quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Wild In The Country (1961)

Um ano após deixar o exército Elvis Presley deu seguimento ao seu plano de se tornar um ator respeitado em Hollywood. Depois de fazer concessões aos estúdios com G.I.Blues Elvis se sentia forte o suficiente para exigir certo controle artístico sobre sua carreira no cinema. O chefão da Fox, Darryl F. Zanuck, já havia dado carta branca a Elvis para ele escolher o roteiro que quisesse para seu próximo filme no estúdio. Então Elvis foi à caça de uma boa história  para ser filmada. Depois de ler pilhas de scripts e roteiros Elvis escolheu "Wild in The Country", uma adaptação de uma peça teatral que havia sido escrita para ser estrelada pelo ator Montgomery Clift. Infelizmente antes das filmagens programadas Clift sofreu um sério acidente de carro ao sair da casa de Elizabeth Taylor e teve o rosto completamente desfigurado pelo painel de seu carro. Com isso o projeto do filme foi arquivado. Ao cair nas mãos de Elvis no verão de 1960 o rei do rock se entusiasmou pelo roteiro e pela chance de finalmente fazer um filme com conteúdo mais dramático. Para Elvis esse filme deveria ser filmado de forma fiel à adaptação da peça teatral. Com a aprovação de Darryl F. Zanuck o projeto começou a tomar forma com a contratação do conceituado diretor Phillp Dune e a escalação das atrizes Hope Lange, Tuesday Weld e Cristina Crawford. Tudo ia bem até o dia em que o coronel Parker resolveu ler o teor da trama do novo filme de Presley. Parker ficou chocado com o que leu! Em primeiro lugar a história era completamente dramática com final trágico - Elvis faria um personagem que se envolvia com uma mulher mais velha, não haveria músicas e o pior: Elvis se suicidaria no final! Uma coisa inaceitável na visão de Tom Parker, sempre preocupado com a imagem de seu principal (e único) cliente!

Atuando pelas costas de Elvis o coronel começou a tomar as rédeas do projeto: o final foi mudado por um grupo de roteiristas contratados pelo empresário, o romance entre Elvis e uma mulher mais velha foi suavizado e foi encaixada diversas músicas dentro do filme (no roteiro original o personagem principal nem sabia cantar!). Elvis ficou completamente desapontado pois o filme agora se aproximava cada vez mais de sua comédias bobocas! Tudo em que havia apostado agora estava indo por água abaixo! Tentou vencer a queda de braço com Parker e Zanuck mas não conseguiu, principalmente depois que o diretor Phillip Dune resolveu ceder às pressões comerciais envolvidas na realização da película. Assim Elvis se viu totalmente sozinho na defesa do roteiro original que havia lido. Finalmente o presidente da Fox se reuniu com Elvis e demonstrou que as mudanças seriam mais benéficas ao sucesso do filme. Elvis resolveu então tentar salvar o que restava do script mas não obteve êxito em um set completamente controlado pela mão forte do todo poderoso magnata Darryl F. Zanuck. Finalmente acabou cedendo as pressões, com um forte sentimento de frustração e decepção com a maneira de fazer filmes em Hollywood. E assim "Coração Rebelde" se tornou um filme sem identidade própria, um mistão indigesto que tentava colocar sob o mesmo teto conceitos teatrais complexos com romances inventados na última hora para suavizar a forte densidade melodramática da trama. E também se tornou o adeus de Elvis às suas pretensões de exercer uma atividade de ator independente de sua carreira musical, principalmente depois do sucesso arrasa quarteirão do filme "Feitiço Havaiano", que chegou nas telas nesse mesmo ano. E a fusão desse dois fatores: o sucesso de "Feitiço Havaiano", comédia musical leve cheia de canções, e o relativo fracasso de "Coração Rebelde", filme com pretensões mais sérias, iria determinar como seria a futura carreira de Elvis no cinema, onde ele não iria mais sair do esquema imposto pelos grandes estúdios, das comédias musicais românticas. Era o fim do sonho de Elvis em se tornar um novo Marlon Brando ou James Dean. Será que se tivesse tido a oportunidade ideal, Elvis teria se tornado um grande ator? Nunca saberemos ao certo, infelizmente.

Elvis Presley - Wild In The Country (1961)
Wild In The Country
Lonely Man
I Slipped I Stumbled I Feel
In My Way
Forget Me Never

Elvis Presley - Wild In The Country (1961): Vocais e violão: Elvis Presley / Guitarra: Scotty Moore / Guitarrra: Hilmer J. "Tiny" Timbrell / Baixo: Michael "Meyer" Rubin / Bateria: D. J. Fontana / Acordeon: James Haskell - somente em Lonely Man / Piano: Dudley Brooks / Backup Vocals: The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker / Produzido por Urban Thielmann / Engenheiro: Thorne Nogar / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de Gravação: 07 e 08 de setembro de 1960 / Lançado em maio de 1960 (single I Feel So Bad / Wild In The Country) / Melhor posição nas charts: #26 (Billboard) e #2 (UK)

Pablo Aluísio - janeiro de 2005

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Elvis e o Pop dos anos 60!

Um dos melhores álbuns de Elvis Presley nos anos 60 foi também um dos mais subestimados. Lançado no meio de vários filmes, singles e trilhas sonoras, Something For Everybody foi sendo paulatinamente esquecido pelos fãs do cantor ao longo dos anos. Grande injustiça. O disco é excepcionalmente bom e retrata um ótimo momento vocal de Elvis. Talvez a pouca atenção que tenha recebido ao longo das décadas que se seguiram ao seu lançamento tenha advindo do fato desse ser mais um grande representante do momento em que Elvis trocou definitivamente o Rock´n´Roll dos anos 50 pelo suave e doce pop romântico do começo da década de 60.

É fato. O disco é essencialmente um trabalho anos luz de distância dos momentos mais roqueiros do cantor. Elvis canta canções ternamente suaves como Gently e mesmo quando se arrisca a acelerar o ritmo, como em I´m Coming Home, não se arrisca a ultrapassar a linha que separa o pop do rock mais visceral. Muito se criticou essa nova postura que Elvis tomou em sua carreira mas os críticos se esqueceram também de analisar o contexto musical em que a volta de Elvis do exército estava inserida.

