quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

The Knick

The Knick 1.01 - Method and Madness
Basta dar uma pequena olhada nos nomes que estão envolvidos nessa nova série da Home Box Office (HBO), para perceber que o mundo do cinema está cada vez mais interessado no que se está produzindo na TV. Estrelada por Clive Owen e dirigida por Steven Soderbergh, a série The Knick é de fato uma grata surpresa. O enredo se passa em 1900, em Nova Iorque. A medicina, ainda sem os recursos adequados, luta para salvar vidas. No centro de tudo está o Dr. John W. Thackery (Owen), um cirurgião arrojado que deseja aprimorar as técnicas de cirurgia. Esqueça os protagonistas nesse estilo, principalmente daquelas séries tradicionais de médicos bonitões e virtuosos. O Dr. Thackery é bem diferente dos heróis de branco que você está acostumado a ver. Ele é arrogante, viciado em drogas e racista! Achou pouco?! Pois é, um retrato mais próximo das pessoas reais. Some-se a isso o fato do episódio piloto ser bem realista e cru (a ponto de mostrar em detalhes aspectos das cirurgias, com bastante sangue espirrando na tela) e você certamente terá um programa e tanto. Só não recomendo mesmo para quem tem horror a ver sangue jorrando aos montes. Outra série que já mostra desde os primeiros momentos que tem grande qualidade e que veio para ficar. Aproveite e acompanhe, já que estamos em plena estréia da primeira temporada. / The Knick 1.01 - Method and Madness (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.02 - Mr. Paris Shoes
No segundo episódio da série "The Knick" continuamos a acompanhar a rotina de médicos e enfermeiras de um hospital de Nova Iorque no começo do século xx. A série tem ótimos roteiros que mostram não apenas as técnicas utilizadas naqueles tempos (que eram primitivas e bem longe do que se vê hoje em dia) como também os aspectos sociais da interação entre os personagens. A principal delas vem do racismo velado que existia entre brancos e negros. Veja, não estou me referindo a um racismo sutil, feito de pequenas nuances, mas sim de um racismo direto, frontal, sem meias palavras. O Dr. Algernon Edwards (André Holland) é um cirurgião talentoso, sério e muito competente no que faz. Sua opinião dentro da equipe de cirurgia do hospital porém de nada vale simplesmente porque ele é negro! E para piorar o episódio deixa claro que o racismo não partia apenas dos brancos, mas dos próprios negros também. Em determinado momento ele tenta atender uma paciente negra que sem sutileza nenhuma deixa claro que prefere ser atendida em outro hospital a ser tratada por um médico negro como ele! Morando em um bairro afastado, numa pensão só para pessoas de cor, no meio da sujeira e insetos, ele ainda tem que entrar em uma briga corporal um irmão de sua raça que implica com seus belos sapatos comprados em Paris (daí o título do episódio). Além dessa linha narrativa ainda acompanhamos o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) se afundando cada vez mais em seu vício de ópio e cocaína e os desafios do uso pioneiro da energia elétrica dentro dos centros cirúrgicos naqueles tempos primitivos. / The Knick - Mr. Paris Shoes (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.03 - The Busy Flea
E continua a saga de "The Knick". O cenário é um hospital de Nova Iorque no começo do século XX. A ciência ainda não está muito avançada, mas já registra vitórias importantes. Nesse episódio o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) recebe a visita de uma antiga paixão do passado. Ela teve um caso ardente e apaixonado com ele, mas no último minuto se decidiu por casar com outro homem. Péssima escolha. O sujeito não era fiel e acaba contraindo sífilis de uma prostituta. Depois obviamente ela fica doente também. O pior é que parte de sua face é corroída e ela, ainda jovem, se vê desfigurada pelos rastros terríveis deixados pela enfermidade. Apenas Thackery seria de confiança para realizar uma cirurgia que amenizasse tais danos estéticos. O problema é que ele também não anda muito bem, sempre abusando da heroína, sua companheira até mesmo dentro do hospital, na hora do trabalho! Já o Dr. Algernon Edwards (André Holland) continua sofrendo forte preconceito racial de seus colegas de profissão. Embora seja inteligente, culto e preparado, ele é tratado como um médico de segunda classe, onde não se abre oportunidade para que ele demonstre suas habilidades com o bisturi. Revoltado por dentro, resolve ajudar pessoas pobres no porão do hospital, mas isso é certamente uma péssima ideia pela falta de mínimas condições para a prática segura da medicina. O resultado acaba sendo previsível, infelizmente. Temos aqui mais um excelente episódio dessa nova série "The Knick" que desde seu começo tem demonstrado ser uma das melhores coisas da TV americana. / The Knick 1.03 - The Busy Flea (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.04 - Where's the Dignity
As coisas não são fáceis para o Dr. Algernon Edwards (André Holland). Ele é um excelente médico, centrado, focado e estudioso. Some-se a isso o fato dele dominar uma nova técnica de cirurgia que foi criada na Europa. O lógico seria que ele fosse o responsável pelo uso do procedimento no hospital, mas isso não acontece. Como se sabe Edwards é negro e nessa condição sofre todos os tipos de preconceitos na Nova Iorque do começo do século XX. Os demais médicos não confiam nele e até os enfermeiros fazem pouco caso de seu preparo intelectual, o chamando às escondidas de "Dr. Negrinho". Até os pacientes (mesmo sendo também negros) não querem ser atendidos por ele! Uma situação lamentável. Então diante desse quadro a única coisa que sobra a Edwards é também jogar duro. Ele aceita dar instruções na cirurgia, mas impedido de agir, resolve se calar bem no meio da sala de cirurgia. Agora ou os brancos lhe deixam operar o paciente ou esse morrerá ali mesmo. Alguns espectadores podem se chocar com o racismo mostrado pela série, mas isso se justifica pelo contexto histórico que os roteiros exploram. No outro arco narrativo o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) divide seu tempo entre a recuperação de uma velha amiga que ficou sem a cartilagem de seu próprio nariz por causa de uma doença devastadora e as visitas noturnas constantes a um antro de consumo de ópio em Chinatown. A enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) decide segui-lo até aquele inferninho para ter certeza sobre seu vício cada vez mais frequente na popular droga oriental. Afinal de contas onde foi parar a dignidade no meio de todas aquelas pessoas? / The Knick 1.04 - Where's the Dignity (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Roteiro: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.06 - Start Calling Me Dad
No começo do século XX, a medicina ainda não tinha todo o aparato tecnológico que vemos hoje em dia. Dessa forma os próprios médicos tinham que procurar por algum meio para suprir as deficiências próprias da época. Em jogo a vida de muitos pacientes à beira da morte. Valia de tudo, inclusive adaptar aspiradores na sala de cirurgia e coisas do tipo. Para o cirurgião Dr. John W. Thackery (Clive Owen) a busca por novas invenções que salvam vidas era o mais importante obstáculo a ser superado. Assim ele acaba inventando um novo instrumento cirúrgico para reverter as enormes hemorragias que matavam muitas mulheres em trabalhos de parto naqueles tempos pioneiros. Um tubo de borracha inserido no útero nas pacientes que evitava que elas viessem a morrer em pleno parto. Essa busca por inovações tecnológicas acaba sendo a salvação do Dr. Algernon Edwards (André Holland). Pego em flagrante, ao usar instalações do hospital sem autorização, para atender doentes carentes, ele é salvo da demissão quando Thackery descobre que mesmo sob condições adversas, Edwards conseguiu inventar uma nova técnica cirúrgica que salva vidas em procedimentos de operação de hérnia. Admirado pelas habilidades cientificas de seu colega, decide não apenas poupá-lo de ir para a rua como também o leva para o quadro ilustre de cirurgiões do estabelecimento. Um bom episódio da série, mostrando as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da saúde em um tempo onde a improvisação e a imaginação poderiam ser a única tábua de salvação para muitos enfermos. / The Knick 1.06 - Start Calling Me Dad (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.07 - Get the Rope
A série "The Knick" tem investido bastante na questão racial. Embora seja passada no começo do século XX, os roteiristas acharam por bem criarem certas pontes com o momento atual em que vive os Estados Unidos. Nesse episódio um homem branco confunde uma negra com uma prostituta de rua. O mal entendido acaba mal. O rapaz negro que a defende dos insultos acaba sendo morto. Isso causa uma explosão de revolta pelas ruas da cidade de Nova Iorque e o caos se instala. Nem o hospital escapa do pandemônio que é instaurado. Nem é preciso ser muito inteligente para entender que o roteiro desse episódio tem tudo a ver com um caso recente que aconteceu em Ferguson, no estado americano do Missouri, quando um jovem negro chamado Michael Brown levou seis tiros dados por um policial branco. Foi uma forma indireta e até mesmo sutil encontrado pelos produtores para tratar sobre o caso que abalou a mídia por lá. Além disso desde o primeiro episódio um dos conflitos dramáticos mais explorados pela série vem justamente das dificuldades enfrentadas pelo Dr. Algernon Edwards (André Holland) em se impor na profissão. Inteligente e competente, ele nunca é levado à sério ou respeitado, nem mesmo pelos pacientes, simplesmente porque é negro. Pelo menos a partir desse episódio o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) começa a superar seus próprios preconceitos em relação ao colega de profissão e começa a valorizar suas ideias e seu trabalho. Viciado em ópio e cocaína, sua vida particular tem se revelado uma bagunça completa. Grande profissional, não consegue superar seus problemas particulares, amenizados em parte depois que resolveu se envolver com a enfermeira Lucy Elkins (interpretada pela atriz Eve Hewson, que diga-se de passagem é uma gracinha). Enfim, "Get the Rope" tenta assim tocar em um assunto importante, mas sem parecer panfletário ou chato demais. Conseguiu. / The Knick 1.07 - Get the Rope (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco:  Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Eve Hewson.

