sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Tickle Me (1965)

Junho de 1965, "Tickle Me" (O cavaleiro romântico) é lançado nos cinemas. Esse filme de Elvis foi produzido pela pequena produtora Allied Artists, que estava à beira da falência. O Coronel determinou que o filme teria uma produção modesta e por isso não poupou economias, chegando a utilizar o próprio ônibus de Elvis em algumas cenas e dispensando a gravação de uma trilha sonora própria. Todas as músicas foram pinçadas de outros discos de Elvis e que já havia sido lançadas antes: "(It's a) Long Lonely Highway", "It Feels So Right", "(Such An) Easy Question", "Dirty Dirty Feeling", "Put the Blame on Me", "I'm Yours", "Night Rider", "I Feel That I've Known You Forever" e "Slowly But Surely".

Além disso o filme foi rodado em uma semana, Elvis usou suas próprias roupas dispensando figurinos caros, os caras da máfia de Memphis fizeram a figuração e a equipe técnica se reduziu ao menor número possível de pessoas. Tudo para economizar no orçamento. Mesmo com a produção precária e a falta de recursos, Tickle Me conseguiu uma proeza inacreditável, se tornando o oitavo filme de maior bilheteria da carreira de Elvis! Ninguém entendeu nada. Como isso aconteceu? Como o mais B de todos os filmes de Elvis alcançou tamanha popularidade, deixando para trás até mesmo clássicos de Elvis como "King Creole"? Isso aconteceu principalmente pela estratégia de lançamento da Allied Artists e do Coronel Parker. Ao invés de lançar o filme no circuito comercial das grandes cidades, o Coronel resolveu apostar nas cidades do interior dos EUA e cinemas Drive In espalhados pelas pequenas cidadezinhas. Assim "Tickle-me" acabou ficando em cartaz durante muito tempo nesses locais, o que resultou numa ótima bilheteria final. Às vezes ele ficava mais de seis meses em cartaz nos cinemas de minúsculas cidades perdidas no meio do deserto, por exemplo. Ou Então era repassado inúmeras vezes em Drive Ins de beira de estrada. Nesse esquema o filme acabou ficando em cartaz durante mais de dois anos! E foi assim que a Allied escapou da falência, o Coronel recuperou seu dinheiro fácil, e Elvis ficou em exposição quase permanente em inúmeros cinemas poeira país afora. No final todos ficaram contentes e o Coronel demonstrou mais uma vez como ganhar muito dinheiro sem gastar um tostão furado!

I Feel That I've Know You Forever (Doc Pomus / Alan Jefreys ) - Canção do disco "Pot Luck With Elvis". Mais uma composição de Pomus, aqui sem a parceria de Schuman. É mais uma balada romântica que não decepciona, tendo um ótimo acompanhamento e desenvolvimento. Em 1965 ela foi relançada na trilha do filme "Tickle Me" (O Cavaleiro Romântico, 1965), o filme de Elvis que não contava com trilha própria, sendo a mesma uma coleção aleatória de canções de Elvis de períodos distintos de sua carreira.

Slowly But Surely (Weisman/Wayne) - Música que foi gravada em maio de 1963 em Nashville. Esta sessão de gravação foi reunida anos depois no CD "The Lost Album" que reuniu pela primeira vez estas canções que foram dispersadas ao longo da carreira de Elvis em vários discos e singles. Em 1963 esta música fez parte da trilha sonora do filme "Fun In Acapulco" (O seresteiro de Acapulco, no Brasil) como Bonus Song. Mas isso não impediu o coronel Parker de novamente utilizá-la na cara de pau em "Tickle Me". Tudo com o objetivo de economizar o máximo possível, coisas de Tom Parker...

Night Rider (Doc Pomus / Mort Schuman) - Outra que foi retirada do disco "Pot Luck With Elvis". É talvez o momento mais fraco do LP em questão, nada acrescenta na carreira de Elvis mas também não chega a aborrecer. No final das contas é apenas uma música mediana.

Put Blame On Me (Wise / Twoney / Blagman) - Canção retirada do disco "Something For Everybody" de 1961. A música é ótima, mas está fora de contexto. "Tickle Me", filme dirigido por Norman Taurog, sem sombra de dúvida é um dos piores filmes de Elvis nos anos sessenta, em que não se teve nem ao menos a preocupação de se gravar um trilha sonora. Lamentável. Todas as músicas de sua trilha já tinham sido lançadas antes. Houve sem dúvida má fé do Coronel que em sua filosofia de vender a mesma coisa duas vezes exagerou dessa vez. A canção, por sua vez, possui sem dúvida, enorme qualidade.

Dirty, Dirty Feeling (J.Leiber / M.Stoller) - Sempre que se cita Leiber e Stoller deve-se deixar claro que eles foram os mais importantes compositores da carreira de Elvis Presley. Aqui eles comparecem na trilha sonora com uma canção menor, que na realidade foi lançada inicialmente no ótimo disco "Elvis Is Back!" em 1960. Tem bom ritmo e desenvolvimento, mas não é uma das melhores de sua carreira. Fica na média.

It Feels So Right (Fred Wise / Ben Weisman) - Boa canção que acompanha o alto nível artístico do disco "Elvis Is Back!", onde foi originalmente lançada. Esta também foi ainda aproveitada e lançada depois num single em 1965 como Lado B do single "Easy Question", esta do estiloso disco "Pot Luck". A discografia de Elvis nos anos sessenta apresenta estas "curiosidades históricas" que ninguém sabe ao certo como explicar! O single foi na realidade lançado para promover o filme fake "Tickle-Me".

Easy Question (Otis Blackwell / Winfield Scott) - Composição de Otis Blackwell, autor de "Don't be Cruel" e "All Shook Up". Ela foi gravada no dia 18 de março de 1962 em Nashville. Em Junho de 1965 "Easy Question" foi relançada como single junto com "It Feels so Right" no Lado B. Outra que foi reutilizada em "Tickle Me".

I'm Yours (Don Robetson / Hal Blair) - Don Robertson foi o melhor compositor romântico da carreira de Elvis nos anos 60. Aqui fica registrada uma vocalização bem ao gosto do cantor, sendo o estilo bem próximo do Gospel. Esta canção foi também relançada como single em 1965 junto com "(It's A) Long, Lonely Highway", esta última gravada em Nashville em 1963 e que chegou a ser lançada também como bonus song na trilha sonora do filme "Kissin Cousins" (com caipira não se brinca, 1964).

(It's A) Long, Lonely Highway (Pomus / Schuman) - Como já escrito antes, essa música já havia sido utilizada (ou seria desperdiçada?) como bonus song na trilha sonora do filme "Com caipira não se brinca" (Kissin Cousins, 1964). Uma bela faixa, sem dúvida, que não poderia ter sido jogada de um lado para o outro dentro da discografia de Elvis, deveria isso sim ter sido parte do disco originalmente planejado em 1963 pela RCA e que foi arquivado (o hoje famoso "The Lost Album"). Ao invés disso essas ótimas canções foram totalmente jogadas fora, inclusive em relação a esse filme. Assistir a Tickle me nos leva ao seguinte questionamento: Por que Elvis Presley, um dos grandes talentos musicais da história, passou pelo vexame de atuar em filmes tão ruins como esse? Essa sem dúvida é uma pergunta que não quer calar...