Não foi apenas Elvis que suavizou sua música, todos os cantores do ínício da década de 60 fizeram isso. Até mesmo artistas que foram endeusados pela mídia, como os Beatles, faziam um som bastante suave, com letras pueris e comportadas em sua primeira fase. Com o fim da década de 50 os antigos roqueiros caíram em ostracismo e o Rock teve que se adequar e se reinventar para sobreviver. Analisando friamente em contexto histórico o Rock, como gênero musical, só conseguiu encontrar sua antiga garra após 1967, quando surgiu o movimento Hippie e o Rock abraçou o psicodelismo que imperava entre a juventude da época.

Exigir uma postura diferente dessa, antes dessa data, soa fora de foco. Para 1961 e para o som que se ouvia nessa época, Something For Everybody se enquadrava bem na média do que era produzido pela indústria do disco nos Estados Unidos. O álbum chegou ao primeiro lugar naquele país e consolidou uma ótima fase comercial em sua carreira, que iria se acentuar depois com a trilha sonora de Blue Hawaii, um grande sucesso de vendas. Para Elvis, naquele momento, tudo parecia ir bem e no caminho correto pois desde sua volta das forças armadas no ano anterior Elvis vinha colecionando um sucesso após o outro. Something For Everybody também se destaca por ser um dos poucos discos de estúdio de Elvis nos anos 60.

Como sabemos Elvis se dedicou de corpo e alma a Hollywood durante essa fase da carreira e o foco foi desviado para a gravação de trilhas sonoras, deixando em segundo plano os LPs convencionais de estúdio. Ao lado de Pot Luck e Elvis is Back, Something For Everybody foi o único disco convencional gravado por Elvis até 1969 quando foi lançado From Elvis in Memphis! Por tudo isso e muito mais o disco realmente necessitava de um revisão que lhe colocasse no lugar que sempre mereceu.

Foi então que o selo FTD promoveu o lançamento de um CD duplo com grande parte das sessões que deram origem ao disco original. Ernst Jorgensen, produtor e diretor do selo FTD, também resolveu prestigiar as canções dos singles I Feel So Bad, Good Luck Charm, Little Sister, His Latest Flame e Anything That´s Part Of You. Foi uma decisão correta e evita que o CD fique cansativo, pois como demonstrado em outros títulos, a repetição de poucas músicas em um CD duplo acaba cansando de certa forma o ouvinte. Ouvindo as canções hoje, tantos anos depois, podemos perceber que não há muito o que debater em termos de qualidade. O disco em si continua ótimo.

O único senão é que no CD 2 não houve, pelo menos na minha visão, um trabalho mais consistente de restauração. Mesmo que as fitas masters estivessem um pouco estragadas pela passagem do tempo penso que um trabalho mais criterioso teria deixado os takes ali presentes com uma sonoridade mais qualificada. De qualquer forma o resgate histórico já tem em si mesmo seu valor. Uma das características mais lembradas de Something For Everybody é a extrema agilidade em que Elvis gravou a maioria das músicas. Em tempos atuais, quando cantores levam meses para finalizar um álbum, Elvis nesse disco demonstrou com rara felicidade que nem sempre a qualidade está desvinculada da agilidade.

Ouvindo os takes percebemos como Elvis estava entrosado com a banda, sutis diferenças existem entre os takes alternativos e a versão master provando que todos estavam afiados quando entraram em estúdio. Dessa forma foi apenas uma questão de tempo até que a versão definitiva fosse gravada. Por todas essas razões o FTD Something For Everybody é altamente recomendado aos fãs de Elvis Presley. Captura o cantor em plena atividade e como protagonista dos eventos, algo que não aconteceu em suas trilhas sonoras onde o cantor era mero coadjuvante do ator Elvis, infelizmente.

Pablo Aluísio - junho de 2009.

Elvis Presley - Elvis e a Surf Music!

Trilhas sonoras como Blue Hawaii e Girls, Girls, Girls, lançadas por Elvis Presley na primeira metade dos anos 1960, deixaram alguns dos fãs mais antigos e leais Rei do "Rock" de orelhas em pé. As composições, os arranjos, as ideias por trás de cada música das novas trilhas sonoras de Elvis bebiam diretamente de um movimento musical que vivia naquela altura uma de suas melhores fases de sucesso: a Surf Music. Esse estilo de música louvando o verão, o surf e a vida dos praticantes desse esporte tinha definitivamente caído no gosto da juventude americana e dominava o espaço que até bem pouco tempo atrás era exclusivo do Rock ´n´ Roll, que naquele momento estava adormecido e ofuscado pelas novas manias musicais.

O Surf Music surgiu ainda nos anos 50 mas sua repercussão não foi tanta a ponto de chamar a atenção. A primeira geração do Rock (formada por artistas como Chuck Berry, Bill Halley e o próprio Elvis) dominava inteiramente as paradas musicais no final dos anos 50, deixando pouco espaço para que os astros que iriam influenciar o surgimento do surf Music como Dick Dale ou Duanne Eddy se sobressaíssem mais. A nova onda musical só começou a crescer mesmo no momento do esfacelamento das carreiras dos roqueiros pioneiros. Enquanto Elvis estava no exército americano vários ídolos teen, que bebiam diretamente dessa nova onda, como Fabian e Frankie Avalon, alcançavam o estrelado tanto nos discos como no cinema.

Então quando retornou do exército em 1960 Elvis acabou aderindo, embora nunca de forma direta ou assumida, ao novo estilo. Em 1961 Elvis estrelou Blue Hawaii, um filme que hoje é considerado um dos maiores símbolos da dominação da Surf Music no cinema. A ligação de Elvis com esse estilo musical iria se aprofundar nos filmes que viriam, como Girls, Girls, Girls (que embora não mostrasse um personagem ligado ao Surf em si, trazia nos arranjos de suas canções todas as características desse som). A coisa continuaria até bem mais tarde na carreira de Elvis, em canções espalhadas por diversos filmes dele, como o fraquíssimo Paradise Hawaiian Style e Clambake (com todas aquelas canções falando de mariscos, praia e biquínis).

