sábado, 7 de janeiro de 2012

O Homem de Bronze

Cinebiografia do atleta americano Jim Thorpe (Burt Lancaster) que ganhou várias medalhas de ouro durante as olimpíadas de 1912. Algumas particularidades faziam de Thorpe um esportista diferenciado. A primeira delas é que era indígena, nativo americano, o que o diferenciava e muito dos outros atletas americanos da época. Os pais de Jim fizeram todo o esforço possível para que ele continuasse seus estudos até o fim e foi justamente no meio acadêmico que Thorpe encontrou sua verdadeira vocação: os esportes. Nos EUA há grande tradição em universidades que dão bolsa integral a bons esportistas e foi assim que Jim foi subindo em sua carreira. Outro fato bem marcante na trajetória dele é que ao contrário dos demais atletas, Jim Thorpe não se limitava a apenas uma modalidade esportiva, pelo contrário, praticava todos os esportes que apareciam pela frente: atletismo, beisebol, futebol americano, saldo, hipismo, arco e flecha e mais uma série de outras categorias, se saindo bem em todas elas para surpresa geral. Não é à toa que venceu suas medalhas olimpícas no pentatlo e no decatlo. que agregam vários esportes numa só competição. Era considerado um atleta completo em sua era.

Com uma biografia tão rica assim não era de se exigir muito mais do filme. Realmente o roteiro expõe de forma bem didática toda a biografia do atleta, mostrando desde sua entrada em uma instituição de ensino do governo americano dirigido especialmente para as populações indígenas, passando pelas olimpíadas, sua bem sucedida passagem pelo time New York Giants até finalmente mostrar sua decadência pessoal e esportiva. Para quem já assistiu filmes como "Touro Indomável" fica bem fácil acompanhar a ascensão e queda de ídolos esportistas como esse. Suas biografias no fundo mostram que o esporte tanto pode redimir tais pessoas como também acentuar a queda de suas vidas pessoais. Thorpe infelizmente decaiu vítima do ostracismo e do alcoolismo. Burt Lancaster não decepciona em sua interpretação de Jim, o fazendo com garra e convicção, porém fica a sensação desagradável de ver um ator branco interpretando um personagem índio. Em plena época do Star System realmente nenhum grande estúdio de Hollywood iria investir numa produção estrelada por um nativo americano. A mentalidade da época ainda era bem atrasada e nada politicamente correta. De qualquer forma esse trabalho de Michael Curtiz (diretor de Casablanca) merece ser redescoberto. É uma obra de certa forma ufanista e que apenas toca de leve nos problemas pessoais do atleta mas que mesmo assim cumpre bem seus objetivos, imortalizando o nome de Jim Thorpe também na história do cinema.

O Homem de Bronze (Jim Thorpe, All-American, Estados Unidos, 1951) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Douglas Morrow, Everett Freeman / Elenco: Burt Lancaster, Charles Bickford, Steve Cochran, Phyllis Thaxter / Sinopse: Cinebiografia do atleta americano Jum Thorpe (Burt Lancaster) que ganhou várias medalhas de ouro durante as olimpíadas de 1912, se destacando também como jogador de Beisebol, Futebol Americano e mais de uma dezena de modalidades esportivas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Círculo do Medo

Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso de volta na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos. "Círculo do Medo" é um eficiente thriller de suspense dirigido pelo apenas mediano J. Lee Thompson, um diretor que ao longo da carreira alternou filmes bons com abacaxis medíocres. Esse "Círculo do Medo" (que teve o título mudado anos depois no Brasil por causa do famoso remake "Cabo do Medo" de Scorsese) tem como maior destaque e mérito a ótima caracterização do ator Robert Mitchum. Ele passa longe da caricatura feita por De Niro anos depois do mesmo personagem. Se no remake tínhamos um sujeito completamente fora de controle, violento, com ares de delírio completo, aqui Mitchum desenvolve uma caracterização bem mais sutil (e eficiente na minha opinião). A maldade está lá, porém em um nível mais interior, sem profusão de cenas violentas desnecessárias. Obviamente que muitos preferem o filme recente de Martin Scorsese porém não compartilho dessa opinião. "Círculo do Medo" é bem melhor em termos de tensão e clima psicológico.

O advogado interpretado por Gregory Peck não tem muito o que fazer já que o filme pertence mesmo a Mitchum e seu personagem. Se limitando a se defender na medida do possível, Peck se mostra competente em sua interpretação, embora pela própria estrutura do roteiro seja limitada. Claro que não podemos aqui comparar com outras atuações brilhantes do ator como a que ele apresentou em "O Sol é Para Todos", por exemplo. É um diferente tipo de atuação, mais ligeira, com propósito específico de entreter e não conscientizar como naquela produção. Mesmo assim o saldo é muito positivo embora se deva reconhecer que o filme perde um pouco de pique justamente no terceiro ato, quando todos vão para um lugar isolado nos pântanos da Flórida (o próprio lugar que dá nome ao filme, cabo do medo). Até esse momento o filme tem um ritmo muito bom, de caçada gato ao rato entre os dois personagens principais. Depois disso a tensão perde espaço para a violência e o filme decai um pouco. De qualquer forma o resultado final é muito bom (e bem melhor que seu famoso remake). Não deixe de conferir para comparar depois com o famoso filme de Martin Scorsese. Eu certamente recomendo

Círculo do Medo (Cape of Fear, Estados Unidos, 1962) Direção: J. Lee Thompson / Roteiro: James R. Webb baseado no romance de John D. MacDonald / Elenco: Gregory Peck, Robert Mitchum, Polly Bergen, Lori Martin / Sinopse: Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Aventureiro do Pacífico

Em 1961 Elvis Presley estourou nas bilheterias americanas com "Feitiço Havaiano". A fita seria a primeira do cantor realizada nas ilhas havaianas. Diante do sucesso o mesmo estúdio do filme de Elvis resolveu reunir praticamente a mesma equipe e o mesmo produtor, Hall Wallis, para repetir o sucesso usando da mesma fórmula: muitas paisagens bonitas, roteiro leve e divertido e música local. O curioso nesse projeto foi o fato da Paramount ter escalado a dupla John Wayne / John Ford para a empreitada. Conhecidos pelos grandes westerns, verdadeiros clássicos do cinema, foram ao Havaí para filmar "O Aventureiro do Pacífico" que em Portugal recebeu o curioso título de "A Taberna do Irlandês" (nome que também ficou conhecido no Brasil pois foi exibido na TV algumas vezes com esse mesmo título). A fita destoa de tudo o que um dia já realizaram. Era despretensiosa, tipicamente um filme de verão para ser consumido nas matinês da garotada em férias escolares. Pode-se afirmar inclusive sem medo de errar que "O Aventureiro do Pacífico" é o filme mais leve e sem pretensão de toda a carreira de John Ford.

Assim como "Feitiço Havaiano", "O Aventureiro do Pacífico" é basicamente isso mesmo, um filme de verão, muito leve, divertido, o que se pode chamar de uma aventura para toda a família. John Wayne continuava com seu carisma intacto, fazendo o dono de uma taberna para marinheiros. Já Lee Marvin faz um dos poucos personagens cômicos de sua carreira. O roteiro ainda toca timidamente na questão racial envolvendo nativos e americanos mas tudo numa sutileza planejadamente inofensiva, para não chocar ninguém. No final das contas a produção vale por sua fotografia (não poderia ser diferente uma vez que o Havaí é maravilhoso) e pelas cenas divertidas e descompromissadas. Da carreira do John Ford esse é seguramente seu filme mais inofensivo em todos os aspectos.

