sábado, 26 de junho de 2010

Elvis Presley - Biografia - 1968

Janeiro de 1968 - A RCA lança o disco Elvis Golden Records vol.4. Seguindo o esquema dos LPs da mesma coleção esse reunia os singles de maior sucesso da carreira de Elvis. Como eram apenas reprises de singles o disco chegou apenas ao 33º lugar entre os mais vendidos. Entre as faixas: Love Letters, What'd I Say, Whitcraft, Devil in the disguise, entre outras.

Janeiro de 1968 - Novo single de Elvis chega às lojas: "Guitar Man / Hi-Heel Sneakers". Mais um ótimo single retirado das sessões de setembro de 1967. Essas canções representavam para Elvis na época um salto de qualidade gigantesco em sua carreira musical. São músicas que demonstravam que Elvis ainda era o Rei do Rock, mesmo depois de tantos filmes e trilhas sonoras de baixa qualidade. Guitar Man seria utilizada posteriormente no NBC TV Special, o programa de TV que iria salvar a carreira de Elvis de uma vez por todas. E Hi-Heel Sneakers é um ótimo momento de Elvis cantando um Blues visceral. Sem as amarras típicas impostas pelos estúdios de cinema Elvis demonstrava com esse material que ainda tinha muita lenha para queimar em sua carreira. Ele não estava acabado, apenas deveria redirecionar os rumos de sua carreira. Esse single é um tiro certeiro nesse caminho.

Fevereiro de 1968 - Nasce no dia 1º Lisa Marie Presley, única filha de Elvis.

Fevereiro de 1968 - A RCA lança "US Male / Stay Away". No lado A mais uma música campeã, dessa vez gravada em janeiro de 68 juntamente com Too Much Monkey Bussines. Outro exemplo de ótimo momento de Elvis em estúdio. No Lado B, Stay Away, canção lançada para promover o péssimo filme Stay Away, Joe (Joe é muito vivo). Sem dúvida um single que retrata o novo e o velho Elvis, um esbanjando estilo em um country moderno da melhor estirpe e o outro preso às músicas medíocres de filmes B. Felizmente para todos os fãs o primeiro sairia vencedor dessa disputa.

Março de 1968 - Elvis lança o ótimo single Gospel "You'll Never Walk Alone / We Call On Him". Há muito tempo que Elvis não lançava 3 singles excelentes, um atrás do outro, em apenas 3 meses. Isso sinalizava uma só coisa: Elvis estava voltando aos seus dias gloriosos. Aqui uma música que traz uma das melhores interpretações da carreira do Rei do Rock. Elvis demonstra toda sua emoção em uma gravação eterna, para entrar na história da música religiosa dos Estados Unidos. Todas as duas canções foram gravadas nas maravilhosas sessões de setembro de 1967. Elvis estava aos poucos, renascendo e ressurgindo das cinzas, como um verdadeiro Fénix!

Março de 1968 - Um novo filme de Elvis chega às telas: Stay Away, Joe (Joe é muito vivo). No elenco os veteranos Burgess Meredith e Katy Jurado. Na direção Peter Tewksbury. A publicidade da produtora vende o filme com a seguinte frase: "Elvis vai para o Oeste e o Oeste se torna selvagem!". Elvis até mesmo defende o filme: "Em Stay Away, Joe represento um pele vermelha astuto e criativo. Acho que pode ser uma melhoria nas produções". A crítica porém não gosta do filme e Stay Away, Joe não consegue fazer sucesso nas bilheterias. O resultado é tão desanimador que pela primeira vez Elvis pensa em abandonar sua carreira de ator em Hollywood.

Maio de 1968 - A RCA lança "Your Time Hasn't Come Yet, Baby / Let Yourself Go". No Lado A apenas uma canção de rotina. No Lado B: Let Yourself Go (Joy Byers) - Gravada em 1967, se um remix fosse feito preferiria a versão de 68 onde os vocais de Elvis estão de matar. Sua voz estava rouca como na década de 50 só que mais grossa e madura. Parte da trilha de "Speedway" essa música alcançou apenas 72º lugar nas paradas e foi lado B, não recebendo maior atenção. Com uma letra maliciosa e ritmo que ficaria perfeito na voz de Britney Spears, essa música nas pesquisas entre os fãs é quase unânime como preferida para um remix. Muita gente já notou seu potencial, falta só o EPE e a BMG. Como vocês vêem Elvis não é só "Hound Dog" e "Tutti Frutti" e é o único cantor que conheço que quase trinta anos depois de sua morte possui pelo menos uma dezena de músicas, lançadas mas desconhecidas, com, talvez, o mesmo potencial de clássicos como os acima citados. "A Little Less Conversation" que o diga... (Victor Alves).

Junho de 1968 - Speedway (O Bacana do Volante) é lançado.
Aqui Elvis contracena com a filha de Frank Sinatra, Nancy. Na direção mais uma vez Norman Taurog. Novamente outro filme sem grandes novidades, com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. Nancy Sinatra por sua vez interpreta uma fiscal da receita federal que vai atrás do personagem de Elvis para lhe cobrar impostos sonegados. O filme se tornou um dos últimos de Elvis na MGM. O cantor apenas passeia entre as cenas, visivelmente entediado. A produção também não ajuda sendo apenas mais uma repetição de muitos filmes anteriores do "Rei do Rock". Esse é outro filme de Elvis que não se traduz em sucesso, revelando de uma vez por todas que a antiga fórmula está completamente esgotada. Nem os fãs mais ardorosos prestigiam. A trilha sonora chegou nas lojas um mês antes do lançamento do filme e se tornou um novo fracasso de vendas, com um péssimo 82º lugar entre os mais vendidos. Com isso a RCA disse basta ao lançamento de trilhas e decretou o fim das mesmas, para o alívio geral, diga-se de passagem. Speedway foi a pá de cal nesse velho esquema inventado por Tom Parker de lançar filme / trilha no mercado. Foi a última trilha sonora da carreira de Elvis e não deixou saudades. Um melancólico adeus, sem dúvida.

Junho de 1968 - Elvis viaja à Los Angeles para a gravação de um especial de TV a ser exibido pela NBC no natal. Em Burbank Elvis começa a gravação do mitológico Elvis NBC TV Special.

Setembro de 1968 - A RCA lança o single "A little Less Conversation / Almost In Love". O single se torna famoso por dois motivos: A Little Less Conversation (Mac Davis / Strange) - Uma canção obscura dentro da discografia de Elvis, fez parte do filme "Live a Little, Love a Little" (Viva um pouquinho, Ame um pouquinho, 1968) no final dos anos 60. No Brasil ela só foi lançada uma única vez, e mesmo assim em 1971 no também cavernoso disco "Almost in Love". Isso mudou radicalmente quando o DJXL resolveu fazer um remix em cima da música. Bingo! Com o apoio da Nike que a colocou em um de seus comerciais durante a Copa do Mundo 2002, a música se tornou um tremendo sucesso chegando ao primeiro lugar em inúmeros países. Foi a canção que comandou a verdadeira "Elvismania" que tomou conta do planeta em 2002. Almost In Love também se tornou bem conhecida pois foi a única música cantada por Elvis composta por um brasileiro, Luís Bonfá. E também foi a única Bossa Nova verdadeira interpretada pelo Rei do Rock. Elvis mostra aqui que seu vocal estava apto a encarar qualquer tipo de ritmo musical. Boa demonstração da versatilidade do cantor.

Setembro de 1968 - Elvis viaja ao Arizona para as filmagens de Charro, western da pequena produtora National General Corporation. O filme vai levar quase um ano para chegar às telas.

Setembro de 1968 - Morre Dewey Phillips o primeiro DJ a colocar um disco de Elvis Presley ao ar em uma rádio de Memphis. Elvis declara: "Estou muito abalado. Éramos amicíssimos. Sinto demais o passamento de Dewey. Nunca esquecerei o quanto me ajudou no começo da minha carreira."

Outubro de 1968 - É lançado para venda exclusiva nas lojas Singer o disco "Singer Presents Elvis Singing Flaming Star and Others". LP semi oficial sem importância reunindo de forma confusa várias canções de trilhas de filmes dos anos 60. Como não foi lançado em lojas de discos convencionais, não foi classificado na parada Top 200 da Billboard.

Novembro de 1968 - Novo filme de Elvis chega aos cinemas: Live A Little, Love a Little (viva um pouquinho, ame um pouquinho). O filme é criticado pelo próprio Elvis: "Meus filmes não foram lá essas coisas, mas o enredo desse último foi complicado demais. Faço o papel idiota de um fotógrafo atrás de uma linda morena, guardada por um enorme cachorro" O filme não faz qualquer sucesso e é ignorado pelo público, mas não pela crítica. O New York Times escreve: "Elvis mudou o mundo e a música há dez anos. Mas depois de tantos filmes ninguém mais pode afirmar que isso seja verdade".

Novembro de 1968 - A RCA se antecipa ao especial da NBC e lança o single "If I Can Dream / Edge of Reality". If I Can Dream (Brown) - Pôxa! às vezes eu gosto tanto de uma música de Elvis Presley que fica até difícil escrever sobre ela. É esse o caso. Sem dúvida uma das minhas preferidas disparadas. Em uma palavra: épica! Com um simples single Elvis colocou os Beatles e os Rolling Stones no bolso e detonou eles das paradas! Depois de anos sendo superado, por causa de suas trilhas ruins, Elvis mostrou quem é que mandava. Os fãs do Rei ficaram de peito lavado e eu também (se tivesse tido a oportunidade e a idade de vivenciar isso, claro!). Mas deixando essas questões puramente comerciais de lado, se "If I Can Dream" fosse apenas um compacto obscuro na carreira de Elvis eu ainda iria amar essa música, sem dúvida nenhuma. Ela foi lançada com "Edge of Reality" no natal de 1968 e foi ouro na mesma semana. Foi uma das mais políticas músicas de Elvis, que tratava e falava de forma poética de vários problemas que a sociedade americana e mundial vinham enfrentando naquela época. Para gravá-la Elvis pediu que ficasse sozinho no estúdio, que fossem apagadas todas as luzes. Ele se sentou no chão do estúdio e comovido presenteou e deixou para a eternidade um momento simplesmente insuperável! Um momento raro. Os produtores e engenheiros de som do Burbank Studios ficaram simplesmente de queixo caído! Anos depois, Bones Howe, um dos presentes, confidenciou que após gravar a música Elvis conversou baixinho com alguém no estúdio! Ainda sentado no chão ele agradeceu, emocionado, a essa "entidade" pela inspiração. Não se sabe o que ocorreu, mas dizem que naquela noite conversou com sua querida mãe, falecida dez anos antes... ela estava ao seu lado, segurando sua mão...

Dezembro de 1968 - NBC TV Special é exibido.
No final dos anos 60 a TV NBC passava por uma séria crise financeira e de audiência. Suas concorrentes ABC e CBS ganhavam cada vez mais espaço, enquanto a NBC perdia cada vez mais. Para mudar esse quadro, a direção da emissora resolveu apostar alto em uma nova grade de programação, dando destaque especial para a sua área de shows. A NBC resolveu investir pesado e entrou em contato com o coronel Tom Parker para a realização de um especial de final de ano com Elvis Presley. Seria a principal atração do fim da temporada, com ampla publicidade e ótimos contratos de marketing. Elvis precisava tanto da NBC quanto ela precisava de Elvis. O Rei do Rock vinha em um mal momento da carreira. Seus filmes já estavam desgastados, Elvis sentia-se cada vez mais frustrado com a política dos grandes estúdios de cinema de Hollywood, que lhe mandavam fazer o mesmo filme ano após ano, com as mesmas trilhas sonoras e os mesmos roteiros estúpidos. Elvis estava mais do que farto deste esquema em 1968. Quando soube da idéia do especial, se empolgou e disse ao seu empresário que fechasse o contrato, pois ele queria voltar o quando antes a se apresentar ao vivo. Ainda tinha contratos a cumprir na costa oeste, mas queria que estes fossem os últimos. Sem dúvida, para quem apostava em uma carreira de ator, aquilo tudo representava um grande retrocesso. Era uma derrota para Elvis deixar Hollywood assim. A verdade era que ele descobriu, ao longo dos anos, que nenhum estúdio iria lhe dar uma chance para desenvolver uma carreira dramática em Hollywood. Para os chefões Elvis tinha que sempre desempenhar o mesmo papel: o de Elvis Presley. Se continuasse no esquema dos estúdios cinematográficos, Elvis iria continuar a fazer uma comédia musical atrás da outra até sua carreira se apagar de vez. Ele estava decidido a pular fora e salvar o que ainda tinha restado de seu legado musical. E assim foi feito. Depois de acertar seu cachê (meio milhão de dólares por quatro dias de trabalho) Elvis finalmente se preparou para sua volta. O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa idéia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965). Seria um show acústico (o primeiro da história), com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios foram exaustivos, Elvis tomou a frente, elaborando arranjos e produção, esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso. Em 1968, aos 33 anos de idade, Elvis Presley finalmente voltou à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O cantor estava no auge de sua beleza física e o show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo, Elvis como ele só. Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: - "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano. A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.

