domingo, 7 de abril de 2013

Um Final de Semana em Hyde Park

Geralmente quando ouvimos falar em grandes nomes da história ignoramos o fato de que, apesar de suas posições, eles eram acima de tudo pessoas, seres humanos, assim como você e eu. Na escola aprendemos que Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945) foi o presidente americano que salvou seu país da grande depressão e que enfrentou o nazismo na Alemanha ao lado dos aliados durante a II Guerra Mundial. Os livros de história porém ignoram o homem Roosevelt, se agarrando mais ao mito histórico. Uma boa amostra do lado mais humano desse líder americano pode ser encontrado nesse excelente “Um Final de Semana em Hyde Park”. O filme se concentra no fim de semana em que Roosevelt recebeu em sua casa de campo o Rei inglês George VI (Samuel West) e sua jovem esposa. Esse monarca inglês inclusive já foi tema de um outro belo filme recente, “O Discurso do Rei”. Aqui temos o choque cultural que nasce do formalismo tipicamente britânico com o jeito bem despojado dos norte-americanos. Roosevelt, que adorava uma estória picante e piadas marotas recebeu um nervoso e tímido rei britânico que estava ali em essência para pedir ajuda aos EUA na guerra que se avizinhava na Europa. Hitler e a Alemanha estavam prestes a declarar guerra à Inglaterra. O encontro, como se vê, teve repercussões históricas que marcaram todo o século XX, mas no filme tudo é retratado com uma leveza cativante.

O encontro é narrado por uma prima de Rooosevelt, Daisy (Laura Linney), através de escritos que foram encontrados em seus pertences pessoais após sua morte. Essa intimidade que o texto do roteiro dá ao espectador é uma das melhores coisas de Hyde Park. Nos sentimos realmente dentro da intimidade do presidente. Apesar de ter sido saudado como um dos melhores presidentes da história dos EUA, sua vida pessoal era no mínimo caótica. Mantinha um casamento de fachada com sua esposa, Eleanor (que era lésbica), ao mesmo tempo em que mantinha várias amantes, entre elas sua secretaria particular e sua própria prima, Daisy, personagem central na trama do filme. É muito curioso acompanhar Roosevelt nesse fim de semana pois ao mesmo tempo em que tem que lidar com o Rei inglês tem também que apagar os incêndios que seus vários casos extraconjugais causam em sua vida privada. Bill Murray como Roosevelt está fantástico (quem diria?) e disponibiliza uma das melhores atuações de sua carreira. O elenco de apoio  também é todo bom, incluindo ai  Laura Linney como Daisy, uma moça ao mesmo tempo deslumbrada, tímida e perturbada com a personalidade emocional instável de seu primo presidente. Enfim, aqui temos uma aula de historia que não se aprende na escola, um retrato de um dos homens mais importantes do século passado que a despeito de seus grandes feitos surge mais humano do nunca.

Um Final de Semana em Hyde Park (Hyde Park on Hudson, Estados Unidos, 2012) Direção: Roger Michell / Roteiro: Richard Nelson baseado nos escritos deixados por Daisy Roosevelt / Elenco: Bill Murray, Laura Linney, Olivia Williams, Olivia Colman, Elizabeth Marvel, Samuel West, Eleanor Bron, Blake Ritson / Sinopse: O Presidente americano Franklin Roosevelt (Bill Murray) resolve convidar o Rei Inglês George VI para passar o fim de semana na casa de sua mãe em Hyde Park. Na pauta da conversa o apoio que a Inglaterra precisa dos EUA na iminente guerra na Europa contra as forças nazistas de Hitler.

Pablo Aluísio.

Os Incríveis

Uma das mais inspiradas animações da Pixar. Aqui o enredo tenta mostrar o outro lado da vida de um super-herói. Ao contrário do que geralmente é visto em filmes, desenhos e quadrinhos, os grandes super-heróis também têm que lidar com problemas familiares, a rotina sem graça de um casamento e claro, filhos problemáticos. O pior de tudo para o pai, Bob Parr / Mr. Incredible (na voz de  Craig T. Nelson), é saber que a idade vem chegando, que a barriga cresce na proporção do tédio e que agora a melhor parte de sua vida, os seus anos “heróicos”, ficaram definitivamente para trás. Como praticamente acontece em todas as animações da Pixar aqui também temos um roteiro muito bem escrito – com inúmeras referencias sobre cultura pop – aliado a uma produção tecnicamente impecável. Obviamente o texto do filme brinca o tempo todo com o universo dos heróis em quadrinhos, em especial em cima do “Quarteto Fantástico” da Marvel e de Stan Lee, mas tudo com uma sutileza e inteligência poucas vezes vista no mundo da animação.

Uma das referencias mais divertidas de “Os Incriveis” é com a estilista da roupa do Sr. Incrível, que na verdade é uma sátira em cima de uma das figurinistas mais famosas de Hollywood, Edith Head. Aqui temos certamente um tipo de “piada interna” da indústria americana que só será entendida mais perfeitamente pelas pessoas que adoram a história do cinema americano. Fora isso tudo se encaixa perfeitamente aqui, onde adultos e crianças vão se divertir sem problemas pois o roteiro, muito bem desenvolvido, traz elementos não apenas para o público infantil mas também para os pais que levaram seus filhos ao cinema. “Os Incríveis” é uma prova incontestável do talento dos animadores da Pixar, em especial do diretor Brad Bird que já havia mostrado toda a sua potencialidade criativa como roteirista na ficção produzida por Steven Spielberg, “O Milagre Veio do Espaço” nos anos 80 e como diretor da simpática e terna animação “O Gigante de Ferro”. Depois desse sucesso “Os Incríveis” ele ainda dirigiria dois grandes exitos de bilheteria, a animação “Ratatouille” e o novo filme da franquia “Missão Impossível” que trouxe Tom Cruise de volta ao topo no ranking das grandes bilheterias. Assim se você estiver em busca de uma animação divertida e inteligente nada melhor do que esse “Os Incríveis”, uma das mais marcantes produções com a marca Pixar!

