem de todos. Claro que em determinados momentos se cria um pequeno mal estar ao explorar a mentalidade do personagem de Kevin Costner que tem ideias equivocadas e até preconceituosas sobre aquelas pessoas, algumas delas inclusive nada lisonjeiras, como por exemplo, associar a criminalidade ao povo mexicano. Depois que o filme avança e a própria família do treinador (que achava aquele lugar um horror) começa a mudar de ideia finalmente temos o ponto ideal do que há de mais importante nesse enredo, a de buscar a integralização das etnias. De resto o roteiro não foge muito das fórmulas de filmes desse tipo, mostrando a superação da inúmeras dificuldades enfrentadas por aqueles atletas até finalmente sua consagração final! Particularmente gostei do resultado, das boas intenções e da história inspiradora. Poderia ser mais curto, com mais ou menos uma hora e meia de duração, mas do jeito que ficou não chega a irritar. Vale a pena conferir e se inspirar na moral da história. Afinal de contas estamos precisando mesmo de mais finais felizes.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Regresso

O filme se passa em uma América colonial, praticamente inexplorada pelo homem branco. No velho oeste essas regiões remotas eram exploradas principalmente por caçadores, muitos deles atrás de peles. O problema é que esse era um território dominado por tribos nativas hostis, que, como era de se esperar, recebiam o homem branco da forma mais violenta possível. Leonardo DiCaprio interpreta Hugh Glass, um desses pioneiros que arriscavam a própria vida para explorar o oeste mais selvagem e bravio que você possa imaginar. O roteiro enfoca justamente aspectos da dura vida desses homens nessas lindas, mas mortais regiões. O lado mais romântico dos filmes de western é deixado de lado. A intenção do diretor Alejandro G. Iñárritu foi criar uma obra realista, tanto do ponto de vista histórico, como também humano.

Os nativos são vistos da forma como eram, sem qualquer tipo de revisionismo. Tanto o homem branco que ia para esses lugares, como os indígenas, estavam em uma luta de civilizações. Essa visão politicamente correta que impera nos dias atuais é uma mera visão acadêmica, sem muita ligação com a brutalidade que imperava naqueles tempos. E é esse realismo brutal que marca a maior qualidade desse filme. Além de mostrar a luta entre os homens há também um conflito ainda mais evidente e violento: a luta entre o homem versus a natureza. Essa foi brilhantemente retratada no ataque do urso cinzento contra o personagem de DiCaprio. Poucas vezes uma ataque de uma fera foi tão bem reproduzido nas telas como aqui. Uma cena para não esquecer.

Por fim há todos os méritos puramente cinematográficos desse filme. A fotografia é extremamente bem realizada, conseguindo captar toda a beleza da região onde a produção foi realizada. O elenco é dos melhores, não apenas por DiCaprio, em uma atuação extremamente física (que lhe rendeu o tão cobiçado Oscar) como também pelo vilão, em momento inspirado de Tom Hardy (sim, o próprio Mad Max em uma de suas maiores interpretações). O sujeito não tem quaisquer valores morais ou éticos. No ocaso de um mundo que estava prestes a mudar para sempre, o diretor Alejandro G. Iñárritu conseguiu criar mais uma obra prima de sua filmografia.

O Regresso (The Revenant, Estados Unidos, 2015) Direção: Alejandro G. Iñárritu / Roteiro: Mark L. Smith, Alejandro G. Iñárritu / Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Will Poulter / Sinopse: Caçador de peles tenta sobreviver em uma região distante e inóspita do velho oeste americano. Para isso ele precisará enfrentar tribos nativas violentas e ataques de feras selvagens.

Pablo Aluísio.

Eles Existem

Título no Brasil: Eles Existem
Título Original: Exists
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Lionsgate Films
Direção: Eduardo Sánchez
Roteiro: Jamie Nash
Elenco: Samuel Davis, Dora Madison Burge, Roger Edwards
  
Sinopse:
Um grupo de jovens amigos texanos resolve passar um fim de semana na casa de caça do tio de um deles. A cabana é localizada numa floresta isolada e de difícil acesso. Na região existem muitos rumores sobre aparições inexplicáveis de estranhas criaturas, um tipo de primata ainda não conhecido pela ciência, o que acabou alimentando por décadas a lenda do Sasquatch, ou como é mais conhecido, Pé-grande. Para aquela turma porém isso tudo não passaria de uma grande bobagem, fruto de crentices de gente caipira. Durante a viagem para a cabana porém seu carro acaba atropelando por acidente um tipo de animal que eles não conseguem localizar depois. O evento acabará desencadeando o sentimento de vingança de uma besta misteriosa que colocará em risco a vida de todos eles.