The Knick 1.08 - Working Late a Lot
Um aspecto até bem comum e pouco conhecido é o vício em drogas de médicos. Como profissionais de saúde eles possuem amplo acesso a substâncias que outras pessoas comuns não têm. Para se tornar um viciado é questão apenas de pequenos passos. O protagonista da série "The Knick" vive esse drama. Brilhante cirurgião, o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) tem sérios problemas nesse campo. Além de seu conhecido vício em ópio, que era bastante popular naqueles tempos, comercializado abertamente em casas orientais, ele também se mostra dependente químico da cocaína. Quando o hospital e a cidade ficam sem cocaína (usada legalmente no começo do século XX) por causa de problemas de importação, ele fica completamente fora de si. Aparentando problemas de abstinência o Dr. Thackery começa rapidamente a surtar pela falta da droga. Tudo bem claro, a olhos vistos, inclusive por outros médicos do hospital. O pior é que ele precisa fazer uma conferência para um grupo de pesquisadores e inventores de sua área, o que deixa a situação ainda mais delicada. Completamente alucinado sobe ao palco, mostrando para todos os presentes os efeitos da falta do entorpecente em seu organismo (esse tipo de situação iria, com os anos, classificar a cocaína como substância viciante, sendo banida para sempre das práticas médicas). Se a vida profissional vai se tornando caótica, a vida pessoal não vai também pelo rumo certo. Ele está cada vez mais envolvido com uma enfermeira que conhece todos os seus problemas e até ajuda ao conseguir um último frasco de cocaína disponível no hospital. Por falar nisso, o chefe da unidade hospitalar resolve ir atrás de doadores privados para que o hospital não feche as portas por falta de recursos. Infelizmente não consegue muito retorno. Chega até mesmo a procurar a Igreja Católica, mas essa já possui seus próprios hospitais de caridade e não pode ajudar a curto prazo. Pelo visto a vida na medicina não era nada fácil há cem anos. / The Knick 1.08 - Working Late a Lot (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 1.09 - The Golden Lotus
No começo do século XX a cocaína era um produto legal, comercializada e vendida em farmácias, geralmente usada em procedimentos cirúrgicos como fator anestésico. Só depois de um certo tempo é que as autoridades de saúde descobriram que ela tinha um alto poder de gerar dependência química em seus usuários. O enredo desse episódio gira exatamente em torno disso. Embora seja um cirurgião brilhante o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) se revela também um viciado em cocaína. Quando a substância some de Nova Iorque por problemas de distribuição ele simplesmente surta com uma pesada crise de abstinência. Chega ao ponto inclusive de arrombar uma farmácia da cidade em busca da droga. Preso em flagrante, é levado para a delegacia e só consegue ser liberado após o dono do hospital onde trabalha oferecer propina ao corrupto policial que o tem em custódia. Isso em nada abala sua jornada em busca da substância. Ele entra em desespero. Para ajudá-lo a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) promete a ele que irá conseguir sua cocaína. Ela é perdidamente apaixonada pelo médico e está disposta a fazer tudo, absolutamente tudo, pelo seu amado. Lucy chega ao ponto de ir ao bairro chinês de Nova Iorque, numa casa de ópio, para conseguir algumas gramas da droga. Para isso chega ao ponto mais baixo que uma mulher pode chegar, tudo para amenizar um pouco a dor do Dr. Thackery. Na outra linha narrativa o Dr. Algernon Edwards (André Holland) recebe uma notícia surpreendente. Há alguns meses ele teve um romance com uma jovem senhorita branca. Ela vem ao hospital lhe informar que está grávida! Inicialmente Edwards fica feliz com a notícia, mas logo depois se decepciona completamente com o fato de que ela quer o aborto pois não estaria preparada para lidar com o preconceito da sociedade. Afinal Edwards é negro e seu filho seria mestiço. Em um mundo onde o racismo imperava ela queria se livrar o mais rapidamente possível do "problema". Claro que essa situação acaba deixando o médico completamente devastado. Será que ele teria coragem de realizar o aborto em seu próprio filho? Como sempre "The Knick" mantém um excelente nível. Essa série criada pelo diretor e roteirista Steven Soderbergh é seguramente uma das melhores coisas da TV americana em exibição. Não deixe de conferir. / The Knick 1.09 - The Golden Lotus (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Steven Katz, Jack Amiel / Elenco:  Clive Owen, André Holland, Eve Hewson, Jeremy Bobb.

The Knick 1.10 - Crutchfield
No começo do século XX a cocaína era usada de forma cotidiana em procedimentos cirúrgicos e médicos. Não se tinha ainda a noção de que essa droga pudesse criar uma forte dependência dentro do organismo. É justamente esse o drama pelo qual passa o Dr. John W. Thackery (Clive Owen). Brilhante cirurgião, ele simplesmente não consegue mais viver sem doses diárias da droga. Imerso em seu próprio vício, sem limites, ele começa então a ter delírios de pura paranoia. Quando um outro médico anuncia que fará uma publicação sobre os tipos sanguíneos existentes na humanidade, Thackery entra em parafuso. Ele se considera muito mais inteligente e competente do que seu concorrente. Assim ele emerge em uma insana busca para compreender o que determinaria os tipos sanguíneos e como se poderia superar o velho problema que sempre surgia quando eram feitas tentativas de transfusão de sangue. Como está completamente surtado e chapado ele levanta teorias completamente idiotas e malucas sobre o tema, apostando que o tipo sanguíneo seria determinado pelo tamanho das hemácias e outros absurdos. Seu acesso de loucura acaba levando à morte uma pequena garotinha de nove anos e então Thackery finalmente compreende que chegou mesmo o momento de ir em busca de ajuda. Acaba sendo internado em uma clínica de recuperação com o falso nome de Crutchfield (que acabou sendo também usado para nomear o episódio). Na última cena há um momento de fino humor negro quando descobrimos que na clínica se tentava curar o vício em cocaína com doses de... heroína! Acredite se quiser! Isso me fez lembrar de um livro best-seller que fez muito sucesso anos atrás chamado "A Assustadora Historia da Medicina", de Richard Gordon. Até evoluir, a medicina realmente tentou e experimentou tratamentos que eram de fato bem assustadores. Pura tentativa e erro. Enfim, esse episódio que fecha a primeira temporada foi um dos melhores da série, mostrando mais uma vez o grande talento do diretor e roteirista Steven Soderbergh. Esse sabe realmente como fazer uma boa série de TV. / The Knick 1.10 - Crutchfield (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.01 - Ten Knots
O Dr. John W. Thackery (Clive Owen) continua sua luta contra o vício de cocaína. Como foi mostrado no episódio anterior ele começou a ser tratado dessa dependência com... heroína! Coisas de um tempo em que a medicina ainda engatinhava, um festival de horrores para falar a verdade. Ao visitá-lo, seu colega de profissão, o Dr. Everett Gallinger (Eric Johnson), descobre que ele está pior do que nunca, completamente surtado, tendo alucinações e sofrendo de delírios. Além da paranoia começa a ver a garotinha que morreu em suas mãos na sala de operação enquanto operava com a mente cheia de drogas. Diante daquela situação horrenda Everett resolve então colocar em prática uma solução radical para a situação. Ele resolve retirar John da clínica de forma clandestina e o leva até seu veleiro. Amarrando Thackery ele pretende dar um choque de reabilitação no amigo. Obviamente que a crise de abstinência bate forte, mas Everett acredita que está no caminho certo. Apenas a desintoxicação completa daquelas drogas salvariam sua vida. John obviamente surta mais uma vez e até tenta agredir Everett, porém aos poucos vai percebendo que a agonia de ficar sem suas doses diárias vai diminuindo com o tempo. Everett também lhe propõe um desafio para ajudar a passar o tempo, desviando o pensamento de John das drogas. O desafia a aprender dez complicados nós de marinheiro, já que eles estão em alto mar. Se conseguir ele o levaria de volta a Nova Iorque. Mais amena é a paixão que a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) nutre por John. Ela não consegue esquecê-lo de jeito nenhum, é um amor que foge da razão. Mesmo com todos os problemas pela frente, ela não consegue deixar de pensar em seu querido amado e fica desesperada quando descobre que ele sumiu da clínica. O amor realmente é lindo e supera todos os desafios e barreiras... Temos aqui o primeiro episódio da segunda temporada, mais uma vez de excelente nível. O sucesso da primeira temporada tem permitido ao diretor e roteirista Steven Soderbergh caprichar cada vez mais, tudo resultando em uma das melhores séries da atualidade. / The Knick 2.01 - Ten Knots (EUA, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Eve Hewson, Eric Johnson.

The Knick 2.02 - You're No Rose
O Dr. John W. Thackery (Clive Owen) volta ao trabalho no hospital. Viciado em cocaína e heroína, ele garante à direção do Knick que está apto para voltar como chefe da cirurgia. O problema é que a confiança já não é mais a mesma de antes. Quem fica muito feliz com sua volta é a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson). Ela é completamente apaixonada por ele e no passado fez de tudo por esse que ela considera o grande amor de sua vida. Thackery porém tem outros planos e já em seu primeiro reencontro com Lucy a diz que não a ama e que só teria ficado com ela no passado porque estava sob efeitos de drogas pesadas. A rejeição amorosa deixa Lucy arrasada. Para complicar ainda mais ela recebe a visita de seu pai, um pastor evangélico. Ele quer saber como vai Lucy, como é a sua rotina e sua vida. Enquanto isso o Dr. Algernon Edwards (André Holland) resolve contar a Thackery que está sofrendo de um sério problema de visão e que ele poderia comandar uma cirurgia experimental para tentar curá-lo. Uma má ideia. Apesar de estar afastado das drogas, Thackery ainda tem alucinações, inclusive com a de uma garotinha que morreu em suas mãos durante uma operação mal sucedida. Sofrendo de abstinência ele também está prestes a sofrer uma recaída, principalmente quando resolve ir a um bar cheio de prostitutas perto do caís de Nova Iorque. Lá a oferta de drogas é farta, colocando em risco seus desejos de se manter limpo. Mais um bom episódio de "The Knick". Se você gosta de séries médicas essa tem vários aspectos singulares, diferenciados, é bem escrita, atuada e tem um contexto histórico dos mais interessantes. Outra que recomendo sem receios. / The Knick 2.02 - You're No Rose (EUA, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Eve Hewson.