Destaques do Especial: Trouble (Jerry Leiber / Mike Stoller) / Guitar Man (Hubbard) - Para abrir o programa Elvis apresentou esse Medley bem sacado. Em um disco pirata dos anos 80, pode-se ouvir Elvis trocando idéias sobre esses arranjos com W. Earl Brown. Elvis diz: - "Vamos balancear a orquestra com a banda, cara!", no que o produtor responde: -"Também pensei nisso, ok!". O acompanhamento ficou bem mais forte e presente, sem dúvida. A orquestra presente foi a da NBC. Isso se nota bem, pois seu som é bem peculiar dentro da discografia de Elvis, essa você só vai ouvir nesse disco. Mas, vamos às músicas: "Trouble" é a melhor música da trilha do filme "King Creole" e também a mais conhecida. Trouble é uma preciosidade composta por Leiber e Stoller em que o ritmo e o conteúdo de sua letra caiu como uma luva para a estória do personagem Danny Fisher, um garoto correto que tenta sobreviver numa New Orleans infestada de Gangsters. Esta versão que foi utilizada no memorável "Comeback Special" de 1968 é muito boa. Porém sem sombra de dúvida "Trouble" vai ficar imortalizada mesmo na versão original gravada por Elvis no dia 15 de Janeiro de 1958 para o filme "King Creole". "Se você procura por encrenca, veio ao lugar certo!" Já "Guitar Man" é a típica música de Elvis pós 67: muito mais arranjada do que o normal trazendo a excelência instrumental do compositor Hubbard. Ela foi lançada em um single em janeiro de 1968 com "Hi-Heel Sneakers" no lado B. Baby, What You Want Me to Do - Clássico de Little Richard e Jimmy Reed. Elvis pára a música no meio para brincar um pouco, falando com os músicos e com a platéia: ao simular um problema no lábio Elvis vira a boca e diz: "Espere caras, estou com um problema nos lábios", dá seu sorriso ímpar e diz: "Pois fique sabendo que fiz 29 filmes desse jeito". Todos riem. Depois relembra seus shows na Flórida onde não podia mexer nada, apenas seu dedo mindinho. Lembra que os shows eram filmados pela polícia para impedir que ele fizesse "imoralidades" nos palcos. Elvis se diverte com o fato. Mostra o lado divertido do Rei do Rock. Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - Canção do disco "How Great Thou Art", por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas. Up Above My Head (Brown) - Esse medley continua com essa música inédita. São ao todo sete minutos e meio de gospel. Faz sentido. Até porque era época de natal e também porque Elvis não ia dispensar essa chance de colocar esse ritmo, o seu preferido, no seu especial de retorno. Esse é um gospel tocado principalmente em igrejas de negros no sul dos Estados Unidos. Elvis sempre teve uma posição altamente positiva em relação à questão racial. Colocava artistas negros para lhe acompanhar em seus shows (como as Sweet Inspirations) e sempre que podia incentivava e elogiava a cultura negra de seu país. Para um sulista isso significava uma atitude altamente louvável, pois estes Estados sulistas dos EUA sempre foram os mais racistas. Saved (Leiber / Stoller) - Até hoje me pergunto: como uma dupla de judeus iria escrever uma música gospel como essa? Só mesmo Leiber e Stoller para aprontar uma dessas. Devem ter deixado seu rabino com os cabelos em pé, sem dúvida. Viva o ecumenismo! Medley: Nothingville (Strange / Davis) / Big Boss Man (Smith / Dixon) / Guitar Man (Hubbard) / Little Egipt (Leiber e Stoller) / Trouble (Leiber e Stoller) / Guitar Man (Hubbard) - O último medley do especial, juntando músicas novas e inéditas como Nothingville (nunca mais foi usada por Elvis) com trilhas sonoras (Little Egipt de "Carrossel de Emoções"), além das já citadas "Guitar Man" e "Trouble". Funciona? Em termos, acho que "Big Boss Man" merecia uma faixa solo e não cortada como saiu. Tremenda geléia geral que às vezes dá indigestão! Esse medley foi utilizado no especial como pano de fundo de várias cenas de estúdio, com Elvis, dançarinos e um fiapinho de roteiro. Totalmente dispensável. Não deveriam ter cortado vários trechos de Elvis ao vivo para colocar isso. Felizmente anos depois, as cenas inéditas apareceram e tudo foi corrigido.

Dezembro de 1968 - A RCA lança a trilha do NBC TV Special. É o primeiro álbum de Elvis Presley a alcançar o Top 10 desde 1965. O disco vende muito bem e Elvis se reconcilia com o sucesso finalmente. A imprensa americana em peso elogia a perfomance de Elvis no Especial. Muitos analistas acabam denominando o show de "Comeback Special", ou seja, o especial da volta de Elvis. Ao longo dos anos o apelido pegará e o NBC TV Special acabará ficando conhecido por esse nome. Muitos jornais e revistas colocam Elvis e seu retorno em destaque. A revista Eye escreve: "É um milagre ver um homem perdido reencontrar o caminho. Elvis cantou com o ímpeto que as pessoas esperam de um verdadeiro astro de Rock'n'Roll. Movimentou seu corpo com um empenho tão natural que deve ter deixado Jim Morrison verde de inveja. Não importa que a maioria das músicas tenha mais de dez anos, pois Elvis as interpretou como se tivessem sido escritas ontem!". A Record World celebrou a volta de Elvis: "Não foi o velho Elvis, comercializado na nostalgia de seus velhos rocks e na ridícula censura de Ed Sullivan, mas sim uma apresentação atual, viril, cheia de humor, vibrante e com a agitação de nossos dias". O New York Times, sempre cético em relação aos filmes de Elvis disse: "Parece que Elvis finalmente vai seguir o caminho da luz da boa música e do bom gosto, luz essa que passa bem longe de seus filmes em Hollywood". A Variety estampou com destaque: "Elvis enfim ressuscita!".

Dezembro de 1968 - A revista inglesa New Musical Express, mais influente publicação de música do Reino Unido, coloca Elvis na capa e o elege o "Cantor número um do ano". A Billboard faz uma votação entre seus leitores e o NBC TV Special vence como melhor apresentação musical do ano na TV americana.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Elvis Presley - Biografia - 1967

Janeiro de 1967 - Chega às lojas o novo single de Elvis, o primeiro de 1967: Indescribable Blue (Darren Glenn) - Essa música foi lançada em janeiro de 1967, como lado A de um single considerado de transição dentro da carreira de Elvis. Só o fato do single não ser de nenhuma trilha sonora dos filmes de Elvis já era um alívio para os fãs. A qualidade também era muito superior, mostrando uma clara evolução técnica e qualitativa dentro dos estúdios. Com arranjo primoroso, vocais e banda em ótimo momento, "Indescribable Blue" representava para os fãs naquele momento um breve, pequeno, mas importante sinal de mudanças na carreira de Elvis. Infelizmente as vendas foram baixas e o single sequer entrou no top 30, mas o mais importante era a clara intenção demonstrada por Elvis em gravar material com melhor qualidade musical. Fools Fall in Love - (Leiber / Stoller) - Para o lado B de "Indescribable Blue" foi escolhido essa canção de Elvis, que fica bem na média do que ele andava produzindo na época. Só o fato de ser de Leiber e Stoller já desperta atenção. O ritmo é agradável, o arranjo de metais é bem escrito e Elvis mostra animação nos vocais. Rotineira, mas empolgante, o que a salva de maiores críticas. Breve reencontro entre Elvis e a dupla Leiber e Stoller que merece ser redescoberto.

Janeiro de 1967 - Elvis adquire um novo hobby: cavalgar. Logo compra cavalos para toda a máfia de Memphis, Priscilla e seu pai. Mas não fica por aí e resolve adquirir um rancho nos arredores de Memphis. Por 300 mil dólares Elvis adquire a propriedade do Rancho Círculo G. Com a gastança desenfreada Vernon liga para o Coronel e lhe pede que arranje logo um novo trabalho para Elvis, pois caso contrário, ele iria gastar o último centavo no rancho e nos cavalos. Parker acaba assinando com a United Artists a produção de um novo filme: Clambake (O barco do amor). Elvis lê o roteiro e detesta: outro filme de praias e biquinis com todas aquelas músicas ruins. Sem alternativa porém acaba indo a Hollywood filmar mais esse abacaxi para equilibrar suas contas e a sua vida financeira. A frustração é tamanha que Elvis engorda de forma descontrolada, chegando aos 100 Kg pela primeira vez em sua vida. O estúdio lhe ordena que emagreça rápido. Para perder peso então Elvis se auto medica e começa a usar anfetaminas. Em pouco tempo estará totalmente dependente desses medicamentos.

Fevereiro de 1967 - Elvis lança o disco Gospel How Great Thou Art.
Um aspecto muito importante e pouco conhecido da carreira de Elvis Presley era o seu profundo amor à música Gospel. Nascido e criado numa pequena cidade do sul dos Estados Unidos (Tupelo), Elvis teve deste o começo de sua vida uma aproximação muito grande com a canção religiosa. Foi ouvindo estes hinos sacros que o jovem Presley aprendeu a cantar e expressar seus sentimentos através da música. Todos os domingos Elvis, sua mãe Gladys e seu pai Vernon iam aos cultos protestantes da Igreja Primeira Assembléia de Deus. Lá o pequeno garoto do Mississipi ficava deslumbrado com o magnetismo e a vibração dos pastores. Pode-se dizer, sem medo de errar que foi com estes pregadores que Elvis aprendeu que a música deveria ser acompanhada de uma perfomance que prendesse a atenção do público. Se mexer e sacudir ao som do senhor era a regra básica e, sem dúvida, o futuro Rei do Rock aprendeu isto perfeitamente. Estes cultos despertaram um sentimento tão forte em Elvis que, aos 9 anos, num gesto de caridade após o culto deu tudo o que possuía (um monte de gibis velhos) às crianças carentes da região. Já adulto e famoso, Elvis sempre ia aos cultos das igrejas de negros para ouvir e cantar canções religiosas. Isto era um ato muito corajoso por parte do cantor, pois o sul dos Estados Unidos vivia uma separação racial muito forte entre brancos e negros. Para Elvis isto tinha pouca importância, para ele esta divisão não existia: tudo era música, tudo era mágica. O disco foi o melhor trabalho de Elvis em muitos anos e pela primeira vez em sua carreira receberia o Grammy por esse disco.

Destaques do disco: How Great Thou Art (Stuart K. Hine) - Escrita em 1886 pelo Reverendo Carl Boberg com o nome de "O Stored Gud". Em 1907 o Reverendo Stuart K. Hine escreveu a primeira versão em língua inglesa, esta por sua vez baseada na versão alemã da canção intitulada "Wie Gross Bist Du". A primeira gravação foi de George Beverly Shea em 1955, seguida da versão dos Blackwood Brothers em 1957. Elvis recebeu o prêmio Grammy na categoria "Melhor Perfomance Inspirativa" por sua interpretação desta música em 1974 no disco "Elvis As Recorded Live On Stage in Memphis" (1974). Sem dúvida um marco na carreira de Presley. In The Garden (C.Austin Miles) - Música composta no início do século, mais exatamente em 1912. Em 1960 fez parte da trilha sonora do filme "Wild River" (rio selvagem, 1960). Entre os grandes nomes que a gravaram estão Mahalia Jackson e Jim Reeves. Somebody Bigger Than You And I (Johnny Lange / Walter Heath - Joseph Burke) - Canção Spiritual bem ao gosto de Presley. O cantor e ator Gene Autry a gravou com grande sucesso para a trilha do filme "The Old West" (o velho oeste, 1951). Mahalia Jackson também fez sua versão, sendo ela aliás, uma das cantoras preferidas de Elvis. Finalmente o grupo "The Ink Spots" fez uma versão muito bem arranjada em 1951. Em 1967, na mesma época da gravação destas canções Elvis foi eleito o "Solteiro favorito da América" para desespero de Priscilla e seus pais. Farther Along (W.B.Stone) - Escrita em 1937. Foi gravada por Red Foley e Bill Monroe, autor de "Blue Moon of Kentucky". As sessões de gravação destas canções ocorreram nos dias 25, 26, 27 e 28 de janeiro de 1967 nos estúdios B da RCA em Nashville. So High (Tradicional) - Foi gravada inicialmente por Rosetta Tharp. Em 1959 a cantora LaVern Backer a gravou com o título de "So High, So Low" e alcançou um grande sucesso. Elvis disse mais tarde em uma entrevista coletiva: "Não existe nada mais belo do que um grupo vocal em harmonia cantando Gospel". Esta canção é um exemplo do que ele se refere. Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - Música por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas. Where No One Stands Alone (Mosie Lister) - Escrito sob encomenda para o grupo "Statemen Quartet" em 1955. O cantor Don Gibson também fez uma versão. Além dos três discos Gospel de Elvis (His Hand in Mine, How Great Thou Art e He Touched Me) iriam ser lançadas diversas coletâneas Gospel ao longo de sua carreira como "He Walks Beside Me" e "You'll Never Walk Alone". A reunião definitiva dos trabalhos sacros de Elvis iria se concretizar através da caixa de CDs lançadas nos anos 90 "Amazing Grace" reunindo todas as músicas Gospel de Elvis Presley em seus 21 anos de carreira.