Os Incríveis (The Incredibles, Estados Unidos, 2004) Direção: Brad Bird / Roteiro: Brad Bird / Elenco (vozes): Craig T. Nelson, Samuel L. Jackson, Holly Hunter / Sinopse: Veterano super-herói tem agora que lidar com a velhice e a chatice da rotina de um casamento com filhos problemáticos e complicados. Seus dias de glória porém parecem voltar quando surge um novo vilão no horizonte.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de abril de 2013

Vivendo e Aprendendo

“A Ignorância é uma benção” – disse certa vez John Lennon. Ele tinha razão de certa forma. Pesquisas já demonstraram que pessoas ignorantes ou de pouco cultura geralmente são mais felizes que pessoas inteligentes, com ampla formação educacional e cultural, uma vez que seu mundo é muito mais simples. “Vivendo e Aprendendo” mostra muito bem esse aspecto. No filme acompanhamos os dramas vividos pela família do professor de inglês Lawrence Wetherhold (Dennis Quaid). Toda a família é intelectual, todos são pequenos gênios em suas respectivas áreas de conhecimento e todos tentam de uma forma ou outra lidar com a grande tragédia que se abateu sobre a família: a morte da matriarca. O professor, marido, viúvo e pai, sofre muito com a perda e se torna uma pessoa amarga, depressiva, sem prazer de viver. Ele só não comete um ato impensado para acabar com tudo porque tem que levar a família em frente, em especial seus filhos James (Ashton Holmes) e Vanessa Wetherhold (Ellen Page). As coisas só começam a mudar quando ele conhece uma nova mulher em sua vida, Janet (Sarah Jessica Parker), que talvez traga redenção em sua amargurada existência.

Esse “Vivendo e Aprendendo” é uma ótima surpresa. Com produção até modesta, calcada muito mais em ótimos diálogos do que em soluções banais, o filme consegue entreter sem ofender a inteligência do espectador. É em essência um filme de atuações onde o elenco, muito bom por sinal, brilha em cenas de bastante profundidade existencial. Dennis Quaid deixa a maré baixa que se abateu sobre sua filmografia recente para mostrar que ainda é um ator de mão cheia, que na maioria das vezes é prejudicado apenas por não contar com bom material. Já Ellen Page repete mais uma excelente atuação. Ela é certamente a atriz mais interessante da nova geração de Hollywood. Em todo filme que surge costuma roubar as atenções, fato que se repete aqui novamente. Sua personagem é certamente um dos grandes trunfos de todo o filme. Assim se você estiver procurando por um bom filme, com roteiro inteligente, atuações inspiradas e excelente texto, “Smart People” é certamente um dos mais indicados. É um filme inteligente feito para pessoas igualmente inteligentes.

Vivendo e Aprendendo (Smart People, Estados Unidos, 2008) Direção: Noam Murro / Roteiro: Mark Poirier / Elenco: Dennis Quaid, Ellen Page, Thomas Haden Church, Sarah Jessica Parker, Ashton Holmes / Sinopse: Professor de inglês viúvo e depressivo tenta reconstruir sua vida e da família ao encontrar um novo amor em sua amargurada existência.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O Milagre Veio do Espaço

Na década de 1980 Steven Spielberg não apenas exerceu seu toque de Midas nos filmes que dirigiu mas também em ótimas produções em que ele surgia como produtor executivo. Um exemplo é esse pequeno mas muito simpático filme de Sci-fi chamado “O Milagre Veio do Espaço” (o titulo original, “Baterias não incluídas” também era muito charmoso mas infelizmente a produtora nacional não achou que o nome fosse comercialmente viável em nosso país). Usando das novas inovações em efeitos especiais o filme apresentava uma série de pequeninas naves espaciais que chegavam à terra para ajudar um grupo de moradores pobres de um edifício prestes a ser condenado. Spielberg volta ao tema do “ET amigável” que já havia utilizado em seu maior sucesso de bilheteria para novamente fisgar o público que na época consumia com avidez qualquer produto que levasse a marca Steven Spielberg.

Na época em que “O Milagre Veio no Espaço” foi lançado Spielberg ainda fazia parte do grupo Universal (ele só inauguraria seu próprio estúdio, a Dreamworks, alguns anos depois). O filme teve uma estréia discreta nos cinemas, inclusive no Brasil, mas encontrou seu mercado perfeito nas locadoras de VHS, logo se tornando um campeão em locações. Seu sucesso nem é complicado de se entender pois a produção era leve, divertida, feita mesmo para toda a família. E obviamente o design das pequenas espaçonaves caíram como uma luva no gosto do público infantil (apesar do filme em si não ser uma aventura feita especialmente para essa fatia do público). Além dos charmosos efeitos especiais e do clima de diversão amena, “O Milagre Veio do Espaço” ainda se destacava pelo elenco formado por veteranos das telas, em especial a inesquecível atriz Jessica Tandy. Talento teatral na década de 1950 (chegou a atuar ao lado de Marlon Brando), Tandy encontrou um curioso espaço em filmes de ficção como esse e Cocoon. Sua consagração viria dois anos depois em “Conduzindo Miss Daisy”, o grande vencedor do Oscar. Sua presença enche de dignidade a tela. Assim fica a indicação desse pequeno filme com a marca Spielberg. Certamente você que o assistiu há tantos anos vai se encantar novamente com seu enredo cativante e seu clima de pura nostalgia da década de 80.