Elvis Presley - Tickle Me (1965): Músicas do disco Elvis Is Back!: Elvis Presley (voz, violão e guitarra) / Scotty Moore (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Hank Garland (baixo elétrico) / D.J.Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / Charlie Hodge (vocais) / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Elvis Presley, Steve Sholes e Chet Atkins / Arranjado por Steve Sholes e Chet Atkins / Gravado no RCA's Studio B, Nashville / Data de Gravação: 20 e 21 de março e 3 e 4 de abril de 1960. Músicas do disco Pot Luck!: Elvis Presley (voz e violão) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Harold Bladley (guitarra) / Grady Martin (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / Neal Matthews (guitarra) / Jerry Kennedy (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J Fontana (bateria) / Buddy Harmon (bateria) / Floyd Cramer (piano e orgão) / Boots Randolph (sax) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Gravado no RCA's Studios B / Data de Gravação: 25 e 26 de junho de 1961 e 18 e 19 de março de 1962 Slowly But Surely e It's Long Lonely Highway: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Harold Bradley (guitarra) / Grady Martin (guitarra) / Jerry Kennedy (guitarra) / D.J.Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Steve Sholes e Chet Atkins / Arranjado por Steve Sholes e Chet Atkins / Gravado no RCA's Studio B, Nashville / Data de Gravação: 26 a 28 de maio de 1963 e 12 de janeiro de 1964. EP Tickle Me: Data de lançamento: junho de 1965 / Melhor posição nas charts: #70 (USA) e # - (UK).

Pablo Aluísio - Julho de 2005.

Elvis, Tickle Me e o Monstro do Pântano!

O Coronel Parker nunca perdeu dinheiro na sua vida. O velho farejava dinheiro a distância. Então quando os donos da quase falida Allied Artists o procuraram em 1965 para Elvis fazer um filme na produtora o Coronel enxergou verdinhas no horizonte. Como a Allied estava vulnerável o Coronel viu que podia avançar na jugular dela e aceitou a oferta, tomando o controle total da produção desse filme. O Coronel já tinha se tocado que se Elvis gravava um disco em dois dias podia muito bem fazer um filme em uma semana. Então ele ficou com a responsabilidade de produzir o filme, investiu dinheiro do próprio bolso mas também negociou um contrato atípico que traria muito dinheiro para ele e Elvis.

O Coronel e Elvis abririam mão do cachê e ficariam com 70 % do total das bilheterias. Como a Allied não tinha condições financeiras mesmo de contratar Elvis, aceitaram o acordo. No fundo mal compreenderam eles no que estavam se metendo, pois não sabiam, mas tinham acabado de vender a alma ao diabo, ou melhor, ao Coronel Parker. Fazer o filme era fácil, nem precisava gravar uma trilha, essa era uma bronca safada para o Coronel. Ele tiraria de letra.

O filme desde o começo foi feito visando atender a demanda de um tipo especifico de público. O público dos cafundós do Judas, do fim do mundo, das mais esquecidas cidades do interior do Estados Unidos. Lá mesmo onde o vento faz a curva e onde o Judas perdeu as botas. O Coronel era um homem rodado, ele sabia que os Red Necks tinham dinheiro para gastar, mas não tinham acesso a muitos tipos de diversão. Era esse público endinheirado, mas matuto, que o Coronel queria pegar. Ele conhecia bem esse tipo de gente, desde os tempos do circo quando ele percorreu a maioria dessas cidades fantasmas esquecidas por Deus.

Parker não dava ponto sem nó e foi assim que Tickle Me foi feito. Outro público que o Coronel queria atingir era os frequentadores de Drive Ins. Os jovens de hoje não sabem direito o que eram esses cinemas para carros. Nos anos 50 e 60 eles eram os verdadeiros motéis da moçada. Era o lugar para levar a namorada e dar uns amassos nela, assistindo às obras primas trash do período. Os filmes que passavam nesses locais eram fitinhas de terror baratas e bastardas, feitas no tapa tentando levantar uma graninha extra. Eram filmes com monstros, tipo aquele do pântano, mas tinham também os atômicos, os vampiros banguelas, as múmias com sérias restrições orçamentárias e claro, o mitológico monster trash nipônico Godzilla, enfim o diabo de ruindade, classe Z mesmo.

Como sou fã de trash lamento não ter vivido nesse tempo. Certamente teria me divertido muito e de quebra teria tirado umas casquinhas com as minas de meias soquete. Tenho que admitir que sou meio mau caráter mesmo, fazer o quê? Tenho que aceitar minha natureza cafajeste, mas enfim, voltemos ao pântano. Ninguém ia a um Drive In para assistir um filme, o negócio era dar uns pegas nas minas menos bidus. (essa gíria da época é hilária) Então o Coronel viu que o filme tinha que Ter um caubói (para os caipirões se identificarem) e umas cenas fuleiras de terror (pois era nesses momentos que as meninas se assustavam e os caras aproveitavam para consolá-las, sacou?). Então em Tickle Me não poderia faltar esses tipos de coisas. O Coronel Barriga estava mais do que certo.

Parker economizou em tudo e gastou meros 45 mil dólares para fazer o filme. Esse dinheiro hoje não dá nem para pagar um técnico de terceira para um filme de segunda. Mas Parker não queria nem saber, ele queria era ganhar dinheiro. E então Tickle Me começou sua carreira, lá mesmo, nos cafundós do Judas. O filme foi um sucesso da caipirolândia. E os Drive Ins agradeceram, até mesmo porque era mais fácil para um cara da época convencer a namorada para ir em um desses bueiros quando passava um filme de Elvis do que quando passava "Os surfistas nazistas", "O Monstro do foguete atômico" ou "Godzilla arrasa Tóquio".

Sacou a lógica de Parker? Em pouco tempo o filme já tinha feito mais de 3.3 milhões de dólares nas bilheterias e grande parte desse dinheiro foi direto para o bolso de Elvis e do Coronel. Foi um dos filmes de maior sucesso de Elvis e o Coronel encheu a pança de dólares. Esse Coronel era pior do que o Monstro do Pântano mesmo!!! Ahh, antes que me esqueça, a Allied sobreviveu à falência, mas nunca mais quis conversa com Tom Parker, hehehehe!

Pablo Aluísio e Erick Steve - Julho de 2005.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Elvis For Everyone (1965)

Nos anos 60 Elvis Presley tentou conciliar uma carreira de ator no cinema com seu lado musical. Nesta fase muitas foram as trilhas sonoras de seus filmes. Mas foi justamente neste período que foi lançado um dos mais curiosos discos de sua carreira, uma colcha de retalhos sonora inventada pelos produtores e executivos da RCA Victor. O LP foi chamado de "Elvis for Everyone". Para compor o disco a RCA Victor vasculhou seus arquivos atrás de gravações perdidas de Elvis. E sem dúvida acharam muita coisa relevante e importante, inclusive duas canções de Elvis da época da Sun Records. Pode-se inclusive afirmar que este disco foi uma salvação para muitas músicas de Elvis que poderiam muito bem se perder nos porões empoeirados de sua gravadora, mas que felizmente foram resgatadas do esquecimento bem a tempo.

Parte das músicas foram retiradas das sessões que foram realizadas para a composição de um disco de Elvis que jamais foi lançado. Ao longo dos anos esse disco acabou sendo batizado de "The Lost Album", o disco perdido de Elvis. Curioso mesmo é acompanhar como todas essas faixas foram sendo espalhadas em diversos discos diferentes da carreira de Elvis em épocas diversas e sem nenhum critério de classificação. Além das faixas da Sun e do The Lost Album, "Elvis for Everyone" trazia ainda algumas músicas de filmes de Elvis que não havia sido lançadas antes, canções de filmes como "Follow That Dream", "Flaming Star" e "Wild in The Country". Por fim o disco ainda contou com a coordenação do produtor Chet Atkins que tentou de alguma forma colocar a bagunça em ordem. O disco "Elvis For Everyone" foi lançado em agosto de 1965 e chegou ao top 10 da parada americana e ao oitavo lugar entre os mais vendidos na Inglaterra. Apesar de seu bom êxito nas paradas internacionais os fãs brasileiros ficaram a ver navios na época pois o disco não foi lançado no Brasil, só chegando nas lojas em 1982 como parte do pacote "Pure Gold" da RCA, que relançou vários discos da carreira de Elvis Presley. Antes tarde do que nunca

Your Cheatin Heart (Hank Williams) - Clássico da música country gravada por Elvis pouco antes de ir servir o exército americano na Alemanha. Curiosa homenagem de Elvis a Hank Williams, considerado um dos pais do country and western daquele país. Elvis inclusive deixou um pouco seu aspecto criativo de lado e resolveu seguir um arranjo mais conservador. Nunca havia sido lançada antes na carreira do Rei do Rock.