O Aventureiro do Pacífico (Donovan's Reef, Estados Unidos, 1963) Direção: John Ford / Roteiro: Frank S. Nugent, James Edward Grant / Elenco: John Wayne, Lee Marvin, Elizabeth Allen, Jack Warden / Sinopse: Michael Patrick 'Guns' Donovan (John Wayne) vive tranquliamente no Havaí quando é surpreendido pela chegada na ilha de Ameilia Dedham (Elizabeth Allen) que vem trazer várias surpresas para seu sossegado e tranquilo cotidiano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lunar

Astronauta operário (Sam Rockwell) se encontra em uma base lunar de mineração. No futuro grande parte da energia consumida pelo planeta terra tem origem em nosso satélite natural e por essa razão uma empresa privada mantém esse posto avançado na lua. O curioso é que apesar do grande aparato técnico existe apenas um único membro que fica in loco durante 3 longos anos sendo que após esse período ele é substituído por outro astronauta. Na base ele conta apenas com a companhia de um computador de última geração denominado Gerty (cuja voz pertence ao grande Kevin Spacey). Essa relação máquina / homem no espaço obviamente nos leva à lembrança de "2001 - Uma Odisseia no Espaço". Não é para menos, até mesmo no timbre de voz de Gerty nos lembramos imediatamente de Hal 9000 do filme de Kubrick. A única diferença é que Gerty se mostra mais amigo e companheiro do colega humano da base (mas será mesmo?)

O filme é bem escrito e se aproxima do tipo de ficção mais cerebral e intelectual (nada de monstros comendo a cabeça do tripulante). Também consegue levantar o tema da clonagem humana de forma muito inteligente e coesa. Apesar disso também não esquece o entretenimento pois o filme apesar de contar com apenas um único ator em cena consegue prender a atenção do espectador. Acredito que para não cair na monotonia o diretor Duncan Jones optou por uma produção de pequena duração justamente para evitar que tudo fique meio tedioso. Recentemente ele conseguiu desenvolver melhor suas ideias em "Source Code". Destaque para o bom trabalho dos dois atores. Sam Rockwell está muito bem em um papel muito complicado (o filme se apoia nele praticamente o tempo todo) e Kevin Spacey, mesmo não estando de corpo presente, arrasa na voz do computador (que curiosamente tem quase sempre o mesmo tom de voz, só mudando os emoticons que existem em seu painel para mostrar o que supostamente estaria sentindo). Enfim, "Lunar" vale a pena por sua concepção e por seu argumento inteligente.


Lunar (Moon, Estados Unidos, 2009) Direção de Duncan Jones / Roteiro: Duncan Jones e Nathan Parker / Elenco: Sam Rockwell, Kevin Spacey, Dominique McElligott / Sinopse: Astronauta operário (Sam Rockwell) se encontra em uma base lunar de mineração. No futuro grande parte da energia consumida pelo planeta terra tem origem em nosso satélite natural e por essa razão uma empresa privada mantém esse posto avançado na lua.

Pablo Aluísio.

Capitão Blood

O Médico Peter Blood (Errol Flynn) é confundido com rebeldes durante o reinado de Jaime II da Inglaterra. Como punição é enviado como escravo para trabalhos forçados na nova colônia britânica de Port Royal na América. Chegando lá lidera uma revolta de cativos como ele e juntos acabam tomando posse de um navio de guerra imperial. Em pouco tempo Blood e sua tripulação se transformam nos mais famosos piratas do Caribe de sua época. "Capitão Blood" foi o filme que transformou Errol Flynn em astro. Na época ele era apenas um promissor ator que a Warner apostava suas fichas. Com histórico de muitas aventuras em seu passado, Flynn havia sido marinheiro e veio da Austrália cruzando os sete mares como seu personagem. Tinha bom visual, pose de galã e sabia lutar bem de espada. Com tantos requisitos era óbvio que Blood parecia ter sido escrito especialmente para ele. Além de ser seu primeiro filme de repercussão "Capitão Blood" acabou definindo de forma definitiva a persona de Errol Flynn pelo resto de sua carreira. O pirata boa praça, sempre com um sorriso nos lábios, galante e aventureiro iria ser repetido em praticamente todas as atuações de Errol em sua filmografia dali pra frente. De fato virou sua marca registrada.

A produção foi a menina dos olhos dos estúdios Warner na época de seu lançamento. Enormes sets de filmagens foram construídos, figurinos de luxo e um dos melhores diretores do mercado, o veterano Michael Curtiz, foi especialmente contratado para levar o pirata aventureiro para as telas. Tudo foi planejado e concebido para que "Capitão Blood" fosse não apenas um filme mas um evento cinematográfico. O resultado até hoje impressiona, mesmo após tantos anos de sua conclusão. Os cenários que simulam as antigas naus do século XVII são extremamente bem feitos - em ótima reconstituição histórica. O curioso é que "Capitão Blood" foi idealizado para reviver os antigos filmes de Douglas Fairbanks Jr, mas ao mesmo tempo em que foi influenciado acabou sendo uma das obras mais influenciadores da história do cinema uma vez que até hoje seu estilo é imitado à exaustão - vide a extremamente bem sucedida franquia "Piratas do Caribe" que bebe diretamente de sua fonte. Enfim é isso, um dos marcos do cinema de ação e aventura de Hollywood que conseguiu resistir até mesmo ao mais implacável inimigo das telas, o tempo.

Capitão Blood (Captain Blood, Estados Unidos, 1935) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Rafael Sabatini, Casey Robinson / Elenco: Errol Flynn, Olivia de Havilland, Lionel Atwill, Basil Rathbone / Sinopse: Capitão Blood (Errol Flynn) é um pirata do Caribe que saqueia e rouba navios ingleses e franceses que ousem cruzar seu caminho em alto mar. Para capturá-lo o Rei da Inglaterra envia um navio de guerra especialmente designado com esse objetivo.

Pablo Aluísio.

Jerry Lee Lewis

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)
Já que estamos falando nos últimos dias dos primeiros álbuns dos grandes pioneiros do rock vamos agora tratar desse “Jerry Lee Lewis” (1958). Aqui temos realmente uma raridade em mãos. O disco não foi lançado no Brasil na época, o que é bastante fácil de entender, uma vez que o álbum original era da Sun Records que não tinha nenhum representante em nosso país. Com todo o respeito ao enorme legado de Sam Phillips a verdade era que a Sun era realmente uma gravadora ao estilo “fundo de quintal”. É de se admirar inclusive que tenha bancado um álbum desses pois a especialidade da Sun era mesmo os singles, pequenos compactos com apenas duas músicas, que geralmente nem capa possuíam (pois isso era caro para a estrutura da empresa). Jerry Lee Lewis era o sonho de Sam em transformar seu selo em algo realmente grande, importante, pena que tudo tenha dado errado. Como a Sun era muito modesta a distribuição era precária e muitos exemplares do primeiro álbum de Lewis mal saíram do sul para o resto do país. No norte dos Estados Unidos, por exemplo, era quase impossível encontrar o álbum nas lojas. Mesmo em Nova Iorque havia poucas cópias à venda. Se era ruim de achar lá imagine no resto do mundo...