Comentários:
Não adianta reclamar muito, o estilo mockumentary ao que tudo indica veio para ficar, principalmente no gênero terror. A ideia, como todos sabem, é mostrar imagens amadoras, feitas pelos próprios protagonistas das histórias. Aqui um dos rapazes do grupo de jovens que vai curtir um fim de semana numa cabana distante na floresta começa a gravar tudo, até que começa a perceber que a lenda do Pé-grande pode ter algum fundo de verdade. O filme assim pode ser definido na seguinte frase: "A Bruxa de Blair encontra o Sasquatch". É basicamente isso, um falso documentário elaborado com cenas amadoras que mostra o ataque de um monstro desconhecido contra um grupo de jovens isolados e encurralados numa cabana de caça bem no meio do nada, numa floresta distante do Texas. Uma vez que se passe por cima da aversão da própria maneira de ser de um mockumentary típico, o espectador até poderá se divertir com a proposta do roteiro. A forma como o bicho é explorado bem que se mostra inteligente até. Primeiro mostrando apenas sons vindos da floresta, depois com aparições esporádicas até o clímax final. O design do monstro segue o estilo mais clássico que já conhecemos, sem grandes inovações. O diretor poderia ter explorado melhor os ataques noturnos, mas até que se sai bem com cenas rodadas com sol a pique. Embora seja uma das criaturas mais famosas da Criptozoologia (o estudo de espécies animais lendárias, mitológicas, hipotéticas ou folclóricas), o fato é que existem poucos filmes de terror por aí que explorem o Sasquatch. Puxando pela memória só me recordo agora de um clássico de terror dos anos 1950 chamado "O Abominável Homem da Neve" de Val Guest. Fora isso realmente a filmografia explorando o Pé-grande é escassa mesmo. Assim pelo menos temos uma boa justificativa para conferir esse "Eles Existem", que se não chega a ser uma obra prima pelo menos diverte o fã desse estilo de produção. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Uma Promessa

Título no Brasil: Uma Promessa
Título Original: A Promise
Ano de Produção: 2013
País: França, Bélgica
Estúdio: Fidélité Films, Wild Bunch
Direção: Patrice Leconte
Roteiro: Patrice Leconte, Jérôme Tonnerre
Elenco: Rebecca Hall, Alan Rickman, Richard Madden
  
Sinopse:
Alemanha, 1912. Depois de passar por uma infância complicada, criado em orfanatos do Estado, finalmente o jovem Friedrich Zeitz (Richard Madden) consegue seu primeiro emprego. Engenheiro recém-formado, o melhor aluno de sua classe na universidade, ele começa a trabalhar na siderúrgica do rico industrial Karl Hoffmeister (Alan Rickman). Aos poucos Friedrich começa a se destacar dentro da empresa e cai nas graças de seu patrão que o transforma em seu secretário particular. Desfrutando da vida pessoal e doméstica do seu empregador, Friedrich conhece a jovem esposa dele, a bela Lotte Hoffmeister (Rebecca Hall). Começa assim a sentir um sentimento verdadeiro e também proibido em relação a ela. Filme vencedor do Beijing Film Festival na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Alan Rickman). Também indicado ao Magritte Awards.

Comentários:
Romance de época que conta um amor entre um jovem e aplicado empregado e a esposa de seu patrão. Poderia ser banal, mas o cineasta Patrice Leconte resolveu criar uma obra mais intimista e sofisticada. O amor entre uma mulher casada e um rapaz empregado de seu próprio marido poderia causar uma certa indignação no público mais conservador, porém o diretor foi inteligente o suficiente para nunca cair na vulgaridade ou no lado mais visceral desse tipo de romance, optando ao contrário disso por valorizar um outro lado, justamente o mais nobre, o do amor verdadeiro que o casal nutre entre si. Nada acontece antes de seu devido tempo. É uma obra que valoriza os pequenos momentos, os menores detalhes. A trama se desenvolve sem pressa e sem atropelos. Tudo de muito bom gosto. Em termos de elenco quem mais se destaca é o ator Alan Rickman. Ele interpreta esse velho industrial, já no fim de sua vida, que entende em seu íntimo as várias nuances de se manter um casamento com uma mulher bem mais jovem do que ele. No fundo sabe que seu relacionamento muito provavelmente não passe de uma união de pura conveniência financeira e econômica, que pouco tenha a ver com um sentimento real, verdadeiro. Ele é um bom homem, mas não consegue passar um calor mais humano e sentimental em relação à sua esposa e seu pequeno filho, que é apaixonado por brinquedos caros, como uma pequena ferrovia em miniatura. O roteiro dá uma pequena reviravolta em seu terço final, levando os apaixonados a serem separados por um oceano e pelo mais implacável opositor das grandes paixões, o tempo. Tudo como um teste de permanência e prova desse romance. Um filme que nos deixou bem satisfeitos pela lição que tenta passar ao espectador. Sua mensagem principal tenta afirmar que o verdadeiro amor resiste a praticamente tudo, desde que seja realmente sincero e profundo.