Finders Keepers, Losers Weepers - (Dory Jone / Ollie Jones) - Música que foi gravada nas sessões do The Lost Album. Este disco deveria ter sido lançado, pois as músicas gravadas estão entre as melhores de Elvis nos anos 60. Entre as gravações do The Lost Album estão: "Devil in Disguise", "Please Don't Drag That String Around", "Long Lonely Highway" e a própria "Memphis, Tennessee". Isso sem dúvida demonstra como foram produtivas essas sessões.

In My Way - (F. Wise / B. Weisman) - Essa canção é do filme "Wild In The Country" (coração rebelde, no Brasil). O filme foi uma tentativa de Elvis em melhorar seus papéis no cinema. Como o roteiro do filme foi por demais intimista, as músicas acabaram indo pelo mesmo caminho. Aqui Elvis duela solitariamente com um violão, sem acompanhamento nenhum. A voz de Elvis está especialmente bela nessa canção, que é muito curta, com pouco mais de 1 minuto e 20 segundos. A canção é triste e serena. Ponto positivo para a voz de Elvis, que aqui se destaca.

Tomorrow Night (S. Coslow / W. Gross) - A história dessa canção é bem interessante. Elvis a gravou na Sun Records e foi arquivada. Quase dez anos depois Chet Atkins resolveu fazer um arranjo totalmente novo sobre o antigo acompanhamento dos Blue Moon Boys. As participações de Scotty Moore e Bill Black foram colocadas em segundo plano, só preservando mesmo o vocal original de Elvis. Depois Atkins resolveu chamar um grupo de músicos e praticamente regravou um novo arranjo. Sem dúvida o resultado ficou muito bom mas não agradou muito aos fãs mais puristas que sempre preferiram a versão original, que foi lançada finalmente em CD na coleção "The King of Rock'n'Roll". Vale pela curiosidade de conhecer uma versão alternativa que só foi lançada nesse disco.

Memphis, Tennessee (Chuck Berry) - Faixa retirada das sessões do "The Lost Album". Muito bem arranjada e executada por Elvis e banda. Sem dúvida essa canção não poderia passar em branco na sua carreira, não só por sua importância na história do Rock como também pelo fato de ter o nome de sua querida cidade. Elvis e Chet Atkins deram um tratamento de luxo e à altura desse clássico moderno de Chuck Berry. Aliás Elvis sempre se deu muito bem com músicas compostas por Chuck Berry. Essa não foge à regra, sendo um grande momento da carreira de Elvis e que deve ser conhecido por todos.

For The Milionth and The Last Time (R. Bennett / S. Tepper) - Um dos momentos mais agradáveis do disco que, apesar do arranjo tradicional e sem novidades, prende a atenção do ouvinte e o envolve no belo balanço. Curiosamente essa canção quase foi completamente esquecida pelos produtores de Elvis, apesar de sua indiscutível qualidade. Felizmente o LP "Elvis for Everyone" a salvou do esquecimento e a colocou abrindo o antigo lado B do disco em vinil. Boa performance de Elvis em momento quase perdido.

Summer Kisses, Winters Tears (Wise / Weisman / Loyd) - Música do filme "Flaming Star" (estrela de fogo, 1960)". Essa trilha contava ainda com as seguintes canções: "Flaming Star", "Britches" e "A Cane and A Starched Collar", esta última aliás, a única cantada por Elvis no filme. Apesar das 4 músicas, a RCA preferiu não lançar um compacto duplo com as mesmas, e ao invés disso, lançou outro EP em fevereiro de 1961 chamado "Elvis by Request - Flaming Star". Apesar do nome só trazia duas canções de estrela de fogo: "Flaming Star" e "Summer Kisses, Winter Tears", sendo o lado B ocupado por dois medalhões da carreira de Elvis: "It's Now or Never" e "Are You Lonesome Tonight?". Por que a RCA não lançou a trilha completa nesse compacto? Provavelmente os executivos da gravadora não colocavam muita fé nessas canções e temiam uma má posição nas charts. Se essa foi a intenção o tiro saiu pela culatra, pois o EP não atingiu o Top 10, ficando apenas na 14ª posição. Teria sido melhor mesmo lançar a trilha sonora completa do filme, o que traria mais organização dentro da bagunçada discografia de Elvis por essa época.

Forget Me Never (F. Wise / B. Weisman) - Outra música do filme "Wild In The Country" que conta apenas com Elvis e violão. Essas músicas desse filme pouco acrescentam à carreira de Elvis. Apesar de extremamente profissional Elvis não queria que esse filme tivesse canções, pois sua intenção era apenas desenvolver seu lado de ator dramático. Quando soube que teria que gravar uma trilha para o filme Elvis ficou visivelmente desapontado. Por isso houve uma certa má vontade de sua parte, mas nada que chegue a prejudicar a música em si. Como afirmei antes, o lado profissional de Elvis nessas ocasiões falava mais alto. Mesmo contrariado ele tentaria dar o melhor de si. O que não ajudou mesmo foi o próprio material à sua disposição, que era apenas razoável. No final é apenas um momento mediano e esquecível do disco.

Sound Advice (Giant / Baum / Kaye) - Elvis e violão. Essa é uma canção que fez parte da trilha sonora de "Follow That Dream" (Em cada sonho um amor, no Brasil). Curiosamente ela jamais havia sido lançada antes, nem mesmo no EP da trilha do filme. Essa é apenas outra faixa de filmes de Elvis que fizeram parte desse disco, como por exemplo: "Santa Lucia" (de Viva Las Vegas), "In My Way" e "Forget Me Never" (de Wild In The Country) e "Summer Kisses, Winter Tears" (de Flaming Star).

Santa Lucia (arranjado por Elvis Presley) - Música italiana arranjada por Elvis para o filme "Viva Las Vegas", que curiosamente foi lançado na Inglaterra com o título de "Love in Las Vegas". O compacto duplo com quatro canções deste filme foi lançado em maio de 1964 e contava com as seguintes músicas: "If You Think I Don't Need You", "I Need Somebody To Lean On", "C'Mon Everybody" e "Today, Tomorrow and Forever". Mais uma fusão entre Elvis Presley e música da antiga bota, que mostra mais uma vez a admiração do cantor pelos trovadores da velha guarda, como seu ídolo de infância Mario Lanza.

I Meet Her Today (Don Robertson / H. Blair) - Linda música. Bem gravada, com ótimo vocal de apoio e melodia extremamente bem escrita. Don Robertson acerta em cheio nesse momento ímpar de Elvis. Se tivesse sido lançada nos anos 50 teria se tornado um dos maiores clássicos do repertório do Rei. Porém, infelizmente, foi outra canção de Elvis que não foi bem aproveitada por seus agentes. Daria um excelente single na época, mas foi totalmente colocada de lado, de forma extremamente injusta aliás. Deve ser conhecida e redescoberta pela nova geração de fãs, pois é um dos momentos mais belos do lado romântico de Elvis Presley. Nota Dez com louvores! Excelente momento em todos os aspectos. Vale o disco inteiro, sem dúvida.