Fevereiro de 1967 - Elvis volta à Hollywood para as filmagens de mais um filme, dessa vez pela United Artists: Clambake (O Barco do Amor). No Elenco Bill Bixby e novamente Shelley Fabares. Tudo é feito em poucas semanas. Elvis começa a mostrar sinais de impaciência com sua carreira. Em reunião com Tom Parker expôe suas idéias. O Coronel promete estudar mudanças. É o começo do renascimento de Elvis.

Fevereiro de 1967 - O pai de Priscilla visita Elvis em Graceland e lhe cobra uma posição em relação à sua filha. Elvis se sente pressionado pelo capitão Beaulieu. O Coronel aconselha Elvis a tomar uma decisão logo. Sem muitas alternativas Elvis pede Priscilla em casamento.

Março de 1967 - Estréia outro filme de Elvis nas telas, mas dessa vez sem muita publicidade. Easy Come, Easy Go (Meu Tesouro é Você) não faz sucesso e encerra a carreira de Elvis nos estúdios Paramount. Também marca o fim da antiga parceria entre Elvis e o produtor Hal Wallis. A RCA, também farta das trilhas sonoras ruins não edita um LP e sim um EP sem divulgação nenhuma, que não consegue sequer entrar na Top 200 da Billboard. Disco e filme se tornam um novo desapontamento e dos mais embaraçosos.

Abril de 1967 - Para promover o filme Trouble Double a RCA lança o single Long Legged Girl (J.L. Mc Farland / W. Scotty) - Outro grande rock da trilha que sofre do mal de ser muito curto. Essa música agitada, com uma guitarra estridente, foi lançada como single alcançando a péssima 63ª posição nos EUA. Nunca um lado A de Elvis havia entrado nas paradas e conseguido como posição máxima, colocação tão baixa. E dessa vez a culpa não era da música, que era boa, e sim porque o público já não estava mais prestando atenção nos lançamentos de Elvis Presley por essa época! Curiosidade: Foi a música mais curta de Elvis a entrar no Hot 100, com apenas 1 minuto e vinte e sete segundos de duração. That's Someone You Never Forget (Red West / Elvis Presley) - Composição do Rei do Rock junto com seu guarda-costas Red West. Elvis conheceu Red ainda adolescente e ambos se tornaram grandes amigos. Em 1976 Elvis acabou demitindo Red que junto com seu irmão Sony escreveriam o livro "Elvis, What Happened?" (Elvis, o que aconteceu?). Este livro trazia pela primeira vez ao público aspectos da vida particular de Elvis como o abuso de drogas entre outras coisas. Triste fim para uma longa amizade. O single fracassa nas vendas atingindo um desolador 63º lugar entre os mais vendidos.

Maio de 1967 - Elvis se casa com Priscilla em Las Vegas.
O pedido: - Uma noite, pouco antes do natal de 1966, Elvis bateu de leve na minha porta e disse: "Sattnin, preciso falar com você." Tínhamos uma senha. Provocante, eu lhe disse que teria de pronunciá-la antes que eu o deixasse entrar. Ele riu e disse: "Olhos de fogo" - o apelido que eu lhe dava quando estava furioso. Elvis estava com seu sorriso infantil e as mãos nas costas. "Sente-se e feche os olhos Sattnin" - disse. Obedeci. Quando abri os olhos, deparei com Elvis ajoelhado aos meus pés, na minha frente, estendendo uma caixinha de veludo preto. "Sattnin..." - murmurou ele. Abri a caixa para descobrir o mais lindo anel de diamantes que já vira. Era de três e meio quilates, cercado de diamantes menores, destacáveis. - eu poderia usá-los separadamente. "Vamos nos casar" - anunciou Elvis - "Você vai ser minha. Eu lhe disse que saberia quando o momento chegasse. Pois o momento chegou". Ele enfiou o anel em meu dedo. Eu estava emocionada demais para falar; foi o momento mais lindo e romântico da minha vida. Nosso amor não seria mais um segredo. Eu poderia viajar abertamente como a Sra. Elvis Presley, sem o receio de inspirar alguma manchete escandalosa. E o melhor de tudo, os anos de angústia e medos de perdê-lo para uma das muitas mulheres que disputavam o meu lugar estavam terminados. Elvis estava ansioso em mostrar o anel ao pai e vovó, informando-os que estávamos oficialmente noivos. Nem mesmo tive a chance de me vestir. Levando em consideração nosso estilo de vida irregular, ficar noiva no meu quarto de vestir e mostrar o lindo anel de diamantes num roupão não parecia absolutamente estranho. Eu queria compartilhar a notícia com meus pais, mas Elvis sugeriu que esperássemos até a nossa volta para Los Angeles, poucas semanas depois. Poderíamos então anunciar pessoalmente; eles mereciam nossa consideração. Naquela noite ligamos para meus pais e os convidamos para passar um fim de semana conosco em Bel Air. Elvis estava mais nervoso do que em qualquer outra ocasião anterior no dia em que eles deveriam chegar. Olhava a todo instante pela janela, à espera do carro. Estava ansioso em lhes mostrar o anel e quase o fez no instante mesmo em que passaram pela porta, mas eu consegui manter a mão nas costas até que todos sentamos. Estendi então a mão e disse: "Só queríamos mostrar isso a vocês". "E o que isso significa?" - perguntou papai, olhando para a minha mão. "É um anel de noivado, senhor" - informou Elvis. As lágrimas afloraram aos olhos de mamãe. "Oh Deus, é lindo!" - murmurou ela. Os dois estavam extasiados. Adoramos informá-los que finalmente ocorria o que esperavam há tanto tempo e pelo que muito haviam rezado. Ressaltamos a importância de manter o noivado em segredo, pedindo que mantivessem um sigilo absoluto, mesmo para a família, já que os garotos poderiam comentar na escola e a notícia se espalharia rapidamente. Queríamos um casamento íntimo, não um evento de celebridade. Meus pais concordaram com todos os planos. Não podiam estar mais felizes e durante todo o fim de semana se mostraram radiantes de prazer. Durante os cinco anos em que vivia com Elvis raramente lhes permitira discutir o casamento. A possibilidade da família ser magoada era a preocupação maior de meus pais. Agora não tinham mais que se preocupar se haviam tomada a decisão acertada ao deixarem a filha tão jovem saísse de casa. Sei que o coronel Parker pedira a Elvis que analisasse o nosso relacionamento e decidisse o que julgava melhor. A atitude de Elvis em relação ao casamento era de que se tratava de algo definitivo. Embora ele fosse monógamo por natureza, adorava as opções. Apesar disso não estava disposto a me largar. Curiosamente , depois da conversa com o coronel Parker, Elvis não levou muito tempo para chegar à conclusão de que era o momento certo. A decisão foi sua e somente sua. O vestido: Em meio ao maior excitamento, fizemos o resto dos planos para o casamento. A primeira sugestão foi de que eu providenciasse o vestido imediatamente; se a notícia vazasse, poderíamos casar de um momento para o outro. Mas minha busca por um vestido de noiva acabou se prolongando por meses. Disfarçada por óculos escuros e um chapéu, visitei todas as butiques exclusivas de Memphis a Los Angeles; apesar do disfarce, era paranóica o bastante para pensar que todos me reconheciam. Cheguei a conversar com diversas costureiras sobre modelos, mas não confiava o bastante para dizer que seria para um vestido de noiva. Finalmente alguém indicou uma loja pouco conhecida de Los Angeles. Charlie acompanhou-me, apresentando-se como meu noivo. Foi ali que encontrei meu vestido de noiva. Não era extravagante, nada tinha de excepcional - era simples e para mim maravilhoso. Sai da cabine para mostrá-la a Charlie. Ao me ver, Charlie ficou com os olhos cheios de lágrimas e murmurou: "Você está linda, Beau. Ele vai ficar muito orgulhoso". A cerimônia - A cerimônia de casamento foi a 1º de maio de 1967. O coronel Parker cuidou de tudo. Seu plano era de que Elvis e eu seguíssemos de carro de Los Angeles para nossa casa em Palm Springs no dia anterior ao casamento, a fim de que quaisquer repórteres inquisitivos que suspeitassem do evento pensassem que a cerimônia ocorreria lá. Na verdade, planejávamos levantar antes do amanhecer no dia do casamento e voar de Palm Springs para Las Vegas, onde passaríamos pelo cartório às sete horas da manhã, a fim de pegar a licença para o casamento. De lá seguiríamos imediatamente para o Aladdin Hotel. Ali trocaríamos de roupa, faríamos uma pequena cerimônia na suíte do proprietário do hotel e depois - era o que esperávamos - deixaríamos a cidade antes que a notícia se espalhasse. O tempo era essencial. Sabíamos que a notícia se espalharia pelo mundo assim que solicitássemos a licença para o casamento. Foi justamente o que aconteceu. Poucas horas depois de obtermos a licença, o escritório de Rona Barret começou a telefonar para indagar se os rumores sobre o casamento eram verdadeiros. Elvis e eu seguimos o plano do coronel, mas enquanto corríamos de um lado para o outro, durante o dia, não pudemos deixar de pensar que nos daríamos mais tempo se tivéssemos de fazer tudo de novo. Ficamos particularmente aborrecidos pela maneira como nossos amigos e parentes acabaram sendo afastados. O coronel até disse a alguns dos rapazes que a sala era muito pequena para caber a maioria e suas esposas e não havia tempo de mudar para uma sala maior. Infelizmente já era tarde demais para mudar qualquer coisa quando Elvis descobriu. Agora, recordo às vezes a confusão daquela semana e me pergunto como foi possível que as coisas escapassem inteiramente ao nosso controle. Eu gostaria de ter tido a força para declarar na ocasião: "Vamos com calma. Este é o nosso casamento, com ou sem fãs, com ou sem imprensa. Vamos convidar quem quisermos e realizá-lo onde quisermos!". A impressão foi de que a cerimônia acabou um instante depois de começar. Fizemos as promessas. Éramos agora marido e mulher. Lembro dos flashes espocando, os parabéns de papai, as lágrimas de felicidade de mamãe. Eu daria qualquer coisa por um momento a sós com meu marido. Mas fomos imediatamente levados para uma sessão fotográfica, depois a uma entrevista coletiva e finalmente a uma recepção, com mais fotógrafos. Sra. Elvis Presley. Era diferente, soava muito melhor do que os rótulos anteriores, como "companheira constante", "namorada adolescente", "Lolita de plantão", "amante". Pela primeira vez, eu era aceita por todos os nossos conhecidos e pela maioria do público. Havia exceções, é claro - as que acalentavam alguma esperança de que um dia poderiam conquistar Elvis. Eu não podia compreender isso na ocasião. Estava apaixonada e imaginava que todas seriam felizes por nós. Senti-me orgulhosa quando li nos jornais que eu fora o segredo mais bem guardado de Hollywood; era maravilhoso ser reconhecida. Estavam encerrados os anos de dúvida e insegurança, sem saber se eu pertencia e a que lugar. A noite de núpcias - Eu estava ao mesmo tempo exausta e aliviada quando finalmente voltamos a Palm Springs, no Learjet de Frank Sinatra, o Christina. Havia mais fotógrafos e repórteres à nossa espera quando desembarcamos e outros se postavam diante de nossa casa. Fiquei surpresa ao constatar que Elvis estava se comportando muito bem, levando em consideração o nervosismo que demonstrara por aquele compromisso supremo. Contudo, ele foi simpático com a imprensa e enfrentou tranqüilo os intermináveis pedidos de poses dos fotógrafos, algo que normalmente só podia suportar por curtos períodos. Além de todo o resto, não dormíamos há quase 48 horas. À sua maneira, Elvis estava determinado a fazer com que o dia do casamento fosse especial para nós. Ele gracejou com Joe Esposito, indagando: "É assim que se faz?". Ele carregou-me no colo pelo limiar da casa, cantando "Hawaiian Wedding Song". Parou e deu-me um beijo longo e apaixonado, depois subiu a escada e levou-me para o quarto, com toda a turma rindo e aplaudindo. Ainda era dia e o sol brilhava forte pelas janelas do quarto quando Elvis colocou-me no meio da cama enorme, com extremo cuidado. Tenho a impressão de que ele realmente não sabia realmente o que fazer comigo. Afinal, Elvis me protegera e salvara por muito tempo. Estava agora compreensivelmente hesitante em consumar todas as promessas sobre a excelência daquele momento. Recordando agora não posso deixar de rir ao pensar como nós dois estávamos nervosos. Poder-se-ia até imaginar que era a primeira vez que ficávamos juntos em circunstâncias tão íntimas. Gentilmente, os lábios de Elvis se encontraram com os meus. Depois, ele fitou-me fundo nos olhos e disse, a voz suave, enquanto me puxava contra o seu corpo: "Minha esposa...amo você, Cilla..." Ele cobriu meu corpo com o seu. A intensidade da emoção que eu experimentava era eletrizante. O desejo e a intensidade que haviam se acumulado em mim ao longo dos anos explodiram num frenesi de paixão. Ele teria imaginado como seria para mim? Planejara durante todo o tempo? Jamais saberei. Mas sei com certeza que, ao passar de moça para mulher, toda a longa, romântica e ao mesmo tempo frustrante aventura que Elvis e eu partilháramos parecia ter valido a pena. Tão antiquado quanto isso possa parecer, éramos agora um só. Era algo especial. Ele fez com que fosse especial, como acontecia com qualquer coisa de que se orgulhasse. Tudo foi muito especial naquela noite. (Priscilla Presley, "Elvis e Eu")