O Milagre Veio do Espaço (Batteries Not Included, Estados Unidos, 1987) Direção: Matthew Robbins / Roteiro: Mick Garris, Brad Bird / Elenco: Hume Cronyn, Jessica Tandy, Frank McRae / Sinopse: Um corretor de imóveis ganancioso pretende colocar abaixo um prédio onde moram vários velhinhos. Pedindo por um milagre eles são recompensados pela presença de estranhas naves espaciais vindas do espaço.

Pablo Aluísio.

Um Homem Fora de Série

Um tratado sobre redenção e recomeço. Assim de maneira simples podemos definir mais esse ótimo momento na filmografia do ator Robert Redford. No enredo ele interpreta Roy Hobbs, um jogador de beisebol que sonha um dia alcançar o topo em sua carreira. Nascido no campo ele logo descobre muito cedo um grande talento para o esporte. Usando um taco especial ao qual manda gravar a palavra “Wonderboy” (garoto maravilha) o jogador começa a escalar o caminho do sucesso no famoso time Chicago Cubs. Tudo corre às mil maravilhas até que ele sofre um atentado que praticamente encerra seus sonhos de um dia ser considerado o melhor jogador dos Estados Unidos. Lutando para sobreviver e dar a volta por cima ele consegue, 16 anos depois, retornar para a liga principal, dessa vez jogando no desacreditado New York Knights. Bem mais velho e dado como acabado para o esporte Roy (Redford) tenta superar seus próprios limites para mostrar a todos e principalmente para ele mesmo que um sonho jamais acaba para quem tem garra e perserverança.

“Um Homem Fora de Série” logo foi aclamado em seu lançamento por causa da mensagem otimista e positiva de seu argumento. Robert Redford interpreta um obstinado esportista que simplesmente não aceita desistir de tudo. Ele luta a cada dia por uma nova chance, por um recomeço. O filme une dois símbolos tipicamente americanos. O primeiro, bem óbvio, é o próprio beisebol, cujo campo se torna uma metáfora para a vida. O segundo é o ator Robert Redford, considerado na época uma representação do que de melhor podia a América construir. Carismático, politicamente correto e bom profissional, Redford era só elogios em sua atuação. De fato ele representava o próprio Wonderboy do roteiro. “Um Homem Fora de Série” é também um típico filme de Barry Levinson. Esse cineasta adora encher seus trabalhos com uma alta carga de nostalgia, geralmente relembrando fatos marcantes do passado, tudo feito em uma linguagem saudosista e reverencial. Isso já havia se tornado óbvio em “Quando os Jovens se Tornam Adultos” e se repete aqui. Levinson tem carinho por seus personagens e por isso sempre os trata com elegância e doce suavidade. Certamente esse trabalho ao lado de Robert Redford é um dos mais expressivos de sua carreira. Assista, mesmo que você não goste muito de beisebol pois o que vale aqui é o lado humano da estória, essa sim fora de série.

Um Homem Fora de Série (The Natural, Estados Unidos, 1984) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Roger Towne, baseado na novela de Bernard Malamud / Elenco: Robert Redford, Robert Duvall, Glenn Close, Kim Basinger / Sinopse: Jogador de beisebol (Robert Redford) busca por redenção e um novo recomeço na carreira após sofrer um atentado. Indicado aos Oscars de Melhor Atriz Coadjuvante (Glenn Close), fotografia, direção de arte e música. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante (Kim Basinger).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Invasão à Casa Branca

Um grupo de terroristas da Coréia do Norte consegue romper o rígido sistema de segurança da Casa Branca e domina o local, fazendo todos reféns. O objetivo é chegar até o próprio presidente dos Estados Unidos. Achou fantasioso demais? Pois é, os produtores aproveitaram o assunto do momento com as rotineiras ameaças nucleares do regime brutal dos norte-coreanos para faturar uma boa bilheteria. É óbvio que a primeira reação ao ler essa sinopse é achar tudo muito absurdo e fora da realidade. Bom, depois de 11 de setembro eu ainda tenho certas reservas sobre esse ponto de vista. Ao invés de condenar completamente o filme por causa de seu obtuso argumento o melhor a fazer mesmo é aproveitar a ação desenfreada e o clima de blockbuster pipoca elevado à nona potência. Claro que todos os personagens são caricatos e estereotipados, óbvio que o patriotismo sem freios surge a cada cena, mas mesmo assim se o espectador relevar tudo isso pode até mesmo vir a se divertir. É o típico filme de shopping center – vazio, barulhento e nada memorável. Cinema fast food.