Curiosamente seu repertório também ignorava os maiores sucessos do artista no selo, o que não ajudou em nada em suas vendas. Apenas "High School Confidential" está presente. O disco abre com uma versão de "Don't Be Cruel" de Elvis Presley. Dizem inclusive que Elvis cedeu a faixa praticamente de graça para Sam Phillips, até porque o produtor não teria mesmo como pagar os direitos autorais de uma canção milionária como essa. Foi uma forma encontrada por Elvis em ser grato ao seu “descobridor”. Isso desmente também a velha lenda de que Elvis não gostava de Lewis e tinha medo dele ocupar seu lugar nas paradas. Outro artista da Sun que deu uma “mãozinha” para Jerry Lee Lewis em sua estréia foi Carl Perkins que cedeu sua canção “Matchbox” para o colega de gravadora. Entre os bons momentos desse álbum é interessante citar inicialmente a faixa “Crazy Arms” que considero uma das melhores versões da música já gravadas. Mostra muito bem o talento de Lewis na Country Music (gênero ao qual se dedicaria mais futuramente, com ótimos resultados). No mais vale ainda citar o clássico "When The Saints Go Marching In", uma óbvia tentativa de Sam Phillips em mostrar o ecletismo de Lewis e a sentimental e nostálgica "Jambalaya (On The Bayou)" que ganhou até versão em nosso país, virando grande sucesso nas rádios cariocas. No conjunto é um álbum gostoso de ouvir, bem gravado, com bom repertório. A lamentar apenas seu pouco impacto nas paradas uma vez que a Sun realmente não tinha boa estrutura para isso. De qualquer modo é certamente um disco histórico, trazendo um dos nomes mais influentes da primeira geração do rock americano, sem retoques, quase cru, mostrando todo o seu talento de “matador”. Jerry Lee Lewis é realmente um grande nome que infelizmente foi muito subestimado em sua vida. Não deixe de ouvir para entender bem esse ponto de vista.

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)
Don't Be Cruel / Goodnight Irene / Put Me Down / It All Depends (On Who Will Buy The Wine) / Ubangi Stomp / Crazy Arms / Jambalaya (On The Bayou) / Fools Like Me / High School Confidential / When The Saints Go Marching In / Matchbox / It’ll Be Me.

Jerry Lee Lewis - Great Balls of Fire
Foi o maior sucesso da carreira de Jerry Lee Lewis. Chegou ao primeiro lugar da Billboard e consagrou o jovem cantor e pianista. Para muitos Lewis seria naquele momento o sucessor natural de Elvis Presley nas paradas, já que Presley estava deixando sua carreira de lado para ir servir o exército americano na Alemanha. Embora tenham tido trajetórias parecidas - Lewis despontou na mesma Sun Records que descobriu Elvis - a verdade era que ambos eram bem diferentes entre si. O maior problema de Lewis era sua impulsividade, suas decisões tomadas sem medir as consequências. No palco Lewis gostava de colocar fogo em seu piano e isso fazia parte do jogo mas na vida pessoal ele também tocou fogo em sua imagem. Casou-se com uma prima adolescente muito jovem - que para piorar parecia uma garotinha - e quando foi para a Inglaterra fazer sua turnê entrou em atrito com a imprensa britânica. Depois disso e da revelação que estava casado com uma menininha sua carreira foi ladeira abaixo.

O pico de sucesso de Jerry Lee Lewis foi muito breve. Praticamente durou apenas três singles! O primeiro com "Crazy Arms / Whole Lotta Shakin' Goin' On", seu primeiro compacto, vendeu muito bem, se destacando nas paradas. Então logo após veio esse "Great Balls of Fire" com "You Win Again" no lado B. Foi seu auge. O terceiro e último sucesso de Jerry foi a ótima Breathless" (com "Down the Line" no lado B) que chegou na sétima posição. Quando "High School Confidential" chegou nas lojas ele já estava sentindo os efeitos da maré baixa. Ninguém tira os méritos de Jerry Lee Lewis como cantor e intérprete, ele de fato foi grande mas não soube administrar os aspectos mais importantes de sua carreira. De uma forma ou outra conseguiu à duras penas sobreviver no meio country nos duros anos que viriam pela frente. Foi um sobrevivente realmente. Já em termos de "Great Balls of Fire" não há muito o que dizer pois é realmente um dos melhores rocks de todos os tempos. Gravação perfeita em ótima melodia. Na verdade foi a música que definiu toda a sua história e aquela pela qual será lembrado no futuro.

Jerry Lee Lewis - The Country Collection
Quem gosta de Jerry Lee Lewis sabe como pode ser frustrante encontrar bom material do artista aqui no Brasil. A imensa maioria dos títulos são não oficiais lançados por selos fundo de quintal, sem procedência nem nada, na maioria das vezes com as mesmíssimas músicas. Não conseguem sair das obvias "Great Balls Of Fire" e "Whole Lotta Shakin Goin' On". A verdade é que a discografia de Jerry Lee Lewis é uma grande bagunça. Como ele sempre foi um músico muito instável seus direitos autorais foram passando de mãos em mãos por todos esses anos sem muito controle e organização. No meio desse caos um ou outro título valem a pena. Um deles é justamente esse "The Country Collection". Fugindo das obviedades o título chama atenção pela boa sonoridade (recuperaram as matrizes) e pelo repertório agradável.

Como não poderia deixar de ser o CD é mais recomendado para o público que gosta de country de raiz. Não há sinais do Jerry Lee Lewis roqueiro aqui. O piano continua endiabrado mas o sentimento é de caipirice (o que não deixa de ser ótimo). Várias das faixas são essenciais mas destaco 3 delas. "Green Green Grass Of Home" surge em belíssima interpretação, muito emocional e evocativa. Seu arranjo lembra em termos o arranjo que Elvis mostra no disco "Elvis Today" mas aqui ela aparece mais simples, sem tanta produção. O que vale no final é o sentimento - e isso não falta à faixa. "I'm So Lonesome I Coul Cry", o grande clássico de Hank Williams, é outra canção forte presente na seleção. Esse tipo de música tem que ser cantada com o fundo da alma. Lewis sabe bem disso e esbanja talento. Por fim "Louisiana Man" é o tipo de country alegre, divertido que acrescenta muito a qualquer título. Enfim, não sou muito de gostar de coletâneas e nem as recomendo mas nesse caso abrirei uma exceção. Como a discografia do The Killer é uma bagunça divertida indico esse álbum para quem estiver a fim de ouvir algo diferente do artista. Para quem pensa que ele é apenas o roqueiro meio maluco será uma surpresa e tanto!

Jerry Lee Lewis - The Country Collection / 1. Heartaches By The Number 2. Green Green Grass Of Home 3. Help Me Make It Through The Night 4. Detroit City 5. King Of The Road 6. I'm So Lonesome I Coul Cry 7. Break My Mind 8. Sweet Dreams 9. Reuben James 10. Another Place Another Time 11. Before The Next Teardrop Falls 12. Pick Me Up On Your Way Home 13. What's Made Milwaukee Famous 14. Louisiana Man 15. Middle Age Crazy 16. I'm A Lonesome Fugitive 17. She Even Woke Me Up To Say Goodbye 18. Today I Started Loving You Again 19. I Forgot More Than You'll Ever Know 20. There Stands The Glass

Pablo Aluísio. 

30 Dias de Noite 2

Tudo muito fraco, tudo muito pobre, produção feia, atores ruins e roteiro banal. Eu até que gostei de "30 Dias de Noite", mas essa sua sequência é realmente indefensável. O grande charme do filme original era a ambientação em uma cidade do Alaska que ficaria 30 dias sem ver a luz do sol. Um prato cheio para o ataque de um grupo de vampiros sanguinários e vorazes. Certamente aquela situação era bem interessante. Porém, para minha decepção, tiraram esse ótimo clima soturno nessa continuação! O que resta depois de uma ideia tão equivocada como essa? Para piorar o que já era bem ruim os roteiristas resolveram escrever uma péssima estória que se desenvolve na ensolarada Califórnia!!! Existe algo mais fora do clima de vampiros do que as praias da Califórnia? Claro que não!