When It Rains, It Really Pours (W.R. Emerson) - Para lançar o material desse LP, o produtor Chet Atkins revirou os arquivos empoeirados da gravadora RCA Victor em busca de material inédito de Elvis. Uma das maiores preciosidades encontradas por ele foi essa canção gravada ainda na época da Sun Records. Registrada em uma sessão obscura em agosto ou outubro de 1955, contando apenas com os Blue Moon Boys (Elvis, Scotty e Bill) e o baterista Johnny Bernero, a canção foi completamente esquecida por quase dez anos, ficando arquivada nos porões da gravadora RCA em Nova Iorque! É um Blues visceral, que mostra o total entrosamento de Elvis e banda. Aqui Elvis dá uma canja como pianista e mostra como sua voz era poderosa e adaptável a qualquer estilo musical. Sem dúvida é um precioso registro de Elvis aos 20 anos. Apesar da pouca idade o Rei do Rock já mostrava toda a potencialidade de seu poderio vocal. Essa primeira versão da Sun Records não foi considerada apta para o mercado pelos produtores da RCA. A master original havia se perdido e tudo o que sobrava era apenas um take, o de número 3. Essa primeira versão só seria lançada no mercado em 1983 no disco "Elvis, a Legendary Performer vol.04". Mas Chet Atkins não ficaria de mãos vazias, pois ele lançaria nesse disco a outra versão mais recente, gravada em fevereiro de 1957. Apesar de ter sido gravada na RCA Victor, também estava esquecida e abandonada. Outra música imperdível e essencial que fecha o disco com chave de ouro.

Elvis Presley - Elvis For Everyone (1965): Sun Records: Elvis Presley (voz, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Jimmie Lott (bateria) / Johnny Bernero (bateria) / Produção: Sam Phillips / Arranjado por Sam Philips, Scotty Moore e Elvis Presley / Gravado no estúdio Sun Records, Avenida Union, 706, Memphis, Tennessee / Data de Gravação: agosto ou outubro de 1955. When It Rains, It Really Pours, versão de 1957: Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Gravado no Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 23 e 24 de fevereiro de 1957. The Lost Album: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Harold Bradley (guitarra) / Grady Martin (guitarra) / Jerry Kennedy (guitarra) / D.J.Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Steve Sholes e Chet Atkins / Arranjado por Steve Sholes e Chet Atkins / Gravado no RCA's Studio B, Nashville / Data de Gravação: 26 a 28 de maio de 1963 e 12 de janeiro de 1964. For The Milionth and The Last Time - I Meet Her Today : Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Jerry Kennedy (guitarra) / D.J.Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Chet Atkins e Elvis Presley / Gravado no RCA's Studio B, Nashville / Data de Gravação: 15 e 16 de outubro de 1961. Santa Lucia: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Billy Strange (guitarra) / D.J Fontana (bateria) / Artie Cane (piano) / Calvin Jackson (piano) / Ray Siegel (baixo) / The Jordanaires (vocais) / Carole Lombard Quartet (vocais) / Produzido por Chet Atkins e George Stoll / Arranjado por Chet Atkins, Elvis Presley e George Stoll / Gravado nos estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 07 e 09 de julho de 1963 Forget Me Never - In My Way: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (violão) / Hilmer J. "Tiny" Timbrell (guitarra) / Michael "Meyer" Rubin (baixo) / D.J Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Urban Thielmann / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 7 e 8 de novembro de 1960 Sound Advice: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (violão) / Bob Moore (baixo) / Neal Matthews (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / Murrey "Buddy" Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Produzido por Hans Salter / Gravado no RCA Studio B, Nashville, Tennessee / Data da gravação: 2 de julho de 1962 Summer Kisses, Winter Tears: Elvis Presley (vocal) / Howard Roberts (guitarra) / Hilmer J. "Tiny" Timbrell (guitarra) / Michael "Meyer" Rubin (baixo) / Bernie Mattinson (bateria) / James Haskell (acordeon) / Dudley Brooks (piano) / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Urban Thielmann / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 8 de agosto de 1960. / Lançado em agosto de 1965 / Melhor posição nas charts: #10 (EUA) e #8 (UK)

Pablo Aluísio - Dezembro de 2004 / Abril de 2005.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Girl Happy (1965)

1964. Em fevereiro deste ano os Beatles aportavam nos USA, mudando para sempre a música e instaurando a maior revolução musical desde 1956, revolução esta que daria origem, junto com uma série de outros fatores, à psicodelia e à revolução sexual e social que os USA iriam vivenciar anos mais tarde: a famosa era de aquário. 64 também foi o ano em que o número de soldados americanos no Vietnã aumentou consideravelmente. Protestos e lutas raciais encabeçadas por Martin Luther King começavam a levar a nação a verdadeiros espasmos sociais. A década de 60 efetivamente chegava para fazer barulho e sacudir o American Way of Life. E Elvis? Bom, 64 para Elvis foi, de um modo geral, só mais um ano de trabalho. E um não muito bom. 
Ele continuou fazendo três filmes por ano de qualidade duvidosa e a lançar trilhas, em sua maioria medíocres. Se bem que discos como Rostabout, se comparados com trilhas de 65 e 66 são verdadeiros clássicos. Ou seja, a coisa iria piorar. E muito. Também foi o ano em que Elvis entrou em um longo cochilo musical, do qual daria sinais de querer acordar em 66 e 67, mas que só viria a efetivamente fazê-lo nos estúdios da NBC em junho de 68. Foi o 1º ano em que ele não emplacou nenhum top 10. Foi o ano em que ele conseguiu seu último disco em 1º lugar na década. Foi o ano em que o maior número de singles foi lançado, nenhum com grande repercussão.. Foi o ano do início de suas buscas espirituais, que o fizeram se afastar de sua música e de suas origens. Mas também foi o ano de um dos mais divertidos filmes de Elvis: Girl Happy.

O roteiro é decente, a trilha razoável. Elvis conta com uma de suas melhores e favoritas Lead Ladies: Shelley Fabares (que viria a atuar com ele em mais dois filmes). Possui diálogos e situações engraçadas e é um retrato da América do início da década de 60, ainda inocente. Além disso, Elvis está bonitão e com um figurino impecável. Possui algumas falhas tipo Elvis tocando violão em Do The Clam e dele saindo um som de guitarra elétrica ou o fato de Elvis tentar, em uma cena, pegar bronze de camisa de manga longa e sapato e calça social! Mas a gente perdoa. O roteiro é simples. Elvis é Rusty Wells, líder de uma banda que se apresenta em um hotel chique que pertence a um poderoso mafioso e vê suas férias em Fort Lauderdale frustadas quando este lhe pede para ficar mais algumas semanas. Para resolver o problema Elvis junta o útil ao agradável e descobre que o mafioso está preocupado com sua filha Val, interpretada por Shelley Fabares, que vai ficar em um hotel com suas amigas em..... Fort Lauderdale. Então Rusty se oferece para tomar conta de sua filha, sem Val saber. É claro que tomar conta de um avião como Fabares vai dar mais trabalho do que se imaginava. Biquínis, mulheres bonitas, uma trilha dançante, um trio de apoio engraçadíssimo e paisagens belíssimas fazem de Girl Happy um prazer sem culpas. Tudo o que você tem que fazer é desligar o cérebro e sentir a " Spring Fever". A trilha de Girl Happy é razoável, não possuindo nenhuma porcaria como Barefoot Ballad, mas também nenhum clássico como Return to Sender. Tem a vantagem de conter pouquíssimas baladas e ser bem para cima. Apesar disso, Elvis soa como se estivesse entediado e as sessões de gravação, feitas em junho de 64, foram no mínimo frustrantes. Ele só voltaria a gravar alguma coisa em fevereiro de 65. Eis as músicas:

Girl Happy (Pomus / Meade) - O filme abre com essa música que passa longe de ser classificada entre as melhores de Elvis, mas que possui um excelente ritmo. E por falar em ritmo, o curioso é que, não estranhe se a voz de Elvis parecer muito aguda, pois a velocidade da música foi aumentada para 8% mais rápida de seu original, fato único em sua carreira. A letra é bem interessante, podendo ser comparada com "Eu gosto é de mulher" do nosso Ultraje a Rigor. Uma das poucas músicas de Doc Pomus que Elvis gravou sem a parceria de Mort Shuman. É inevitável se deixar contagiar por sua intensa alegria.

Spring Fever (Giant / Baum / Kaye) - Outro caso em que ritmo dá de dez na letra. Elvis a canta em uma cena dentro de um carro, quando está indo em direção a Fort Lauderdale. A canção é executada em dueto com seus membros de banda no filme. Animadinha, mas com uma letra boba.