Causa admiração a direção ser do competente Antoine Fuqua. O diretor negro que já dirigiu ótimos filmes policiais como “Dia de Treinamento” e até mesmo o mais recente “Atraídos pelo Crime” surpreende ao surgir com uma produção tipicamente de ação, com roteiro mínimo e atuações em segundo plano. O elenco até que é bom, com as presenças dignas de Morgan Freeman e Aaron Eckhart, esse último como o presidente americano. O problema é que eles realmente não têm muito o que fazer uma vez que no fundo o filme é apenas uma sucessão de cenas exageradas de ação que bebe de muitas fontes, inclusive “Duro de Matar” (uma referencia óbvia) e “Na Linha do Fogo” (tal como o personagem de Clint Eastwood aqui temos também um ex-agente de segurança com um passado manchado a esquecer). Já Gerard Butler deixa de lado as comédias românticas que vinha se envolvendo para interpretar um agente durão, com ares do personagem de Bruce Willis em Die Hard. Enfim, não é algo que você vá assistir pensando em arte ou algo assim. Está mais para um passatempo ligeiro que você encara enquanto sua esposa está fazendo compras no mesmo shopping onde o filme está sendo exibido. Descartável e nada marcante.

Invasão à Casa Branca (Olympus Has Fallen, Estados Unidos, 2013) Direção: Antoine Fuqua / Roteiro: Creighton Rothenberger, Katrin Benedikt / Elenco:  Gerard Butler, Aaron Eckhart, Morgan Freeman / Sinopse: Um grupo de terroristas da Coréia do Norte consegue romper o rígido sistema de segurança da Casa Branca e domina o local, fazendo todos reféns. Eles querem colocar as mãos no próprio presidente dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Um Mundo Perfeito

Nas décadas de 80 e 90 Clint Eastwood finalmente teve o devido reconhecimento como cineasta. Antes ele era visto apenas como um ator de sucesso que exibia certo talento e eficiência na direção de seus filmes. Essa visão mudou definitivamente com o aclamado “Os Imperdoáveis” que mostrou toda a maturidade de Eastwood como realizador autoral. Após voltar rapidamente para os filmes mais comerciais em “Na Linha de Fogo” Clint resolveu voltar sua atenção para dois roteiros que realmente mexeram com ele. O primeiro seria a adaptação de “As Pontes de Madison” que marcou bastante sua filmografia. Antes disso porém decidiu filmar “A Perfect World“ onde Clint procuraria voltar a um tipo de cinema mais nostálgico, como aquelas antigas películas policiais do começo da década de 1960. Inspirado em algumas produções estreladas por Kirk Douglas e Steve McQueen, Eastwood tentou revitalizar um tipo de filme que já não era mais produzido, bem à moda antiga. Uma melancolia atravessaria todo o enredo, algo muito característico daqueles anos.

Na trama um fugitivo da prisão estadual, Butch Haynes (Kevin Costner), é implacavelmente perseguido pelo xerife durão Red Garnett (Clint Eastwood). Desesperado para escapar ele acaba cometendo um ato impensado ao entrar em uma casa levando como refém um pequeno garoto de apenas sete anos, Phillip (T.J. Lowther). O que deveria ser uma situação limite, de terror extremo, acaba surpreendendo a todos quando nasce uma improvável amizade entre o garotinho e o bandido em fuga. Inicialmente Clint Eastwood só iria dirigir o filme. Ele esperava colocar seu amigo Tommy Lee Jones no papel de xerife mas acabou voltando atrás após ser convencido por Kevin Costner de que o personagem era ideal para ele, Clint, o protótipo do policial linha dura do cinema (impossível esquecer, por exemplo, seu famoso Dirty Harry). O resultado sem dúvida é excepcionalmente bom. A despeito da trama ser simples, com desdobramentos até previsíveis, a parceria Costner / Eastwood se revela perfeita. Kevin Costner, não habituado a interpretar vilões, traz toda uma carga emocional ao seu personagem, algo que faz toda a diferença do mundo. Já Eastwood simplesmente arrasa como um cowboy fora de época que ainda pretende resolver tudo com uma arma fumegante. Não assistiu ainda? Pois então fica a dica de “Um Mundo Perfeito”, um grande momento nas carreiras de Costner e Eastwood.

Um Mundo Perfeito (A Perfect World, Estados Unidos, 1993) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: John Lee Hancock / Elenco: Kevin Costner, Clint Eastwood, Laura Dern / Sinopse: Fugitivo (Kevin Costner) é perseguido por um policial durão (Clint Eastwood) e no caminho acaba fazendo de refém um pequeno garoto de apenas sete anos de idade.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Amor à Primeira Mordida

Após os comunistas tomarem o poder em seu país o Conde Drácula (George Hamilton) vê seu castelo ser desapropriado pelo governo para a construção de um ginásio esportivo. Sem ter para onde ir ele decide viajar para Nova Iorque nos Estados Unidos onde espera conhecer uma modelo que havia visto numa capa de revista de moda. O secular vampiro a achou extremamente parecida com seu antigo amor, morta há séculos. Na metrópole Drácula acaba descobrindo que está completamente fora de moda, com seus figurinos medievais e boas maneiras. Os nova iorquinos em geral são mal educados, despojados, falam palavrões e não estão nem aí para os modos requintados do Conde. Para piorar ele começa a ser perseguido por um neto do famoso caçador de vampiros Van Helsing, que por uma grande coincidência é o noivo da modelo que Drácula espera seduzir. Ele é um psiquiatra judeu, um tipo muito comum na cidade, e tentará de todas as formas matar o vampiro, muito embora ninguém acredite muito no que diz!