A razão dessa estupidez é até fácil de entender. Sem orçamento  para produzir algo melhor os produtores filmaram tudo no quintal mesmo - em Los Angeles, a pior cidade do mundo para se realizar um filme de vampiros. Para piorar o que já era bem ruim colocaram uma péssima atriz para fazer um péssimo personagem: a rainha vampira, que tem sob comando um "ninho" de seres da noite. Ela quer a todo custo transportar os vampiros de navio para o Alaska, obviamente visando com isso atacar outra cidade como vimos no primeiro filme. Pura bobagem. Não recomendo a ninguém, nem a fãs de quadrinhos, nem a fãs de vampiros e nem muito menos a admiradores de efeitos especiais (a produção é bem fraca nesse sentido, pois não se gastou muito nas cenas, resultando tudo em uma decepção). Enfim, acho que é o fim da franquia. "30 Dias de Noite 2" é ruim de doer, com ou sem caninos salientes.

30 Dias de Noite 2 (30 Days of Night: Dark Days, Estados Unidos, 2010) Direção: Ben Ketai / Roteiro: Steve Niles, Ben Ketai / Elenco: Kiele Sanchez, Rhys Coiro, Diora Baird / Sinopse: Vampiros sedentos de sangue levam o terror a Los Angeles e depois seguem rumo ao Alaska para nova carnificina.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

[REC]

Jovem repórter e seu cameraman fazem uma reportagem sobre a rotina dos bombeiros quando esses são chamados a um conjunto de apartamentos onde vizinhos ouvem gritos no andar superior. Ao investigar o ocorrido descobrem algo bem mais sinistro. [REC] segue os passos da estética de "A Bruxa de Blair", ou seja, é um falso documentário ou como os americanos gostam de chamar um "Mockumentary". Para quem odiou "Bruxa de Blair" é sofrido saber mas parece que a ideia deu frutos e hoje vários filmes seguem os passos do filme pioneiro. O resultado já sabemos: câmera na mão, gritos, correria, imagens desfocadas ou balançadas e ritmo alucinante. Tudo com cheiro de amadorismo para trazer uma verniz de "realidade". De certa forma os filmes que seguem o estilo "Mockumentary" bebem diretamente da fonte dos chamados reality shows da TV - a ideia é imitar os reality shows na forma de mostrar ou contar ao espectador a estória. [REC] tem um parentesco bem próximo também dos filmes de Romero, até porque deve-se reconhecer que qualquer filme que mostre mortos vivos vai de uma forma ou outra copiar as obras do mestre de terror.

Do ponto de vista originalidade [REC] não traz grandes surpresas. O filme é curtinho - para não saturar - e se concentra basicamente em criar uma situação e explorar ela ao máximo tentando com sua suposta veracidade criar medo no espectador. Nesse aspecto achei que a criação do enredo foi bem melhor do que seu desenvolvimento. A atriz Manuela Velasco que interpreta a jornalista consegue nos passar mesmo a sensação de que é uma quase amadora na profissão. Curiosamente seu cameraman jamais aparece mesmo quando a câmera cai no chão ou ele fica sem controle dela. De resto destaco apenas duas boas cenas na produção: a primeira quando as pessoas que estão em quarentena no prédio descobrem a "velha" no andar de cima e a segunda quando finalmente chegam no apartamento que vai revelar grande parte da trama (embora muita coisa fique mesmo no ar, sem explicação). De maneira em geral [REC] procura inovar de alguma forma no velho tema mortos vivos. Consegue apenas em termos, caindo muitas vezes na banalidade. Vale assistir pelo menos uma vez para conhecer e é só.

[REC] (REC, Espanha, 2007) Direção: Jaume Balagueró, Paco Plaza / Roteiro: Jaume Balagueró, Paco Plaza, / Elenco: Manuela Velasco, Ferran Terraza, Jorge-Yamam Serrano ; Sinopse: Jovem repórter e seu cameraman fazem uma reportagem sobre a rotina dos bombeiros quando esses são chamados a um conjunto de apartamentos onde vizinhos ouvem gritos no andar superior. Ao investigar o ocorrido descobrem algo bem mais sinistro do que poderiam imaginar.

Pablo Aluísio. 

El Cid

El Cid segue sendo um grande filme épico medieval. Mais um ponto alto na carreira do ator Charlton Heston. Logo ele, um dos mais bem sucedidos atores de todos os tempos nesse estilo cinematográfico. Basta lembrar de clássicos absolutos como "Ben-Hur" e "Os Dez Mandamentos". De fato bastaria apenas esses dois filmes para colocar Heston entre os grandes nomes da era de ouro de Hollywood. Porém ele foi além, estrelando também outros grandes filmes. El Cid é certamente um dos melhores deles. É uma grande produção. O filme não economizou nos custos. Há uma infinidade de figurantes, batalhas épicas e exércitos. Na época nada disso poderia ser feito de forma digital como se faz hoje em dia, assim tudo o que se vê na tela é real e até hoje impressiona, principalmente na batalha final travada nas praias do castelo de Valença. O Produtor Samuel Bronston tinha fama de não economizar nos custos de seus filmes. Assistindo El Cid entendemos bem a razão dessa sua fama.

O filme conta a história desse personagem histórico ainda hoje muito conhecido, o guerreiro e cavaleiro El Cid, venerado em alguns países europeus como um dos grandes heróis da história. Essa visão é meio distorcida. O roteiro de El Cid segue esse erro pois é pouco correto do ponto de vista histórico. No filme o cavaleiro é visto como um homem de atitudes grandiosas, nobres. O fato porém é que El Cid era algo que hoje em dia poderia ser definido facilmente como mercenário, ou seja, após ser exilado ele colocava seu exército particular à disposição de quem lhe pagasse mais, sejam cristãos ou mouros. Outro fato que foge da realidade histórica se refere à própria morte de El Cid. No filme seu final vai de encontro ao famoso poema medieval que o enobrecia como símbolo de virtude. Na história real sua morte foi bem mais banal e comum pois faleceu em seu castelo e não em luta de forma heroica como mostrada no filme.

A direção do filme ficou em boas mãos. Anthony Mann dirigiu grandes filmes ao longo de sua carreira, inclusive "Winchester 73" (western com excelente elenco, contando com Rock Hudson e James Stewart), "A Queda do Império Romano". "Cimarron" entre outros. Definitivamente "El Cid" foi o filme mais caro que se envolveu. As filmagens ocorreram na Espanha e Itália com equipe estrangeira e não deve ter sido nada fácil organizar e dirigir uma produção desse nível. Mesmo assim o resultado grandioso ficou muito bom, embora se perceba vários "vácuos" no filme, isso apesar dele ter mais de três horas de duração. A impressão que tive foi que o diretor se perdeu um pouco no corte ideal para o filme, pois há sequências enormes e desnecessárias, como o longo romance entre os personagens do casal Heston e Loren. Já outros personagens importantes na história não mereceram a mesma atenção. Como diretor ele deveria ter feito um filme mais enxuto e focado na minha opinião.

Outros problemas podem ser encontrados ao longo do filme. O romance entre Charlton Heston e Sophia Loren, por exemplo, não decola no filme. Na minha opinião o problema é a falta de talento da bela atriz. Sophia Loren tinha exageros de caracterização, cacoetes que ela trazia do cinema italiano e isso nem sempre funcionava bem. Heston, por sua vez, repete suas atuações de personagens épicos, que são virtuosos e acima do bem e do mal. Os atores que interpretam os dois reis em conflito (na realidade eram quatro) são fracos, em especial John Fraser que interpreta o Rei Alfonso. Muito afetado, ficou mais parecendo uma versão medieval de Calígula. Mesmo assim, com esse pequenos problemas em detalhes, não há como negar as qualidades cinematográficas dessa obra.