The Knick 2.03 - The Best with the Best to Get the Best
Depois de um breve período em que conseguiu ficar longe das drogas, o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) tem uma tremenda recaída. Dessa vez ele não se contenta em apenas usar cocaína ou heroína, pelo contrário, ele resolve fundir ambas numa mistura que futuramente seria conhecida como Speedball, um explosão química, fatal em muitos casos. E é assim, alucinado e viciadão, que ele começa a pesquisar para tentar achar a cura de uma doença que matou muitos no começo do século XX nos Estados Unidos: a sífilis. Curiosamente o Brasil inclusive passa por uma epidemia dessa antiga DST nos dias de hoje. Pois bem, na outra linha narrativa a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) resolve confessar todos os seus pecados em um culto protestante. Detalhe 1: seu pai é o pastor da igreja. Detalhe 2: sua confissão é tão cheia de coisas pesadas (como sexo, drogas e depravação de todos os tipos) que seu pai fica furioso pois acredita que foi humilhado perante todos os seus seguidores! Afinal se a filha dele é uma depravada, como ele pode indicar o caminho da salvação para os outros? Ao invés de lhe dar a eterna e infinita misericórdia de Deus o que ele faz nos bastidores? Promove uma agressão física contra a própria filha! Socos e pontapés para todos os lados. Por falar em evangélicos descontrolados esse episódio ainda tira outra casquinha ao mostrar um juiz protestante completamente parcial e colérico que resolve descontar seu fanatismo religioso contra uma freira católica que vai a julgamento. Por fim, fechando o episódio, o Dr. Algernon Edwards (André Holland) é surpreendido pela chegada de uma mulher a casa de seus pais se dizendo ser sua esposa! O pior é que ela não fala nada além da pura e cristalina verdade. Durma-se com um barulho desses. / The Knick 2.03 - The Best with the Best to Get the Best (EUA, 2015) Direção:  Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.04 - Wonderful Surprises
A medicina era qualquer coisa de brutal no começo do século XX. Usando pouco método científico e seguindo mais na linha da tentativa e erro os médicos de Nova Iorque procuravam por curas para doenças que matavam muitos na época como a terrível sífilis (uma doença sexualmente transmissível). Assim o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) resolve aumentar artificialmente a temperatura de uma paciente após usar essa mesma técnica em porcos. O objetivo é destruir os vírus com o aumento da temperatura corporal. Nos animais deu certo, realmente o aumento de temperatura interna eliminou as doenças, mas em seres humanos a coisa toda desanda para o desastre completo. Um detalhe do roteiro desse episódio também traz um aspecto bem curioso das relações sociais dos membros da elite daqueles tempos. O motorista da ambulância do hospital resolve chantagear um grupo de mulheres ricas da sociedade. Todas elas abortaram usando da ajuda de uma freira, religiosa essa que está prestes a ser condenada. Dessa maneira ou elas a ajudam a escapar da cadeia ou então ela contará tudo o que sabe no tribunal. Em pouco tempo a justiça resolve absolvê-la, mostrando que o sistema judiciário americano nunca foi a maravilha que todos sempre pensaram. Pequenas e grandes corrupções já eram comuns naqueles tempos distantes. / The Knick 2.04 - Wonderful Surprises (EUA, 2014) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.05 - Whiplash  
O Dr. Dr. John W. Thackery (Clive Owen) realiza uma pesquisa para vencer o vício em morfina. Ele pensa ter localizado no cérebro humano a exata localização onde se cria essa dependência. Assim, em sua forma de entender a questão, basta tirar um pedaço desse lugar para que o paciente fique curado do vício em drogas! Claro que sob o ponto de vista atual isso é um absurdo científico, mas naquela época tudo era possível em termos de pesquisa. Assim ele arranca uma parte do cérebro do pobre paciente e essa fica completamente catatônico, lobotomizado. Enquanto isso a enfermeira gatinha Lucy Elkins (Eve Hewson) começa a aceitar os galanteios de um médico do hospital. Ela o acha meio devagar, mas pelo fato do sujeito ser um médico bem posicionado pode ser uma boa ideia se envolver com ele. Por fim o hospital precisa atender uma grande demanda de pacientes que chegam de uma explosão ocorrida na construção do metrô de Nova Iorque. / The Knick 2.05 - Whiplash (Estados Unidos, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Steven Katz, Jack Amiel / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.06 - There Are Rules
Nesse episódio o Dr. John W. Thackery (Clive Owen) vai até um parque de diversões, daqueles com atrações bizarras, bem populares no começo do século XX. Nessa noite em especial ele acaba conhecendo duas irmãs siamesas, expostas como aberração para curiosos. Ele resolve ajudá-las. Ao examinar as garotas vê que elas possuem órgãos internos independentes, com exceção do fígado. Isso significa que uma cirurgia de separação poderia ser realizada. O problema é que as jovens são praticamente escravas de um imbecil, um sujeito asqueroso que alega ter "comprado" as duas (olha o absurdo completo!) em uma viagem à Rússia. O máximo da barbaridade. Assim Thack pede que um dos empregados do hospital resgate as garotas, dando uma tremenda surra no canalha. Nesse episódio também vemos a morte da mãe de um dos cirurgiões do hospital. Ela está com um ofensivo câncer no esôfago (tudo mostrado em cenas fortes!). A cirurgia usando corrente eletrônica (um método experimental) se torna um completo fracasso, com a morte da paciente. Em tempos como aqueles a medicina ainda procurava um caminho seguro a seguir, com muitos experimentos que na maioria das vezes acabava em mortes na sala de cirurgia. Uma triste realidade. A ciência como todos sabemos, pode sim, ser bem assustadora. Por fim esse episódio tem uma cena bem, digamos, peculiar, quando a enfermeira Lucy Elkins (Eve Hewson) masturba um dos diretores do hospital para receber o convite de um baile beneficente! Pois é, não está fácil para ninguém mesmo! / The Knick 2.06 - There Are Rules (Estados Unidos, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb.

The Knick 2.10 - This Is All We Are
Episódio final da série "The Knick" de Steven Soderbergh. No geral foi uma boa série, muito bem produzida, com roteiros caprichados, tudo para mostrar aspectos da medicina no começo do século XX. Tudo se passa em um hospital de Nova Iorque, apelidado pelos moradores justamente de "Knick". O personagem central sempre foi o médico cirurgião Dr. John W. Thackery (Clive Owen). Alucinado, viciado em morfina e cocaína, ele ainda assim conseguia ser um excelente profissional. Nesse episódio final temos uma apoteose digna de seu carisma. Ele precisa passar por uma cirurgia e pensa adotar uma nova técnica desenvolvida por ele mesmo. O problema é que os demais médicos do hospital não saberiam usar esse procedimento. Sem pensar duas vezes o Dr. Thackery decide se operar!!! Isso mesmo, usando de espelhos ele decide fazer a cirurgia em si mesmo! Simplesmente bizarro. O curioso é que o roteiro deixa uma situação em aberto. Tackert desmaia na sala de cirurgia, mas nunca fica claro se ele apenas perdeu a consciência ou se morreu mesmo. Como se trata do último episódio penso que ele morreu de fato. Foi um final justificado para um médico que sempre teve um ego descomunal. / The Knick 2.10 - This Is All We Are (Estados Unidos, 2015) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler / Elenco: Clive Owen, André Holland, Jeremy Bobb, Juliet Rylance, Eve Hewson, Michael Angarano.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

30 Dias de Noite

Título no Brasil: 30 Dias de Noite
Título Original: 30 Days of Night
Ano de Produção: 2007
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: David Slade
Roteiro: Steve Niles, Stuart Beattie
Elenco: Josh Hartnett, Melissa George, Danny Huston
  
Sinopse:
Adaptação dos quadrinhos escrito por Ben Templesmith e Steve Niles (que também assina o roteiro), o filme "30 Dias de Noite" mostra o cotidiano da pequena cidadezinha de Barrow, no Alasca. Em uma região extremamente fria e isolada do mundo, que durante o inverno não se vê a luz do sol, ficando toda a vila imersa em uma noite de 30 dias, que parece eterna. Um cenário perfeito para o ataque de um grupo de vampiros sedentos por sangue humano. Filme indicado ao prêmio da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films na categoria de Melhor Filme de Terror.

Comentários:
"30 Days of Night" é um filme visceral! Não há outra definição para essa fita extremamente violenta que vai diretamente ao ponto. Temos aqui uma cidadezinha do Alaska que fica submersa nas trevas da noite por 30 dias seguidos. O lugar isolado e indefeso logo se torna o alvo perfeito para um ninho de vampiros violentos, sádicos e insanos. O enredo assim pode até parecer simplório demais, diria até simplista, mas não se engane, se trata mesmo de um ótimo filme de terror com muito sangue e vísceras por todos os lados. Não há nada de sensual ou romântico nesses vampiros, eles são monstros ao velho estilo, e não estão nada dispostos a interagir com os seres humanos que são encarados apenas como alimento e nada mais. O visual gótico, o ótimo cenário congelado e desolador e uma fotografia muito bem realizada (graças ao talentoso Jo Willems) tornaram o filme cult com o tempo. A maquiagem e os efeitos especiais são também os ideais, bem realizados, nunca tomando o lugar da trama, se adequando muito bem às cenas. O clima de desespero e violência logo se impõe. De certa maneira esse roteiro era quase uma resposta para a romantização que vinha sendo feita em cima dos vampiros no mundo do cinema e quadrinhos. Esses aqui certamente não estão interessados em paixões humanas e nem em relacionamentos. Eles querem se banhar no sangue alheio, matando o maior número possível de humanos que encontrarem pelo caminho. O curioso de tudo é que o diretor David Slade, que havia chamado a atenção da indústria pelo ótimo suspense "Menina Má.Com", acabou sendo estigmatizado depois de dirigir em 2010 o filme "A Saga Crepúsculo: Eclipse", justamente o extremo oposto do que propunha nesse violento "30 Dias de Noite". Pois é, ninguém é perfeito.

Pablo Aluísio .

O Exorcismo de Molly Hartley

Título no Brasil: O Exorcismo de Molly Hartley
Título Original: The Exorcism of Molly Hartley
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Steven R. Monroe
Roteiro: Matt Venne
Elenco: Sarah Lind, Devon Sawa, Gina Holden
  
Sinopse:
O jovem padre John Barrow (Devon Sawa) acaba participando de um exorcismo de um mulher grávida que termina muito mal, com sua morte. Após o incidente ele é condenado por uma corte civil e enviado para uma instituição de internação psicológica para criminosos (uma espécie de manicômio judiciário). Destituído de suas funções sacerdotais pela Igreja ele precisa recomeçar sua vida de algum ponto. Tudo muda quando Molly Hartley (Sarah Lind) é internada na mesma instituição. Ela é acusada de um duplo homicídio acontecido em seu apartamento após uma noite de baladas e bebedeiras. Ouvindo vozes que atribui ao próprio diabo, Hartley começa a dar sinais de que está possuída por demônios. Caberá a Barrow tentar exorcizar a jovem mulher, mesmo sem autorização da Igreja para isso.

Comentários:
Inédito nos cinemas, foi lançado nos Estados Unidos no mercado de venda direta ao consumidor. Esse tipo de produção costuma ser bem mais modesta, porém como o filme foi lançado pela 20th Century Fox você pode esperar por um padrão mínimo de qualidade. Isso porém não significa que "The Exorcism of Molly Hartley" seja excepcional ou acima da média. Na verdade está até um pouco abaixo do que se vê por ai no nicho de filmes de terror. O roteiro é até interessante e desenvolve uma boa trama, porém derrapa em certos detalhes que incomodam, como por exemplo, o uso de uma espécie de "máquina religiosa" que aprisiona os espíritos malignos em forma de insetos. Basta ler isso para vermos que é uma coisa completamente boba e adolescente. As cenas de exorcismo - que deveriam ser o forte de todo o filme - também não conseguem ser bem realizadas. Há uma maquiagem excessivamente emborrachada na face da atriz que interpreta a personagem possuída Molly Hartley. Isso tira grande parte da veracidade que se esperaria de cenas como essa. Além disso a tal reviravolta na história (que não convém entregar aqui) decepciona completamente, desembocando numa ridícula cena de invocação do mal. Algo que já vimos tantas vezes antes que já saturou totalmente. O diretor Steven R. Monroe é um veterano de telefilmes, alguns até muito bons, mas aqui não traz nada de novo ou original. Ele se limita a seguir velhos clichês que não causam qualquer impacto no espectador. Dentro desse recente revival de filmes sobre exorcismo esse "The Exorcism of Molly Hartley" é certamente um dos mais fracos e derivativos. Perda de tempo apenas.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O Poço e o Pêndulo

Século XVI. Ao descobrir que sua irmã morreu em circunstâncias misteriosas, o nobre Francis Barnard (John Kerr) resolve ir até o castelo onde ela morava com o marido, Nicholas Medina (Vincent Price). O lugar é sinistro, uma velha construção medieval usada no passado como câmera de torturas da inquisição espanhola. Aos poucos Francis vai percebendo que nada é como lhe fora informado. Sua irmã não morrera de um ataque do coração e nem da maneira como ele pensava ter sido. Afinal qual seria a verdade dos fatos naquele ambiente doentio e assustador? Falar que esse filme foi baseado na obra de Edgar Allan Poe é sem dúvida forçar um pouco a barra. Na verdade apenas os 10 minutos finais tem alguma semelhança com o conto escrito pelo genial Poe. O fato é que o texto original tem uma trama muito simples. Basicamente é um homem que acorda numa câmera de torturas da idade média, onde um pendulo com uma grande Lâmina desce em sua direção. O poço onde ele está seria assim uma metáfora do próprio inferno e o pêndulo uma alegoria do tempo que conforme vai passando vai consumindo nossa existência. 