Como se pode notar “Amor à Primeira Mordida” é uma sátira das mais divertidas com o famoso personagem Drácula criado pelo escritor Bram Stoker. O roteiro brinca o tempo todo com a mitologia do vampiro secular, mesclando elementos da trama do livro original com muitas piadas sobre a figura de Drácula andando pelas ruas de Nova Iorque. O filme é estrelado por George Hamilton, que naquele momento vivia uma fase particularmente produtiva de sua carreira, principalmente na TV. O ator, bem conhecido por sua refinada canastrice, esbanja carisma na pele do vampiro mais conhecido da literatura. O mais engraçado de tudo é saber que Hamilton ficou conhecido justamente por ser um sujeito bronzeadíssimo (uma de suas marcas registradas) e aqui repete o visual mesmo interpretando um ser da noite que nunca vê o sol! Mais divertido do que isso impossível. Outros bons atores em cena são Richard Benjamin como o neto psiquiatra de Van Helsing e Arte Johnson como o engraçado assistente pessoal de Drácula, Renfield. Enfim, fica a dica dessa comédia que consegue misturar Drácula, música de discoteca da década de 70, muita cafonice e uma Nova Iorque sufocante, tudo com muito humor. É uma bela diversão descompromissada.

Amor à Primeira Mordida (Love at First Bite, Estados Unidos, 1979) Direção: Stan Dragoti / Roteiro: Robert Kaufman, Robert Kaufman, baseados no personagem criado por Bram Stoker / Elenco: George Hamilton, Susan Saint James, Richard Benjamin, Arte Johnson / Sinopse: Após ter seu castelo desapropriado pelo regime comunista de seu país, o famoso Conde Drácula (George Hamilton) decide ir até Nova Iorque para conhecer uma famosa modelo que se parece demais com sua antiga amada, morta há séculos!

Pablo Aluísio

O Lavador de Almas

Todos os dias pela manhã Albert Pierrepoint (Timothy Spall) acorda, toma o seu café, lê o jornal diário, se despede de sua querida esposa e vai ao trabalho. Com chapéu, sobretudo e uma pequena pasta ele parece ser igual a todos os demais trabalhadores ingleses que vão ao seus trabalhos todos os dias cumprir mais uma jornada. A verdade porém é que as aparências enganam. Pierrepoint não é um trabalhador normal. Na verdade ele exerce uma função que seria inaceitável para a maioria dos empregados comuns. Ele na realidade é um carrasco do sistema prisional britânico e se orgulha disso. Para suas mãos vão parar todos os dias os piores criminosos, assassinos, estupradores, latrocidas, a escória da sociedade. Condenados à pena de morte eles são enviados para a ala onde Pierrepoint trabalha todas as manhãs. Seu sistema de execução é limpo e rápido. Em poucos segundos ele consegue enviar o condenado ao cadafalso de enforcamento em um procedimento rígido que não admite falhas. Nada pessoal, apenas um serviço a se cumprir.
   
O filme “O Lavador de Almas” conta a história real daquele que foi considerado o maior executor de penas de morte da história da Inglaterra. A experiência que acumulou durante décadas o fez criar um sistema impecável onde a meta era enforcar o criminoso de forma eficaz, rápida e humana. Pelas mãos desse carrasco mais de seiscentos sentenciados foram enforcados. Ele se tornou tão bom naquilo que fazia que começou a disputar com outros carrascos da Inglaterra o recorde de menor tempo gasto em cada enforcamento. Sua melhor marca de sete segundos e meio ainda hoje não foi batida.  Albert Pierrepoint ficou mundialmente conhecido quando foi escolhido pelo General Montgomery para executar os principais criminosos de guerra nazistas. O roteiro de “O Lavador de Almas” é muito bom pois mostra um homem pacato, tímido, simples em seus modos, que conseguiu cumprir aquilo que lhe era determinado pelo governo inglês da melhor forma possível. Um curioso retrato de uma pessoa que a despeito do serviço que fazia conseguiu também fazer parte da história da Inglaterra.

O Lavador de Almas (The Last Hangman, Estados Unidos, Inglaterra, 2005) Direção: Adrian Shergold / Roteiro: Bob Mills, Jeff Pope / Elenco: Timothy Spall, Juliet Stevenson, Eddie Marsan / Sinopse: História real de Albert Pierrepoint (Timothy Spall), famoso executor de enforcamentos do sistema prisional inglês que se tornou famoso ao levar para o cadafalso alguns dos maiores criminosos nazistas de guerra.

Pablo Aluísio. 

A Testemunha

Depois que interpretou dois personagens completamente marcantes na história do cinema (Han Solo de “Star Wars” e Indiana Jones) o ator Harrison Ford procurou se diversificar na carreira, tentando criar uma identidade própria para fugir do perigo de ficar marcado para sempre por esses papeis. Assim após rodar “O Retorno de Jedi” e “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, ele entrou nesse projeto bem mais modesto, simples, que contava exclusivamente com a força de seu roteiro, o filme “A Testemunha”. Dirigido por Peter Weir (de “Galipoli” e “O Ano em que Vivemos em Perigo”, ambos com Mel Gibson) o enredo explorava uma das mais curiosas comunidades existentes no interior dos Estados Unidos, os Amish. Vivendo como se estivessem na idade média, com ampla rejeição da tecnologia e do modo de vida da modernidade, os integrantes desse grupo procuravam ter o mínimo contato com o mundo exterior (decadente e cheio de vícios em sua forma de pensar). Em sua forma de entender o contato com o resto da sociedade os deixariam  impuros e indignos de suas crenças.