Elvis de certa forma ficou entre a cruz e a espada durante esses anos. De um lado a Surf Music alcançava ainda mais sucesso, notadamente a partir de 1961 quando os grupos musicais ligados ao estilo (como The Beach Boys, The Trashmen, The Rivieras, etc) começaram a frequentar os primeiros postos da Billboard e do outro lado os grupos britânicos começavam a dominar também as paradas com a invasão Britânica (com grupos como The Beatles e Rolling Stones, os maiores símbolos dessa era). No meio de tanta novidade e sem fazer parte totalmente de nenhum dos lados, Elvis começou a sumir das paradas musicais. Definitivamente não havia mais espaço para um pioneiro do Rock que só apresentava trilhas sonoras tentando em vão copiar o estilo das bandas da moda.

Elvis só iria reencontrar o caminho do sucesso mesmo em 1968 quando usando um blusão de couro negro (símbolo de ídolos da primeira leva de roqueiros como Gene Vincent) lembrou a todos da importância daquele inigualável grupo de artistas dos anos 50, que ao fundirem o som negro ao branco trariam ao cenário musical uma revolução cultural que sobrevive até os dias de hoje. Elvis certamente nunca convenceu como um membro da turminha da praia, até porque ele não era mesmo, tampouco foi produtiva sua passagem pela nova onda da Surf Music.

Mas tudo serviu como lição. Nos anos 70 Elvis deixaria de uma vez por todas de tentar seguir as modinhas que iam surgindo no mundo da música. Assumiu seu lado mais verdadeiro e recheou seus álbuns setentistas com canções que tocavam fundo em sua alma e em seu sentimento, sem ligar para os modismos e as tendências musicais que dominavam as paradas. Se tivesse seguido esse caminho certamente seus discos dos anos 70 estariam cheios de canções do estilo Discoteca, o que definitivamente seria um terror para seus antigos fãs. Mas isso era passado definitivamente, os filmes e discos da praia mudaram a visão de Elvis. Os dias de verão eterno finalmente foram deixados para trás para todo o sempre. Amém.

Pablo Aluísio - agosto de 2009.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Blue Hawaii (1961)

Trilha sonora do oitavo filme de Elvis Presley, que no Brasil, recebeu o título de "Feitiço Havaiano". Este disco se tornou um enorme sucesso de vendas quando foi lançado em outubro de 1961, se tornando o disco mais vendido da carreira do cantor. Ele atingiu rapidamente o primeiro lugar ficando nesta posição durante 5 Meses!!! (recorde absoluto). O single extraído da trilha com "Can't Help Falling in Love / Rock A-Hula Baby" também acompanhou o grande sucesso deste filme. "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) seria o grande responsável pelos rumos que a carreira de Elvis iria tomar a partir daí. Praticamente todos os seus filmes posteriores iriam seguir a fórmula desta película, com o roteiro versando sobre garotas bonitas, praias turísticas e o interesse romântico do personagem principal. 

 A direção do filme ficou novamente a cargo de Norman Taurog e a estrela seria novamente a atriz Joan Blackman que já havia contracenado com Elvis em "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). O roteiro era baseado no romance "O rapaz Havaiano da praia" e a história versava sobre um jovem de família rica, recém saído do exército, que tentava vencer na vida sozinho. O disco, é claro, segue a mesma temática do filme e Elvis pelo menos no caso desta trilha nos brinda com algumas belas canções que ficaram imortalizadas na sua voz e que iriam se incorporar definitivamente em seu repertório de Shows durante os shows dos anos 70. "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) é isso aí: um filme bonito de se ver, mostrando os pontos mais turísticos das ilhas havaianas, com Elvis pegando umas ondas com seu "jacaré", namoros, diversão e música. Talvez por ser sido tão "relax e na paz" tenha tido tanto sucesso. Estas são as canções de "Blue Hawaii" (LSP 2426) :

BLUE HAWAII (Robin/Rainger) - Música título do filme. A versão original desta canção foi lançada em 1937 por Bing Crosby para a trilha do filme "Waikiki Wedding". Em 1957 o cantor Billy Vaughn a relançou com grande sucesso. Finalmente Elvis gravou sua versão em 22 de março de 1961. Sem sombra de dúvida é uma bela canção que faz jus ao talento do Rei do Rock. A crítica Pauline Kael escreveu sobre "Blue Hawaii": "Elvis parece que deixou sua moto e seu casaco de couro negro à la Brando de lado e o trocou por uma prancha de surf! Só uma coisa parece não ter mudado: seu topete para fazer filmes bobinhos".

ALMOST ALWAYS TRUE (Wise/Weisman) - Música deliciosa e empolgante da trilha. O grande destaque fica com a maravilhosa participação do Saxofonista Boots Randolph. O elenco de "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961) contava ainda com Nancy Winters, Angela Lansbury, Roland Winteres e Joan Blackman. O filme foi produzido por Hall Wallis para a Paramount Pictures.

ALOHA-OA (Queen Liliuokalani) - Esta é uma canção folclórica das ilhas havaianas. Foi creditado seu arranjo musical ao próprio Elvis e alguns fãs mais exaltados afirmaram que a divindade citada na letra era o próprio cantor!!? O roteiro foi escrito por Allan Weiss, que escreveu a maioria dos filmes de Elvis, anos depois ele diria: "minhas ordens eram claras: faça uma história de base para Elvis cantar suas canções e é só".

NO MORE (Yradler/Robertson/Blair) - Adaptação do grande sucesso mundial "La Paloma" do compositor cubano Sebastian Yradler. A adaptação foi feita por Don Robertson, que novamente compareceu em estúdio para ajudar nas gravações. É um dos mais belos momentos de toda a carreira de Elvis Presley. Aqui fica claro que quando o Rei contava com material de ótima qualidade ele demonstrava toda a plenitude de seu talento. A inclusão desta canção italiana se justifica porque o personagem de Elvis serviu o exército na Itália. Assim ele a canta para seus amigos na praia para mostrar o som que rolava nas forças armadas.

CAN'T HELP FALLING IN LOVE (Peretti/Creatore/Weiss) - Canção baseada em "Plaisir d'Ámor" do compositor francês de origem alemã Jean Paul Martini. A versão de Presley foi muito feliz pois foi muito bem adaptada. O maior sucesso do filme. Quando foi lançada em Single em Novembro de 1961 alcançou um enorme sucesso de vendas. Nos anos setenta ela seria utilizada como desfecho de todos os seus shows. Nos anos 90 o grupo UB40 faria uma nova versão de grande sucesso.