Essa é em breves linhas o conteúdo do que Poe escreveu. O roteirista Richard Matheson precisou assim criar todo um enredo próprio para a realização do filme. Dessa maneira surge vários personagens que inexistiam na obra original de Poe, entre eles o fragilizado Nicholas Medina (Vincent Price). Seu pai foi um dos mais sádicos inquisitores da Espanha e quando descobriu que seu próprio irmão estava tendo um caso com sua esposa resolveu torturar a ambos nos mesmos instrumentos de tortura que mantinha nos porões de seu castelo. Ainda criança Nicholas assistiu a tudo. Com o trauma criou uma personalidade frágil e assustada, sempre aterrorizado com as sombras daquele lugar assustador. É curioso porque Price interpreta ambos os personagens, pai e filho. Como Nicholas (o filho) ele é perturbado e medroso, como Sebastian (o pai) é um torturador insano e masoquista. O diretor Roger Corman fez um bom filme (considerado clássico por alguns), mas de modo em geral ficou apenas na média. As cores berrantes do filme atrapalham um pouco, se fosse realizado em preto e branco seria claramente mais assustador. A trama tem bons momentos e como o filme é relativamente curto (pouco mais de 80 minutos), jamais chega a aborrecer o espectador. Corman sabia como dar um ritmo adequado e um corte certo para filmes como esse.

O Poço e o Pêndulo (Pit and the Pendulum, Estados Unidos, 1961) Direção: Roger Corman / Roteiro: Richard Matheson, baseado na obra de Edgar Allan Poe / Elenco: Vincent Price, Barbara Steele, John Kerr, Luana Anders / Sinopse: Ao investigar a morte misteriosa de sua irmã, um nobre europeu resolve ir até o velho castelo medieval onde ela morava com seu estranho marido. Acaba descobrindo algo mais do que sinistro.

Pablo Aluísio.

Peter Cushing - As Noivas do Vampiro

Essa sugestão vai para quem gosta de um bom filme de terror clássico. O filme se chama "As Noivas do Vampiro" de 1960. Com direção de Terence Fisher e produção dos estúdios ingleses da Hammer esse é um dos mais subestimados filmes da companhia. O curioso é que embora faça parte da franquia original (aquela mesma que começou com Christopher Lee dois anos antes) o roteiro explora não a presença do Conde, mas sim dos infectados com a sua praga. Logo na primeira cena é explicado ao espectador que Drácula está morto, mas que seus súditos continuam a espalhar o mal pelo mundo. Marianne Danielle (Yvonne Monlaur) é uma jovem professora que segue viagem pela sinistra Transilvânia. Ao parar em um pequeno vilarejo ela descobre que seu cocheiro simplesmente foi embora - muito provavelmente apavorado com a possibilidade de ser atacado naquele lugar sombrio. Abandonada numa taverna local, sem ter para onde ir, ela acaba aceitando o gentil convite da Baronesa Meinster (Martita Hunt) para passar a noite em seu castelo. Mal sabe a professorinha que a antiga construção medieval guarda um segredo terrível: o filho da Condessa vive acorrentado em seus aposentos pois é na verdade um vampiro.

A partir daí as coisas se desenvolvem de certa maneira como o esperado. A jovem fica horrorizada ao saber que aquele jovem rapaz vive como um animal acorrentado. Com pena dele acaba lhe libertando ao roubar a chave da Condessa. Depois de livre, o caos se instala. O jovem Barão Meinster (David Peel) sai em busca de sangue humano, afinal de contas ele é uma criatura da noite que precisa se alimentar. Apenas a chegada do Van Helsing (Peter Cushing) poderia deter aquela ameaça terrível. "As Noivas do Vampiro" (ou como também é conhecido "As Noivas do Drácula") é um excelente exemplo do cinema da Hammer. Tudo é muito bem produzido. Os cenários, figurinos e ambientações são de extremo bom gosto. A direção de arte então é realmente de encher os olhos. A Hammer ficou famosa justamente por causa desse capricho especial que trazia em suas produções. O filme gira em torno justamente do Dr. Van Helsing que precisa enfrentar não apenas o Conde Meinster como também um grupo de jovens que também se tornam vampiras por suas mãos (daí o título do filme). É aquele tipo de filme que acabou se tornando uma grande influência dentro do cinema. Se você prestar bem atenção, por exemplo, vai ver que esse visual de jovens vampiras vitorianas usando camisolas, sendo sensuais e temidas ao mesmo tempo, foi copiado a exaustão por todos os demais filmes de terror (na verdade até hoje em dia não conseguimos ver tais vampiras vestidas de outro modo). Assim o que vemos aqui é um verdadeiro percurssor de toda uma linhagem de filmes de terror. Uma pequena obra prima do gênero, muito bem realizada e saborosamente nostálgica.

As Noivas do Vampiro (The Brides of Dracula, Inglaterra, 1960) Direção: Terence Fisher / Roteiro: Jimmy Sangster, Peter Bryan / Elenco: Peter Cushing, Martita Hunt, Yvonne Monlaur, David Peel, Freda Jackson / Sinopse: Jovem professora de crianças acaba caindo em uma armadilha mortal ao aceitar o convite para passar a noite no castelo Meinster, na verdade um reduto de vampiros. Filme premiado pela  Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films na categoria Melhor Lançamento Clássico de DVD.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme

Pela importância e história até que demoraram demais para lançar essa animação em grande estilo, celebrando a imortal criação de Charles M. Schulz. Quem conhece sabe que o grande segredo da turma do Charlie Brown para ser até hoje tão cultuada vem da riqueza interior de todos os personagens. Todos eles foram inspirados em pessoas reais e até no próprio criador (na verdade o garotinho tímido, inseguro e desajeitado Charlie Brown nada mais era do que um alter ego de Schulz). Lucy, por exemplo, era baseada na primeira esposa do cartunista, uma mulher mandona, dominadora e que o aconselhava constantemente a ir procurar um analista (o que lhe valeu nas tirinhas a irônica função de dar conselhos aos demais personagens, todos aliás completamente sem noção). Na verdade ele não gostava dela, tanto que se separou após alguns anos de um casamento sem amor. Já Patty Pimentinha era a própria prima de Schulz, uma garota que se comportava como um menino, que jogava bola com eles e era considerada quase um garoto também (isso explicaria seu jeito meio hippie nas tirinhas). Agora a melhor criação de Schulz foi realmente a Garotinha Ruiva, inspirada no grande amor de sua vida. Assim como Charlie Brown era perdidamente apaixonado por ela, Schulz o era por Donna Mae Johnson, a jovem ruiva que o inspirou. Infelizmente ele foi rejeitado e desse amor não correspondido veio provavelmente tudo o que vemos em sua criação.

Nessa nova animação os roteiristas foram muito felizes em sintetizar quase 50 anos de criação do mestre Charles M. Schulz em apenas pouco mais de 70 minutos de duração. Nada faltou. Estão lá a paixão platônica de Charlie Brown pela Garotinha Ruiva, os sonhos literários do esperto Snoopy, as trapalhadas de toda a turma, a professora com voz de trombone... Quem acompanhou os inesquecíveis filmes animados realizados nas décadas de 1970 e 1980 (como por exemplo "Feliz Aniversário Charlie Brown" ou "Algum Dia Você Irá Encontrá-la, Charlie Brown") vai ter uma sensação nostálgica boa da infância. Esses desenhos animados, praticamente todos eles assinados por Bill Melendez (que também dublava o próprio Charlie Brown), talvez sejam a grande referência para esse novo filme, com a diferença básica que aqueles foram realizados de forma tradicional e aqui temos tudo em computação gráfica (não precisa se preocupar, tudo é de muito bom gosto). No final das contas a humanidade de todos os personagens desse universo explica seu sucesso geração após geração e isso certamente não falta nessa nova animação. É sempre um prazer nostálgico delicioso rever essa turma novamente.

Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme (The Peanuts Movie, Estados Unidos, 2015) Direção: Steve Martino / Roteiro: Bryan Schulz, Craig Schulz, baseados na obra original criada por Charles M. Schulz / Elenco: Noah Schnapp, Bill Melendez, Hadley Belle Miller / Sinopse: Charlie Brown (Bill Melendez) é um garotinho inseguro, tímido e bem desajeitado. Nada parece dar muito certo para ele. Apenas seu cachorrinho e eterno amigo Snoopy o compreende. Sua vida muda completamente quando uma nova vizinha muda para a casa ao lado. Ela é uma linda Garotinha Ruiva que faz Charlie Brown ficar completamente apaixonado. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Animação.

Pablo Aluísio.

Marvel Super Hero Adventures: Frost Fight!

É a tal coisa, se a DC Comics vem faturando bem com animações em DVD era praticamente certo a Marvel ir pelo mesmo caminho. Nada pessoal, apenas negócios. Assim chegamos nesse "Marvel Super Hero Adventures: Frost Fight!". Nesse desenho a Marvel usa seu grupo de super-heróis mais popular, os Vingadores. Ao lado dos tradicionais Thor, Homem de Ferro, Capitão América e Hulk, surgem novos membros como O Réptil e a Capitã Marvel (que são bem sem graça, vamos convir). O vilão é o Loki, o eterno inimigo do Thor. Como o DVD foi lançado em dezembro para o natal a Marvel encomendou um enredo bem natalino que envolve até mesmo o Papai Noel, isso mesmo! Eles vão até a Terra de Santa Claus que na verdade seria uma antiga divindade de Asgard! Achou fantasioso demais? E é mesmo, pois essa é uma animação para os mais jovens, garotada até 12 anos.

Sinceramente achei bem pobre a técnica de animação empregada aqui. Ao estilo tradicional, mas bem fraca mesmo, a arte nunca empolga. Além de ser excessivamente juvenil (como eu disse é recomendado para os garotos mesmo) há ainda excessos de piadinhas sem graça. Talvez a única grande novidade digna de nota seja a presença de dois personagens do universo Marvel de "Guardiões da Galáxia". Pois é, os roteiristas arranjaram um jeito de colocar Groot e Rocket Raccoon na estorinha. Pena que nem isso ajuda muito pois é realmente uma animação bem fraquinha, muito longe das recentes lançadas pela DC. Se continuar assim os Vingadores vão continuar a comer poeira nesse concorrido mercado.

Marvel Super Hero Adventures: Frost Fight! (Estados Unidos, 2015) Direção: Mitch Schauer / Roteiro: Mark Banker / Elenco: Mick Wingert, Matthew Mercer, Travis Willingham / Sinopse: Os Vingadores se unem para defender o Papa Noel do plano maquiavélico de Loki que deseja dominar seus poderes.