As coisas começam a mudar quando o garoto amish Samuel testemunha um crime numa estação de trem da Filadélfia. Um policial seria o envolvido. Transformado em testemunha em um crime de grande repercussão o garoto (Lukas Haas) e sua mãe, a viúva Rachel (Kelly McGillis de “Top Gun”), teriam agora que ter proteção policial e essa acaba sendo feita pelo tira John Book (Harrison Ford) que de repente se vê imerso dentro da cultura Amish. O argumento se torna bem interessante a partir daí porque começa a mostrar o outro lado dessa comunidade, mostrando aspectos positivos de sua forma de viver. O antes cínico policial começa a enxergar uma nova realidade, entendendo finalmente os aspectos bons de se levar uma vida baseada na tradição e na simplicidade. Assim que foi lançado “A Testemunha” caiu nas graças da critica especializada. O filme colecionou elogios e indicações a prêmios (inclusive o Oscar em suas principais categorias). Harrison Ford ficou duplamente gratificado pois vivia uma fase excepcional na carreira onde conseguia mesclar sucesso comercial com aclamação da crítica – algo bem raro dentro da indústria de cinema dos EUA. Em suma, “A Testemunha” resistiu muito bem ao tempo e até hoje consegue unir um bom roteiro com uma direção precisa e econômica na medida certa. Vale a pena ser redescoberto.

A Testemunha (Witness, Estados Unidos, 1985) Direção: Peter Weir / Roteiro: William Kelley, Pamela Wallace / Elenco: Harrison Ford, Kelly McGillis, Lukas Haas / Sinopse: Policial (Harrison Ford) tem que proteger garoto Amish que testemunhou um crime praticado numa estação de trem da Filadélfia envolvendo policiais corruptos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Being Erica

Com um certo atraso finalmente cheguei hoje ao episódio final da série “Being Erica”. Trata-se de uma produção do canal canadense CBC que cativa bastante o espectador por causa de seus roteiros bem bolados e clima de realismo fantástico. Há muito tempo que desisti de acompanhar TV aberta no Brasil por causa de sua péssima qualidade, no máximo acompanho apenas os noticiários. Sempre gostei bem mais de filmes e séries e foi assim que acabei conhecendo “Being Erica” que é bem pouco conhecido entre os brasileiros. Também penso que não faria mesmo a cabeça do espectador nacional porque seu tema é bem diferente, fora dos padrões. No enredo Erica Strange (interpretada pela carismática e simpática Erin Karpluk) é uma garota de seus trinta e poucos anos que percebe que nada do que havia planejado em sua vida se concretizou. Ela não conseguiu despontar em sua carreira profissional, não entrou em um relacionamento sério em sua vida pessoal e nem tem um projeto de vida.

É justamente no meio desse caos em que vive que ela acaba indo parar no consultório do Dr. Tom (Michael Riley), que acaba se revelando um terapeuta fora do comum, pois tem a capacidade de levar sua paciente para o passado e o futuro onde ela finalmente terá uma chance de consertar os erros cometidos. Todos os episódios partem dessa premissa. Em minha concepção é o tipo de estória que daria margem a no máximo duas boas temporadas mas o sucesso de audiência a levou a ter quatro temporadas. No final os sinais de desgaste e cansaço já eram evidentes. Isso aliás é mais comum do que se pensa, pois geralmente boas idéias acabam sendo comprometidas pelo próprio sucesso das séries que se alongam no tempo mais do que o necessário (vide True Blood que ultimamente se tornou insuportável). Mesmo assim não me arrependo. O último episódio se chama Dra. Erica quando ela própria finalmente se torna uma terapeuta. Foi bem fraco para falar a verdade mas como vinha acompanhando desde sempre não perderia a conclusão de tudo o que aconteceu ao longo de tantos episódios. No geral ficarei com saudades da querida Erica. É a vida...

Being Erica (Idem, Canadá, 2009 – 2011) Direção: Chris Grismer, Philip Earnshaw, Holly Dale, Jeff Woolnough / Criado por Jana Sinyor / Elenco: Erin Karpluk, Reagan Pasternak, Michael Riley / Sinopse: Erica Strange é uma garota comum mas com muitos problemas profissionais e pessoais. Sua vida sofre uma mudança radical quando começa um tratamento com o Dr. Tom que tem o poder de manipular o tempo e o espaço.

Pablo Aluísio.

Tempo de Despertar

Baseado em fatos reais, “Tempo de Despertar” foi inspirado no livro autobiográfico escrito pelo médico Oliver Sacks. No final da década de 1960 ele tentou uma terapia alternativa com pacientes que sofriam de Encefalia Letárgica, uma doença neurológica que impedia os doentes de interagir com o meio ambiente e as pessoas ao redor. De inicio o neurologista (no filme com o nome fictício de Malcolm Sayer e interpretado por Robin Williams) conseguiu excelentes resultados, inclusive trazendo de volta ao mundo consciente um de seus pacientes (Leonard Lowe, interpretado por Robert De Niro). A euforia inicial porém logo começou a ser substituída pela apreensão pelos diversos efeitos colaterais desconhecidos até aquele momento. “Tempo de Despertar” é um filme muito interessante pois lida com a tentativa da ciência médica em recuperar pacientes praticamente desacreditados em sua cura. Através do método de tentativa e erro o médico tentou reabilitar essas pessoas sendo Leonard (De Niro) a verdadeira cobaia de seus experimentos.