ROCK A HULA BABY (Wise/Weisman/Fuller) - Lado B do Single "Can't Help Falling in Love". Vinha classificado no compacto como "twist special". A verdade é que esta não é uma canção do ritmo imortalizado por Chubby Checker e sim apenas mais uma canção pop da trilha. Curiosidade: as filmagens, ao contrário do que pode parecer, foram um tédio para Elvis. Ele afirmou depois que tinha que ficar trancado no Hotel e só descia para as tomadas de cena. Elvis não poderia sair à praia para se divertir como um pessoa comum, pois certamente iria acontecer um tumulto, assim ele só sairia do hotel para realmente trabalhar.

MOONLIGHT SWIM (Dee/Weisman) - Um dos melhores momentos do disco contando com a ótima vocalização feminina de Doroth McCarthy, Virginia Rees, L.Jean Norman e Jackline Allen. A canção foi sucesso em 1957 com Tony Perkins e Nick Noble. Elvis a canta no filme em um carro, junto de turistas que ele leva para conhecer as plantações de abacaxi da ilha havaiana.

KU-U-I-PO (Peretti/Creatore/Weiss) - Bela balada romântica. Nos anos setenta durante o show "Aloha from Hawaii" Elvis gravou algumas músicas deste filme, que não constaram no disco original com a trilha do especial de TV e que só saíram no mercado através do disco "Alternate Aloha" muitos anos depois.

ITO EATS (Tepper/Bennett) - Esta é uma música muito fraquinha da trilha. As trilhas sonoras de Elvis nos anos sessenta apresentavam canções de qualidade misturadas com musiquinhas como esta. O importante é sempre separar o que é realmente bom das ruins. O diretor Norman Taurog dirigiu ao todo nove filmes de Elvis. Era considerado um diretor de estúdio e não um cineasta. Sempre que Elvis foi dirigido por grandes diretores como George Sydney em "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964) ou Michael Curtiz em "King Creole" (balada sangrenta, 1958) ele apresentava um grande trabalho como ator.

SLICIN' SAND (Tepper/Bennett) - Realmente a dupla de compositores Tepper e Bennett não estavam em seus melhores dias quando compuseram algumas canções deste filme. Esta é outro exemplo de como se desperdiçar o talento de Elvis em bobagens. O filme foi lançado nos Estados Unidos no dia 14 de novembro de 1961 e foi o maior sucesso de Elvis Presley no cinema.

HAWAIIAN SUNSET (Tepper/Bennett) - Outra canção bem ao estilo das ilhas do pacífico. Aqui fica registrado a participação de Bernie Lewis na Steel Guitar, Fred Tavares e Alvino Rey no Uekele a orquestração complementar do filme pelo maestro Joseph Lilley. Tudo muito relax e na paz, bem no espírito do Havaí.

BEACH BOY BLUES (Tepper/Bennett) - Blues que é muito bem executado por Elvis e seus músicos, porém mais uma vez fica evidente a péssima qualidade da letra. Esta sem dúvida é uma das piores letras de todos os tempos só sendo superada talvez pela canção "Yoga is a Yoga Does" do filme "Easy Come, Easy go" (meu tesouro é você, 1967) e "A Dog's Life" do filme "Paradise, Hawaiian Style" (no paraíso do Havaí, 1966).

ISLAND OF LOVE (Tepper/Bennett) - Canção bem ao estilo Havaiana. Para caracterizar bem o clima do havaí foram chamados alguns músicos como "The Surfers" para acompanhar o Rei. O filme "Paradise, Hawaiian Style" (no paraíso do Havaí, 1966) foi uma tentativa mal sucedida do empresário de Elvis em repetir o sucesso desta película.

HAWAIIAN WEEDING SONG (King/Hoffman/Manning) - Canção que Elvis cantou para Priscilla na sua lua de mel segundo o próprio relato dela no livro "Elvis e Eu" (Elvis and Me, Editora Rocco, 1985). Pode-se encontrar duas versões ao vivo desta canção gravadas pelo cantor nos anos setenta. Uma está presente no já citado disco "Alternate Aloha" e a outra que faz parte do trabalho musical póstumo "Elvis in Concert". Termina assim a trilha, como no filme, com a "canção havaiana de casamento"

Elvis Presley - Blue Hawaii (1961): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / D.J. Fontana(bateria) / Hal Blaine (bateria) / Bernie Matinson (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Dudley Brooks (piano) / Boots Randolph (sax) / George Fields (gaita) / Bob Moore (baixo) / Bernie Lewis (steel guitar) / Fred Tavares (ukelele) / Alvino Rey (ukelele) / The Surfers (vocais) / The Jordanaires (vocais) / Produzido por Joseph Liley e Hall Wallis / Arranjado por Joseph Liley / Gravado no Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 21, 22 e 23 de março de 1961 / Data de Lançamento: outubro de 1961 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

PABLO ALUÍSIO - Outubro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001.

Feitiço Havaiano

Chad Gates (Elvis Presley) dá baixa no exército e volta para o Havaí, onde mora com seus pais. Ao retornar o jovem deseja trilhar seu próprio caminho sem precisar ir trabalhar na empresa de frutas tropicais de seu pai. Ao lado da namorada (Joan Blackman) ele resolve abrir uma empresa de guia de turismo nas ilhas. "Feitiço Havaiano" foi um dos maiores sucessos de Elvis Presley nos cinemas. Seu empresário o Coronel Tom Parker chamava o filme de "o produto perfeito". A trilha sonora vendeu horrores e o compacto simples com "Can´t Help Falling in Love" foi um dos discos mais vendidos do ano. Com "Blue Hawaii" Elvis finalmente encontrou seu nicho em Hollywood. A partir daí ele basicamente iria fazer esse filme várias e várias vezes novamente. O roteiro era basicamente uma desculpa para que Elvis fosse apresentando uma música atrás da outra nas cenas, o que nesse caso era muito bem-vindo aos fãs pois há vários clássicos do astro na trilha como a música título, "No More" e "Hawaiian Wedding Song" (que ele levaria aos palcos nos anos 70 em Las Vegas). Já a trama desse musical é leve, simples e como pano de fundo traz a beleza natural do próprio Havaí.