Pablo Aluísio.

Jimi - Tudo ao Meu Favor

Título no Brasil: Jimi - Tudo ao Meu Favor
Título Original: All Is by My Side
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Darko Entertainment, Freeman Film
Direção: John Ridley
Roteiro: John Ridley
Elenco: André Benjamin, Hayley Atwell, Imogen Poots
  
Sinopse:
O guitarrista Jimi Hendrix (Benjamin) é um jovem músico desconhecido que acaba sendo descoberto em um night club de Nova Iorque pela namorada de Keith Richards dos Rolling Stones. Ela vê potencial e muito talento naquele sujeito e resolve lhe apresentar a um amigo, que está em busca de novos talentos para empresariar. Após aceitar a proposta Jimi então decide ir para a Europa, em Londres, em busca de um novo recomeço, um futuro promissor para sua carreira musical. Filme indicado ao Independent Spirit Awards, Black Reel Awards e Stockholm Film Festival.

Comentários:
Esse filme não se propõe a ser uma cinebiografia completa e definitiva do mito do rock Jimi Hendrix (1942 - 1970). Ao invés disso investe suas fichas em um momento específico da vida daquele que é considerado por muitos como o melhor guitarrista da história. O Jimi que emerge de suas cenas é apenas um aspirante ao sucesso, um jovem negro muito talentoso que ainda não encontrara a grande oportunidade de sua vida. Em busca de novos horizontes e sem maiores esperanças de alcançar o sucesso em seu país natal, ele aceita o convite de ir para Londres, naquele momento a capital mundial do rock, um cenário efervescente de onde surgiam as bandas e artistas mais influentes do gênero. Seu objetivo era gravar seu primeiro disco. De quebra Jimi nutria esperanças de tocar ao lado de seus grandes ídolos, entre eles Eric Clapton, considerado o deus da guitarra na época. No geral "All Is by My Side" tem pontos positivos e negativos. Seu principal ponto a favor vem do trabalho do ator (e também músico) André Benjamin. Além de ser muito parecido fisicamente com Hendrix ele conseguiu trazer para o filme grande parte da personalidade do ator. Jimi, ao contrário do que sua imagem nos palcos poderia sugerir, a do roqueiro doidão e selvagem que colocava fogo em seu instrumento, era na verdade um sujeito bem tímido, caladão, na dele. Um jovem de poucas palavras e temperamento sutil, que procurava fugir de qualquer tipo de confronto pessoal, com quem quer que seja. Também evitava ter que ostentar bandeiras políticas e de protesto como era bem comum entre os artistas daqueles tempos.

No fundo Jimi era apenas um boa praça que queria tocar sua guitarra numa boa, sem stress. André Benjamin também surpreende nas cenas de palco. Obviamente ele jamais tocaria como Hendrix, mas não faz feio e passa veracidade nos momentos em que faz sua guitarra tocar aquela sonoridade que se tornou imortal. Pessoalmente considerei isso um dos pontos fortes tanto do roteiro como da atuação de Benjamin. Muito boa, acima da média, sem retoques. Infelizmente nem tudo são flores. Entre seus pontos fracos podemos citar algumas omissões e incorreções biográficas que incomodaram muita gente que viveu com Jimi na mesma época em que o filme se passa. Kathy Etchingham, a musa de Hendrix naqueles anos, não gostou nada de certas passagens e reagiu publicamente contra uma cena em particular, em que a namorada de Jimi é agredida com um telefone de forma violenta. Ela foi taxativa ao afirmar que aquilo nunca aconteceu, sendo tudo invenção. Outros biógrafos do cantor também concordaram com ela. Por que aquela cena foi inserida no filme afinal? Talvez tenha sido uma forma do diretor e roteirista John Ridley (de "12 anos de Escravidão") de criar uma personalidade mais forte e marcante para Jimi, quem sabe. Provavelmente Ridley tenha achado a forma de ser de Jimi muito pacata para um rockstar! De qualquer maneira o filme vale por si mesmo, ainda que nem todas as passagens sejam verídicas do ponto de vista histórico. O que valeu a pena aqui foi mesmo a oportunidade de reencontrar esse grande mito da história do rock de uma forma bem mais humana e próxima. Não é o melhor dos mundos, mas certamente é um filme satisfatório para quem curte Hendrix e sua meteórica trajetória.

Pablo Aluísio.