Esse foi um dos primeiros papéis dramáticos da carreira de Robin Williams. Ao lado do grande Robert De Niro ele consegue uma de suas melhores atuações (chegou inclusive a ser indicado ao Globo de Ouro por seu sensível trabalho). O próprio Williams decidiu fazer um amplo laboratório em torno de seu personagem visitando e convivendo com pacientes da instituição em que o verdadeiro Sacks atuou (localizado em Nova Iorque). Robert De Niro também está extremamente convincente embora tenha recebido algumas críticas na época por um suposto exagero dramático. Não concordo com essa visão, De Niro, em minha opinião, mostra novamente porque sempre foi considerado um dos grandes mestres da atuação no cinema americano. Tanto isso soa como verdade que Robert De Niro ganhou várias indicações em prêmios importantes por sua interpretação (foi indicado ao Oscar e venceu o prêmio dos críticos de Nova Iorque (NYFCC Award) na categoria melhor ator. Enfim, eis aqui um filme que deve ser indicado não apenas aos estudantes de medicina (com ênfase na área de neurologia) mas também aos amantes de boas atuações. “Tempo de Despertar” é sensível, comovente e muito humano. Está mais do que recomendado.

Tempo de Despertar
(Awakenings, Estados Unidos, 1990) Direção: Penny Marshall / Roteiro: Steven Zaillian baseado na obra de Oliver Sacks / Elenco: Robert De Niro, Robin Williams, Julie Kavner / Sinopse: Médico neurologista, Dr. Malcolm Sayer (Robin Williams), começa um inovador tratamento com pacientes que sofrem de Encefalia Letárgica. Seus experimentos acabam trazendo de volta o doente Leonard Lowe (Robert De Niro), porém sua recuperação também traz efeitos colaterais desconhecidos para a ciência médica.

Pablo Aluísio.

domingo, 31 de março de 2013

As Minas do Rei Salomão

Jesse Huston (Sharon Stone) é uma estudante de arqueologia que resolve contratar o aventureiro Allan Quatermain (Richard Chamberlain) para localizar o paradeiro de seu pai que desapareceu misteriosamente após revelar que havia conseguido finalmente o mapa que levaria para as famosas minas do Rei Salomão. Vivendo mil e uma aventuras o casal adentra nas regiões mais remotas da África selvagem para tentar achar o famoso tesouro do mitológico rei bíblico. “As Minas do Rei Salomão” é uma aventura oitentista que procura seguir os passos da franquia de sucesso “Indiana Jones”. Produzido pelo estúdio Cannon Group o filme tenta em vão capturar o charme das produções de Steven Spielberg e George Lucas. O personagem Allan Quatermain vem da literatura, é obviamente mais antigo do que Indiana Jones, mas pouco ou quase nada se encontra do Quatermain original dos livros aqui. Na realidade ele deixa de ter uma personalidade própria para se tornar um mero Indiana Jones genérico.

Sharon Stone tem sua primeira grande chance de aparecer em um filme no cinema. Antes disso ela só tinha experiência com séries e telefilmes. Seu papel não é grande coisa (nenhum papel do filme é minimamente profundo para dizer a verdade), mas vale como curiosidade. Richard Chamberlain que vinha do sucesso de TV Shogun também tenta virar um astro de filmes de aventura mas não deu muito certo. O grande problema de “As Minas do Rei Salomão” é que seu roteiro não desenvolve nenhum personagem, se limitando a colocar todos em uma sucessão de cenas de ação em trens em movimento, aviões caindo, fugindo de tribos canibais, etc. Tudo bem vazio e derivativo. Os efeitos obviamente envelheceram muito (numa era pré-digital tudo era feito com maquetes e marionetes, inclusive com uma nada verídica aranha gigante em cena). Como fez um relativo sucesso acabou ganhando uma continuação um ano depois, “Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido”, com a mesma dupla central. Depois de alguns anos Allan Quatermain voltaria às telas sendo interpretado dessa vez por Sean Connery em “A Liga Extraordinária” mas essa é uma outra história...

As Minas do Rei Salomão (King Solomon's Mines, Estados Unidos, 1985) Direção: J. Lee Thompson / Roteiro:  Gene Quintano baseado na novela de H. Rider Haggard / Elenco: Richard Chamberlain, Sharon Stone, Herbert Lom / Sinopse: Jesse Huston (Sharon Stone) é uma estudante de arqueologia que resolve contratar o aventureiro Allan Quatermain (Richard Chamberlain) para localizar o paradeiro de seu pai que desapareceu misteriosamente após revelar que havia conseguido finalmente o mapa que levaria para as famosas minas do Rei Salomão.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Jack O Caçador de Gigantes

Depois do sucesso de Alice de Tim Burton a coisa toda ficou sem controle. Cada conto infantil, por mais singelo que fosse, acabou sendo adaptado para os cinemas com orçamentos generosos. Algumas adaptações até renderam bilheterias interessantes mas a grande maioria naufragou. Por isso causa surpresa a chegada de mais essa adaptação de um conto infantil. “Jack, o Caçador de Gigantes” que tem realmente um orçamento fabuloso. O estúdio investiu 175 milhões de dólares em um filme com muita computação gráfica mas sem alma. O enredo é inspirado no conto infantil que no Brasil é conhecido como “João e o Pé de Feijão”. Na estorinha acompanhamos Jack (Nicholas Hoult), um simples camponês que acaba sem querer abrindo o caminho que separa a terra do mundo dos gigantes mitológicos. Esses seres já tinham descido ao mundo em tempos remotos através de um mágico pé de feijão. O problema é que sementes mágicas caem nas mãos de Jack e ele acaba dando origem a uma nova invasão para terror de todo o reino.