Fort Lauderdale Chamber of Commerce (Tepper / Bennett)- Definitivamente a pior música do filme, com um ritmo que enche o saco e uma letra no mínimo estúpida e sem sentido, essa música entra fácil para a lista das piores de Elvis. No filme Elvis a canta para convencer Val a ir ver o show de sua banda. Com uma música dessa, entendemos por que ela recusou.

Startin' Tonight * (Rosenblat / Milrose) - Outra música leve e divertida da trilha. Este filme de Elvis seguiu uma linha que tinha como maior ícone na época o dublê de ator Frankie Avalon e sua famosa turma da praia. Colocar Elvis para imitar Frankie Avalon realmente é um absurdo sem tamanho. Isso demonstra como os produtores de Hollywood estavam equivocados em relação a Elvis, que não era Frankie, que sempre foi considerado um cantor sem consistência ou profundidade musical, além de ator vazio dos esquecíveis filmes de verão dos anos 60. Elvis era muito mais do que isso e talvez por essa razão sua carreira não tenha dado bons frutos em Hollywood, pois sem dúvida sempre foi subestimado, participando de projetos aquém de seu verdadeiro potencial. Em resumo: desperdício de talento mesmo!

Wolf Call (Giant / Baum / Kaye) - Novamente bom ritmo só que aqui com PÉSSIMA letra, aliada a um vocal horrível de um dos membros dos Jordanaires. No filme misture tudo isso a um membro da platéia imitando um lobo e você terá um show de mau gosto. Só se salva mesmo a presença no palco da belíssima Mary Ann Mobley, que também "atuou" com Elvis em Harum Scarum.

Cross My Heart And Hope Die (Wayne / Weisman) - Elvis canta essa música para uma garota.... em uma floresta! A música em si não é das piores e o ritmo conta com um ótimo baixo, cortesia de Bob Moore, que dá um tom meio jazz à música. A letra é toda Elvis se desculpando, de uma forma bem legal, temos que dizer, por ter pisado na bola com uma garota. Interessante é o verso que diz: " Eu não tenho que prestar muita atenção para perceber o que eu tenho no meu próprio quintal." Bem sugestivo, mas também criativo, uma ótima metáfora. Essa é uma daquelas músicas que você deve escutar para relaxar.

The Meanest Girl In Town (J. Byers) - Uma das melhores da trilha, essa música não foi feita originalmente para o filme e é de autoria do produtor da Columbia Records, Bob Johnston, que escreveu ótimos rocks para as trilhas de Elvis como C´mon Everybody, Hard Knocks, Let Yourself Go, entre outras, sob o nome de sua esposa Joy Byers. Esse rock agitado conta com um excelente solo de sax de Boots Randolph e um bom trabalho de guitarra. Adoro essa música por seu ritmo acelerado. Elvis cantando essa música em 68 com aquele vozeirão rouco iria ficar perfeito. A letra fala daquele tipo de garota que é a dor de cabeça de todo homem: bonita, esperta, que sabe jogar, mas que no fim só quer te usar. Quem não teve uma dessa? Pena que em seus shows na década seguinte Elvis não desse chance a verdadeiras pérolas como essa em seu repertório de shows.

Do Not Disturb (Giant / Baum / Kaye) - É impressionante como Elvis levou 36 takes para gravar essa música... e não conseguiu um master adequado, abandonando frustrado a sessão de gravação. Aqui nota-se que mesmo recebendo material de qualidade inferior Elvis continuava levando seu trabalho a sério. Na sessão tem uma hora que o engenheiro de som diz "OK", como se o resultado fosse satisfatório e Elvis diz: "Eu não gosto de OK". Antes ele tomasse as rédeas assim na escolha do material.

Puppet On A String (Tepper / Bennet) - Uma das músicas lançadas em single, essa belíssima e tenra balada ocupou o 14º lugar na Billboard em 1965, fazendo sucesso na época, mas logo caindo no esquecimento. Uma pena, pois é uma das melhores músicas de Elvis no período e a cena em que Elvis a canta para Val no filme é sutil, mas sincera. Com uma melodia bonita e uma letra simples, "Puppet on a String" tem versos como: "Tudo que você tem que fazer é tocar minha mão e o seu desejo é uma ordem. Aí eu me torno uma marionete de cordas e você pode fazer o quiser comigo. Se você realmente me ama, querida seja boa comigo. Eu te ofereço o amor mais verdadeiro que você encontrará." Muito linda.

Do The Clam (Wayne / Weisman / Fuller) - Lançada como single, alcançou 21º lugar nos USA e 19º lugar na Inglaterra. Para acompanhar essa música o coreógrafo David Winter, que já havia trabalhado em "Viva Las Vegas", criou uma dança chamada "The Clam". Isso se deve ao fato de na época danças como "The Twist", "The Bird", "The Mashed Potato", serem criadas a rodo e fazerem muito sucesso. A dança nunca pegou. A letra dessa música às vezes é taxada como péssima, o que não é verdade quando se percebe que o Clam (marisco) a que ela se refere é a dança e não mariscos propriamente dito. Bem animadinha e com um solo de sax bem legal, por incrível que pareça é um dos pontos altos da trilha.

I've Got To Find My Baby (J. Byers) - Essa música foi brutalmente editada, por motivos incertos, o que a fez ter a duração de pouco mais de 1 minuto e meio. O master completo não foi encontrado e por incompetência do pessoal da RCA é possível que nunca escutemos a versão completa dessa música, também escrita por "Joy Byers", sendo um excelente momento da trilha. Esse rock, ao estilo de The Meanest Girl in Town, conta também com um solo de Boots Randolph, que aliás é o músico destaque nessa trilha.. Lançado em Abril de 1965 o filme "Girl Happy" (Louco por Garotas, no Brasil) ficou em 25º lugar entre os mais assistidos do ano e a trilha foi mais um Top Ten para Elvis alcançando 8º lugar tanto nos USA quanto na Inglaterra, além de ter tido a curiosidade de ser o único filme de Elvis a ter duas músicas lançadas em dois singles diferentes e ser livre de músicas ruins (com exceção de "Fort Lauderdale Chamber of Commerce"). Em suma: Por essa época os filmes e trilhas, apesar de em termos de qualidade estarem em ritmo decrescente, ainda faziam sucesso, mas sinais de desgaste já começavam de leve a aparecer na carreira de Elvis Presley.

Ficha Técnica: Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Scotty Moore / Guitarra: Hilmer J. "Tiny" Timbrell / Guitarra: Tommy Tedesco / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria:D.J. Fontana / Bateria: Frank Carlson / Piano: Floyd Cramer / Saxophone: Homer "Boots" Randolph / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Backup Vocals: The Jubilee Four (Bill Johnson, George McFadden, Jimmy Adams e Ted Brooks) em Do the Clam e Wolf Call / Backup Vocals: The Carol Lombard Trio (Carol Lombard, Gwen Johnson, Jackie Ward e B.J. Baker) em Do the Clam / Produzido por George Stoll / Gravado no Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 10 a 12 e 15 de junho de 1964 / Data de Lançamento: Março de 1965 / Melhor posição nas charts: # 8 (EUA) e # 8 (UK)

Texto Escrito por Victor Alves, exceto * de autoria de Pablo Aluísio. Abril de 2005.

Louco Por Garotas

Mais um musical típico de Elvis Presley nos anos 60. Aqui ele banca a "vela" de uma garota filha de um chefão de Chicago (interpretada pela bela e simpática Shelley Fabares, que inclusiva faria outros filmes ao lado do cantor). O roteiro tem cenas engraçadas mas no geral "Louco Por Garotas" é tipicamente um "filme de verão", ou seja, muita praia, muito biquíni e todo mundo em férias em algum local turístico (curiosamente não escolheram o Havaí e nem Acapulco aqui mas sim Fort Lauderdale, um point de verão para universitários americanos em férias). Elvis canta as canções da trilha sonora sem muito esforço, dá uns amassos em alguns brotos e se envolve em confusões com o chefão da máfia de Chicago, mas claro tudo muito suave e sem stress, como convinha aos seus filmes dessa época. A verdade é que depois do sucesso de fitas como "Feitiço Havaiano" e "O Seresteiro de Acapulco", Elvis Presley se viu preso a esse tipo de produção.