El Cid (El Cid, Estados Unidos, Itália, 1962) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Fredric M. Frank, Philip Yordan / Elenco: Charlton Heston, Sophia Loren, Raf Vallone / Sinopse: Épico que narra a história do guerreiro medieval El Cid que lutou contra as invasões mouras na Península Ibérica durante a alta idade média. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Música (Miklós Rózsa). Indicado no Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Drama, Melhor Direção e Melhor Trilha Sonora Original (Miklós Rózsa).

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mad Max 2: A Caçada Continua

Primeira continuação da franquia "Mad Max". Antes de mais nada é bom observar um aspecto importante. Existe uma grande diferença entre esse filme e o anterior. Se o primeiro "Mad Max" era bem precário em termos de produção, quase amador, esse segundo filme da franquia já é muito melhor produzido, com figurinos mais elaborados e melhor direção de arte. Um fato curioso sobre Mad Max 2 é que esse personagem foi tão copiado, tão imitado ao longo dos anos, que o próprio produto original acabou ficando ultrapassado. É algo similar ao que aconteceu com Rambo. De tão imitado ficou datado. "Mad Max" é certamente um dos filmes mais influentes do cinema, chegando ao ponto de se criar um sub gênero próprio - o dos filmes pós apocalipse. Os carros adaptados, roupas, estilo, cenário, tudo já foi copiado à exaustão por anos e anos (aliás todo ano pelo menos um filme passado em um mundo pós apocalíptico é lançado). A saturação assim se tornou inevitável.

O que há de semelhante entre esse segundo filme e o primeiro é a simplicidade do enredo. Aqui tudo gira em torno de uma refinaria no meio do deserto. Como todos sabem o bem mais precioso no mundo de Mad Max é o combustível. Então dois grupos se enfrentam pelo domínio do petróleo, e Max acaba se envolvendo no meio do conflito. Não há diálogos bem escritos, nem situações dramáticas aprofundadas. Max é apenas um solitário que ao lado de seu cão procura sobreviver nesse mundo árido e hostil. O visual dos personagens envelheceu, é verdade (o vilão nada mais é do que uma variação de Jason de Sexta Feira 13) mas no final o que importa é o legado que o filme deixou para futuras produções que o seguem como cartilha de ABC. O filme terá um novo interesse porque afinal de contas a franquia não morreu com a trilogia original, seguiu em frente. Esse novo Mad Max inclusive é dito como o melhor de todos. Assim as cortinas vão demorar um pouco para se fecharem a esse personagem tão cativante dos cinéfilos em geral.

Mad Max 2 - A Caçada Continua (Mad Max 2, Austrália, Estados Unidos, 1982) Direção: George Miller / Roteiro: George Miller, Terry Hayes / Elenco: Mel Gibson, Vernon Wells, Bruce Spence, Michael Preston, Max Phipps / Sinopse: Mad Max (Mel Gibson) se vê envolvido numa luta pela sobrevivência em um deserto hostil pós apocalipse, onde todos lutam para colocar as mãos em uma refinaria isolada e perdida no meio do nada absoluto. Filme vencedor do prêmio da Australian Film Institute na categoria de Melhor Direção (George Miller).

Pablo Aluísio.

A Estrada

Pai e filho vagam por um mundo devastado. Não existe mais civilização e tudo o que restou da humanidade são poucos grupos, geralmente armados, lutando por água, comida e combustível. Em sua luta pela sobrevivência o pai tenta levar o filho até a costa para que ele finalmente conheça o mar. Essa sinopse até pode lembrar os famosos filmes da franquia Mad Max mas há diferença grande entre as produções. Em Mad Max tudo é desculpa para a ação sem freios, com muitas cenas de luta e fúria. Em "A Estrada" só resta a melancolia, a tristeza e a depressão de vidas sem qualquer fio de esperança. Esse clima sombrio e desesperançoso foi o que mais me incomodou no filme. Nada contra obras baixo astral mas "A Estrada" é um das mais acentuadas nesse aspecto que já conferi.

Não há qualquer sinal de que as coisas vão melhorar ou eles conseguirão superar as adversidades. Na realidade não passam de meros sobreviventes e como tal esperam chegar vivos ao final de cada jornada, um dia de cada vez, sem maiores sonhos ou objetivos. Não vivem, apenas sobrevivem. A produção segue o pessimismo do roteiro à risca. A fotografia é toda cinza e neblina, escura. Os diálogos são curtos e grossos. Os atores não passam nenhum sentimento positivo - apenas se deprimem com toda a situação, gerando ainda mais infelicidade. Apesar do final mais ameno (em termos), "A Estrada" é muito seco, muito depressivo. No saldo final provavelmente encontrará seu público mas certamente não atingirá a todos pois nem todo mundo vai comprar a ideia do argumento. Apesar de tudo ainda acredito que vale a pena conhecer - mesmo que depois da exibição você fique meio down.

A Estrada (The Road, Estados Unidos, 2009) Direção de John Hillcoat / Roteiro de Joe Penhall baseado na novela de Cormac McCarthy / Elenco: Viggo Mortensen, Charlize Theron, Kodi Smit-McPhee / Sinopse: Pai e filho vagam por um mundo devastado. Não existe mais civilização e tudo o que restou da humanidade são poucos grupos, geralmente armados, lutando por água, comida e combustível. Em sua luta pela sobrevivência o pai tenta levar o filho até a costa para que ele finalmente conheça o mar.

Pablo Aluísio.

Adeus às Armas

Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) se tornando perdidamente apaixonado por ela. Em suas memórias Rock Hudson se lembra com pesar da adaptação do famoso livro "A Farewell to Arms" de Ernst Heningway. Na ocasião o estúdio havia lhe oferecido três projetos: o primeiro era "Ben-Hur", o segundo "Sayonara" e por fim essa adaptação que seria dirigida pelo grande diretor John Huston. Rock escolheu "Adeus às Armas" pois segundo sua opinião "não havia como dar errado, tudo se encaixava muito bem, seria um grande sucesso certamente". Pois bem, as previsões de Hudson não se confirmaram. Logo após começarem as filmagens o diretor John Huston brigou com o produtor do filme, David O. Selznick. Às pressas foi convocado o diretor Charles Vidor que não conseguiu adaptar o romance literário com sucesso. Some-se a isso as dificuldades das filmagens que foram realizadas nos alpes italianos que não tinham estrutura para receber um filme daquele porte. No final das contas tanto "Ben-Hur" como "Sayonara" se tornaram grandes sucessos de bilheteria bem ao contrário de "Adeus às Armas" que não agradou nem ao público e nem à crítica. O que deu errado?

Assistindo ao filme percebemos vários problemas na produção. O primeiro deles é que o roteiro não conseguiu encontrar um tom ideal para contar a estória. Tudo ficou excessivamente melodramático. A obra de Hemingway foi de certa forma alterada, tudo com o objetivo de explorar o lado galã de Hudson. Além disso exageraram no corte final, tornando "Adeus ás Armas" muito longo e cansativo. Embora não seja interessante apenas especular penso que se John Huston tivesse se mantido na direção teríamos um filme mais fluente, leve, com belas cenas do conflito em que o personagem principal se envolve. O próprio Rock Hudson não gostou de sua atuação no filme, achou tudo muito superficial, sem emoção. Curiosamente o ator durante as filmagens concorreu ao Oscar por "Assim Caminha a Humanidade". Impossibilitado de ir aos EUA para a cerimônia foi homenageado na pequenina cidade italiana onde o filme estava sendo feito. Os moradores locais ergueram uma imensa estátua de gelo no formato do Oscar e a colocaram na frente do hotel onde Rock estava hospedado. A intenção era fazer uma enorme festa caso o ator ganhasse o prêmio. Infelizmente como não ganhou o Oscar, Rock teve que no dia seguinte se contentar em ver a imensa obra gelada se derretendo pelo calor do sol - o que não deixou de ser uma metáfora de ver seu sonho de vencer a cobiçada estatueta da Academia indo por água abaixo. De qualquer forma o filme merece uma revisão hoje em dia. Vale a pena conhecer, mesmo que não esteja à altura da obra do grande escritor.