Além do grande sucesso "Feitiço Havaiano" também ficou conhecido entre os fãs por outro fato curioso. Foi nas ilhas havaianas, enquanto filmava o filme, que Elvis realizou um dos poucos shows ao vivo que fez durante a década de 60. Ele se apresentou para arrecadar fundos para o monumento do navio Arizona que afundou durante o ataque japonês ao porto de Pearl Harbor. Elvis visitou o local e realizou a apresentação. Com o dinheiro o monumento finalmente foi finalizado. O diretor do filme era velho conhecido de Elvis, Norman Taurog, veterano que iria dirigir várias produções de Hal Wallis com o cantor. A parceira deu certo e juntos acabaram emplacando alguns dos grandes sucessos do Rei do Rock no cinema. O filme inicialmente seria estrelado por Juliet Prowse, que já havia dividido a cena com Elvis em "Saudades de um Pracinha". Cinco dias antes do começo das filmagens porém ela entrou em atrito com o produtor Wallis. Exigiu tratamento de estrela, com despesas pagas para profissionais próprios (maquiadoras, esteticistas, etc) que ela queria levar ao Havaí. O produtor não concordou e Prowse abandonou o filme. Depois do incidente, às pressas, foi convocada a linda atriz Joan Blackman, uma bela morena de olhos verdes que trouxe muita beleza ao já bonito filme. Enfim, "Feitiço Havaiano" é isso, música, praia e diversão. Um filme de verão típico dos anos 60.

Feitiço Havaiano (Blue Hawaii, EUA, 1961) / Direção de Norman Taurog / Roteiiro de Allan Weiss e Hal Kanter / Com Elvis Presley, Joan Blackman, Angela Lansbury / Sinopse: Chad Gates (Elvis Presley) dá baixa no exército e volta para o Havaí, onde mora com seus pais. Ao retornar o jovem deseja trilhar seu próprio caminho sem precisar ir trabalhar na empresa de frutas tropicais de seu pai. Ao lado da namorada (Joan Blackman) ele resolve abrir uma empresa de guia de turismo nas ilhas.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Something For Everybody (1961)

Ótimo momento da discografia de Elvis Presley nos anos 60. Este disco quando foi lançado em maio de 1961 alcançou rapidamente o primeiro lugar da parada musical da Revista Billboard ocupando esta posição durante três semanas consecutivas. "Something For Everybody" foi gravado em apenas uma sessão de gravação em Nashville! Elvis entrou nos estúdios às 10 da noite do dia 12 de março e gravou até às cinco da manhã do dia seguinte. Em pouco mais de 7 horas o cantor já havia terminado sua parte deixando todas as músicas prontas para a RCA. Neste caso a pressa não foi inimiga da perfeição, pois este fato demonstra o alto poder de trabalho de Elvis e também o qualifica como o mais rápido "hit maker" da história. 

O que aconteceu realmente era que Elvis e banda já estavam devidamente ensaiados ao entrar em estúdio, então foi apenas uma questão de se chegar ao take adequado. No mesmo mês que este disco foi lançado o single "I Feel So Bad / Wild in the Country" chegava ao quinto lugar na parada americana e ao primeiro na parada britânica. O lado B deste single promovia o lançamento de mais um filme de Elvis "Wild in the Country" (coração rebelde, 1961). Este filme marca a tentativa de Elvis em estrelar filmes de maior qualidade com roteiros melhores e papéis dramáticos, porém seu objetivo não foi alcançado pois seus maiores sucessos cinematográficos iriam ser as comédias musicais românticas como "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961). De qualquer forma a música "I Sleeped, I Stumbled, I Feel" foi incluída no disco para promover o lançamento do filme. Estas são as canções do disco "Something For Everybody (LSP 2370) :

THERE'S ALWAYS ME (Don Robertson) - Maravilhosa canção romântica escrita pelo ótimo compositor Don Robertson. Robertson inclusive compareceu ao estúdio de gravação e trocou algumas ideias com Elvis. É sem sombra de dúvida uma das mais belas músicas interpretadas pelo Rei do Rock, que nos presenteia com um momento mágico. Além de contar com a voz de Elvis em um de seus melhores momentos, esta traz ainda a participação muito especial da vocalista Millie Kirkham. Simplesmente ouça e se emocione.

GIVE ME THE RIGHT (Wise / Blagman) - Este disco trazia uma curiosidade em relação a outros trabalhos de Elvis: um dos lados do antigo LP era composto exclusivamente com baladas românticas e o outro com músicas mais agitadas. Esta canção é um exemplo do primeiro tipo com ótimo acompanhamento dos músicos do cantor. Elvis e seu produtor resolveram acrescentar novos instrumentos na música para melhorá-la.

IT'S A SIN (Rose / Turner) - Outra ótima balada romântica do disco. Alguns dias antes de Elvis gravar estas músicas ele foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado do Tennessee pelo seu sucesso e também por sua ajuda a diversas instituições de caridade de Memphis. Duas semanas depois Elvis iria para o Hawaii, para começar as filmagens de seu novo filme, "Blue Hawaii" (feitiço havaiano, 1961).

SENTIMENTAL ME (Cassin / Moreheread) - Sucesso em 1949. Elvis foi de certa forma fiel à original dando apenas uns toques para que ela se encaixasse em seu estilo musical. No final tudo saiu bem como podemos conferir. Nesta época começaram a surgir as primeiras críticas ao excesso de músicas românticas nos discos de Elvis. Ele porém não se importou com elas e continuou a gravar belas canções de amor como esta.

STARTING TODAY (Don Robertson) - O Compositor Don Robertson dá o tom do lado romântico deste disco. Aqui outra de suas pérolas musicais interpretada de forma impecável pelo Rei do Rock e seu grupo. Elvis e Don Robertson se tornaram amigos, inclusive o cantor o convidou a ir a Graceland para juntos discutirem e falarem sobre música.

GENTLY (Wizeth / Lisbona) - Canção Romântica bem ao estilo acústico que difere bastante das outras músicas do disco. Sem dúvida é um belo momento da carreira de Elvis. Fez parte também da última coletânea da discografia de Elvis o LP "Welcome to my World". Elvis a gravou três vezes e escolheu uma das versões como a definitiva. As outras duas seriam lançadas em discos piratas nos anos 80.

I'M COMIN HOME (Charlie Rich) - A Melhor canção de todo o disco. Conta com ótimos solos musicais de Scotty Moore na guitarra e Floyd Cramer no Piano. A canção se tornou um grande sucesso na época chegando ao primeiro lugar nas paradas. Ele representa a típica canção pop do início dos anos sessenta. Sem dúvida uma música para entrar na história do Rock mundial.