Os filmes davam ótima bilheteria, tinham produção barata e as trilhas sonoras vendiam horrores. Dentro dessa fórmula imposta por Hollywood Elvis Presley foi ficando cada vez mais rico, com cachês milionários mas pessoalmente se sentia frustrado por ter que fazer praticamente o mesmo filme ano após ano. De qualquer forma "Girl Happy" tem seus atrativos. As músicas que Elvis canta no filme são divertidas, agradáveis e animadas (deram uma folga nas baladas românticas aqui). O humor também é bem bolado, com diversas situações que envolvem o personagem de Elvis (numa delas o Rei do Rock acaba se travestindo de mulher, fato único na sua carreira no cinema!). Shelley Fabares, a estrelinha ao lado de Elvis, era uma moça simpática, bonita e elegante que ajudava muito no resultado final do filme. Para o público masculino o filme também traz farto material de garotas em todas as cenas e de todos os tipos. Enfim, "Louco Por Garotas" vale a sessão. Não é dos melhores momentos de Elvis no cinema mas diverte de forma descompromissada.

Louco Por Garotas (Girl Happy, EUA,1965) Direção: Boris Sagal / Roteiro: Harvey Bullock, R.S. Allen / Elenco: Elvis Presley, Shelley Fabares, Harold J. Stone / Sinopse: Cantor garotão é enviado a uma estação de verão para tomar conta da filha de um chefão da máfia de Chicago. Musical de verão estrelado pelo cantor Elvis Presley.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Viva Las Vegas (1964)

 "Viva Las Vegas" é o filme de Elvis em que tudo deu certo, desde a trilha sonora que é maravilhosa, da escolha de elenco que contou com a ótima Ann Margret, ao diretor George Sidney que deu um show de direção. Além disso foi um prato cheio para os jornais da época por tudo que rolou durante as filmagens, com o namoro de Elvis e Margret, indo muito além das telas de cinema. O rei do rock ficou perdidamente apaixonado pela atriz, bem debaixo do nariz de Priscilla. O clima de paixão passou para o filme, tudo é feito, encenado e coreografado com o maior bom gosto. Elvis estava em seus melhores dias. A atriz sueca Ann-Margret era chamada pela imprensa americana como "Elvis de saias". Realmente foi a melhor parceira de Elvis em toda a sua carreira cinematográfica. O clima entre os dois esquentou ao ponto de Margret falar em um jornal de Los Angeles que sua cama cor de rosa foi um presente de Elvis. Os membros da máfia de Memphis também afirmam que, pela primeira vez em sua vida, o rei do rock confessou a eles estar realmente apaixonado por um mulher. Além disso Elvis passava longas temporadas com ela em sua casa em Beverly Hills. Isto sim foi uma paixão avassaladora. O filme foi filmado, claro, em Las Vegas, tendo como pano de fundo a corrida anual de Nevada. Claro que Elvis faria o papel de um piloto tentando a sorte na capital do jogo e do pecado. Para muitos esse é disparado o melhor trabalho de Elvis no cinema nos anos 60. Até os mais ferozes críticos se renderam ao seu charme. Estas são as canções do filme "Amor a toda velocidade":

VIVA LAS VEGAS (Pomus / Schuman) - Uma das últimas composições da dupla Pomus / Schuman, pois em pouco tempo eles iriam se separar definitivamente. Um tema muito bom, que tenta capturar o clima da cidade, com seus cassinos, hotéis e casas de show luxuosos. Bem executada com ótimo arranjo. O filme teve vários títulos provisórios, que iam mudando conforme as filmagens avançavam, eis alguns: "The Only Game in Town", "The Lady Loves me", "The Magic Touch" e finalmente "Mr, will you Marry Me?". Então, após ouvir toda a trilha sonora, o diretor George Sidney resolveu mudar de forma definitiva o nome do filme para "Viva Las Vegas" por causa da canção.

IF YOU THINK I DON'T NEED YOU (West / Cooper) - Composição do amigo de Elvis, Red West. Aparece numa cena divertida em que Elvis tenta atrapalhar os avanços do conde italiano Elmo Marcini, interpretado pelo bom ator Cesare Danova, sobre a personagem de Ann-Margret A música é usada para quebrar o clima romântico entre ambos. Em pouco tempo de filmagem estourou nos jornais a notícia que Elvis e Margret estavam tendo um caso amoroso. Priscila Presley então resolveu enfrentar a situação e confrontou o cantor, que saiu com esta resposta: "Não tenho nada com Ann-Margret, ela é um típica starlet de hollywood, só preocupada com sua carreira". Sonso o rapaz.

I NEED SOMEBODY TO LEAN ON (Pomus / Schuman) - Outra romântica do filme. O diretor George Sidney já havia trabalhado antes com Ann-Margret em "Bye, Bye, Birdie". Este filme é uma sátira ao próprio Elvis, pois retrata os sonhos de uma adolescente fã de um ídolo da música. Além deste, George Sidney dirigiu grandes filmes como "O barco das ilusões", "Pepe" e "melodia imortal". Sobre George Sidney, Elvis afirmaria anos depois: "Ele estava perdidamente apaixonado por Ann-Margret, o que o levou a direcionar o filme para ela, a privilegiando em todas as tomadas".

YOU'RE THE BOSS (Leiber / Stoller) - Elvis reencontra Leiber e Stoller. Aqui temos um dueto entre Elvis e Ann-Margret. A música infelizmente foi arquivada, ficando anos fora de catálogo, sendo disputado e caçada pelos colecionadores. O fato desta trilha sonora nunca ter sido junta em um LP acabou deixando muitas destas canções perdidas no limbo musical. Um fato interessante sobre as gravações deste disco: Elvis, pela primeira vez em sua carreira gravou as canções sobre um playback anteriormente gravado por sua banda. Esse sistema de gravação foi utilizado justamente nos duetos entre Elvis e Ann-Margret. O fato de ficar sozinho em estúdio, sem a presença de seus músicos, desagradou profundamente o cantor, que reprovou esta forma de gravação.

WHAT'D I SAY (Ray Charles) - Clássico de Ray Charles, gravada por um grande número de artistas ao longo da história. Aqui Elvis contou não somente com sua banda, mas também por um grupo de apoio da MGM, contando inclusive com uma segunda turma de vocalização, os grupos The Jubilee Four e Carole Lombard Quartet. Este primeiro inclusive teve direito a apresentar uma canção solo no filme, chamada "The Climb". Ann-Margret também apresentou duas canções solos: "Appreciation" e "The Rival".

DO THE VEGA (Giant / Baum / Kaye) - Canção que foi arquivada na época de sua gravação. Só foi lançada em CD através da série "Double Features". Um aspecto curioso sobre "Viva Las Vegas": James Burton sustenta até os dias de hoje que participou destas sessões, mas o guitarrista Scotty Moore contesta e afirma que ele nunca participou das gravações desta trilha sonora. Ficou aí a dúvida, sendo colocados em dois lados opostos as palavras dos dois guitarristas oficiais da carreira de Elvis.

C'MON EVERYBODY (J. Byers) - Sem sombra de dúvida uma das melhores canções da carreira de Elvis. A cena em que ele dança com Ann-Margret no ginásio da universidade de Nevada é insuperável. A banda de Elvis está super afinada, tudo resultando em um ótimo momento artístico. Elvis era um grande dançarino que precisava de uma partner à altura, sendo que ele a encontra aqui. A coreografia apresentada é bem diferente da que ele usava nos anos 50, o que demonstra sua versatilidade.