Junho de 1967 - Double Trouble é lançado nos cinemas.
Deve ter sido frustrante, no mínimo, para Elvis gravar a trilha sonora de "Double Trouble". A maioria das músicas eram esquecíveis, e com certeza não acrescentariam nada para o cantor. Logo ele que há um mês estava em Nashville gravando o espetacular disco gospel "How Great Thou Art", além de várias outras músicas incríveis como "Tomorrow is a Long Time", "Down in the Alley" e "I´ll Remember You". Elvis se atrasou para a sessão de gravação e como resultado a MGM mudou o endereço das gravações para o seu próprio estúdio, que era simplesmente horrível. A essa altura ninguém ligava mais para a qualidade de nada e o porquê de Elvis se submeter a essa humilhação, tendo que gravar para a trilha péssimas canções como "Old Mac Donald", é um dos grandes mistérios da humanidade! Uma das poucas coisas boas dessa sessão foi que Elvis teve a chance de conhecer pessoalmente seu ídolo Jackie Wilson, que estava pelas redondezas. Uma curiosidade é que Elvis, em 1975, ajudou financeiramente Jackie quando ele sofreu um ataque cardíaco. O filme "Double Trouble" (Canções e Confusões, no Brasil) não é tão ruim e teve a vantagem de teoricamente ser ambientado na Europa, mudando o ambiente. Teoricamente, pois foi todo filmado nos EUA. Possue alguns personagens interessantes como os dois ladrões, bem engraçados, uma trama previsível, mas bem legal e uma intrigante atriz como a principal. Annete Day fez sua estréia no cinema com Elvis nesse filme e aparentemente não gostou, pois esse foi seu único. Ela tinha apenas 18 anos quando contracenou com Elvis e os dois tiveram uma boa química, mais cômica do que romântica. O clima sombrio do filme envolvendo tentativas de assasinato de Guy Lambert (nome do personagem de Elvis) parece que previa o naufrágio nas bilheterias, sendo que este filme foi um dos cinco que menos renderam na carreira de Elvis. A trilha sonora foi a primeira a nem conseguir entrar para o top 40 americano conseguindo a lastimável 47ª posição. Na Inglaterra foi um pouco melhor sendo 34º lugar.

Destaques do disco: Double Trouble (D. Pomus / M. Shuman) - Doc Pomus e Mort Shuman foram responsáveis por grande parte do melhor material gravado por Elvis de 1960 a 1963, porém, sua última contribuição (Elvis ainda viria em 69 a gravar a belíssima "You´ll Think of Me" de Mort Shuman) não é lá essas coisas e seguia a mediocridade de músicas recentemente escritas por eles como: "What Every Woman Lives For" e "Never Say Yes". Não que "Double Trouble" seja ruim, mas comparada com músicas como "Little Sister" e "Viva Las Vegas", também escritas pela dupla, mostram claramente que Pomus e Shuman não estavam exatamente inspirados. Mas Elvis e a banda estão ok. A letra é bobinha e a música muito curta. Destaque para a escandalosa introdução da orquestra, fato raro em músicas de Elvis à época. Baby Ir You Give All Of Your Love (Joy Byers) - Mais uma excelente contribuição de Joy Byers para a discografia de Elvis. Essa música super animada é uma das melhores das últimas trilhas sonoras e junto com "City by Night", a melhor do filme. Merecia um lançamento em single, talvez como lado B de "Long Legged Girl". Foi bastante subestimada pela gravadora. Could I Fall In Love (Randy Starr) - Os filmes de Elvis sempre possuíam boas baladas e esse aqui não é exceção. Pena que o arranjo dessa não seja tão bom quanto de "Am I Ready?" por exemplo, o que tirou seu potencial de single. Interessante é a cena em que Elvis a canta para Annete Day, onde o acompanhamento da música é oriundo de um pequeno single que Elvis bota para tocar. Na capa a foto de Guy Lambert! (o personagem interpretado por Elvis). City By Night (Giant / Baum / Kaye) - Definitivamente uma das melhores músicas de Elvis nas trilhas da década 60, essa canção foi o mais próximo que Elvis chegou de cantar um jazz em sua carreira. Com um trompete sinistro, a banda afiadíssima e a voz de Elvis em perfeitas condições, com um "yeah" no final que lembra "Trouble", essa verdadeira pérola não recebeu a menor atenção em sua época de lançamento. Talvez seu próprio estilo, diferente de tudo que Elvis havia gravado, tenha desagradado aos fãs mais tradicionalistas do cantor. Além disso, o disco "Double Trouble" foi um dos maiores fracassos da carreira de Elvis. Lançado em 1967, ano em que Elvis amargou o seu pior ano de apatia com o público, com a carreira praticamente arruinada por seus filmes em Hollywood. Em um cenário tão desolador, que chance de atenção essa preciosidade poderia ter tido? (Victor Alves) IT Won't Be Long - Para encerrar a parte da trilha de "Double Trouble" temos essa música, que se não chega a ser excepcional, mantém a dignidade, com um ritmo bom e bem executado. Solando em toda a canção temos a preciosa participação do guitarrista Tiny Timbrell. É bem acima da média do restante do material do filme, porém não é nada demais, apenas correta no final das contas.

Curiosidades: A jovem inglesa Annette Day foi sorteada em um concurso feito por uma revista de música britânica para ser a próxima estrela de um filme de Elvis Presley. Detalhe: ela nunca tinha sido atriz antes! / As externas do filme foram filmadas em Bruxelas e Londres e depois projetadas atrás de Elvis durante as filmagens em Hollywood, numa técnica chamada Back Projection / O filme foi rodado com o nome de "You're Killing Me" que depois foi mudado pelos produtores para "Double Trouble" / Para fazer as cenas perigosas da atriz Annette Day foi utilizado como dublê o próprio primo de Elvis, Billy Smith, que desta vez teve que usar roupas femininas e perucas. Lógico que ele virou logo alvo de brincadeiras por parte de Elvis e da Máfia de Memphis / "Double Trouble" foi o 58º filme mais assistido do ano de 1967 nos EUA / O Jornal Hollywood Reporter curiosamente elogiou o longa ao escrever que "essa era a película mais bem produzido de Elvis desde Viva Las Vegas"!

Agosto de 1967 - Novo single é lançado com reprises: There's Always Me / Judy. O público e os fãs ignoram o lançamento.

Setembro de 1967 - As coisas começam a mudar para melhor na carreira de Elvis. Pela primeira vez em muitos meses é lançado um single de inegável valor artístico: Big Boss Man / You Don't Know Me. O Lado A foi gravado no dia 10 desse mês e representa um grande salto de qualidade no material apresentado por Elvis nesse período. No Lado B outra excelente música que foi prejudicada por ter sido lançada também na péssima trilha de Clambake. O Single não fez grande sucesso (38º lugar) mas foi notado pela crítica que o encheu de elogios.

Outubro de 1967 - Estréia outro filme de Elvis, dessa vez pela United Artistis: Clambake (O barco do Amor). A produção não traz nenhuma novidade relevante sendo apenas mais um musical de rotina. O filme não faz sucesso e sua trilha sonora desaba para a 40º posição entre os mais vendidos da Billboard. De bom mesmo apenas a inclusão de três "bonus songs" na trilha: Big Boss Man, Just Call me Lonesome e Singing Tree. O filme? é melhor esquecer.

Elvis e a Era de Aquarius - Nos anos 60 durante as filmagens de mais um novo filme do Rei do Rock, o cabeleleiro do estúdio não pôde comparecer para cuidar do cabelo do Elvis. Foi então que um substituto foi enviado. Seu nome era Larry Geller, hippie, nova iorquino e judeu, uma combinação bem estranha sem dúvida, mas que era o típico espiritualista em moda naquela época. Uma pessoa versada em quase todas as religiões conhecidas, desde budismo, hinduismo, xintoismo e outras várias, que só ingeria comida natural e praticava yoga e outros tipos de vertentes das religiões orientais. Nesse ponto a religião se tornara o ponto focal de sua vida - para Elvis nada mais tinha importância, nem seus amigos, nem seus filmes e discos e muito menos sua namorada Priscilla. O Coronel Tom Parker começou a ficar preocupado de verdade. Chegou a perguntar a Joe Esposito: "Joe, o que está acontecendo com o menino? Parece distante e desinteressado!". Joe Esposito prometeu ao Coronel que iria ficar de longe, observando essa amizade de Elvis e Larry. Então na manhã em que Elvis iria começar as filmagens de seu novo filme, chamado Clambake (O Barco do Amor, no Brasil), ele acordou meio sonolento e não viu o fio da TV no chão. Ao caminhar para o banheiro Elvis tropeçou no fio e caiu de forma violenta, batendo a cabeça fortemente. Ao recobrar a consciência Elvis percebeu que se machucara pra valer na cabeça. "Mas que merda! Quem colocou esse fio aqui!?". Priscilla, assustada, chamou Joe Esposito imediatamente ao quarto. Em poucos minutos o recinto estava cheio de gente: médicos, produtores, Larry, os caras da máfia de Memphis e o Coronel. O doutor declarou que Elvis tinha uma forte concussão na cabeça e que deveria ficar em repouso nas semanas seguintes, pois seria necessário a realização de mais exames, para se certificar de que nada mais grave tivesse lhe ocorrido. O começo das filmagens estava adiado por tempo indeterminado. O Coronel ficou furioso com o acontecimento. Para ele tudo era culpa dos livros espiritualistas. Elvis estava com a cabeça nas nuvens, não se importava com mais nada e nem com ninguém. Tinha se tornado uma pessoa distante e desligada do mundo. Foi então que ele resolveu reunir Elvis, Larry e todos os caras da máfia de Memphis. Para o Coronel o momento era de colocar as coisas em ordem novamente. Tom Parker não deixou por menos: "Elvis, Larry está mexendo com a sua cabeça, eu tenho certeza que ele está tentando fazer uma lavagem cerebral em você! Eu posso garantir isso! Você deve se afastar dele e dessa literatura barata. Não deve mais perder tempo com essas coisas. Você tem uma carreira para cuidar! Deve se concentrar em atuar e cantar bem e nada mais. Você não é pago para salvar o mundo, mas sim para entreter as pessoas! Deve honrar seus compromissos e cumprir seus contratos, nada mais. Você é um artista e não um guru! Você deveria queimar todos esses livros de uma vez! E vocês - disse apontando o dedo para os caras da máfia de Memphis - devem deixar Elvis em paz, ele é um artista e não um ombro amigo para trazer problemas. Cuidar de uma pessoa já é difícil, imagine onze! Isso faz qualquer homem vergar, meu Deus! Isso acaba agora, me entenderam?! Vocês devem deixar Elvis em paz, qualquer problema de agora em diante deve ser levado ao conhecimento de Joe Esposito!" - Esse último recado foi dirigido face a face a todos os membros da máfia de Memphis e a Larry Geller em especial. Foi uma bronca daquelas, com o Coronel gritando com todos a plenos pulmões! Elvis ouviu tudo calado, com a cabeça abaixada e não contestou as incisivas palavras do Coronel e nem saiu em defesa de Larry. Em um ponto Priscilla e toda a turma da máfia de Memphis concordavam com a visão do Coronel Tom Parker: todos queriam que Elvis mandasse Larry embora de Graceland e tocasse fogo em seus livros espiritualistas. A pressão foi tamanha que numa noite Elvis, ao lado de Priscilla, resolveu fazer uma grande fogueira nos fundos de Graceland para queimar toda a sua coleção de livros. Elvis apenas ficou lá, abalado e não muito certo de sua decisão, olhando todos os seus queridos livros virarem cinzas. Chegou a murmurar: "Não se deve queimar livros!". Ele sentiu muito, mas achou que aquele era o momento certo para fazer aquilo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Biografia - 1966

Elvis Presley 1966 – Uma Leve Brisa de Mudanças. Se 1965 foi um ano da carreira de Elvis para se esquecer, pois nada de muito relevante foi produzido nele, 1966 trouxe uma leve brisa de mudanças para melhor dentro do quadro geral desanimador que se abatia sobre a carreira do cantor desde 64. Logo no começo de 66 Elvis entrou pela primeira vez em um estúdio para gravar canções que não eram de filmes. Uma boa notícia que logo foi comemorada pelos fãs na época. Em maio de 66 lá estava Elvis tentando gravar algum material de qualidade. Seis canções foram gravadas, algumas demonstrando que o talento de Elvis ainda continuava intacto e que tudo o que ele precisava mesmo naquele momento era de material com um mínimo de qualidade. "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" (a famosa canção de Bob Bylan), Love Letters (a versão original e não a regravação que deu origem a um disco de Elvis nos anos 70), "Beyond The Reef", "Come What May" e "Fools Fall in Love" mostravam que Elvis estava vivo e respirando, mesmo que com dificuldades. Essas seis canções, se tivessem sido lançadas em um disco normal, teriam amenizado e muito a crise musical e artística da carreira de Elvis. Mas infelizmente os executivos da RCA não souberam aproveitar. O single "Love Letters / Come What May", não contou com o mínimo de publicidade mas mesmo assim alcançou uma boa posição entre os mais vendidos nos EUA (19º lugar) e um ótimo sexto lugar na Inglaterra. Infelizmente os filmes e suas trilhas ruins não deixaram de ser produzidos, prejudicando o pouco retorno que essas gravações de qualidade poderiam alcançar. A crítica já nem prestava atenção mais nos discos de Elvis e única coisa que lhe restava era o prestígio do público. 