Pablo Aluísio. 

sábado, 2 de janeiro de 2016

Marlon Brando - Os Deuses Vencidos

Um dos trechos mais interessantes da autobiografia do ator Marlon Brando intitulada "Canções Que Minha Mãe Me Ensinou" surge quando ele começa a tecer alguns comentários sobre o filme "Os Deuses Vencidos" (The Young Lions, EUA, 1958), produção dirigida por Edward Dmytryk. Brando assinou o contrato sem saber a fundo do que se tratava. Ele apenas tinha uma vaga ideia de que o roteiro seria uma adaptação da novela do escritor judeu Irwin Shaw e que se passava na II Guerra Mundial. O enfoque recaía sobre três personagens principais, três soldados. Um deles era um americano judeu chamado Noah Ackerman (papel que foi entregue ao grande ator Montgomery Clift). O seguinte era um americano comum que entrava no exército para combater na Europa. Esse segundo personagem seria interpretado por Dean Martin, naquela época tentando sobreviver ao rompimento de longos anos de parceria com Jerry Lewis. Por fim Brando interpretaria um oficial alemão nazista chamado Christian Diestl.

As filmagens seriam realizadas na Europa e durante a pré-produção do filme Brando se encontrou com Dean Martin em um restaurante de Paris. Durante o jantar um garçom acabou causando um acidente, derrubando água fervente nas pernas de Brando. Com sérias queimaduras ele precisou ser internado em um hospital. E foi lá que Brando finalmente teve a oportunidade de ler o roteiro do filme. Ele ficou chocado porque o seu personagem era muito maniqueísta, sem profundidade, um vilão tolo de filmes de guerra. O tenente alemão surgia nas páginas do roteiro como frio, calculista, perverso e completamente psicopata. Brando não aceitaria fazer uma atuação em cima de um material tão sem complexidade. Depois ele percebeu que a culpa vinha da própria novela que daria origem ao filme, escrita por Irwin Shaw que era judeu. Claro que no calor ainda fervente das revelações do holocausto nazista o autor resolveu retratar um oficial nazista como um verdadeiro monstro. Para Brando porém isso não era suficiente, se o personagem não fosse remodelado ele estaria fora do filme (e os produtores sabiam que ele faria isso mesmo, cumpriria sua ameaça).

Em seu livro Marlon Brando explicou de forma bem coerente seu ponto de vista. Para ele a culpa nem seria do nazismo ou do fanatismo que se abateu sobre o povo alemão naquele conturbado momento histórico. Na verdade o militarismo impunha esse tipo de comportamento em suas fileiras e nada poderia ser feito para mudar isso. Um dos pilares da disciplina militar seria justamente a obediência cega às ordens superiores de comando. Assim o tenente interpretado por Marlon Brando nada mais estaria do que cumprindo ordens, por mais insanas a violentas que fossem. Para Brando o personagem Christian Diestl não seria um psicopata por definição, mas apenas um alemão comum que respeitava as disciplinas militares do exército de seu país. Um argumento que foi bastante utilizado por velhos generais prussianos que foram julgados depois da guerra.

O mais interessante do ponto de vista do autor é que ele deixa claro que uma nacionalidade ou uma etnia nunca definiriam o caráter de uma pessoa. Assim como havia alemães ruins, também havia judeus sem um pingo de bondade. Para finalizar seu pensamento Brando relembrou os crimes de guerra cometidos por tropas americanas no Vietnã. Soldados ditos civilizados do exército dos Estados Unidos, portando lança-chamas, queimaram casas, matando famílias inteiras, velhos, mulheres e crianças. E o que dizer dos terríveis bombardeios de Napalm, um bomba incendiária que destruía tudo sem qualquer critério? Aliás o exército americano em tantos anos de invasões a outras nações teria se tornado contumaz em crimes contra a humanidade. Será que haveria mesmo diferença entre um soldado alemão nazista que matava inocentes e um soldado americano que fazia a mesma coisa nas selvas do Vietnã?

Pablo Aluísio.

Sean Connery - Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

Sean Connery foi realmente o melhor James Bond da história? Bom, essa é uma pergunta que não teremos uma resposta definitiva. Vai depender do gosto pessoal de cada um, do estilo que cada cinéfilo prefere. Ontem assisti novamente - fazia anos que tinha visto pela última vez - o quinto filme de James Bond com Sean Connery, "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes" (You Only Live Twice, 1967). Olhando por um ponto de vista atual não podemos deixar de perceber que o roteiro é certamente totalmente formulaico - no caso seguindo a fórmula dos filmes do agente secreto. Há sempre um vilão completamente insano por trás, com instalações de fazer inveja a muitos países, colocando em prática planos maquiavélicos de destruição do mundo. Nesse em particular o velho conhecido Blofeld (interpretado por Donald Pleasence) quer nada mais, nada menos, do que causar uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética (o velho império russo sob as rédeas do comunismo). Dá para ser mais maléfico do que isso? Certamente não. Parece até mesmo aqueles planos de vilões de desenhos animados. Como aqueles dois ratinhos que sempre perguntavam no começo de cada episódio: "O que vamos fazer hoje, cérebro?" - "Vamos destruir o mundo, meu caro Pinky!".

Claro que uma produção tão antiga apresenta situações que hoje beiram o ridículo, porém o espectador precisa entender que isso faz parte do charme nostálgico do próprio filme. Em uma das situações mais absurdas Bond foge de um grupo de criminosos que estão atrás dele e da agente Aki (Akiko Wakabayashi). A intenção é cumprir a ordem de um importante industrial japonês que está sob as ordens da Spectre. Pois bem, Bond e sua colega escapam em alta velocidade porém como estão praticamente desarmados, Bond pede ajuda ao serviço secreto do Japão que, ora vejam só, surge no horizonte com um helicóptero equipado com um enorme imã. O carro dos criminosos é então içado pelo poder do magnetismo e depois jogado em alto mar, assim sem muito esforço. A cena, extremamente divertida, também me fez lembrar dos antigos desenhos de Hanna-Barbera. Em outro momento Bond destrói quatro helicópteros armados pilotando uma pequena aeronave que mais parece um ultraleve. É a tal coisa, vale tudo pela diversão.

Sean Connery na época em que o filme foi produzido já estava com a decisão tomada de abandonar James Bond. Afinal de contas ele tinha receios de ficar marcado para sempre por um único papel. Depois que rodou "Marnie" ao lado do mestre Alfred Hitchcock, Connery criou a consciência de que sua carreira poderia ir muito além de James Bond. E verdade seja dita, ele se esforçou muito para não ser estigmatizado para sempre. A boa notícia é que ele conseguiu pois hoje em dia o nome Sean Connery tem força suficiente para ser lembrado por inúmeros outros grandes filmes além da marca James Bond. Isso porém em nada diminui sua importância dentro da franquia, a ponto inclusive de ser muitas vezes apontado por inúmeros fãs como o melhor ator de toda a saga - uma afirmação que hoje em dia teria certo receio de expor sem parar para pensar muito antes.

Deixando tudo isso de lado temos que admitir que o filme é obviamente muito divertido e funciona muito bem ainda, mesmo após tantos anos. Um de seus maiores charmes é ser justamente politicamente incorreto. Na década de 1960 essa chatice ainda não havia invadido os roteiros e por isso James Bond poderia agir como James Bond sem se preocupar com críticas vazias. Numa das cenas Bond é apresentado por seu anfitrião no Japão, o agente Tiger Tanaka (Tetsurô Tanba), a um grupo de lindas gueixas japonesas. Elas estão ali para dar um banho em Bond. Então Tanaka lhe diz: "No Japão os homens sempre estão acima das mulheres e elas ficam felizes em lhes servir" ao qual Bond, igualmente cínico, lhe responde: "Nada mal, quando me aposentar irei morar aqui no Japão". Já pensou algo assim nos dias de hoje? Enfim, pura diversão escapista com tudo aquilo que você espera de um bom filme de James Bond.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Batalon

Longe dos tempos soviéticos quando o cinema russo tinha que viver da boa vontade da burocracia socialista, muitas vezes altamente corrupta, temos agora cada vez mais bons filmes produzidos na Rússia. São produções que não estão preocupadas em levantar velhas bandeiras ideológicas, mas sim em contar boas histórias, com uma excelente qualidade técnica que em nada as diferencia das películas ocidentais. Veja o caso desse "Batalon" (ainda sem título em português). O roteiro explora um fato real histórico dos mais interessantes. Durante a I Guerra Mundial o exército russo resolveu formar um batalhão de mulheres para lutar no front. Ao contrário das funções tradicionais desempenhadas por elas em guerras (como enfermeiras, cozinheiras, etc), essas jovens recrutas iam para o combate, lutar como verdadeiras guerreiras, sem qualquer tipo de privilégio por causa de seu sexo. Agora imagine algo assim no começo do século XX, quando o preconceito ainda era muito presente dentro da sociedade.

No front elas enfrentam todos os tipos de problemas, inclusive a sempre preocupante ameaça relacionada a estupros coletivos (inclusive partindo de seus próprios camaradas de armas, já que o exército russo teve que enfrentar muitas denúncias sobre isso em relação às mulheres das terras conquistadas). O filme tem dois atos bem diferenciados. No primeiro vemos o recrutamento delas. Assim que a notícia da formação do batalhão feminino é divulgado várias mulheres de todos os lugares da Rússia logo se apresentam como voluntárias. Muitas delas ficaram viúvas com a guerra e nutrem um sentimento de vingança contra o exército alemão inimigo. Outras apenas querem fugir de uma vida sem maiores perspectivas. O curioso é que não apenas mulheres das camadas mais humildes da população russa se apresentam, mas também jovens da nobreza (inclusive até mesmo uma condessa se alista como voluntária nas fileiras). No segundo ato o filme explora a participação delas na guerra propriamente dita. O roteiro é bem direcionado, contando tudo de uma forma bem fluída e sem tropeços. Usando uma narrativa tradicional é quase impossível o espectador não se envolver com a história, com as personagens e com o destino que as aguarda nas infectas trincheiras de uma das guerras mais brutais da história. Excelente exemplar do melhor que o cinema russo produz atualmente. Está mais do que recomendado para os cinéfilos que estejam atrás de algo diferente, que fuja um pouco do mais convencional do cinema comercial americano.

Batalon (Idem, Rússia, 2015) Direção: Dmitriy Meskhiev / Roteiro: Writers: Ilya Avramenko, Evgeniy Ayzikovich / Elenco: Lesya Andreeva, Mariya Antonova, Mariya Aronova, Nikolay Auzin / Sinopse: O filme narra a história da formação do primeiro e único batalhão do exército russo formado exclusivamente por mulheres durante a I Guerra Mundial. Após um treinamento duro e exaustivo elas são enviadas para o front de combate, onde acabam enfrentando todos os tipos de adversidades do campo de batalha.

Pablo Aluísio.

Planeta dos Macacos: O Confronto

Já havia gostado bastante do primeiro filme, "Planeta dos Macacos: A Origem" de 2011 e agora pude constatar que a continuação, se não é tão boa quanto o filme anterior, pelo menos manteve um bom nível. É bom lembrar que essa é na verdade a terceira franquia desse universo. A primeira começou justamente no filme clássico "O Planeta dos Macacos" de 1968, estrelado por Charlton Heston e com direção de Franklin J. Schaffner. Depois vieram várias continuações e até uma série de TV. A segunda se limitou àquele interessante filme dirigido por Tim Burton de 2001 e agora temos essa nova leva de produções. A tônica aqui é mais realista. O grande destaque vai para Caesar (Andy Serkis), um macaco fruto de experiências pioneiras no primeiro filme. Ele desenvolve uma inteligência quase humana e depois se torna líder de seu bando. Nessa segunda produção Caesar e seus seguidores vão para uma reserva florestal nos arredores de San Francisco. 