Na boa, Hollywood deveria esquecer essa coisa de adaptar contos infantis. Não deu certo com Branca de Neve (os últimos filmes feitos em cima da personagem foram horríveis) e certamente não deu certo aqui. O filme não passa de uma overdose de efeitos digitais. De fato, temos que reconhecer, os tais gigantes são extremamente bem realizados, idem os cenários e a direção de arte do filme, mas do que adianta isso se não há uma estória para contar? “João e o Pé de Feijão” rende no máximo uma boa animação (como bem demonstrou Disney no passado ao colocar o ratinho Mickey dentro dessa estória) mas não um filme com atores de carne e osso. Em determinado momento o tédio e o marasmo se tornam insuportáveis. O tom é obviamente bem infantil e por isso não adianta se animar muito pensando tratar-se de uma espécie de “O Senhor dos Anéis” em versão guri. Se você é fã de efeitos de CGI pode até ser que o filme sirva para alguma coisa, já se estiver em busca de um bom entretenimento a coisa pode complicar. Enfim, esqueça.

Jack, o Caçador de Gigantes (Jack the Giant Slayer, Estados Unidos, 2012) Direção: Bryan Singer / Roteiro: Christopher McQuarrie, Darren Lemke, Dan Studney / Elenco: Nicholas Hoult, Stanley Tucci, Bill Nighy, John Kassir, Ewan McGregor, Ian McShane / Sinopse: Jack, um pobre camponês acaba abrindo um portal mágico entre sua terra e o mundo dos gigantes. Baseado no conto infantil “João e o Pé de Feijão”.

Pablo Aluísio.

G.I. Joe 2: A Retaliação

Título no Brasil: G.I. Joe 2 - A Retaliação
Título Original: G.I. Joe 2 - Retaliation
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick
Elenco: Bruce Willis, Channing Tatum, Dwayne Johnson, Adrianne Palicki
  
Sinopse:
Adaptação para o cinema do conjunto de brinquedos denominado "G.I. Joe", criado e lançado no mercado pela primeira vez em 1964, nos Estados Unidos. No Brasil os brinquedos de ação receberam inicialmente o nome de "Falcon". A partir dos anos 80 os brinquedos começaram a se chamar "Comandos em Ação" no mercado brasileiro. No enredo temos um grupo militar de elite denominado G.I. Joe que precisa enfrentar um novo vilão, Zartan, que quer levar caos completo ao mundo.

Comentários:
O primeiro “G.I. Joe” fez sucesso de bilheteria, mas não conseguiu convencer quase ninguém. Em vista disso o estúdio resolveu mudar praticamente tudo. Foi contratado um novo diretor, um outro elenco e escrito um roteiro que se leva mais à sério do que o filme anterior. Na verdade esse segundo “G.I. Joe” tenta trazer um pouco mais de consistência para a franquia, muito embora todos tenham consciência de que uma produção que é basicamente uma adaptação para o cinema dos brinquedos “Comandos em Ação” não pode ser lá grande coisa ou muito profunda. O enredo parte de onde o primeiro filme terminou. O comandante Cobra e Destro estão presos. Cabe agora ao vilão Zartan (Arnold Vosloo) se infiltrar como impostor do Presidente dos Estados Unidos com o objetivo de levar o caos ao resto do mundo. Sua primeira providência é desmoralizar e desmontar a tropa de elite G.I. Joe. Desconfiado de tudo o que está acontecendo o militar Roadblock (Dwayne Johnson) resolve então liderar um pequeno grupo de Joes para desmascarar o grande farsante. A grande novidade de “G.I. Joe – A Retaliação” no elenco é a presença de Bruce Willis no papel do General Joe Colton, um graduado oficial que também passa a desconfiar dos acontecimentos ao seu redor. É curioso ver o astro Willis pulando de paraquedas em uma franquia já iniciada, em andamento. Como se sabe Willis tem sua própria franquia milionária (Duro de Matar) e por isso tudo soa muito esquisito em sua entrada assim numa continuação. Dois pontos parecem ter pesado para Bruce entrar no projeto. O primeiro foi o grande sucesso do primeiro filme, Como se sabe Willis está tentando já há algum tempo levantar sua carreira que anda em baixa. Para conseguir um sucesso de bilheteria vale tudo. O segundo é o alto cachê que o estúdio aceitou pagar ao ator – valor esse que já não se encontra facilmente em qualquer produção como acontecia na década de 1980. Os tempos são outros por causa da crise econômica americana. No saldo final o que temos é um filme melhor do que o primeiro, não há como negar, mas que ainda não consegue ser muito bom. O que falta mesmo nessa franquia “G.I. Joe” é um bom roteiro, menos infantil e tolo. Dinheiro eles já tem, de sobra, falta mesmo é mais capricho nesse aspecto.

Pablo Aluísio.