Adeus às Armas (A Farewell to Arms, Estados Unidos, 1957) Direção de Charles Vidor e John Huston (não creditado) / Roteiro: Ben Hecht baseado na obra de Ernest Hemingway / Elenco: Rock Hudson, Jennifer Jones, Vittorio De Sica, Alberto Sordi / Sinopse: Frederick Henry (Rock Hudson), um jovem voluntário americano, se alista no exército italiano onde acaba ferido em combate. No hospital acaba conhecendo a enfermeira Catherine Barkley (Jennifer Jones) e acaba se apaixonando por ela.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Paul McCartney - CHOBA B CCCP

CHOBA B CCCP foi o álbum que Paul McCartney gravou especialmente para o povo russo em 1987. Ele ficou sabendo que os fãs russos compravam cópias contrabandeadas dos discos dos Beatles na época da guerra fria e decidiu que iria gravar algo especial para seus fãs que viviam atrás da cortina de ferro. O regime comunista soviético proibiu a venda dos discos dos Beatles durante os anos 60, por entender que o material era propaganda decadente do capitalismo ocidental. Uma típica visão radical e idiota, própria dos comunistas em geral.

O LP foi gravado meados de 1987, com vários covers e novas versões de Paul para clássicos do rock, principalmente da primeira geração do rock ´n´ roll americano. É interessante notar que esse tipo de disco iria até se tornar bem comum depois dentro da discografia de Paul (basta lembrar de "Run Devil Run"), mas que naquele momento era algo inédito em sua carreira. O curioso é que Paul quis desde o começo que o disco fosse vendido apenas na Rússia (na época chamada de União Soviética). A Perestroika e a Glasnost já estavam na ordem do dia e com a abertura do regime linha dura comunista Paul conseguiu, pela primeira vez em sua vida, lançar um disco oficial em solo russo!

Como a EMI Odeon não tinha autorização de abrir filiais e vender seus produtos na URSS, Paul precisou vender os direitos autorais para uma gravadora russa pequena chamada Melodiya. No começo foram prensadas apenas 10 mil cópias que imediatamente começaram a chegar ao ocidente, através da Alemanha. Era uma grande ironia do destino. Na época dos Beatles os fãs russos compravam cópias no mercado negro para ouvir. Agora eram os russos que vendiam os discos de Paul para os ocidentais, atraídos principalmente pelo alto valor de cada cópia, uma vez que o disco não havia sido lançado na Europa ocidental. De qualquer forma "CHOBA B CCCP" acabou se tornando mais uma preciosidade na discografia de Paul McCartney, algo que iremos falar em detalhes nos próximos textos. Até lá!

Pablo Aluísio.

The Beatles - Long Talll Sally

Sempre achei esse um dos mais curiosos lançamentos dos Beatles. Se trata de um EP (sigla em inglês que no Brasil significava o equivalente ao nosso compacto duplo, pequeno vinil com apenas quatro ou cinco faixas). É interessante porque os Beatles resolveram gravar três covers e uma faixa que embora composta por Lennon e McCartney havia sido dada para ser gravada pelo grupo Billy J. Kramer and The Dakotas.

Estamos falando de "I Call Your Name", uma canção que passa longe de ser uma das melhores do grupo, mas que mantém o interesse, principalmente por causa da boa performance. Anos depois algumas biografias afirmaram que os Beatles resolveram gravar a música após John Lennon se sentir "enciumado" com a boa gravação de Kramer. Ele achava que poderia fazer melhor e sugeriu ao conjunto que registrasse sua própria gravação nos estúdios da Abbey Road. O resultado pode ser ouvido aqui.

Já as três outras gravações covers são maravilhosas. "Long Tall Sally" é o grande sucesso da carreira de Little Richard (Richard Penniman). Essa vinha acompanhando os Beatles desde os tempos em que eles eram apenas um grupo de adolescentes sonhando em gravar um disquinho algum dia. Paul McCartney era um fã do estilo de Richard e conseguia, mesmo quando tinha apenas 15 anos, tirar ótimas versões da música. Um momento bem nostálgico para os Beatles, um rock dos velhos e bons tempos. Também é bom lembrar que esse rock também havia sido gravado por Elvis Presley, fazendo parte de seu segundo álbum pela RCA Victor, em 1956. Como os Beatles eram grandes fãs de Elvis, era algo natural eles também decidirem gravar sua versão.

"Slow Down" de Larry Williams era geralmente usada para finalizar os concertos ao vivo. Segundo as próprias palavras de Paul era um "rock numa nota alta" que os Beatles usavam para se despedir de seu público de maneira bem empolgante, para cima. Geralmente era usada quando os Beatles estavam meio fartos de tocar suas próprias composições. O EP se encerra com "Matchbox" de Carl Perkins. Como se sabe os garotos de Liverpool tiveram seu primeiro contato com o rock americano através de singles que vinham dos Estados Unidos através do porto da cidade. Singles da Sun Records eram especialmente apreciados e Carl Perkins sendo um artista do selo logo se tornou também ídolo dos Beatles. Assim o que temos aqui é uma pequena amostra de onde veio a musicalidade do Fab Four. Uma justa homenagem deles aos pioneiros do rock americano. Melhor do que isso impossível.

The Beatles - Long Tall Sally (1964)
1. Long Tall Sally (Johnson, Richard Penniman, Robert Blackwell)
2. I Call Your Name (Lennon - McCartney)
3. Slow Down (Larry Williams)
4. Matchbox (Carl Perkins)

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Paul McCartney - Press To Play (1986)

Depois dos ótimos discos "Tug Of War" e "Pipes of Peace" Paul McCartney deu continuidade em sua carreira nos anos 80 lançando em 1986 o álbum "Press to Play". Eu me recordo que o disco foi esperado com grande expectativa pelos fãs do ex beatle. O fato é que nos anos 80 Paul conseguiu emplacar vários hits inesquecíveis e formou parcerias musicais extremamente produtivas ao lado de artistas como Stevie Wonder e Michael Jackson. Além do sucesso nas paradas musicais Paul também vinha apresentando uma ótima sequência de excelentes clips promocionais para suas canções. Dessa forma tudo soava a favor de seu novo lançamento, que chegaria ao mercado bem no auge de sua popularidade na carreira solo. O primeiro clip promocional do disco foi vinculado no programa Fantástico da Rede Globo (não existia ainda a MTV em nosso país) e mostrava um cantor bem à vontade pegando carona no Metrô de Nova Iorque. Era de certa forma um videoclip bem mais simples e modesto do que o material que vinha sendo apresentando antes, mas cumpria sua meta de promover o novo disco que estava para ser lançado. A canção era muito boa e tinha bom ritmo. Além disso trazia uma novidade para o nosso país: a participação talentosa do guitarrista brasileiro Carlos Alomar. Na mesma semana o disco finalmente foi lançado no Brasil.