Um vírus mortal criado em laboratório, que inclusive era usado em experiências com macacos, se disseminou entre a população humana. Noventa por cento da humanidade morreu por causa de sua proliferação. O que sobrou dos seres humanos no planeta agora se organiza em pequenas comunidades de sobrevivência. Dreyfus (Gary Oldman) lidera uma delas. O maior desafio é manter a geração de energia, mas para isso eles precisam recuperar uma usina hidrelétrica que se localiza justamente no território do grupo de Caesar, algo que pode desencadear uma verdadeira guerra entre macacos e homens. Ao custo de 170 milhões de dólares essa sequência se notabiliza pelo bom roteiro (que não chega a ser tão criativo como a do primeiro filme) e dos excelentes efeitos de computação gráfica.

Todos os animais do filme são meras criações digitais. Nesse caso os efeitos não são gratuitos, muito pelo contrário, eles ajudam a contar uma história muito bem desenvolvida. Para os críticos esse filme não passaria de um remake menos talentoso de "A Batalha do Planeta dos Macacos" (1973), assim como "Planeta dos Macacos: A Origem" nada mais seria do que uma refilmagem de "A Conquista do Planeta dos Macacos" (1972), ambos da franquia original. Eu vejo esse tipo de comparação com reservas. Na verdade há elementos novos, bem originais para se falar a verdade, tudo impulsionado por descobertas e teses científicas que inexistiam quando os primeiros filmes foram realizados na década de 70. Além disso há uma bem explorada rivalidade entre o líder Caesar e aquele que deveria ser seu braço direito, Koba (Toby Kebbell). Esse teria desenvolvido uma personalidade psicopata por causa das terríveis torturas a que teria sido submetido quando não passava de uma cobaia em cativeiro, o que obviamente criou em sua mente um grande trauma em relação aos seres humanos. Já Caesar teria tido uma outra vivência, principalmente com o pesquisador interpretado por James Franco, que teria lhe ensinado que os seres humanos também poderiam ser bondosos e amigos. Essa diferença de visões acabaria levando Koba e Caeser para um confronto mortal. Então em resumo é isso. Temos aqui um bom filme que me agradou bastante. A boa notícia é que fica bem claro no desfecho que haverá uma sequência em breve, a terceira dessa nova série. Se manter o bom nível dos dois primeiros filmes teremos certamente, no mínimo, uma boa diversão pela frente.

Planeta dos Macacos: O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, Estados Unidos, 2014) Direção: Matt Reeves / Roteiro: Mark Bomback, Rick Jaffa / Elenco: Gary Oldman, Keri Russell, Andy Serkis, Toby Kebbell, Jason Clarke / Sinopse: Após noventa por cento da humanidade morrer por causa de um vírus produzido em laborátorio, humanos e macacos entram em conflito por causa de uma usina hidrelétrica localizada nos arredores de San Francisco. Filme indicado ao Oscar e ao BAFTA Awards na categoria de Melhores Efeitos Visuais (Joe Letteri, Dan Lemmon, Daniel Barrett e Erik Winquist).

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

George Harrison - Verdades e Mentiras

Por que George Harrison ficou conhecido como o "Beatle Quieto"? George sempre adotava uma postura muito discreta e quase nunca falava com jornalistas. As atenções pareciam sempre estar focadas em Paul McCartney e principalmente em John Lennon por esse ser sempre uma pessoa muito polêmica. Conforme explicou anos depois o próprio George não parecia muito interessado em jornais, matérias ou publicidade. A parte que realmente lhe interessava na carreira era a musical, nada mais. Criar polêmicas, soltar frases de efeitos ou aparecer em demasia na mídia não faziam sua cabeça, tanto que após se separar dos Beatles raramente voltou a conceder entrevistas. Raras foram as vezes que abriu espaço para jornalistas em sua carreira solo, nem quando ia aos Estados Unidos realizar turnês que precisavam desse tipo de publicidade. Lidar com a imprensa definitivamente não era com George. Por ter colaborado tão pouco nesse aspecto passou a ser chamado pelo órgãos de imprensa como "O Beatle Quieto".

George Harrison foi traído por Eric Clapton?
Sim, a primeira esposa de George o traiu com Eric Clapton. George Harrison conheceu Pattie Boyd quando ela foi convidada para cortar o cabelo dos Beatles ao lado de outras modelos para a matéria de uma popular revista inglesa. Tudo fazia parte do material promocional do filme "A Hard Day´s Night". George ficou encantado com sua beleza e semelhança com a atriz Brigitte Bardot. Deixando a timidez de lado ele a convidou para jantar fora. O namoro foi breve e após um relativamente curto período de relacionamento, se casaram. Poucos meses depois do fim dos Beatles o casamento entrou em crise. George começou a se dedicar a cada vez mais em se aprofundar na sua religião e negligenciou sua esposa. Passando longos períodos fora de casa o relacionamento esfriou. Pattie viu que o casamento estava falido e começou a procurar amantes, a maioria deles músicos, entre eles o Rolling Stone Ronnie Wood. Depois conheceu pessoalmente Eric Clapton e se apaixonou por ele perdidamente. George havia se tornado apenas um farto em sua vida e ela, sem pensar muito e nem olhar para trás, trocou Harrison por Clapton. Anos depois se casaria com ele.

Como era o relacionamento entre George Harrison e John Lennon?
No começo John Lennon tratava George Harrison praticamente como um pupilo. Havia uma diferença de idade entre eles e Harrison tratava Lennon quase como a um mestre a ser seguido. No fundo o admirava tanto que quase o idolatrava. O próprio John lembrou disso quando anos depois criticou a autobiografia do colega de banda. Com o tempo George começou a se sentir deixado de lado e criou-se uma tensão entre eles, principalmente por causa dos rumos que os Beatles trilhavam na época. Harrison queria mais espaço nos discos, mas John estava sempre tirando muitas de suas composições do repertório final dos álbuns. Quando Yoko Ono entrou na vida do grupo as coisas azedaram de vez. George não gostava de Yoko e a criticava abertamente o que enfurecia John. Para George era um absurdo ter Yoko dentro dos estúdios, por exemplo. John Lennon que sempre fora muito brigão comprou a briga e ambos começaram a ter discussões furiosas durante as sessões de gravação. Chegaram ao ponto de ficarem sem se falar por meses. O ápice das brigas aconteceu justamente quando John Lennon sugeriu que Yoko se tornasse uma Beatle, algo que George considerava uma maluquice sem tamanho.

George tinha ressentimentos da dupla Lennon e McCartney?
No começo dos Beatles, George não sentia necessidade de participar mais ativamente dos discos. Ele ficava feliz e satisfeito em fazer os principais solos do grupo. Porém quando começou a fazer suas próprias composições começou a ficar muito insatisfeito quando as músicas eram tiradas dos álbuns por John Lennon. Sempre muito ácido o líder dos Beatles geralmente tinha coisas amargas ou críticas destrutivas para desqualificar as criações de George. Quando alguma música ganhava destaque, como "Taxman", John corria para a imprensa para dizer que havia composto pelo menos metade da canção o que deixava George muito chateado e muitas vezes até humilhado com esse tipo de declaração pública. Quando o grupo finalmente atingiu a maturidade musical George começou a brigar por mais espaço nos discos o que acabou se tornando mais um foco de brigas entre os membros da banda.

O que matou George Harrison?
Durante toda a vida George Harrison foi um fumante inveterado. Sua média era dois maços de cigarro por dia e isso era um hábito que o acompanhava desde os tempos da adolescência, quando era apenas um jovem colegial. O tabagismo descontrolado acabou sendo a causa do surgimento de um fulminante câncer de pulmão que George tentou de todas as formas combater, mas que em estado avançado já havia se tornado incurável. Nos momentos finais George ainda teve a intenção de participar de uma campanha nacional contra o fumo e o tabagismo, porém já não tinha saúde suficiente para isso. Ele morreu se lamentando por seu vício em cigarros, o que acabou lhe custando a própria vida.

Como era George Harrison fisicamente?
George Harrison era o mais jovem dos Beatles, porém era um dos mais altos. Ele tinha 1.77m de altura. Outra característica física que chamava a atenção era o fato de George ser também muito magro, chegando a ter no máximo 62 quilos. Harrison não cultivava uma vida muito saudável pois era fumante e usava drogas, porém geneticamente parecia predisposto a ser magro. Também não era um homem de exageros na mesa, procurando na maioria das vezes consumir apenas frutas e alimentos leves, algo que foi reforçado quando foi para a Índia nos anos 60.

George Harrison era viciado em drogas?
Como todos os demais Beatles, George também foi um usuário contumaz de drogas. No começo a maconha, que acompanhava os Beatles desde os primeiros tempos na estrada, na Alemanha, quando ainda eram desconhecidos. Depois vieram a cocaína e a LSD na fase lisérgica do grupo. A heroína entrou em sua vida após o fim dos Beatles. As drogas inclusive foram apontadas pela primeira esposa de George, Pattie Boyd, como uma das causas do fim do casamento. Ela revelou que por volta de 1970 o consumo de drogas por parte de George Harrison havia fugido do controle. Ele passava o tempo todo cheirando carreiras e mais carreiras de cocaína, algo que nem sequer a religião conseguiu colocar um freio. O vício de George se tornou bem mais notório ao público após uma apresentação desastrosa quando subiu ao palco completamente "alto" em uma de suas turnês americanas durante a década de 1970.

Como George Harrison via o movimento hippie?
George Harrison foi convidado para participar de um festival de música, com ampla participações de jovens hippies e depois que chegou lá não se conteve. George confessou que havia ficado chocado ao chegar no local e constatar que tudo o que havia lá era um bando de jovens drogados rolando pela lama. Harrison havia ido fazer um show pela paz, mas não encontrou ninguém muito interessado em sua mensagem. Ao invés disso viu um mercado aberto de vendas de drogas. A partir desse evento George Harrison, nas poucas declarações que fez, sempre se mostrou disposto a criticar o movimento hippie que havia perdido seu caminho original.

Quantos filhos teve George Harrison?
George Harrison teve apenas um filho, Dhani Harrison, fruto de seu casamento com Olivia Harrison. Ele nasceu em 1978, durante o segundo casamento do cantor. O interessante é que essa segunda união acabou trazendo uma certa calmaria na vida de Harrison. Ao contrário de seu complicado casamento com Pattie Boyd, aqui George parecia finalmente ter encontrado uma mulher que tinha uma personalidade mais calma e discreta, tal como ele. Esse acabou sendo talvez o grande segredo de seu matrimônio feliz e estável ao lado da segunda esposa.