Não tardou muito para que seus fãs deixassem também de ficar ao lado desses filmes e discos de baixa qualidade. Os fãs ficavam indignados ao presenciar o artista que mudou o mundo da música no século XX cantando músicas de praia, cujas letras só falavam sobre mariscos e areia. Era demais para o estômago dos fàs mais conscientes! Para desgosto dos fãs clubs as três trilhas lançadas em 1966 (Frankie and Johnny, Paradise Hawaiian Style e Spinout) estavam no mercado relembrando a todos como a carreira de Elvis estava estagnada. Nenhuma delas fez grande sucesso e pela primeira vez Elvis não conseguia atingir o Top 10 americano. Merecidamente aliás. Spinout (minhas três noivas) foi lançado para comemorar os 10 anos de Elvis em Hollywood e os fãs, que já vinham pedindo mudanças na carreira de Elvis, deram o troco ao coronel e praticamente boicotaram o lançamento. O filme se tornou um grande fracasso comercial, o maior de todos na carreira cinematográfica de Elvis. Como as coisas não estavam correndo bem, Elvis voltou aos estúdios de Nashville em junho de 66 para tentar reviver sua carreira musical. Dessa sessão surgiram três ótimos momentos: "Indescribably Blue" (finalmente em anos uma música de Elvis recebia um tratamento decente em termos de arranjo e adaptação), "I'll Remember You" (ótima música que Elvis utilizaria mais tarde no Aloha From Hawaii) e "If Every Day Like Was Christmas" (belíssima canção natalina que fracassou injustamente como single no final do ano). Dentro dos estúdios Felton Jarvis vinha para mudar tudo. Ao contrário de muitos produtores que não traziam grandes contribuições a Elvis nas gravações, Felton aparecia com ânimo e vontade de produzir material de qualidade. Sem dúvida, tudo estava caminhando para que mudanças significativas fossem feitas nos anos seguintes e toda essa série de fatores iriam acabar culminando no NBC TV Special, o especial de TV que salvaria a carreira do Rei do Rock de uma vez por todas! Felton Jarvis era, naquele momento, apenas uma brisa de que Elvis precisava para retomar o fôlego e seguir em frente! Felizmente bons ventos logo iriam aparecer no horizonte, para o bem de Elvis e de todos os seus fàs!

"Quando encontrei Elvis pela primeira vez em um estúdio ele estava desanimado e deprimido. Então aos poucos fui me tornando amigo dele. Eu disse: 'Elvis vamos fazer diferente dessa vez. Vamos melhorar os arranjos, acrescentar instrumentos, vamos tentar fazer sempre o melhor, ok?'. O meu interesse em melhorar as gravações dele o deixaram animado novamente. Em pouco tempo ele estava de volta à ativa, discutindo qual seria o melhor take, qual era a melhor forma de gravar essa ou aquela música. Ele tinha renascido. Então eu lhe trouxe várias músicas novas, canções que ele podia gravar. Ele ficou visivelmente interessado, bem diferente do que ocorria quando ele gravava as trilhas de seus filmes. Elvis tinha um talento latente e sabia o que tinha ou não qualidade. Era um martírio para ele gravar todas aquelas músicas ruins dos filmes. Mas agora ele havia se empolgado novamente e isso era o que importava para mim naquele momento. A ordem dentro dos estúdios eram claras: vamos mudar para melhor!" (Felton Jarvis, revista Billboard).

Fevereiro de 1966 - Elvis começa as filmagens de Spinout (Minhas três noivas), filme feito para comemorar seu 10º aniversário em Hollywood.

Fevereiro de 1966 - Dois singles, "Joshua Fit The Battle / Known Only To Him" e "Milky White Way / Swing Down Sweet Chariot", foram lançados conjuntamente em fevereiro de 1966. Como eram apenas reprises do disco gospel His Hand in Mine foram ignorados pelo público. Os dois singles não obtiveram sequer classificação na parada TOP 200 da Billboard. Sem dúvida uma mera tentativa da RCA em ganhar uns trocados a mais com o público gospel de Elvis, só que desta vez não colou.

Março de 1966 - O single "Frankie and Johnny / Please Don't Stop Loving Me" é lançado para promover o disco da trilha sonora do filme "Frankie And Johnny". Chegou a ser premiado com um disco de ouro, apesar de não Ter alcançado uma posição satisfatória nas paradas, apenas um mero 25º lugar nos Estados Unidos e 21º na Inglaterra. A trilha se saiu melhor, porém também não conseguiu entrar no Top 10. Esse filme traz uma seleção de canções com arranjos que lembram a clássica trilha de King Creole, mas fica muito longe do resultado de sua inspiradora predecessora. Apesar de tudo consegue ser um dos bons discos de Elvis em 1966, o que também não quer dizer grande coisa. Tanto o single como a trilha sonora foram rapidamente esquecidas pelo público.

Março de 1966 - Elvis lança o filme "Frankie And Johnny" (Entre a ruiva e a morena, no Brasil)
O primeiro disco de Elvis a ser lançado em março de 1966. O material não é de todo destituído de valor. Há raras exceções que conseguem manter o interesse. As duas primeiras faixas, "Frankie and Johnny" e "Come Along" conseguem mostrar Elvis em boa vocalização e a banda se mostra entrosada de uma maneira geral. O taipe de metais é bem produzido e não decepciona. Mas aí vem o desastre. "Petunia, The Gardeners Daughter" certamente é uma das piores músicas da discografia de Elvis. Idem para as seguintes, "Chesay", "What Every Woman Lives For" (com péssima letra) e "Look Out Broadway". As coisas melhoram um pouco com a boa canção "Begginers Luck", mas voltam a piorar com "Shout It Out". Mas como esse disco é uma verdadeira montanha russa as coisas melhoram bem com "Hard Luck". "Please Dont Stop Loving Me" é uma boa balada, mas não consegue salvar o navio, e esse, assim como o disco, afundam de forma melancólica. O resultado comercial do disco assustou pois alcançou apenas a 20º posição na lista dos mais vendidos. A mistura de New Orleans e música do começo do século seguramente não funcionou. O filme também se deu mal nas bilheterias, sendo o filme apenas o 48º mais assistido de 1966.

Junho de 1966 - A RCA Victor lança o single "Love Letters / Come What May", considerado o melhor single de Elvis no ano, contando com as ótimas músicas gravadas em maio de 1966. Seis canções convencionais e inéditas foram gravadas nessa ocasião, algumas demonstrando que o talento de Elvis ainda continuava intacto e que tudo o que ele precisava mesmo naquele momento era de material com um mínimo de qualidade. "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" (a famosa canção de Bob Bylan), Love Letters (a versão original e não a regravação que deu origem a um disco de Elvis nos anos 70), "Beyond The Reef", "Come What May" e "Fools Fall in Love" mostravam que Elvis estava vivo e respirando, mesmo que com dificuldades. Essas seis canções, se tivessem sido lançadas em um disco normal, teriam amenizado e muito a crise musical e artística da carreira de Elvis. Mas infelizmente os executivos da RCA não souberam aproveitar. O single "Love Letters / Come What May", não contou com o mínimo de publicidade mas mesmo assim alcançou uma razoável posição entre os mais vendidos nos EUA (19º lugar) e um ótimo sexto lugar na Inglaterra.

Julho de 1966 - Elvis começa novo filme nos Estúdios em Culver City pela MGM. Double Trouble (Canções e confusões).

Agosto de 1966 - O filme "Paradise, Hawaiian Style" (No Paraíso do Havaí, no Brasil) é lançado nos cinemas americanos. O que escrever sobre Paradise, Hawaiian Style? Esse é um material tão inconsistente e falso que fica até difícil começar a apontar seus defeitos. Em primeiro lugar é um projeto que tenta imitar descaradamente Blue Hawaii, aliás com a metade dos dólares gastos no filme anterior (ordens do Coronel). Depois Elvis é jogado numa das piores trilhas sonoras de sua carreira (se não for a pior!). A faixa título é muito ruim, com péssima letra (com um verso pra lá de estúpido: "Puxa! Como é bom estar no 50º Estado!") E a partir daí é uma ladeira abaixo, com canções de mal gosto (Scratch My Back), infantis e maçantes (Datin) constrangedoras (A Dogs Life) e mal produzidas (Stop Where You Are). Nem This Is My Heaven consegue manter a dignidade. A única e honrosa exceção no meio desse pântano de músicas ruins e baratas é mesmo, como já foi dito, a bela canção Sand Castles. E por incrível que pareça ela foi a única cortada do filme! Como pôde acontecer uma coisa dessas? Realmente Paradise, Hawaiian Style é impressionante, pois até nisso eles se equivocaram. Não há muito o que comentar nesse momento opaco, depois dessa é melhor esquecer que nosso querido ídolo se envolveu em tamanho abacaxi, literalmente!.

Olho Clínico: Sobre Paradise, Hawaiian Style... Bom, o Pablo já escreveu sobre as melhores coisas que Elvis fez em 66. Texto maravilhoso que só mostra como ele é realmente um mestre em Elvis. Como sou vira lata vou falar sobre os restos. E assim chegamos a Paradise, Hawaiian Style, algo como "Paraíso ao estilo havaiano". O filme é um primor trash. Aliás de trash eu entendo pois meu DVD de cabeceira é o trash supremo "A noiva de Chucky", e nem adianta rir, Chucky é um ícone que faz Shakespeare parecer um amador!! Mas enfim... Voltemos a Elvis e os mariscos. Como disse Pablo, aqui está Elvis Presley, um dos maiores ícones do século XX, um cara que mudou o mundo, cantando "Queenie, Wahines Papaya", puxa vida!!! Socorro!!! E para completar ainda colocaram ele para contracenar com a garotinha pentelho Donna Butterworth (que diabos de nome é esse??!! Tente falar esse nome em voz alta para você ver como é complicado!!! Buterrwwoowoeeioeowrowqi – putz, deixa pra lá!) Existe uma regra entre os atores em Hollywood que diz: "Nunca contracene com animais e crianças, pois elas irão roubar seu filme". Sem dúvida uma verdade absoluta! Então o que o coronel barriga faz? Ora, coloca Elvis para contracenar com a senhorita Buterrmeoasdirnereri (chega de tentar escrever esse maldito nome) e um monte de cachorros em uma cena no qual ele canta a imortal "A Dog's Life"! (Não disse que sou expert em trashs!!) . Coitado do Elvis. Essa cena só serve para os fãs hardcores do rei conhecer alguns cachorros que eram de Elvis na época e nada mais!!! E o que o rock tem a ver com isso afinal??? Elvis está em controle remoto durante todo o filme com uma pancinha considerável. O figurino é hilário, Elvis está quase explodindo de rir da maioria das cenas e tudo é muito trash mesmo (como eu gosto afinal), e o restos da músicas são desconcertantes mesmo. A que dá nome ao filme tem um verso estúpido que diz "É bom estar no 50º Estado", afinal quem escreveu uma droga dessas!!! Obviamente compositores com danos cerebrais!!! Mas no meio dos tambores e mariscos vou salvar duas músicas que adoro, sério, adoro mesmo: Datin e Sand Castles! Puxa, tem gracinha maior que "Datin"?? Duvido. A letra é muito bonitinha, a cena lindinha e o acompanhamento fofinho. Pode me chamar de bobinho, mas dessa canção eu gosto e ponto final. Para quem gosta de ouvir Elvis rindo procure os takes alternativos dessa sessão, pois ao gravar Datin Elvis morreu de rir em algumas versões, não sei se ele estava rindo da música, dele mesmo ou dos fãs que iriam comprar o disco depois! Mas deixa pra lá... Já Sand Castles é bonita demais, me leva direto para à beira da praia no Hawaii, deitado numa rede, um pouco de água de coco, uma garota bonita de lado, poxa, me sentindo o próprio Elvis (sem a pancinha do filme, por favor!). Puxa, até parece que estou no 50º Estado...Putz esse negócio pega mesmo... (Erick Steve)