IN YOUR ARMS (Schroeder / Gold) - Aqui se nota a importância do conjunto vocal The Jordanaires no som de Elvis. Esta bela música conta com o acompanhamento impecável deste grupo. Há uma versão bem interessante desta canção em discos piratas, em que Elvis inverte a ordem da letra, percebe-se o quanto ele trabalhava em uma canção antes de achar o "take" perfeito.

PUT BLAME ON ME (Wise / Twoney / Blagman) - Canção que posteriormente em 1965 foi utilizada como parte da trilha sonora do filme "Tickle-me (o cavaleiro romântico, 1965). Este filme dirigido por Norman Taurog, sem sombra de dúvida é um dos piores filmes de Elvis nos anos sessenta, em que não se teve nem ao menos a preocupação de se gravar um trilha sonora. Lamentável. Todas as músicas de sua trilha já tinham sido lançadas antes.

JUDY (Teddy Redell) - Outro grande momento deste trabalho musical é representado por esta ótima balada de nome tão singelo: "Judy". Este era um truque dos primeiros compositores de Rock'n'Roll: utilizar nomes de pessoas ou cidades para sensibilizar os moradores destes mesmos lugares ou que tivessem o nome destas canções para que elas comprassem o disco! "Judy" foi ainda lado B de um single lançado em 1967, (seis anos depois!?) com "There's Always Me" no lado principal.

I WANT YOU WITH ME (Woody Harris) - Canção pop de ritmo rápido. Elvis nos anos sessenta glamourizou seus arranjos incorporando diversos instrumentos novos em sua música o que lhe deu maior consistência musical. Isto iria se acentuar mais tarde quando Elvis trocaria de produtor, saindo Steve Sholes e entrando Chet Atkins. Este último era considerado um dos grandes nomes de Nashville e era conhecido pelo melhoramento e embelezamento que dava às gravações. Chet Atkins morreu em 2001, causando uma grande comoção no mundo artístico dos Estados Unidos.

I SLEEPED, I STUMBLED, I FEEL (Wise / Weisman) - Única Canção que faz parte da trilha sonora do filme "Wild in The Country" (coração rebelde, 1961) presente no disco. Na edição brasileira isto não ficou bem claro levando muitos a pensar que todo o LP era a trilha sonora do filme. Na época muitos estranharam quando foram ao cinema assistir ao filme e não viram Elvis interpretar as músicas deste disco! A trilha de "Wild In The Country (coração rebelde, 1961) por sua vez era composta pelas seguintes canções: "Lonely Man", "Wild in The Country", "In My Way" e "Forget Me Never". As duas últimas foram lançadas no disco "Elvis for Everyone".

Elvis Presley - Something For Everybody (1961): Elvis Presley (vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Hank Garland (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (sax) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Gravado no RCA'S Studio B, Nashville / Data de Gravação: 12 e 13 de março de 1961 / Data de lançamento: maio de 1961 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #2 (UK).

PABLO ALUÍSIO - Outubro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001.

Elvis Presley - FTD Something For Everybody

Um dos melhores álbuns de Elvis Presley nos anos 60 foi também um dos mais subestimados. Lançado no meio de vários filmes, singles e trilhas sonoras, Something For Everybody foi sendo paulatinamente esquecido pelos fãs do cantor ao longo dos anos. Grande injustiça. O disco é excepcionalmente bom e retrata um ótimo momento vocal de Elvis. Talvez a pouca atenção que tenha recebido ao longo das décadas que se seguiram ao seu lançamento tenha advindo do fato desse ser mais um grande representante do momento em que Elvis trocou definitivamente o Rock´n´Roll dos anos 50 pelo suave e doce pop romântico do começo da década de 60. É fato. O disco é essencialmente um trabalho anos luz de distância dos momentos mais roqueiros do cantor. Elvis canta canções ternamente suaves como Gently e mesmo quando se arrisca a acelerar o ritmo, como em I´m Coming Home, não se arrisca a ultrapassar a linha que separa o pop do rock mais visceral. Muito se criticou essa nova postura que Elvis tomou em sua carreira mas os críticos se esqueceram também de analisar o contexto musical em que a volta de Elvis do exército estava inserida.

Não foi apenas Elvis que suavizou sua música, todos os cantores do início da década de 60 fizeram isso. Até mesmo artistas que foram endeusados pela mídia, como os Beatles, faziam um som bastante suave, com letras pueris e comportadas em sua primeira fase. Com o fim da década de 50 os antigos roqueiros caíram em ostracismo e o Rock teve que se adequar e se reinventar para sobreviver. Analisando friamente em contexto histórico o Rock, como gênero musical, só conseguiu encontrar sua antiga garra após 1967, quando surgiu o movimento Hippie e o Rock abraçou o psicodelismo que imperava entre a juventude da época. Exigir uma postura diferente dessa, antes dessa data, soa fora de foco. Para 1961 e para o som que se ouvia nessa época, Something For Everybody se enquadrava bem na média do que era produzido pela indústria do disco nos Estados Unidos. O álbum chegou ao primeiro lugar naquele país e consolidou uma ótima fase comercial em sua carreira, que iria se acentuar depois com a trilha sonora de Blue Hawaii, um mega sucesso de vendas. Para Elvis, naquele momento, tudo parecia ir bem e no caminho correto pois desde sua volta das forças armadas no ano anterior Elvis vinha colecionando um sucesso após o outro. Something For Everybody também se destaca por ser um dos poucos discos de estúdio de Elvis nos anos 60.

Como sabemos Elvis se dedicou de corpo e alma a Hollywood durante essa fase da carreira e o foco foi desviado para a gravação de trilhas sonoras, deixando em segundo plano os LPs convencionais de estúdio. Ao lado de Pot Luck e Elvis is Back, Something For Everybody foi o único disco convencional gravado por Elvis até 1969 quando foi lançado From Elvis in Memphis! Por tudo isso e muito mais o disco realmente necessitava de um revisão que lhe colocasse no lugar que sempre mereceu. Foi então que o selo FTD promoveu o lançamento de um CD duplo com grande parte das sessões que deram origem ao disco original. Ernst Jorgensen, produtor e diretor do selo FTD, também resolveu prestigiar as canções dos singles I Feel So Bad, Good Luck Charm, Little Sister, His Latest Flame e Anything That´s Part Of You. Foi uma decisão correta e evita que o CD fique cansativo, pois como demonstrado em outros títulos, a repetição de poucas músicas em um CD duplo acaba cansando de certa forma o ouvinte. Ouvindo as canções hoje, tantos anos depois, podemos perceber que não há muito o que debater em termos de qualidade. O disco em si continua ótimo. O único senão é que no CD 2 não houve, pelo menos na minha visão, um trabalho mais consistente de restauração. Mesmo que as fitas masters estivessem um pouco estragadas pela passagem do tempo penso que um trabalho mais criterioso teria deixado os takes ali presentes com uma sonoridade mais qualificada.