George Harrison foi processado por plágio?
Sim, várias vezes e perdeu vários dos processos. Em sua defesa Harrison alegava que era muito complicado determinar o que seria um plágio ou não, já que a música, formada de notas musicais, tinha a natural tendência de seguir uma certa linha, uma certa tradição. Assim as semelhanças que por acaso surgiam em suas composições nada mais eram do que coincidências vindas desse tipo de memória musical. Sua defesa porém não foi acolhida no tribunal. O caso mais prejudicial aconteceu com a canção "My Sweet Lord" do álbum "All Things Must Pass" onde George precisou pagar uma pesada indenização por plágio aos autores originais.

George Harrison foi esfaqueado por um fã?
Não exatamente... Em 1999 um drogado invadiu sua casa para roubar objetos da mansão. George que não tinha qualquer tipo de segurança em sua casa (apesar da morte brutal de John Lennon) ouviu barulhos na parte de baixo da casa. Ao ir até a sala encontrou o assaltante (um homem de 33 anos, viciado em drogas, chamado Michael Abram). George e o criminoso começaram a lutar e esse deferiu uma facada em George. Desesperada a mulher de Harrison, Olivia, jogou um pesado objeto na cabeça de Abram que foi imediatamente ao chão. Aquela tinha sido uma péssima semana para o casal pois George havia sido informado poucos dias antes que seu câncer havia se espalhado em seu organismo, tornando seu tratamento praticamente inútil. O agressor não era fã dos Beatles (ao contrário do assassino de John Lennon).

Qual era o principal hobby de George Harrison?
George adorava passar horas e horas em seu jardim. Era um apaixonado por flores e jardinagem em geral. Também sentia enorme prazer em participar de eventos que reuniam admiradores de jardins como ele. Chegou a registrar em várias filmagens amadoras esse hobby que tanto adorava. Passava dias e dias preocupado com as novas e raras orquídeas que plantara em seu quintal.

Como era a relação entre George Harrison e Paul McCartney?
Foi Paul quem trouxe George para os Beatles. Eles se conheceram ainda bem adolescentes pois pegavam o mesmo ônibus quando retornavam da escola. A música foi o interesse em comum que os uniu. Paul logo foi convidado por George para ir até sua casa onde ele queria mostrar alguns acordes que tinha criado. Depois de ver o colega tocar Paul percebeu que ele poderia fazer parte de sua nova bandinha que estava montando com um cara mais velho, John Lennon. Quando Paul levou George para conhecer John esse não ficou muito impressionado. Achou George jovem demais para ser levado à sério, mesmo assim concordou com sua entrada nos Beatles. O resto é história. Os Beatles se tornaram o grupo de rock mais popular da história. Com o tempo o sempre presente perfeccionismo de Paul começou a irritar George. A velha amizade também foi abalada por processos judiciais após o fim da banda. Quando surgiu a ideia do projeto "Anthology" o maior problema era realmente reconciliar Paul e George já que eles passaram anos e anos sem se falarem. A amizade nunca mais foi a mesma.

Qual era a música preferida de George em sua fase Beatles?
George Harrison considerava "Something" sua maior obra prima, seguida de "Here Comes The Sun", ambos do disco "Abbey Road". É interessante que o auge da criatividade de Harrison tenha se dado justamente na fase final do grupo quando os Beatles já estavam prestes a se separar. Durante seus anos nos Beatles, George Harrison compôs centenas e centenas de músicas que não conseguiam encontrar espaço nos discos do conjunto. Assim quando os Beatles finalmente chegaram ao fim George juntou todo esse material e acabou gravando o disco de sua vida, "All Things Must Pass", considerado o grande trabalho de sua carreira solo.

Pablo Aluísio.

George Harrison 1963

 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

George Harrison – All Things Must Pass

Todos sabem que era muito complicado para George Harrison ter algum espaço dentro dos álbuns dos Beatles. Competir com dois gênios musicais como John Lennon e Paul McCartney era algo quase impossível. Assim geralmente o grupo dava o espaço de uma ou duas canções para Harrison dentro dos discos. Era muito pouco para alguém que havia alcançado uma maturidade inegável como compositor e arranjador como George. Sua sina criativa estava sendo reprimida. Essa era uma situação tão evidente que até mesmo John Lennon, com toda a sua arrogância e ar de superioridade, reconhecia. Em relação a Harrison chegou a reconhecer isso ao dizer que “Os discos dos Beatles eram muito limitantes, especialmente para George”. Para se ter uma idéia a própria música que dá título a esse maravilhoso álbum, “All Things Must Pass”, foi vedada pelos demais Beatles. O plano de Harrison era encaixar a canção no álbum “Let it Be” mas ela ficou de fora! Inclusive toda a solidão de George nesse aspecto pode ser conferido no projeto Anthology. Lá o ouvinte encontra uma gravação de George da canção durante os trabalhos de “Let it Be”. Ele surge sozinho, tocando sua guitarra de forma chorosa, numa clara tentativa de chamar a atenção de Paul e John para a música. Não deu certo e ele foi ignorado.

As coisas mudaram quando os Beatles deixaram de existir. Com o fim do conjunto George Harrison teve finalmente toda a liberdade que queria. Ele juntou todas as músicas que tinham sido rejeitadas pelos Beatles por anos a fio e jogou aqui nesse excelente álbum. Afinal se todas as coisas passavam, os Beatles também passariam. Mesmo após tantos anos essa é ainda hoje considerada a obra prima de George Harrison. O disco em que ele colocou tudo o que havia sido reprimido em tantos anos ao lado dos Beatles. Há de tudo na seleção musical, rock da melhor estirpe, músicas instrumentais, letras religiosas e espirituais (não poderia ser diferente em se tratando do mais espiritual Beatle) e uma série de boas canções, algumas brilhantes, outras inofensivas. De brinde algumas composições que George havia criado ao lado de Bob Dylan e que jamais poderiam entrar nos discos dos Beatles por questões contratuais. Para dar uma mão na parte instrumental o cantor trouxe o mágico guitarrista Eric Clapton, que abrilhantou ainda mais o resultado final. “All Things Must Pass” é isso, um belo retrato de um artista ciente de seu talento, seguro de sua musicalidade, mesmo após anos vivendo à sombra da dupla Lennon e McCartney.

George Harrison – All Things Must Pass (1970)
I'd Have You Anytime
My Sweet Lord
Wah-Wah
Isn't It a Pity (Version One)
What Is Life
If Not for You
Behind That Locked Door
Let It Down
Run of the Mill
Beware of Darkness
Apple Scruffs
Ballad of Sir Frankie Crisp (Let It Roll)
Awaiting on You All
All Things Must Pass
I Dig Love
Art of Dying
Isn't it a Pity (Version Two)
Hear Me Lord
Out of the Blue
It's Johnny's Birthday
Plug Me In
I Remember Jeep
Thanks for the Pepperoni

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Jeff Bridges - Jeff Bridges (2011)

Não é novidade nenhuma ver astros de Hollywood lançando discos, tentando quem saber levantar uma carreira no mundo da música, muitos inclusive são cantores e instrumentistas frustados como por exemplo Johnny Depp. Em relação a Jeff Bridges a boa notícia é que ele tem realmente talento. Cercado por uma banda de feras o ator conseguiu realizar um disco muito agradável de ouvir, com uma farta seleção de excelentes canções na linha rock - country. Várias faixas inclusive foram escritas pelo próprio Bridges como "Falling Short", "Tumbling Vine" e "Slow Boat". Algumas dessas canções possuem uma leve melancolia que é muito característica da nova geração do gênero nos Estados Unidos. Em certos aspectos o atual country americano trilha caminhos de maior introspecção que muitos estilos musicais mais fortemente ligados a esse tipo de sentimento como o Blues, por exemplo.

Tudo embalado por ótimos arranjos de fundo, com destaque até mesmo para orquestrações ricas e detalhistas em seus menores aspectos (palmas para o produtor T-Bone Burnett, que trouxe muita riqueza para as composições de Bridges dentro dos estúdios). Dando uma ajuda a Bridges nos vocais temos a presença dos ótimos Ryan Bingham, Rosanne Cash, Sam Phillips e Benji Hughes, numa contribuição essencial para dar a estrutura melódica ideal ao trabalho como um todo. Um disco que supera todas as expectativas, mostrando acima de tudo que qualquer tipo de preconceito pelo fato de ser um álbum gravado por um ator de cinema deve ser deixado de lado. Boa música, arranjos elegantes e qualidade musical garantem uma excelente audição. Realmente acima da média. Que venham outros discos do Bridges.

Jeff Bridges - Jeff Bridges (2011)
What a Little Bit of Love Can Do
Falling Short
Everything But Love
Tumbling Vine
Nothing Yet
Blue Car
Maybe I Missed the Point
Slow Boat
Either Way
The Quest

Pablo Aluísio. 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Ringo Starr - Sentimental Journey

Ringo Starr - Sentimental Journey - Certa vez uma jornalista perguntou a John Lennon se ele achava que Ringo era o melhor baterista do mundo! John pensou um pouco e disparou: "Ele não é nem o melhor baterista dos Beatles!". Todos riram. Penso que o único que não riu de verdade foi o próprio Ringo. Por anos e anos ele sempre foi subestimado. Era sempre visto como o baterista mais sortudo do mundo por fazer parte do grupo mais famoso da história do rock e nada mais. Isso porém não conseguiu abalar sua bem humorada personalidade. Hoje em dia o Ringo pode até parecer meio ranzinza e mal humorado (como quando pediu aos fãs dos Beatles que parassem de lhe enviar cartas pois a Beatlemania já havia acabado há mais de cinquenta anos), mas a verdade é que quando jovem ele realmente tinha um bom humor à toda prova, o que sempre lhe valeu a alcunha de ser o alívio cômico dentro do grupo (enquanto os outros tentavam se matar dentro do estúdio ele mantinha a calma, procurando manter um clima ao menos respirável dentro da banda). Quando isso não foi mais possível e os Beatles explodiram ele, como os demais, também partiu para uma carreira solo. "Sentimental Journey", lançado em março de 1970, foi sua primeira tentativa de seguir por esse caminho.

Um disco solo de Ringo Starr tinha que superar dois grandes problemas: O primeiro é que ele nunca foi um compositor consolidado enquanto fez parte dos Beatles. De fato Ringo nunca conseguiu se sobressair no meio de todos aqueles gênios. Ele sabia disso e para falar a verdade nunca tentou. Ao contrário de George Harrison, que com muito esforço conseguiu colocar a cabeça por um breve momento em um ponto pouco acima da genialidade de Lennon e McCartney, Ringo nunca se destacou. O segundo problema para Ringo era mais complicado: ele também nunca foi um bom cantor. Então como segurar as pontas em um disco todo cantado por alguém que nunca foi considerado um bom cantor? Ele certamente não iria passar todo o seu disco solo tocando bateria. Para piorar ele também não era arranjador e nem produtor. Para superar tantos problemas Ringo apelou para seus amigos. Assim Paul McCartney, Quincy Jones, Les Reed, George Martin e até Maurice Gibb (do Bee Gees) ajudaram o Ringão nesse projeto. As canções foram escolhidas pelo próprio Ringo e para não errar ele escolheu apenas a nata, como Cole Porter, Johnny Mercer e Les Brown. O resultado é bom, interessante, mas também nada brilhante. No fundo tudo não passa de um esforço honesto por parte de Ringo em sobreviver musicalmente.