Setembro de 1966 - O Single "Spinout / All That I Am" é lançado para promover o filme Spinout (minhas três noivas, no Brasil). Como esse fracassou nas bilheterias e enterrou qualquer pretensão em se divulgar mais a trilha sonora, que tinha uma qualidade musical acima da média em comparação às outras lançadas nesse ano, o single acabou sendo seriamente prejudicado, não recebendo a atenção devida nos EUA. Ao contrário do filme que é destituído de valor artístico, a parte musical de Spinout traz pela primeira vez em muitos anos de trilhas sonoras fracas, uma seleção bastante interessante de momentos e até mesmo algumas músicas excelentes da carreira de Elvis como "Down in the Alley", "I'll Remember You" e "Tomorrow is a long Time" de Bob Dylan (Todas como Bonus Songs da trilha). Isso se deveu a um fator que ocorreu nos bastidores da RCA Victor em 1966. Por motivos de saúde o produtor de Elvis, Chet Atkins, teve que se afastar dos estúdios. Isso abriu caminho para que os trabalhos musicais de Elvis fossem providenciados por um novo produtor: Felton Jarvis. Ao contrário de Atkins, que apesar de ser um produtor e músico talentoso estava muito acomodado, Jarvis chegava com muita vontade de mostrar serviço. Resolveu embelezar as músicas de Elvis com novos arranjos e lhes dar maior qualidade harmônica, mesmo que essas fossem apenas canções descartáveis de filmes. Enfim, finalmente havia um sopro de ar fresco pairando dentro dos estúdios da RCA Victor. All That I Am - (S. Tepper / R.C. Bennett) - A prova viva de que Felton Jarvis vinha para ficar! Nesse caso o produtor pegou uma música despretensiosa que fazia parte da trilha e resolveu escrever um belíssimo arranjo de cordas em violino! A nova versão ficou tão bela que, com a concordância de Elvis, Jarvis resolveu lançá-la em single antes do filme. O resultado foi tão satisfatório que a música chegou ao Top 20 na Inglaterra, se tornando também bem conhecida no resto da Europa. Nesse compacto europeu ela foi lançada como lado A, ao contrário do single americano original que vinha com "Spinout" no lado principal e com "All That I am" no lado B. O disco com a trilha sonora se saiu melhor que o filme e conseguiu também ser Top 20 nos EUA (18º lugar entre os mais vendidos). Um excelente sinal de mudanças positivas nas combalidas trilhas sonoras de Elvis nesse período.

Outubro de 1966 - A trilha sonora do filme "Spinout" é lançada. Esse disco consegue (graças em parte às suas bonus songs) manter o interesse. Nada menos que três ótimas canções foram colocadas no disco por Felton Jarvis, certamente para evitar um vexame consecutivo a Elvis, depois de "Frankie And Johnny" e "Paradise, Hawaiian Style". "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" e "I'll Remember You" salvaram o disco de se tornar mais uma decepção completa. Além dessas a bela balada "All That I Am" se destaca, principalmente por se tornar um belo sucesso de Elvis na Europa na época. Foi a primeira gravação do cantor a utilizar um arranjo de violinos. Mostra sem dúvida a seriedade de Felton Jarvis como produtor de Elvis. "I'll Be Back" também é uma música que sempre é citada como um ponto alto do disco. Porém para fazer jus ao material inconsistente gravado por Elvis para as trilhas sonoras nessa época, essa também marca presença na lista das piores músicas da discografia com a inacreditável Beach Shack. Simplesmente horrível. Porém se levarmos em conta que há cinco faixas fortes no disco, podemos considerar esse disco um bom sinal de mudanças na carreira de Elvis. Antes tarde do que nunca: O disco chegou ao Top 20 e o filme chegou na lista vexatória dos 50 piores filmes de todos os tempos publicada pela revista americana Premiere. Nada é perfeito.

Novembro de 1966 - Estréia o filme "Spinout" (Minhas três noivas).
Em 1966 Elvis Presley completou dez anos de carreira em Hollywood. Os executivos da MGM então resolveram elaborar um intenso projeto de marketing para celebrar a data com muito material promocional, posters, álbuns, comerciais, folders etc. No centro das comemorações estava a realização de mais um filme de Elvis na produtora: Spinout (Minhas três noivas, no Brasil). As filmagens começaram em fevereiro de 1966 e duraram dois meses. Para contracenar com Elvis foram chamadas três beldades da época: Shelley Fabares (que já havia atuado ao lado de Elvis), Debora Walley (que chegou a ter um casinho com Elvis no set de filmagem) e Diana McBaine. Na direção o "pau-pra-toda-obra" dos estúdios Norman Taurog. Infelizmente os executivos da MGM não quiseram se arriscar e resolveram apostar na velha fórmula dos filmes anteriores de Elvis, que já estavam bastante desgastados pela crítica e até mesmo pelos fãs, que vinham exigindo atráves do fanzine "Elvis Monthly" mudanças na carreira de Elvis. Ou seja, muitos fãs estavam mais lamentando esse "aniversário" do que comemorando tal data. A falta de inovação da carreira de Elvis o levou a um impasse: ele tinha que mudar o rumo que vinha tomando há tempos ou afundaria de vez e se tornaria apenas uma "lenda viva" sem relevância artística. Os primeiros sinais já tinham aparecido no ano anterior com as más bilheterias de seus últimos filmes. O público estava cansado dos mesmos roteiros, das mesmas estórias e o pior de tudo: da má qualidade do material musical apresentado nesses filmes. E Elvis tinha consciência disso, porém preso a muitos contratos cinematográficos desde a primeira metade dos anos 60 o cantor se viu amordaçado não só aos grandes estúdios como também à sua própria gravadora que lançava todas as trilhas sonoras - e que por sua vez também estava presa à obrigações com os estúdios de cinema. Por incrível que isso possa parecer a melhor coisa a acontecer na carreira de Elvis nesse período era um grande fracasso no cinema! E o que todos de certa forma já previam finalmente aconteceu! Spinout foi lançado em novembro de 1966 e afundou nas bilheterias! Nem todo o marketing do mundo o salvou de ser um dos piores fracassos da carreira de Elvis! Até mesmo os fãs resolveram boicotar o lançamento e isso acabou sendo muito bom, pois acendeu de vez a luz vermelha nas organizações Presley - não dava mais para seguir essa velha linha "Trilha / Filme". Para se ter uma idéia do tamanho da bomba, basta afirmar que o filme não conseguiu ficar nem entre os 50 mais vistos do ano - logo Elvis que mesmo em suas bilheterias mais fracas conseguia ficar no top 10 ou até mesmo no top 20. O ano que viria apenas iria corroborar essa visão e tudo isso iria desbancar na realização do NBC TV Special de 68 que iria reviver a carreira de Elvis e o levar de uma vez por todas para longe de Hollywood, para o seu próprio bem e dos seus fãs, é claro!

Novembro de 1966 - Para comemorar as festas de fim de ano a RCA lança o single "If Every Day Like Christmas / How Would You Like To Be". A música natalina If Every Day Like Christmas é ótima e não teve o merecido reconhecimento quando foi lançada, sendo outro single de Elvis que também não foi classificado no Top 200 nos Estados Unidos. Um pena. Já os ingleses demonstraram mais sensibilidade e por lá fez um sucesso merecido, chegando ao muito bem vindo nono lugar nas paradas inglesas. Sem dúvida um ótimo resultado. Talvez o single não tenha feito sucesso nos EUA por causa de seu péssimo lado B. Os americanos pensaram certamente que se tratava de material já anteriormente lançado e ignoraram completamente todo o single. Uma perda grande mesmo, tanto para Elvis como para o público em geral que perdeu a chance de conhecer um clássico absoluto. Mas um single tem dois lados e o Lado B era dose. Convenhamos, How Would Like To Be do filme de 1963 "It Happened At World's Fair" é péssima. Depois que Elvis cantou "Wooden Heart" em "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha, no Brasil) com as marionetes, os produtores chegaram a brilhante conclusão de que todos os seus filmes seguintes teriam que Ter pelo menos uma música mais voltada para o seu público infantil. Péssima idéia. E essa foi feita exatamente para atender aos desejos deles em Hollywood. Então lá foi Elvis cantar durante mais de 3 minutos (uma eternidade para o padrão geral de duração de sua músicas) uma musiquinha muito maçante e boba, que não chega a lugar nenhum. O pior é acompanhar um irritante arranjo de percussão que dura toda a canção, ficando no mínimo chato e no máximo constrangedor. Fico imaginando Elvis no estúdio ao lado de seu grupo, que outrora revolucionou a música mundial, ensaiando tamanha bobagem. Não me admira que Elvis muitas vezes perdia a paciência durante algumas sessões desses filmes dos anos 60. E você também vai perder a paciência ao ouvir esse equívoco musical, tenha certeza. Esse é sem dúvida um dos pontos mais baixos da carreira do "Rei Do Rock".

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Elvis Presley - Biografia - 1965

Janeiro de 1965 - Elvis completa 30 anos, recluso em Graceland.

Fevereiro de 1965 - Elvis lança o single Do The Clam / You ll Be Gone, esse compacto foi lançado para promover o filme "Girl Happy" (Louco por Garotas). Do The Clam (Wayne / Weisman / Fuller) - Lançada como single, alcançou 21º lugar nos EUA e 19º lugar na Inglaterra. Para acompanhar essa música o coreógrafo David Winter, que já havia trabalhado em "Viva Las Vegas", criou uma dança chamada "The Clam". Isso se deve ao fato de na época danças como "The Twist", "The Bird", "The Mashed Potato", serem criadas a rodo e fazerem muito sucesso. A dança nunca pegou. A letra dessa música às vezes é taxada como péssima, o que não é verdade quando se percebe que o Clam (marisco) a que ela se refere é a dança e não mariscos propriamente dito. Bem animadinha e com um solo de sax bem legal, por incrível que pareça é um dos pontos altos da trilha. Já You'll Be Gone não fez parte de "Girl Happy", sendo gravada em março de 62 nas mesmas sessões que deram origem ao disco "Por Luck". É uma boa canção, escrita por Elvis, Charlie Hodge e Red West, o que causa uma certa surpresa, pois o ritmo é bem ao estilo latino, com Elvis empostando a voz em grande interpretação. Apesar de sua inegável qualidade sonora foi desperdiçada como bonus song da trilha sonora de "Girl Happy" e por isso totalmente subestimada, aliás como muitas outras músicas de Elvis que foram simplesmente jogadas em certas trilhas sem nenhum critério, ficando em pouco tempo esquecidas e perdidas dentro da bagunçada discografia do cantor nos anos 60. Uma pena.

Março de 1965 - Estréia o filme Girl Happy (louco por garotas).
O roteiro é decente, a trilha razoável. Elvis conta com uma de suas melhores e favoritas Lead Ladies: Shelley Fabares (que viria a atuar com ele em mais dois filmes). Possui diálogos e situações engraçadas e é um retrato da América do início da década de 60, ainda inocente. Além disso, Elvis está bonitão e com um figurino impecável. Possui algumas falhas tipo Elvis tocando violão em Do The Clam e dele saindo um som de guitarra elétrica ou o fato de Elvis tentar, em uma cena, pegar bronze de camisa de manga longa e sapato e calça social! Mas a gente perdoa. O roteiro é simples. Elvis é Rusty Wells, líder de uma banda que se apresenta em um hotel chique que pertence a um poderoso mafioso e vê suas férias em Fort Lauderdale frustadas quando este lhe pede para ficar mais algumas semanas. Para resolver o problema Elvis junta o útil ao agradável e descobre que o mafioso está preocupado com sua filha Val, interpretada por Shelley Fabares, que vai ficar em um hotel com suas amigas em..... Fort Lauderdale. Então Rusty se oferece para tomar conta de sua filha, sem Val saber. É claro que tomar conta de um avião como Fabares vai dar mais trabalho do que se imaginava. Biquínis, mulheres bonitas, uma trilha dançante, um trio de apoio engraçadíssimo e paisagens belíssimas fazem de Girl Happy um prazer sem culpas. Tudo o que você tem que fazer é desligar o cérebro e sentir a " Spring Fever". A trilha de Girl Happy é razoável, não possuindo nenhuma porcaria como Barefoot Ballad, mas também nenhum clássico como Return to Sender. Tem a vantagem de conter pouquíssimas baladas e ser bem para cima. Apesar disso, Elvis soa como se estivesse entediado e as sessões de gravação, feitas em junho de 64, foram no mínimo frustrantes.