THE LADY LOVES ME (Tepper / Bennett) - Deliciosa parceria entre Elvis e Ann-Margret, que cantava otimamente bem. Como sempre a cena do filme é deliciosa. Seria o tema principal do filme, mas acontece que não houve um acordo satisfatório com os empresários de Ann-Margret para o lançamento desta canção em disco. Assim surgiu um problema incrível, pois a RCA não pôde lançar a trilha sonora em um LP, pois não haveria canções suficientes depois de retirar aquelas em que a atriz sueca fazia dueto com Elvis. E assim acabou acontecendo, o projeto do LP foi arquivado definitivamente. Desta forma as músicas acabaram sendo lançadas em um EP (compacto duplo) chamado "Viva Las Vegas" com 4 canções, e em um single com "What'd I Say / Viva Las Vegas" que chegou às lojas em abril de 1964 nos Estados Unidos. Isto causou uma grande insatisfação entre os fãs de Elvis, pois todos esperavam o lançamento de um LP, com todas as canções juntas, o que efetivamente não ocorreu.

NIGHT LIFE (Giant / Baum / Kaye) - Este trio de compositores era contratado pela Metro para escrever canções para seus filmes. Às vezes eles acertavam, mas em outras ocasiões eles erravam a mão feio, como na trilha sonora de "Kissin Cousins" (com caipira não se brinca, 1964). Esta trilha é considerada uma das piores de Elvis e curiosamente é intercalada por dois bons momentos do cantor, que são "Roustabout" e "Viva Las Vegas".

TODAY, TOMORROW AND FOREVER (Giant / Baum / Kaye) - Adaptação do clássico "sonho de amor" de Liszt. Foram gravadas duas versões, uma solo e uma em dueto com Ann-Margret. Em uma palavra: linda. O arranjo piano, violão, coro e orquestra é fabuloso. Um dos melhores momentos de Elvis na música romântica. Em 2002 se comemorou os 25 anos da morte de Elvis, a RCA - BMG para celebrar e lembrar a data lançou uma coleção com mais de cem versões inéditas com o nome de "Today, tomorrow and Forever". O carro chefe foi justamente a versão nunca lançada em que Elvis dividiu o microfone com Margret. Momento raro.

THE YELLOW ROSE OF TEXAS / THE EYES OF TEXAS (Wise / Starr / Lance Sinclair) - Medley que reúne duas canções populares do Estado americano do Texas. E o que isto tem a ver com "Viva Las Vegas", já que Vegas fica em Nevada? Acontece o seguinte: logo após Elvis conhecer a personagem de Ann Margret em uma oficina mecânica ele passa a procurá-la em cassinos e shows de Las Vegas, pensando seriamente que ela é uma dançarina. Bem, em um destes lugares Elvis se depara com um bando de texanos bêbados. A única forma de controlar a turma é cantando um canção do Estado da rose amarela. Assim Elvis coloca os rapazes para fora do estabelecimento chamando todos a acompanhá-lo neste hino alternativo do Texas. Mas não encontra Ann-Margret, pois ela na verdade não é dançarina e sim professora de natação para crianças, para surpresa de todos.

SANTA LUCIA (arranjado por Elvis Presley) - Música italiana arranjada por Elvis. "Viva Las Vegas" foi lançado na Inglaterra com o título de "Love in Las Vegas". O compacto duplo com quatro canções deste filme foi lançado em maio de 1964 e contava com as seguintes músicas: IF YOU THINK I DON'T NEED YOU / I NEED SOMEBODY TO LEAN ON / C'MON EVERYBODY / TODAY, TOMORROW AND FOREVER.

Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Ann-Margret (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Billy Strange (guitarra) / Alton Hendrickson (guitarra) / James Burton (guitarra) / D.J Fontana (bateria) / Buddy Harmon (bateria) / Frank Carlson (bateria / Roy Hart (percussão) / Floyd Cramer (piano) / Artie Cane (piano) / Calvin Jackson (piano) / Oliver Mitchel (trumpete) / James Zito (trumpete) / Randall Miller (trombone) / Herb Taylor (trombone) / Ray Siegel (baixo) / Bob Moore (baixo) / Boots Randolph (Sax) / William Green (Sax) / Steve Douglas (Sax) / The Jordanaires (vocais) / The Jubilee Four (vocais) / Carole Lombard Quartet (vocais) / Direção musical de George Stoll / Gravado nos estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 09 a 12 de julho de 1963 e 30 de agosto de 1963 / Data de lançamento: abril de 1964 / Melhor posição nas charts: #3 (EUA) e #2 (UK).

Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - abril e maio de 2002 / revisado e atualizado em novembro de 2002.

Elvis Presley - Roustabout (1964)

Empolgado por Viva Las Vegas o público correu às lojas para comprar a nova trilha sonora de Elvis, Roustabout. Em pouco tempo o disco conseguiu chegar ao primeiro lugar nas paradas, um feito e tanto, que só se repetiria quase dez anos depois com Aloha From Hawaii. Esse dado aliás deixam perplexos muitos que estudam a biografia de Elvis Presley. Como um dos cantores mais populares do mundo conseguiu ficar praticamente uma década sem conseguir chegar ao primeiro lugar na parada de álbuns dos Estados Unidos? Não existe apenas uma resposta a essa pergunta mas muitas. O fato de Elvis só gravar trilhas sonoras nos anos 60 abalou sua credibilidade como artista. Claro que muitos desses discos conseguiram obter êxito comercial, porém ao mesmo tempo em que vendiam bem iam minando o legado musical de Elvis. 
 
Quando voltou do exército no começo dos anos 60 Elvis estava no auge da popularidade e tinha literalmente muito filme para queimar, como se dizia na gíria da época, pois qualquer coisa que lançasse seria sucesso com certeza. Porém a má qualidade do material apresentado foi gradativamente queimando seu filme, cansando o público e seus fãs e a queda das vendas foi um passo natural. Outro problema foi a concorrência feroz que Elvis enfrentaria a partir desse ano. Os Beatles chegariam triunfantes aos Estados Unidos, causando uma verdadeira revolução musical sem precedentes. Além deles Elvis teria cada vez mais de dividir a atenção do público com outros grupos e cantores em um dos períodos mais ricos da música de todos os tempos.

Roustabout passa longe da ruindade de Kissin Cousins, lançado nesse mesmo ano, mas também não consegue chegar ao nível de qualidade de Viva Las Vegas. Fica no meio termo. Sendo bem otimista podemos até mesmo considerar essa uma de suas melhores trilhas sonoras no período. Claro que ela não foge à regra das demais trilhas de Elvis nos anos 60, claro que há músicas bobinhas e tal, mas neste caso elas estão em menor número, felizmente. Todas as dez músicas do filme podem ser consideradas boas, algumas até mesmo são de excelente qualidade. O filme em si também é bem interessante para os fãs do cantor pois ver Elvis em um casaco de couro negro, andando por aí de moto e interpretando um "Easy Rider" é sempre um prazer sem culpas. O próprio Elvis aliás deve ter gostado muito de fazer esse papel de "Brando Soft". Obviamente se você tem mais de trinta anos certamente o assistiu alguma vez na TV, principalmente porque ele se tornou um dos maiores clássicos "Sessão da Tarde" da carreira de Elvis ao lado de "Feitiço Havaiano" (esse campeão absoluto na categoria). Algumas canções dessa trilha merecem destaque:

Roustabout (Giant / Baum / Kaye) - Canção título do filme. Essa é na realidade a versão "B", pois a primeira versão tema foi rejeitada por Hal Wallis que considerou sua letra ofensiva. Essa versão "A" chamada de "I'm Roustabout" só foi lançada em 2003 no disco "Elvis 2nd to none". Ela foi redescoberta por acaso por seu autor pegando poeira em seus arquivos. Então ele entrou em contato com Ernst Jorgensen e perguntou se ele estaria interessado em lançar uma gravação inédita de Elvis no mercado (Isso é lá pergunta que se faça?!). O produtor atual dos discos de Elvis ficou encantando com a versão descoberta e tratou logo de a colocar no CD. O resultado todos conhecem: primeiro lugar nos EUA e Inglaterra e milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Pois é, mais vale um Elvis empoeirado do que milhares de artistas atuais tinindo de novo.