De qualquer forma o resgate histórico já tem em si mesmo seu valor. Uma das características mais lembradas de Something For Everybody é a extrema agilidade em que Elvis gravou a maioria das músicas. Em tempos atuais, quando cantores levam meses para finalizar um álbum, Elvis nesse disco demonstrou com rara felicidade que nem sempre a qualidade está desvinculada da agilidade. Ouvindo os takes percebemos como Elvis estava entrosado com a banda, sutis diferenças existem entre os takes alternativos e a versão master provando que todos estavam afiados quando entraram em estúdio. Dessa forma foi apenas uma questão de tempo até que a versão definitiva fosse gravada. Por todas essas razões o FTD Something For Everybody é altamente recomendado aos fãs de Elvis Presley. Captura o cantor em plena atividade e como protagonista dos eventos, algo que não aconteceu em suas trilhas sonoras onde o cantor era mero coadjuvante do ator Elvis, infelizmente.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Flaming Star (1960)

Quando Elvis voltou do serviço militar no começo de 1960 ele trazia na mala não apenas seus pertences pessoais mas também uma idéia fixa que havia desenvolvido enquanto estava na Alemanha. Ao longo dos meses em que passou em serviço militar Elvis acompanhou surpreso o desaparecimento e surgimento de vários cantores e músicos. Aqueles que tinham começado sua trajetória musical ao seu lado na década de 1950 estavam todos passando por enormes dificuldades com as carreiras, que naquela altura estavam praticamente arruinadas. Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Little Richard, todos estavam em baixa no alvorecer da nova década. Ao mesmo tempo novos ídolos juvenis surgiam com uma velocidade espantosa. Fabian, Frankie Avalon e Neil Sedaka, por exemplo, eram novos artistas que tinham surgido do nada e da noite para o dia estavam arrasando nas paradas e nos cinemas. Para Elvis toda essa situação era motivo de grande preocupação pois demonstrava como era efêmera a carreira de um cantor jovem naqueles anos.

Em vista de tudo isso Elvis chegou na conclusão inabalável de que sua única saída para sobreviver como artista quando voltasse aos EUA era se dedicar de corpo e alma ao cinema. Se tornar um ator, acima de tudo. Para Elvis, em suas próprias palavras, "cantores surgem e desaparecem rapidamente, porém se você for um bom ator pode ficar por aí por muitos anos!". Sim, Elvis estava receoso e convencido de que ao voltar para a América sua carreira musical teria apenas mais alguns anos de sobrevida e ele sumiria do mapa, como havia acontecido a todos os demais, a não ser que começasse desde já a virar um ator e dos bons. Infelizmente suas esperanças em desenvolver uma carreira séria como ator de cinema começaram a virar água logo após voltar a Hollywood. "G.I. Blues", seu primeiro filme após o retorno à vida civil, logo se tornou uma enorme frustração para o astro. Priscilla Presley em seu livro relembra o profundo desapontamento de Elvis em relação a esse filme: "Poucas semanas depois Elvis ligou de novo. Seu entusiasmo por G.I. Blues se transformara em amargo desapontamento. Elvis disse: 'Acabei de concluir a droga do filme. Estou detestando. Eles puseram uma dúzia de canções que não valem nada.' — Ele estava furioso — 'Tive uma reunião com o Coronel Parker a respeito. Quero cortar a metade das canções. Sinto-me como um idiota, desatando a cantar no meio de uma conversa com uma garota num trem. (...) O Coronel pediu melhores roteiros. O problema é que se trata do meu primeiro filme depois que voltei e não passa de uma droga." Como se pode perceber pelo relato Elvis simplesmente odiou G.I. Blues porém a despeito de suas ideias sobre o filme esse logo se transformou em um enorme sucesso, tanto em termos de bilheteria como em relação a sua trilha sonora que logo chegaria tranquilamente ao primeiro lugar entre os mais vendidos, mesmo sendo composta de "músicas que não valem nada" como disse Elvis...

De qualquer forma Elvis não se deixou abater e correu atrás de seu sonho de se tornar um ator respeitado em Hollywood. Em razão da promessa que havia feito ao seu cliente, o Coronel Parker logo se colocou à busca de algum roteiro mais consistente e de qualidade, bem ao contrário do enredo ao estilo comédia musical romântica de G.I. Blues. A procura finalmente acabou nos estúdios da 20th Century Fox, a mesma empresa que havia dado a primeira oportunidade a Elvis no cinema em 1956 com o western Love Me Tender. Embora ainda sem título definitivo o roteiro desse novo filme prometia, também era um western, porém com uma visão socialmente correta, envolvendo índios e brancos tentando levar uma convivência pacífica no período pós guerra civil. O projeto havia caído nas mãos de Marlon Brando e Frank Sinatra mas não foi em frente pois Brando detestava o poderoso executivo da Fox, Darryl F. Zanuck. Com Brando fora do projeto, mesmo tendo bastante interesse em um dia fazê-lo por causa de seu tema, a Fox se apressou em oferecer o papel principal a Elvis, pois afinal todos queriam faturar em cima da enorme publicidade que ele tinha logo após retornar a vida civil. Elvis leu o roteiro e gostou muito. Não havia músicas no filme, sem dúvida seria uma grande chance para ele se desenvolver como ator.

Com a aprovação de Elvis o Coronel Parker finalmente fechou o acordo com a Fox para a realização do filme. Os executivos do estúdio porém não estavam contentes justamente com a falta de músicas no roteiro e deixaram claro ao empresário de Elvis que ele deveria cantar no filme, mesmo que os números musicais fossem limitados. Parker também concordava com os chefões da Fox, não havia sentido em fazer um filme com o cantor mais famoso do mundo e não explorar seu talento em uma trilha sonora. Prometeu a eles que conversaria com Elvis e o convenceria a cantar em cena. Elvis ficou muito contrariado ao saber que deveria aparecer no filme cantando, porém como o contrato já estava assinado resolveu abrir mais essa concessão. Assim ficou acertado que a primeira obrigação de Elvis com a Fox seria a gravação da trilha sonora nos estúdios Radio Recorders em agosto daquele mesmo ano.