Destaques do disco: Girl Happy (Pomus / Meade) - O filme abre com essa música que passa longe de ser classificada entre as melhores de Elvis, mas que possui um excelente ritmo. E por falar em ritmo, o curioso é que, não estranhe se a voz de Elvis parecer muito aguda, pois a velocidade da música foi aumentada para 8% mais rápida de seu original, fato único em sua carreira. A letra é bem interessante, podendo ser comparada com "Eu gosto é de mulher" do nosso Ultraje a Rigor. Uma das poucas músicas de Doc Pomus que Elvis gravou sem a parceria de Mort Shuman. É inevitável se deixar contagiar por sua intensa alegria. Spring Fever (Giant / Baum / Kaye) - Outro caso em que ritmo dá de dez na letra. Elvis a canta em uma cena dentro de um carro, quando está indo em direção a Fort Lauderdale. A canção é executada em dueto com seus membros de banda no filme. Animadinha, mas com uma letra boba. The Meanest Girl In Town (J. Byers) - Uma das melhores da trilha, essa música não foi feita originalmente para o filme e é de autoria do produtor da Columbia Records, Bob Johnston, que escreveu ótimos rocks para as trilhas de Elvis como C´mon Everybody, Hard Knocks, Let Yourself Go, entre outras, sob o nome de sua esposa Joy Byers. Esse rock agitado conta com um excelente solo de sax de Boots Randolph e um bom trabalho de guitarra. Adoro essa música por seu ritmo acelerado. Elvis cantando essa música em 68 com aquele vozeirão rouco iria ficar perfeito. A letra fala daquele tipo de garota que é a dor de cabeça de todo homem: bonita, esperta, que sabe jogar, mas que no fim só quer te usar. Quem não teve uma dessa? Pena que em seus shows na década seguinte Elvis não desse chance a verdadeiras pérolas como essa em seu repertório de shows. (Victor Alves)

Março de 1965: Elvis filma em apenas duas semanas Harum Scarum (Feriado no Harém). Para economizar na produção o filme utiliza os mesmos cenários usados para o clássico filme Rei dos Reis.

Abril de 1965 - É lançado o single "Crying In The Chapel / I Believe in The Man In the Sky".
O single de Elvis de maior sucesso desse ano. Isso demonstra a grave crise artística a que Elvis Presley passava. Foi preciso ressuscitar uma velha canção gospel gravada no começo da década para que um single dele chegasse novamente a atingir o Top 5 nos EUA e o primeiro lugar na Inglaterra. Enquanto esse single fazia sucesso, suas trilhas sonoras começavam a passar dificuldades para conseguirem ser classificadas no Top 10 da Billboard. Crying in The Chapel (Artie Glenn) - Escrita por Artie Glenn em 1953 com apenas 16 anos de idade. Chegou ao primeiro lugar nas paradas R&B com o obscuro grupo Sonny Till and the Orioles. Em 1953 esta música explodiu nas paradas nas vozes de Rex Allen e June Valli. A versão de Elvis foi gravada em 1960. Se tornou um single de enorme sucesso em 1965. O sucesso foi tamanho que o single com "I believe in the man in the Sky" (canção do disco "His Hand In Mine") no lado B chegou ao primeiro lugar na parada britânica. Devido a toda esta repercussão a canção foi incluída no disco How Great Thou Art um ano depois para ajudar em sua promoção. Disco de ouro tanto nos EUA quanto na Inglaterra.

Maio de 1965: Elvis começa mais um filme na MGM: Frankie and Johnny (Entre a ruiva e a morena).

Junho de 1965 - Elvis lança o single "Easy Question / It Feels So Right" - Meras reprises dos discos "Elvis is Back!" e "Pot Luck", que para surpresa de todos chegou ao improvável 11º lugar da revista Billboard. It Feels so Right (Fred Wise/Ben Weisman) - Boa canção que acompanha o alto nível artístico do disco "Elvis Is Back". Esta também foi aproveitada e lançada depois num single em 1965 como Lado B do single "Easy Question", esta do estiloso disco "Pot Luck". A discografia de Elvis nos anos sessenta apresenta estas "curiosidades históricas" que ninguém sabe ao certo como explicar! Easy Question (Otis Blackwell / Winfield Scott) - composição fruto da parceria entre o guitarrista oficial de Elvis, Scotty Moore, e o genial compositor Otis Blackwell, autor de "Don't be Cruel" e "All Shook Up". Desta união só poderia nascer uma deliciosa canção como esta. Ela foi gravada no dia 18 de março de 1962 em Nashville. Em Junho de 1965 "Easy Question" foi relançada como single junto com "It Feels so Right" no Lado B.

Junho de 1965 - "Tickle Me" (O cavaleiro romântico) é lançado nos cinemas. Esse filme de Elvis foi produzido pela pequena produtora Allied Artists, que estava à beira da falência. O Coronel determinou que o filme teria uma produção modesta e por isso não poupou economias, chegando a utilizar o próprio ônibus de Elvis em algumas cenas e dispensando a gravação de uma trilha sonora própria. Todas as músicas foram pinçadas de outros discos de Elvis e que já havia sido lançadas antes: "(It's a) Long Lonely Highway", "It Feels So Right", "(Such An) Easy Question", "Dirty Dirty Feeling", "Put the Blame on Me", "I'm Yours", "Night Rider", "I Feel That I've Known You Forever" e "Slowly But Surely". Além disso o filme foi rodado em uma semana, Elvis usou suas próprias roupas dispensando figurinos caros, os caras da máfia de Memphis fizeram a figuração e a equipe técnica se reduziu ao menor número possível de pessoas. Tudo para economizar no orçamento. Mesmo com a produção precária e a falta de recursos, Tickle Me conseguiu uma proeza inacreditável, se tornando o oitavo filme de maior bilheteria da carreira de Elvis! Ninguém entendeu nada. Como isso aconteceu? Como o mais B de todos os filmes de Elvis alcançou tamanha popularidade, deixando para trás até mesmo clássicos de Elvis como "King Creole"? Isso aconteceu principalmente pela estratégia de lançamento da Allied Artists e do Coronel Parker. Ao invés de lançar o filme no circuito comercial das grandes cidades, o Coronel resolveu apostar nas cidades do interior dos EUA e cinemas Drive In espalhados pelas pequenas cidadezinhas. Assim "Tickle-me" acabou ficando em cartaz durante muito tempo nesses locais, o que resultou numa ótima bilheteria final. Às vezes ele ficava mais de seis meses em cartaz nos cinemas de minúsculas cidades perdidas no meio do deserto, por exemplo. Ou Então era repassado inúmeras vezes em Drive Ins de beira de estrada. Nesse esquema o filme acabou ficando em cartaz durante mais de dois anos! E foi assim que a Allied escapou da falência, o Coronel recuperou seu dinheiro fácil, e Elvis ficou em exposição quase permanente em inúmeros cinemas poeira país afora. No final todos ficaram contentes e o Coronel demonstrou mais uma vez como ganhar muito dinheiro sem gastar um tostão furado!

Olho Clínico: "Elvis, Tickle Me e o Monstro do Pântano" O Coronel Parker nunca perdeu dinheiro na sua vida. O Véio farejava dinheiro a distância. Então quando os donos da quase falida Allied Artists o procuraram em 1965 para Elvis fazer um filme na produtora o Coronel enxergou verdinhas no horizonte. Como a Allied estava vulnerável o Coronel viu que podia avançar na jugular dela e aceitou a oferta, tomando o controle total da produção desse filme. O Coronel já tinha se tocado que se Elvis gravava um disco em dois dias podia muito bem fazer um filme em uma semana. Então ele ficou com a responsabilidade de produzir o filme, investiu dinheiro do próprio bolso mas também negociou um contrato atípico que traria muito dinheiro para ele e Elvis. O Coronel e Elvis abririam mão do cachê e ficariam com 70 % do total das bilheterias. Como a Allied não tinha condições financeiras mesmo de contratar Elvis, aceitaram o acordo. No fundo mal compreenderam eles no que estavam se metendo, pois não sabiam, mas tinham acabado de vender a alma ao diabo, ou melhor, ao Coronel Parker. Fazer o filme era fácil, nem precisava gravar uma trilha, essa era uma bronca safada para o Coronel. Ele tiraria de letra. O filme desde o começo foi feito visando atender a demanda de um tipo especifico de público. O público dos cafundós do Judas, do fim do mundo, das mais esquecidas cidades do interior do Estados Unidos. Lá mesmo onde o vento faz a curva e onde o Judas perdeu as botas. O Coronel era um homem rodado, ele sabia que os Red Necks tinham dinheiro para gastar, mas não tinham acesso a muitos tipos de diversão. Era esse público endinheirado, mas matuto, que o Coronel queria pegar. Ele conhecia bem esse tipo de gente, desde os tempos do circo quando ele percorreu a maioria dessas cidades fantasmas esquecidas por Deus. Parker não dava ponto sem nó e foi assim que Tickle Me foi feito. Outro público que o Coronel queria atingir era os freqüentadores de Drive Ins. Os jovens de hoje não sabem direito o que eram esses cinemas para carros. Nos anos 50 e 60 eles eram os verdadeiros motéis da moçada. Era o lugar para levar a namorada e dar uns amassos nela, assistindo às obras primas trashs do período. Os filmes que passavam nesses locais eram fitinhas de terror baratas e bastardas, feitas no tapa tentando levantar uma graninha extra. Eram filmes com monstros, tipo aquele do pântano, mas tinham também os atômicos, os vampiros banguelas, as múmias com sérias restrições orçamentárias e claro, o mitológico monster trash nipônico Godzilla, enfim o diabo de ruindade, classe Z mesmo. Como sou fã de trashs lamento não ter vivido nesse tempo. Certamente teria me divertido muito e de quebra teria tirado umas casquinhas com as minas de meias soquete. Tenho que admitir que sou meio mau caráter mesmo, fazer o quê? Tenho que aceitar minha natureza cafajeste, mas enfim, voltemos ao pântano. Ninguém ia a um Drive In para assistir um filme, o negócio era dar uns pegas nas minas menos bidus. (essa gíria da época é hilária) Então o Coronel viu que o filme tinha que Ter um caubói (para os caipirões se identificarem) e umas cenas fuleiras de terror (pois era nesses momentos que as meninas se assustavam e os caras aproveitavam para consolá-las, sacou?). Então em Tickle Me não poderia faltar esses tipos de coisas. O Coronel Barriga estava mais do que certo. Parker economizou em tudo e gastou meros 45 mil dólares para fazer o filme. Esse dinheiro hoje não dá nem para pagar um técnico de terceira para um filme de segunda. Mas Parker não queria nem saber, ele queria era ganhar dinheiro. E então Tickle Me começou sua carreira, lá mesmo, nos cafundós do Judas. O filme foi um sucesso da caipirolândia. E os Drive Ins agradeceram, até mesmo porque era mais fácil para um cara da época convencer a namorada para ir em um desses bueiros quando passava um filme de Elvis do que quando passava "Os surfistas nazistas", "O Monstro do foguete atômico" ou "Godzilla arrasa Tóquio". Sacou a lógica de Parker? Em pouco tempo o filme já tinha feito mais de 3.3 milhões de dólares nas bilheterias e grande parte desse dinheiro foi direto para o bolso de Elvis e do Coronel. Foi um dos filmes de maior sucesso de Elvis e o Coronel encheu a pança de dólares. Esse Coronel era pior do que o Monstro do Pântano mesmo!!! Ahh, antes que me esqueça, a Allied sobreviveu à falência, mas nunca mais quis conversa com Tom Parker, hehehehe! (Erick Steve)

Agosto de 1965 - A RCA lança o single "I'm Yours / Long Lonely Highway" - Mais reprises. Sendo que dessa vez Elvis até mesmo ganhou disco de ouro!. Por essa realmente ninguém esperava. Sem novidades, o single, lançado em agosto de 65, conseguiu alcançar também o 11º lugar entre os mais vendidos da revista Billboard, talvez impulsionado pela publicidade do filme "Tickle-me" (O cavaleiro Romântico) que trazia "Long Lonely Highway" em sua trilha sonora "colcha de retalhos". I'm Yours (Don Robetson / Hal Blair) - Don Robertson foi o melhor compositor romântico da carreira de Elvis nos anos 60. Aqui fica registrada uma vocalização bem ao gosto do cantor, sendo o estilo bem próximo do Gospel. Esta canção foi também relançada como single em 1965 junto com "(It's A) Long, Lonely Highway", esta última gravada em Nashville em 1963 e que chegou a ser lançada também como bonus song na trilha sonora do filme "Kissin Cousins" (com caipira não se brinca, 1964).