Little Egypt (Leiber / Stoller) - Esta canção acabou se tornando uma dor de cabeça para os produtores do filme. Tudo porque uma bailarina chamada "Little Egypt" resolveu processar todo mundo, afirmando que seu nome havia sido utilizado sem permissão no filme. E para completar ela pedia 3 milhões de dólares de indenização. Os advogados da Paramount conseguiram provar no tribunal que o filme se baseava em uma outra bailarina que usava o mesmo nome artístico, chamada Catherine Devine, que fez carreira em 1893 nos EUA. No fundo quem estava imitando e usando o nome de forma inadequada era a dançarina que processou o estúdio.

Big Love Big Heartache (Fuller / Morris / Hendrix) - Uma das melhores músicas do disco, com ótima vocalização de Elvis, além de um arranjo primoroso. Ela seria lançada em single para tentar repetir o sucesso estrondoso de "Can't Help Falling in Love", mas como o LP vendeu muito bem e alcançou rapidamente o topo nos EUA (em pleno auge da Beatlemania) os produtores se contentaram com as vendas e cancelaram o lançamento do single. Momento de alto nível da trilha e do filme, pois a cena em que Elvis a canta foi muito bem fotografada.

There's a Brand New Day on the Horizon (J. Byers) - Eu particularmente gosto muito dessa música porque ela é antes de tudo uma canção alto astral que traz uma mensagem positiva (afinal de contas todos nós precisamos de um pouco disso, principalmente nos dias atuais). Ela fecha a seqüência final do filme. Um dado curioso: Além de "I'm Roustabout", duas outras gravações dessas sessões estão desaparecidas há anos: "I Never Had It So Good" e uma outra versão de "Poison Ivy League" com letra mudada. Em recente entrevista Ernst Jorgensen afirmou que não perdeu as esperanças de achá-las, vamos torcer para que algum dia ele consiga atingir esse objetivo. Milhões de fãs de Elvis ao redor do mundo torcem por ele.

Roustabout (1964)
01. Roustabout
02. Little Egypt
03. Poison Ivy League
04. Hard Knocks
05. It´s a Wonderfull World
06. Big Love, Big Heartache
07. One Track Heart
08. It´s Carnival Time
09. Carny Town
10. There´s a Brand New Day On The Horizon
11. Wheels On My Heels

Elvis Presley - Roustabout (1964): Elvis Presley (vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Billy Strange (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harmon (bateria) / DJ Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (Sax) / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Joseph Lilley / Engenheiro de som: Dave Weichman / Gravado nos estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data da gravação: 02 e 03 de março de 1964 / Data de lançamento: outubro de 1964 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #12 (UK).

Pablo Aluísio - março de 2004 / agosto de 2009.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Kissin Cousins (1964)

Kissin Cousins sempre foi considerado um dos piores filmes estrelados por Elvis e representou como poucos tudo o que estava errado com a carreira do cantor no cinema. Produção fraca, direção inexistente e roteiro absurdo, Kissin Cousins, só serviu para demonstrar que os filmes de Elvis estavam indo por um caminho totalmente equivocado. O Filme foi produzido por Sam Katzman conhecido em Hollywood como o "Rei dos Rápidos", por causa de suas fitas filmadas rapidamente e lançadas às pressas, visando única e exclusivamente ganhar alguns trocados nas bilheterias. O Coronel havia entrado em contato com esse produtor ao saber que ele fazia filmes com orçamentos mínimos e sem grandes custos. 
Com isso a possibilidade de aumentar os lucros era bem mais promissor, ou seja, tudo o que o Tom Parker sempre quis almejar na carreira de seu artista: ganhar muito gastando pouco, ou quase nada. Claro que o resultado dessa equação só poderia resultar em desastre completo. Para piorar a situação Elvis fez dois papéis, usando uma peruca loira em um dos personagens, situação completamente humilhante para quem desejava um dia ser levado à sério como ator em Hollywood. Como se não bastasse o Coronel começou ainda a fazer exigências absurdas, como por exemplo o pagamento do cachê de Elvis em dobro, já que ele se alternava em dois personagens, pretensão que foi qualificada como ridícula pela MGM. A produção, que já havia nascida equivocada e obtusa via a cada dia piorar ainda mais a situação.

A negligência e precariedade imperaram em Kissin Cousins. Numa das cenas de dança um casal caiu por cima do outro, mas o diretor não cortou a cena e a incluiu no filme para evitar os gastos com a regravação desse número. Até nos piores filmes o erro teria sido corrigido. Quando chegou aos cinemas a crítica americana não deixou por menos e malhou impiedosamente Elvis, os produtores e todos os envolvidos, de forma merecida aliás. Nem a presença de Gene Nelson na equipe, que sempre teve grande prestigio em Hollywood ajudou a melhorar a situação precária do filme. A trilha sonora foi gravada em duas ocasiões diferentes, a primeira em setembro de 1963 em Nashville nos estúdios da RCA sob o comando do produtor Fred Karger e a segunda em Hollywood um mês depois sob a direção musical do próprio Gene Nelson. Apesar do uso de dois produtores pouca coisa se salvou em termos de qualidade. O repertório era muito fraco, Hollywoodiano em demasia (Leia-se plastificado e falso) e nem mesmo nas canções country (como Barefoot Ballad) a boa música se fez presente. Mesmo com todos os problemas a RCA apostou no novo disco e o lançou sem muito alarde no mesmo mês em que o filme chegou nas salas de cinema. Para surpresa de muitos a trilha sonora de Kissin Cousins conseguiu a proeza de atingir o sexto lugar entre os mais vendidos da revista Billboard, algo absolutamente inesperado diante da mediocridade do material como um todo. Apesar de seu relativo sucesso temos que admitir nos dias de hoje que Kissin Cousins é um projeto completamente ridículo e constrangedor. Considerado por muitos o pior trabalho da carreira do ator e cantor. É um momento de Elvis que deve ser esquecido por todos.

Kissin Cousins (1964)
01. "Kissin' Cousins (Nº 2)" (Bernie Baum, Bill Giant, Florence Kaye)
02. "Smokey Mountain Boy" (L. Rosenblatt, Victor Millrose)
03. "There's Gold in the Mountains" (Bernie Baum, Bill Giant, Florence Kaye)
04. "One Boy Two Little Girls" (Bernie Baum, Bill Giant, Florence Kaye)
05. "Catchin' on Fast" (Bernie Baum, Bill Giant, Florence Kaye)
06. "Tender Feeling" (Bernie Baum, Bill Giant, Florence Kaye)
07. "Anyone (Could Fall in Love with You)" (Bennie Benjamin, Luchi de Jesus, Sol Marcus)
08. "Barefoot Ballad" (Dolores Fuller, Larry Morris)
09. "Once Is Enough" (Roy C. Bennett, Sid Tepper)
10. "Kissin' Cousins (Nº 1)" (Fred Wise, Randy Starr)
11. "Echoes of Love" (Bob Roberts, Ruth Bachelor)
12. "Long Lonely Highway" (Doc Pomus, Mort Shuman)

Ficha Técnica: Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Scotty Moore / Guitarra: Grady Martin / Guitarra: Jerry Kennedy / Guitarra: Harold Bradley / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria: D.J. Fontana / Piano: Floyd Cramer / Saxophone: Homer "Boots" Randolph / Saxophone: Bill Justis / Banjo: Jerry Kennedy (em Smokey Mountain Boy) / Banjo: Harold Bradley (em Barefoot Ballad) / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Backup Vocals: Winnifred Brest, Millie Kirkham e Dolores Edgin / Produzido por Gene Nelson e Fred Karger / Gravado no RCA Studio B, Nashville (29 e 30 de setembro de 1963) e Estúdios da MGM em Hollywood (10 de outubro de 1963) / Data de lançamento: Março de 1964 / Melhor posição nas charts: # 3 (Billboard) e #5 (UK).

Escrito por Pablo Aluísio - maio de 2004 e agosto de 2009.