A trilha sonora - Sempre que Elvis trabalhava na Fox seu grupo musical era educamente colocado de lado pelos executivos do estúdio. Havia sido assim em Love Me Tender e a mesma situação se repetiria em Flaming Star. Scotty Moore, DJ Fontana e os demais sequer foram chamados, ao invés disso o produtor Urban Thielmann resolver escalar um grupo totalmente novo para acompanhar Elvis. Entre as novidades havia o guitarrista Howard Roberts e o baixista Michael "Meyer" Rubin. Da tradicional turma de Elvis em estúdio apenas o pianista Dudley Brooks e os Jordanaires no apoio vocal foram convocados. Elvis chegou ao estúdio com a expectativa de gravar apenas duas canções, que seriam justamente a música tema do filme e mais uma para que fosse apresentada em cena durante o filme. Porém para sua surpresa havia mais de sete canções na pauta! Ele começou os trabalhos com Black Star, depois uma a uma as demais foram sendo gravadas: Summer Kisses, Winter Tears (cortada da trilha e lançada cinco anos depois no disco Elvis For Everyone), Britches (que permaneceria inédita por muitos anos) e A Cane and a High Starched Collar (a escolhida para Elvis cantar durante o filme).

As outras canções da pauta foram ignoradas por Elvis e jamais gravadas. Mesmo assim os trabalhos na trilha não foram definitivos, Elvis ainda retornaria aos estúdios para tentar uma nova versão de Summer Kisses, Winter Tears e em outubro ainda voltaria para gravar Flaming Star, já que o filme havia mudado de nome durante sua produção. Livre da parte musical do filme Elvis então resolveu se dedicar de corpo e alma a sua atuação como ator. Para dirigir o filme a Fox contratou Don Siegel, um diretor ainda considerado de segundo escalão no cinema, proveniente da TV que tinha como maior sucesso no currículo um filme B de ficção científica dos anos 50, que viraria cult ao longo dos anos, Vampiros de Almas. Na realidade ele só se tornaria um grande diretor nos anos que viriam, principalmente após sua parceira vitoriosa ao lado de Clint Eastwood.

Para contracenar com Elvis no filme foram contratadas duas atrizes, uma veterana e uma novata. A novata era Barbara Eden, ex-Miss San Francisco, que tinha como currículo pequenas participações na TV, entre elas uma pequena ponta na popular I Love Lucy e que no cinema só havia estrelado filmes B sem grande importância. Apenas cinco anos depois ela encontraria finalmente o caminho do sucesso ao estrelar a série I Dream of Jeannie (Jeannie é um gênio, no Brasil). A veterana era a mexicana Dolores del Río, cuja carreira de sucesso vinha desde a chamada era de ouro de Hollywood. As filmagens transcorreram sem maiores incidentes com Elvis profundamente empenhado em dar o melhor de si como ator.

A própria Barbara Eden relembra sobre o comportamento profissional do cantor no set: "Elvis tinha uma facilidade muito grande em atuar. Era completamente natural para ele. Em pouco tempo ele se incorporava no papel. Também foi a pessoa com a melhor educação que já conheci, ele tinha boas maneiras, sempre ouvia atentamente o que o diretor Siegel lhe transmitia em termos de instruções na cena, sempre estava aberto a novas sugestões e ao contrário de muitos atores isso não era um problema para ele. Ele não era um astro com um ego monumental, como muitos que encontrei ao longo da minha carreira. Eu sabia que ele queria apenas atuar no filme e não cantar, porém uma música foi encaixada no script e Elvis resolveu não fazer confusão sobre o fato. Ele era muito solícito". O filme foi lançado no final do ano, durante as festas natalinas, e Elvis recebeu boas críticas nos principais órgãos de imprensa, incluindo a prestigiada Variety. Infelizmente o público não respondeu à altura em termos de bilheteria, sendo que no saldo final o filme iria render bem menos do que seu antecessor G.I. Blues.

Para quem esperava um grande sucesso os números finais mostravam apenas uma bilheteria morna, sem grandes atrativos. A RCA Victor também não se empolgou com as músicas gravadas na trilha sonora e resolveu não editar um álbum e nem ao menos um single promocional do filme pois os executivos preferiam apostar em material convencional de estúdio para que os singles de Elvis fossem realmente competitivos nas paradas. Assim em relação ao material gravado para a trilha a RCA resolveu aproveitar apenas a música título Flaming Star e Summer Kisses, Winter Tears que amarradas aos recentes sucessos It´s Now Or Never e Are You Lonesome Tonight? fariam parte do compacto duplo "Elvis by Request". Seguindo o mesmo resultado do filme o lançamento em disco também traria um retorno morno, apenas 14º lugar entre os mais vendidos. De qualquer forma Flaming Star não seria tão facilmente esquecido assim e seu passo rumo a eternidade não viria da indústria do disco e nem do cinema, viria do mundo das artes plásticas. O artista Andy Warhol acabou escolhendo parte do material promocional do filme para criar uma homenagem a Elvis e sua carreira. Suas obras em silk-screen "Double Elvis", "Triple Elvis", e "Elvis 11 Times" acabaram se tornando mais famosos que o próprio filme que lhes deu origem e garantiu a Elvis e sua imagem no filme Flaming Star nada mais, nada menos do que a imortalidade artística.

Elvis Presley - Flaming Star (1960)
Flaming Star
Summer Kisses, Winter Tears
Britches
A Cane and a High Starched Collar
Black Star

Elvis Presley - Flaming Star (1960): Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Howard Roberts / Guitarra: Hilmer J. "Tiny" Timbrell / Baixo : Michael "Meyer" Rubin / Bateria: Bernie Mattinson / Acordeon: James Haskell / Piano: Dudley Brooks / Backup Vocals: The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker / Produzido por Urban Thielmann / Engenheiro: Thorne Nogar / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de Gravação: 08 de agosto de 1960 / Data de Lançamento (Elvis by Request): fevereiro de 1961 / Melhor posição nas charts: # 14 (Billboard)

Escrito por Pablo Aluísio - Março de 2009.