Agosto de 1965 - O disco "Elvis For Everyone" chega às lojas.
Nos anos 60 Elvis Presley tentou conciliar uma carreira de ator no cinema com seu lado musical. Nesta fase muitas foram as trilhas sonoras de seus filmes. Mas foi justamente neste período que foi lançado um dos mais curiosos discos de sua carreira, uma colcha de retalhos sonora inventada pelos produtores e executivos da RCA Victor. O LP foi chamado de "Elvis for Everyone". Para compor o disco a RCA Victor vasculhou seus arquivos atrás de gravações perdidas de Elvis. E sem dúvida acharam muita coisa relevante e importante, inclusive duas canções de Elvis da época da Sun Records. Pode-se inclusive afirmar que este disco foi uma salvação para muitas músicas de Elvis que poderiam muito bem se perder nos porões empoeirados de sua gravadora, mas que felizmente foram resgatadas do esquecimento bem a tempo. Parte das músicas foram retiradas das sessões que foram realizadas para a composição de um disco de Elvis que jamais foi lançado. Ao longo dos anos esse disco acabou sendo batizado de "The Lost Album", o disco perdido de Elvis. Curioso mesmo é acompanhar como todas essas faixas foram sendo espalhadas em diversos discos diferentes da carreira de Elvis em épocas diversas e sem nenhum critério de classificação. Além das faixas da Sun e do The Lost Album, "Elvis for Everyone" trazia ainda algumas músicas de filmes de Elvis que não havia sido lançadas antes, canções de filmes como "Follow That Dream", "Flaming Star" e "Wild in The Country". Por fim o disco ainda contou com a coordenação do produtor Chet Atkins que tentou de alguma forma colocar a bagunça em ordem. O disco "Elvis For Everyone" foi lançado em agosto de 1965 e chegou ao top 10 da parada americana e ao oitavo lugar entre os mais vendidos na Inglaterra. Apesar de seu bom êxito nas paradas internacionais os fãs brasileiros ficaram a ver navios na época pois o disco não foi lançado no Brasil, só chegando nas lojas em 1982 como parte do pacote "Pure Gold" da RCA, que relançou vários discos da carreira de Elvis Presley. Antes tarde do que nunca.

Destaques do disco: Finders Keepers, Losers Weepers - (Dory Jone / Ollie Jones) - Música que foi gravada nas sessões do The Lost Album. Este disco deveria ter sido lançado, pois as músicas gravadas estão entre as melhores de Elvis nos anos 60. Entre as gravações do The Lost Album estão: "Devil in Disguise", "Please Don't Drag That String Around", "Long Lonely Highway" e a própria "Memphis, Tennessee". Isso sem dúvida demonstra como foram produtivas essas sessões. Memphis, Tennessee (Chuck Berry) - Faixa retirada das sessões do "The Lost Album". Muito bem arranjada e executada por Elvis e banda. Sem dúvida essa canção não poderia passar em branco na sua carreira, não só por sua importância na história do Rock como também pelo fato de ter o nome de sua querida cidade. Elvis e Chet Atkins deram um tratamento de luxo e à altura desse clássico moderno de Chuck Berry. Aliás Elvis sempre se deu muito bem com músicas compostas por Chuck Berry. Essa não foge à regra, sendo um grande momento da carreira de Elvis e que deve ser conhecido por todos. When It Rains, It Really Pours (W.R. Emerson) - Para lançar o material desse LP, o produtor Chet Atkins revirou os arquivos empoeirados da gravadora RCA Victor em busca de material inédito de Elvis. Uma das maiores preciosidades encontradas por ele foi essa canção gravada ainda na época da Sun Records. Registrada em uma sessão obscura em agosto ou outubro de 1955, contando apenas com os Blue Moon Boys (Elvis, Scotty e Bill) e o baterista Johnny Bernero, a canção foi completamente esquecida por quase dez anos, ficando arquivada nos porões da gravadora RCA em Nova Iorque! É um Blues visceral, que mostra o total entrosamento de Elvis e banda. Aqui Elvis dá uma canja como pianista e mostra como sua voz era poderosa e adaptável a qualquer estilo musical. Sem dúvida é um precioso registro de Elvis aos 20 anos. Apesar da pouca idade o Rei do Rock já mostrava toda a potencialidade de seu poderio vocal. Essa primeira versão da Sun Records não foi considerada apta para o mercado pelos produtores da RCA. A master original havia se perdido e tudo o que sobrava era apenas um take, o de número 3. Essa primeira versão só seria lançada no mercado em 1983 no disco "Elvis, a Legendary Performer vol.04". Mas Chet Atkins não ficaria de mãos vazias, pois ele lançaria nesse disco a outra versão mais recente, gravada em fevereiro de 1957. Apesar de ter sido gravada na RCA Victor, também estava esquecida e abandonada. Outra música imperdível e essencial que fecha o disco com chave de ouro.

Agosto de 1965 - Elvis viaja pela terceira vez ao Havaí para filmar um novo filme Paradise, Hawaiian Style (No Paraíso do Havaí). A maioria das cenas serão filmadas na ilha de Oahu.

Agosto de 1965 - A sociedade entre Elvis e o Coronel Parker completa 10 anos. Elvis faz pouco caso da data e chega a comentar com amigos: "Me empresariar não dá trabalho nenhum!". Tom Parker fica sabendo e não gosta nada, nada, da declaração de Elvis.

Agosto de 1965 - Elvis se encontra com os Beatles - Na noite memorável de 27 de agosto de 1965, Elvis sentou-se no sofá da sala, como sempre fazia, cercado de seus homens: Joe Esposito, Marty Laker, Billy Smith, Jerry Schiling, Alan Fortas, Sonny West, Mike Keaton e Ray Sitton. Logo chegou o coronel Parker e Tom Diskin. Perto da 9 horas, os Beatles chegaram numa limousine preta, acompanhados por Brian Epstein, o jornalista Derek Taylor e dois guarda costas. A área estava fortemente guardada pela polícia de Los Angeles. Assim que os príncipes do rock entraram na mansão, ouviram seus discos tocando no "Jukebox". Apresentações formais foram feitas, Elvis e os Beatles conversaram sobre música e segundo Lennon chegaram a tocar juntos. O encontro foi um sucesso.

"Deixa eu contar uma coisa para vocês. Só havia uma pessoa nos Estados Unidos da América que a gente queria conhecer. E nós a encontramos ontem à noite. Não posso dizer como nos sentimos. Nós o idolatrávamos demais. Quando chegamos na cidade, esses caras como Dean Martin e Frank Sinatra e todas essas pessoas queriam nos conhecer e ficar conosco simplesmente porque tínhamos todas as mulheres, todas as gatinhas. Não queremos encontrar essa gente. Eles não gostam de nós. E nós não os admiramos e nem gostamos deles também. A única pessoa que queríamos encontrar nos Estados Unidos da América era Elvis Presley. Não consigo contar a emoção que foi ontem à noite" (John Lennon)

Elvis realmente tocou com os Beatles em 1965? Segundo John Lennon sim, mas Paul, George e Ringo afirmam que nunca tocaram com Elvis. No especial de TV "The Beatles Anthology", Paul, George e Ringo contestam a história de Lennon, e afirmam que apenas conversaram com Elvis e jogaram um pouco de bilhar. Elvis nunca comentou nada sobre seu encontro com os Beatles, mas Lennon sustentou até o final de sua vida que tocou realmente com Elvis e realizou um dos sonhos de sua vida. As demais pessoas que estavam no encontro não confirmam a jam session. Parece que realmente Elvis e os Beatles nunca tocaram juntos, infelizmente.

Outubro de 1965 - Elvis lança o single "Puppet on the String / Wooden Heart". Mais um disco de ouro para Elvis. O single foi lançado para promover o disco "Girl Happy" e fez bastante sucesso, levando mais um prêmio em vendas para a carreira de Elvis. Puppet On A String (Tepper / Bennet) - Uma das músicas lançadas em single, essa belíssima e tenra balada ocupou o 14º lugar na Billboard em 1965, fazendo sucesso na época, mas logo caindo no esquecimento. Uma pena, pois é uma das melhores músicas de Elvis no período e a cena em que Elvis a canta para Val no filme é sutil, mas sincera. Com uma melodia bonita e uma letra simples, "Puppet on a String" tem versos como: "Tudo que você tem que fazer é tocar minha mão e o seu desejo é uma ordem. Aí eu me torno uma marionete de cordas e você pode fazer o quiser comigo. Se você realmente me ama, querida seja boa comigo. Eu te ofereço o amor mais verdadeiro que você encontrará." Muito linda. Já Wooden Heart (Kaempfert / Wise / Weisman) sempre foi considerada a melhor música de todo o disco "G.I.Blues". É baseada na canção folclórica Alemã "Muss I Denn". A cena que Elvis a apresenta no filme (com as marionetes) é a melhor parte de toda a película. A canção foi lançada em compacto na Alemanha e no restante da Europa alcançando um tremendo sucesso. O Single norte-americano com "Wooden Heart" só foi lançado em 1965, ou seja, cinco anos depois de Ter sido gravada!!! É digno de nota a ótima adaptação do maestro alemão Bert Kaempfert e o acordeonista Jimmie Haskiell. Ela foi gravada no dia 27 de Abril de 1960 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood.

Outubro de 1965 - Morre de um tumor cerebral no dia 21 o baixista Bill Black. O músico fez parte da formação da primeira banda de Elvis nos anos 50, os Blue Moon Boys. Elvis pede que seu pai compareça ao funeral o representando.

Outubro de 1965 - Chega às lojas o single "Santa Claus Back in Town / Blue Christmas" Seguindo a velha tática do Coronel em vender a mesma coisa duas vezes, ele resolveu relançar duas canções natalinas do antigo "Elvis Christmas Album" e ver no que dava. Só que desta vez não entraram na do velho espertalhão. O single não teve a mínima repercussão quando lançado em novembro de 65 e não foi classificado nem sequer na Top 200 da Billboard. Santa Claus Back in Town (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Blues composto pela dupla de compositores mais importante da carreira de Elvis. Com destacado acompanhamento dos Jordanaires esta canção tem bom ritmo e desenvolvimento. Ela foi composta às pressas depois que o coronel divulgou seu projeto de colocar o rei para cantar músicas de natal. A correria não prejudicou os resultados, apesar do baixista Bill Black Ter sido criticado por errar durante as sessões. Elvis não dispensou a inclusão de uma de suas paixões na letra ao se referir a "um cadillac preto que traria papai noel de volta à cidade..." . Foi gravada em 7 de setembro de 1957. Blue Christmas (Billy Hayes / Jay Jonhson) — Outro sucesso dos anos 40 cantada por Elvis neste disco. O Rei apresentaria uma versão no Histórico "NBC TV Special" (Comeback Special) em 1968. A versão em questão está no LP da Trilha do especial de TV que trouxe o Rei de volta as apresentações ao vivo depois de uma longa ausência proporcionada pela série de filmes protagonizados por ele nos anos sessenta. Foi gravada no dia 5 de setembro de 1957 em Hollywood.

Novembro de 1965 - Estréia o filme "Harum Scarum" (Feriado no Harém).
Direção: Gene Nelson Elenco: Elvis Presley, Mary Ann Mobley, Fran Jeffries Colorido, 95 min. Sinopse: Elvis leva o Big Beat a Bagdá em uma aventura Rock'n'Roll! "Vá para o Leste, Garoto" canta o astro do showbiz e mago das artes marciais Johnny Tyronne. Seu desejo é uma ordem. Um grupo clandestino chamado "Os Assassinos" seqüestra Johnny e o leva a um remoto reino Árabe isolado do mundo há 2 mil anos. O Sheik vai descobrir que o deserto também pode ser show quando Elvis Presley aparecer em sua frente como Johnny, acompanhado da ex-Miss America Mary Ann Mobley nessa grande brincadeira armada no set que Cecil B. DeMille usou para filmar O Rei dos Reis, em 1925. Os seqüestradores querem que Johnny use seus conhecimentos em lutas para matar um rei do deserto. Johnny um matador? Só se for para matar fãs do coração. Na trilha estão Kismet, Harem Holiday e mais nove, todas parte da diversão cheia de ritmo de Férias no Harém, dirigido pelo veterano em musicais Gene Nelson.

Olho Clínico: Com Elvis mergulhado em leituras esotéricas e totalmente desinteressado em sua carreira, o Coronel assumiu totalmente o controle. Para Tom Parker tudo o que importava era o dinheiro e nada mais. Nesses períodos de torpor religioso, Elvis foi completamente manipulado pelo Coronel em seu projetos baratos, econômicos e ruins. Como entender uma figura ícone como Elvis fazendo uns filmes de nível Z como esse? Os produtores abraçaram a idéia de Parker e fizeram uma ode ao trash nos anos 60. Tudo é muito ruim nesse filme, Elvis está apático, o roteiro inexiste e as músicas são pavorosas. Um tristeza.

Dezembro de 1965 Elvis lança o single "Tell Me Why / Blue River". O último single de Elvis no ano de 1965. Apesar de trazer material inédito (mas não recente) o compacto foi negligenciado pelos executivos da RCA Victor e alcançou um melancólico 33 º lugar da Billboard, uma das mais baixas posições ocupadas por um single de Elvis até aquele momento. "Tell Me Why" já havia sido gravada há muito tempo quando foi finalmente lançada nesse single e "Blue River" faz parte das sessões do "The Lost Album". Nenhuma das duas é acima da média do que Elvis vinha produzindo na época, mas merecia melhor sorte quando chegou nas lojas em dezembro de 1965. Infelizmente foram praticamente ignoradas.

Pablo Aluísio.