Provavelmente eu fui uma das primeiras pessoas a comprar o disco no Brasil já que o adquiri quando ele literalmente chegou nas prateleiras. Naquele momento só conhecia mesmo "Press" que já vinha tocando regularmente nas rádios brasileiras com extrema habitualidade. Era um novo sucesso de Paul, não restava dúvidas. A direção de arte da capa de "Press To Play" era de extremo bom gosto, uma foto tirada com o mesmo equipamento usado na era de ouro de Hollywood na década de 30. Por isso a capa possui todo esse charme retrô e vintage que lhe caía muito bem. O álbum apesar de não ser duplo vinha com dupla capa, sendo que em seu interior Paul colocou dois desenhos com as respectivas fichas técnicas de forma esquematizada. Se a parte gráfica era excelente, a musical deixou a desejar. Confesso que a primeira audição do disco me causou certa decepção. De primeira mão só consegui encontrar 3 faixas fortes no disco: Stranglehood (muito bem arranjada com inspirada execução de cordas), "Only Love Remains" (uma das mais belas baladas românticas de Paul na era pós Beatles, com lindo arranjo de piano) e a própria "Press" (com uma sonorização diferente da versão que saiu nos EUA - muito superior na minha opinião). As demais músicas do disco não ficavam à altura das expectativas. Paul chegava inclusive a requentar velhos arranjos de seu passado como os que tinha utilizado em "London Town" (na parte falada do disco "spoken word"). Também não havia nenhuma parceria digna de maior nota no restante do álbum (seu trabalho ao lado de Eric Stewart não foi muito bom na minha opinião).

O fato é que Paul formou uma banda nova para o disco, chamando músicos talentosos mas o resultado final ficou abaixo do que se esperava. O disco também não correspondeu muito bem nas paradas pois das demais músicas apenas "Only Love Remains" ganhou algum destaque, sendo promovida inclusive com um bonito videoclip (o segundo e último do disco). O LP também trazia uma sonoridade que tentava se comunicar melhor com os arranjos mais em moda dos anos 80 com farto uso de sintetizadores, o que causou o efeito oposto com o tempo o deixando bem datado hoje em dia. Atualmente o disco está meio esquecido. As músicas não estão entre as mais populares de Paul e ele ignorou completamente o disco em suas apresentações ao vivo. "Press to Play" no final das contas demonstra que até mesmo os grandes nomes da música possuem seus momentos "menores". O fato é que depois da pouca repercussão do disco Paul acabou deixando de lado discos mais produzidos como esse para alcançar novos limites e tentar novas ideias para sua carreira, lançando, por exemplo, um disco "pirata" na União Soviética e gravando um belo trabalho ao lado de Elvis Costello (Flowers In The Dirty) para fechar com chave de ouro a década de 1980. Mas essa é uma outra história...

1. Stranglehold (Paul McCartney / Eric Stewart) - Alguns arranjos sempre vão soar bons, não importa o tempo passado. Veja, por exemplo, o caso da música "Stranglehold". Esse tipo de sonoridade poderia estar em qualquer disco dos pioneiros do rock americano na década de 1950. Carl Perkins, Buddy Holly, qualquer um deles poderia assinar uma canção com essa levada. Aqui Paul valoriza os instrumentos básicos das primeiras bandas de rock, dando destaque para o bom e velho violão. Um sax maroto, que sempre me pareceu ter saído dos Comets, o grupo que acompanhava Bill Halley, completa o quadro musical. Paul usa em sua letra também um velho clichê dos primeiros compositores do rock, com várias perguntas que vão se repetindo ao longo da canção. Também gosto do estilo de composição "apoteótica", onde a harmonia vai sempre num crescente, um velho estilo que sempre apresentou ótimos resultados. Em suma, esse é uma das melhores músicas desse álbum de Paul McCartney. Deveria inclusive ter virado single, com maior divulgação.

2. Good Times Coming / Feel the Sun (Paul McCartney) - A música anterior mostrava que Paul sempre soava melhor quando ia nas raízes musicais, sem muita pretensão. Um pouco disso também se ouve em "Good Times Coming / Feel the Sun", na verdade uma dobradinha que Paul trouxe direto dos tempos dos Wings. Não precisa ir muito longe para perceber bem isso. Basta entrar aquele corinho com Linda e demais vocalistas de apoio para entender bem isso. Paul ainda inseriu uma bela melodia, tocada numa guitarra melosa ao estilo David Gilmour. Gosto da parte "Good Times Coming", mas não tanto de "Feel The Sun". Falta letra nessa segunda parte. Penso que esse foi um dos motivos de Paul ter unido as duas canções em uma pequeno medley. O refrão é bom, contagiante, simpático e agradável aos ouvidos, mas nada muito além disso. O solo de guitarra novamente salva tudo do lugar comum nos últimos acordes. Eric Stewart sempre um craque com seu instrumento.

3, Talk More Talk (Paul McCartney) - Que Paul McCartney é um dos grandes gênios da história da música, disso ninguém tem dúvidas. Agora, que até mesmo os gênios dão pequenos tropeços, poucos param para pensar um pouco sobre isso. O álbum "Press To Play" trazia excelentes canções em seu repertório, porém havia alguns deslizes também. Músicas sem muita inspiração que passavam a impressão de que Paul não tinha se esforçado muito ou então as incluiu no disco apenas para preencher espaço. "Talk More Talk" era bem isso. A introdução por si só já era horrível, mesmo contando com a participação muito especial da família de Paul, com destaque para o filho James. Aquele arranjo com violinos até poderia esconder as fragilidades da canção, mas é impossível negar que é uma faixa muito vazia, sem consistência harmônica. Paul usa e abusa de um refrão supostamente pegajoso para transformar a música em sucesso FM, mas é de se perguntar: a que preço? Essas partes faladas também não funcionavam. Paul já havia usado isso em "London Town" de 1978. Se naquele disco isso não funcionava porque ele voltou à repetir o mesmo erro? Estaria tentando provar algo aos críticos? Quem sabe o que se passava em sua cabeça... o fato era que essa faixa sim era bem fraca, sem muita qualidade.

4. Footprints (Paul McCartney / Eric Stewart) - "Footprints" tem uma simplicidade cativante. Aquele tipo de música que poderia ser tocada ao lado de uma fogueira na praia, durante um luau. Paul manteve a simplicidade da composição original na gravação de estúdio. Ele também canta a música de forma bem terna, sem qualquer afetação. Outra coisa que salvou a gravação é que Paul afastou qualquer resquício daquele tipo de som bem de acordo com os anos 80, com aqueles sintetizadores incômodos. O resultado ficou bonito. Existem alguns efeitos sonoros, mas bem pontuais e dentro da proposta da canção. Gosto bastante dessa faixa. É um dos bons momentos do álbum.

5. Only Love Remains (Paul McCartney) - Bom, se há uma música que justifica a existência desse álbum de Paul McCartney essa é "Only Love Remains". Com um arranjo belíssimo, ao piano, essa é sem favor algum uma das melhores melodias escritas por Paul nos anos 80. Em um disco com tantos altos e baixos, McCartney conseguiu criar uma verdadeira obra prima (mais um em sua longa lista de belas baladas românticas). "Only Love Remains" aliás prova algumas coisas, uma delas que muitas vezes o caminho é a simplicidade. Essa não é uma canção extremamente arranjada, com arroubos orquestrais. Pelo contrário, tudo está no lugar certo e nunca atropela a melodia, essa sua grande qualidade. E letra traz sua mensagem definitiva com a frase "E o amor é tudo o que fica, apenas o amor permanece", Perfeito, sem retoques.

6. Press (Paul McCartney) - Em 1986 Paul lançou mais um álbum, intitulado "Press To Play". As reações não foram tão boas como em outros discos de sua carreira solo. Isso era até previsível pois Paul vinha de uma sucessão de grandes discos nos anos 80. Basta lembrar de "Tug of War" (provavelmente seu melhor trabalho após os Beatles) e até mesmo "Pipes of Peace" (que trazia nada mais, nada menos, do que Michael Jackson como artista convidado). Assim as expectativas estavam altas demais para qualquer novo lançamento de músicas inéditas assinadas por Paul. A música de trabalho desse novo disco foi "Press". A canção ganhou um cilp (como era de praxe na época) e foi bastante divulgada nas rádios. Acabou virando um hit, porém curiosamente não ficou tão marcada na carreira de McCartney como tantos outros clássicos. Ele nunca a tocou ao vivo e nem a trouxe de volta aos seus shows. De certa maneira é aquele tipo de faixa que ficou parada mesmo lá nos anos 80. Isso porém não significa que seja uma música ruim ou fraca. Longe disso. "Press" tem um ótimo arranjo, com destaque para a participação do músico brasileiro Carlos Alomar, em um brilhante solo de guitarra. A gravação é de alto nível, beirando o perfeccionismo, como é comum nos trabalhos de Paul McCartney.

7. Pretty Little Head (Paul McCartney / Eric Stewart) - Uma das músicas mais trabalhadas por Paul nas rádios da Europa foi "Pretty Little Head" que inclusive chegou a ser lançada como single na Inglaterra. Essa música era nitidamente uma tentativa de Paul em soar moderninho, tentando capturar a sonoridade da música techno britânica dos anos 80. Nunca gostei da música em si. Paul McCartney foi um Beatle, fez parte de uma das bandas mais importantes da história do rock de todos os tempos. O que ele precisava ainda provar? Que era modernoso? Bobagem. McCartney simplesmente não precisava desse tipo de coisa. Simples assim. E no final das contas o que era moderno acabou ficando bem datado. Esses sintetizadores já aborreciam na época de lançamento do disco, imaginem hoje em dia! Esse tipo de gravação soa hoje em dia mais envelhecida do que qualquer outra coisa que Paul tenha feito na década anterior.

8. Move Over Busker (Paul McCartney / Eric Stewart) - Para dar certo bastava voltar para o bom e velho rock ´n´ roll, onde Paul finalmente se recuperou com "Move Over Busker". Para gravar essa simpática música ao estilo anos 50, Paul chamou duas feras no estúdio onde estava gravando o álbum, trazendo Pete Townshend para a guitarra e Phil Collins na bateria. Havia se tornado uma tradição desde os tempos de "Tug of War" esse tipo de participação especial de grandes músicos nos discos de Paul. Era uma parceria que havia rendido ótimos frutos, então nada mais natural do que repetir a dose. Pete Townshend, por exemplo, estava bastante inspirado nesse dia, tirando ótimos solos de seu instrumento. Paul o incentivou a improvisar, tocar numa boa, sem amarras. O resultado ficou simplesmente perfeito. Puro rock, sem bobagens, frescuras e modernices desnecessárias.

9. Angry (Paul McCartney / Eric Stewart) - Outra canção que merece destaque é "Angry". Ao contrário de "Press" ela não foi trabalhada por Paul para ser tocada nas rádios e nem virou sucesso na época. Acabou circulando apenas entre os fãs dos Beatles e de Paul que compraram o LP. De certa maneira ela tem uma sonoridade que lembra o punk inglês dos anos 70, mas com uma pitada dos velhos sucessos do rock´n´n roll em seus primórdios, lá nos anos 50, quando os primeiros singles desse novo gênero musical chegavam nas lojas. Em um disco com pouco mais de dez faixas afirmo que há pelo menos quatro grandes momentos (o que convenhamos não deixa de ser uma boa média). Uma das faixas que foram injustamente subestimadas e caíram no esquecimento foi justamente esse rock com espírito anos 50 chamado "Angry". A gravação inclusive me lembra uma jam session por parte de Paul e seu grupo de apoio (contando, olhem só, com Pete Townshend na guitarra e Phil Collins na bateria!). É bom salientar que isso não é um defeito, mas um mérito, simplesmente porque nem sempre uma grande produção garante uma grande música. Muitas vezes a simplicidade é tudo em uma faixa como essa! Tirando os vocais típicos do Wings (que nos remete aos anos 70) tudo o mais me faz lembrar das velhas gravações dos tempos da Sun Records ou até mesmo antes disso! O ritmo é bem envolvente e a letra, sucintamente simplória, completa ainda mais o quadro nostálgico. Só resta saber como um quarentão como Paul na época ainda encontrou toda essa energia adolescente revoltosa e rebelde em plenos anos 80! Ponto para o bom e velho Sir Macca e sua eterna juventude roqueira. É assim que se faz meu caro...

10. However Absurd (Paul McCartney / Eric Stewart) - O mesmo infelizmente não pode ser dito da teatral "However Absurd". Aqui há excessos que não caem bem. Paul erra até mesmo no estilo vocal que adota. Não digo que a melodia seja ruim, suas linhas musicais repetitivas possuem seu charme, mas Paul deveria ter escolhido a simplicidade em seus arranjos, algo como voz e violão. Outra coisa que vai incomodar alguns é a escassez de maiores notas musicais, o que traz uma sensação de repetição que vai cansando o ouvinte pela repetição. Também não gosto da letra. Versos como os que reproduzo a seguir não me dizem nada: "Orelhas contorcidas, como um cachorro / Quebrando ovos em um prato / Não me zombe quando eu digo / Que isso não é uma mentira". Vamos convir, não ficou bom.

11. Write Away (Paul McCartney / Eric Stewart) - Esse projeto "Press to Play" não foi composto apenas pelas músicas que saíram no disco original, no vinil de 1986. Paul gravou outras faixas que ele arquivou e que só foram conhecidas pelos fãs anos depois na edição especial do álbum lançado em meados de 1993. Nenhuma dessas gravações é excepcionalmente boa, mas funcionam como curiosidade. "Write Away", por exemplo, não encontrou espaço nas faixas do disco. Assim Paul resolveu lançá-la discretamente como Lado B do single com "Pretty Little Head". Passou longe de ser um sucesso, nem os próprios fãs mais aguerridos de Paul se lembram dela, para falar a verdade.

12. It's Not True (Paul McCartney) - Outras duas faixas foram arquivadas. "It's Not True" tem até um belo acompanhamento vocal, mas seu arranjo ficou pesado demais, lembrando em certo sentido algumas músicas do Pink Floyd na fase David Gilmour. Depois aos poucos ela vai abraçando um jeito mais Wings de ser. Não considero grande coisa, mas Paul a cantando baixinho tem seus atrativos. Provavelmente Paul não a considerou uma grande composição por isso a colocou na gaveta. "Tough On A Tightrope" parece uma baladinha, uma música de ciranda, para falar a verdade. Paul poderia até mesmo tê-la aproveitada em algum álbum conceitual, quem sabe. É simples e em certos aspectos até mesmo meio bobinha. Não admira que Paul a tenha deixado de lado.

Paul McCartney - Press To Play (1986) - Paul McCartney (baixo, violão, guitarra, vocais) / Eric Stewart (violão, guitarra) / Phil Collins (bateria, percussão) / Pete Townshend (guitarra) / Carlos Alomar (violão, guitarra) / Linda McCartney (teclados, vocais) / Lenny Pickett (saxofone tenor) / Gavin Wright (violino) / Produzido e arranjado por Paul McCartney, Padgham Hugh e Phil Ramone / Selo: Parlophone / EMI / Data de gravação: Março a Dezembro de 1985 / Data de Lançamento: 22 de agosto de 1986 / Melhor posição alcançada na parada  Billboard 200: #30.

Pablo Aluísio.