Ringo Starr - Sentimental Journey (1970)
1. Sentimental Journey
2. Night and Day
3. Whispering Grass (Don't Tell the Trees)
4. Bye Bye Blackbird
5. I'm a Fool to Care
6. Stardust
7. Blue, Turning Grey Over You
8. Love Is a Many Splendoured Thing
9. Dream
10. You Always Hurt the One You Love
11. Have I Told You Lately That I Love You?
12. Let the Rest of the World Go By

Pablo Aluísio.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Paul McCartney - Give Ireland Back to the Irish

Paul McCartney nunca foi um artista politicamente engajado! Enquanto John Lennon passava a impressão de estar sempre falando sobre política, Paul seguia compondo suas belas baladas de amor. Esse rótulo de baladeiro começou a incomodar Paul quando John o usou para lhe rebaixar artisticamente. Lennon dizia a jornalistas americanos que Paul só sabia fazer canções de amor vazias, do tipo "Ela ama você, você me ama, todos nós te amamos". Era uma piada, mas uma piada bem ofensiva.

Para rebater esse tipo de ataque de John Lennon, Paul então resolveu também escrever sua própria canção de protesto, "Give Ireland Back to the Irish"! O próprio título já era uma afirmação perigosa para um inglês, pois se colocava ao lado dos irlandeses que naquela época lutavam para se livrar da dominação inglesa em seu país. Paul estava ao lado de sua causa, propondo que a Irlanda fosse devolvida aos irlandeses! Nem John Lennon havia sido tão direto antes!

Paul sabia que a música iria sofrer represálias por parte do governo inglês e assim resolveu lançar a canção em um single, pois se estivesse em um álbum as consequências comerciais poderiam ser bem ruins. O compacto chegou nas lojas em fevereiro de 1972 e causou um impacto maior do que Paul previa. A canção foi simplesmente banida da programação de certas emissoras e Paul foi chamado pelo presidente da EMI, que preocupado, tinha receios que ele e a gravadora fossem processados criminalmente por traição ao império britânico. Paul manteve-se firme e aguentou o tranco. No final das contas Paul achou a experiência de se declarar politicamente sobre algo como válida, apesar dos problemas.

Ele resumiu a questão ao afirmar: "Do nosso ponto de vista foi a primeira vez que as pessoas questionaram sobre o que estávamos fazendo na Irlanda. Era tão chocante pensar sobre isso. Fico feliz que a canção tenha trazido o assunto para dentro dos lares do povo inglês". Assim "Give Ireland Back to the Irish" acabou sendo uma das poucas experiências de Paul nesse campo político, pois ele logo se retiraria de assuntos polêmicos como esse para voltar ao seu velho (e bom) estilo romântico. O mundo já tinha John Lennon para protestar e essa nunca tinha sido mesmo a praia de Paul. Sábia decisão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Paul McCartney

Paul McCartney esteve recentemente no Brasil novamente e devo dizer que ele sempre foi meu Beatle preferido. Sou fã confesso do Macca (como seus fãs carinhosamente o chamam), e isso por várias razões, não só por ter assinado junto a Lennon algumas das melhores músicas já compostas mas também por ter uma carreira solo maravilhosa, com discos que nunca deixaram de tocar nas minhas caixas de som. Paul realmente é um talento fantástico, desses raros de se encontrar por aí. Aliás um dado curioso: meu primeiro vinil foi do Paul. Tive sorte nessa questão pois "Tug Of War" é um clássico absoluto da sua discografia e foi justamente com esse álbum que comecei a criar gosto por música e me interessei a criar esse hobby que jamais abandonei, a de colecionar discos (primeiramente os antigos bolachões de vinil e atualmente CDs).

Outro aspecto que sempre me levou a ser fã de Paul McCartney é a sua personalidade. Paul sempre foi o ponto de equilibrio dentro dos Beatles. John Lennon era explosivo demais, George Harrison muito tímido e retraído e Ringo, ora, Ringão era apenas o baterista. Paul era o ponto que manteve o quarteto unido por anos. Viciado em trabalho era sempre ele o responsável a unir a trupe para novas gravações. Por isso caro colega beatlemaníaco agradeça a ele por termos tantas gravações do grupo. Existe até mesmo uma história muito engraçada sobre John realmente abismado com a capacidade de trabalho do parceiro. Enquanto Lennon lutava para trazer duas ou três novas músicas para os discos dos Beatles, Paul já entrava em estúdio com oito ou dez canções prontas para gravação. Realmente, Macca literalmente nunca brincou em serviço. É um workaholic assumido. E o mais incrível é que ele simplesmente não abandonou essa característica nem com a chegada da idade, pois ainda atravessa o oceano para realizar concertos, como essa recente turnê que fez no Brasil. Aposentadoria? Nem pensar.

Hoje tenho orgulho em dizer que tenho toda a discografia de Sir Paul McCartney. No mundo do CD isso facilitou e muito a aquisição de antigos álbuns, até mesmo porque ele próprio relançou toda a obra alguns anos atrás, mas nos anos 80 quando coloquei na cabeça de completar a coleção de Paul era bem diferente, tinha que fuçar em sebos atrás de discos dele dos anos 70, alguns em péssimo estado de conservação. Ainda bem que a tecnologia veio e mudou completamente esse quadro. Menos mal para um apaixonado por sua música como eu. Pretendo depois ir escrevendo um pouco mais sobre seus discos, suas grandes parcerias na carreira solo (Michael Jackson, Steve Wonder, Elvis Costello, entre outros). Acredito inclusive que esse cidadão ainda vai trazer grandes alegrias aos amantes da boa música por muitos anos ainda. Vida longa ao Macca!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pink Floyd - Meddle

Esse disco faz parte daquela seleta lista dos maiores álbuns da discografia do Pink Floyd. É um dos dinossauros sagrados do grupo. E o seu status cult começa logo na capa, com longas e intermináveis discussões em fóruns de internet. O que seria isso na capa? A orelha de uma vaca? O traseiro de um porco de raça? Quem sabe... o mistério faz parte do jogo, não é mesmo? Se fosse óbvio não teria graça. Tirando todo esses detalhes periféricos de lado, vamos para as músicas que é no final das contas o que realmente importa.

São apenas seis faixas. Eu particularmente não diria que esse é um dos meus discos preferidos do Pink Floyd, porém negar sua importância histórica seria um erro absurdo. A minha música preferida aqui é justamente a que abre o disco, "One of These Days" do David Gilmour. Ele sempre foi o meu guitarrista preferido e aqui prova que grandes clássicos muitas vezes nascem de pequenos detalhes, com poucas notas musicais. Essa música inclusive seria uma das poucas do repertório que o David Gilmour iria usar no palco, nos memoráveis concertos do Pink Floyd ao vivo nos anos 80. Já para quem aprecia o lado mais experimental do grupo, o lado B inteiro tem apenas uma faixa, "Echoes". Um grande retalho musical para o ouvinte viajar pelo universo do Pink Floyd.

Pink Floyd - Meddle (1971)
One of These Days
A Pillow of Winds
Fearless
San Tropez
Seamus
Echoes

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - Wall in Progress

Com o surgimento da internet o mercado de bootlegs explodiu! O número de títulos segue a cada ano cada vez maior. E os títulos são muitos. Para quem gosta de rock clássico e rock progressivo não poderia haver melhor notícia. Muito material assim segue sendo lançado. Aqui temos um bootleg criado a partir de demos e takes alternativos do clássico álbum "The Wall" do Pink Floyd. Como bem sabemos "The Wall" foi um disco concebido, criado e idealizado por Roger Waters. Antes de entrar no estúdio ele gravou diversas faixas demo para apresentar as canções ao resto do grupo (não havia dito que tudo veio de sua mente criativa?).

Pois então parte desse material foi resgatado nesse CD. É um material cru, sem muito trabalho de finalização, de arte final. Tudo soa quase como foi composto. Water é provavelmente o músico mais egocêntrico do universo, mas aqui vemos parte de sua incrível genialidade. Não digo que esse tipo de material vá interessar para quem não é fã do Pink Floyd, mas certamente será de extremo interesse para os fãs de carteirinha. O álbum "The Wall" segue sendo bem debatido até nos dias de hoje, já para quem deseja apenas ouvir uma semente do disco, poucos títulos podem ser tão interessantes como esse. Recomendado? Certamente sim.

Pink Floyd - Wall in Progress (1978-1979)
01. In The Flesh?  02. The Thin Ice 03. Another Brick In The Wall Part 1  04. The Happiest Days Of Our Lives 05. Another Brick In The Wall Part 2 06. Mother 07. Goodbye Blue Sky 08. Empty Spaces Part 1 09. Young Lust 10. One Of My Turns 11. Don't Leave Me Now 12. Empty Spaces Part 2 13. What Shall We Do Now? 14. Another Brick In The Wall Part 3 15. Goodbye Cruel World 16. Nobody Home 17. Vera 18. Bring The Boys Back Home 19. Is There Anybody Out There? Part 1 20. Is There Anybody Out There? Part 2 21. Comfortably Numb 22. Hey You 23. The Show Must Go On  24. In The Flesh 25. Run Like Hell 26. Wating For The Worms 27. Stop 28. The Trial  29. Outside The Wall.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Endless River

Já que o Rock está mesmo morto e enterrado de uma vez por todas, nada melhor do que esse "lançamento" do Pink Floyd, que promete ser o último CD de uma das maiores bandas de rock progressivo da história. O título "The Endless River" é mais do que adequado já que se refere a um infinito fluir sonoro, algo bem de acordo com o grupo, já que o Pink Floyd, assim como os Beatles, não tem idade e nem ponto fixo na história, pois a cada geração conquista novos fãs, muitos deles nem nascidos quando o grupo inglês desfrutava de seu auge nos anos 1970. Claro que apesar de ser atemporal, o Pink Floyd hoje leva consigo as marcas do tempo. Com um membro falecido, outro aposentado e dois ex-líderes que se odeiam, o Floyd está mais para uma marca comercial do que para um efetivo grupo de amigos tocando juntos novamente.

Por falar nisso a alcunha de "novo álbum do Pink Floyd" não é muito correta, já que a maioria do material presente aqui data dos anos 1990. Não chegaria a chamar o disco de "restos do The Division Bell" como muitos andam escrevendo por aí, mas também não vou qualificar nada de "The Endless River" como novo ou novidade. Em minha forma de entender o Pink Floyd acabou definitivamente em 2008 com a morte do tecladista Rick Wright. Depois disso não há retorno, algo parecido que ocorre com os Beatles, depois da morte de Lennon e Harrison, simplesmente não há mais retorno possível. A história impôs sua força, acabando com velhos sonhos. O tempo é o senhor de tudo é ninguém pode lutar contra esse fato.

David Gilmour sabe muito bem disso e não tem sido desonesto com o público. O disco que é basicamente instrumental (como nos bons velhos tempos do grupo) foi definido por ele como uma "mera conversa musical" entre seus antigos membros em um tempo passado, perdido na memória. A faixa de abertura, "Things Left Unsaid", dá o tom desse ponto de vista. Os teclados de Wright passeiam pelo ar, enquanto a guitarra melodiosa de Gilmour preenche os espaços vazios. Pura "conversação" realmente, só que ao invés de palavras são usadas notas musicais (maravilhosas, diga-se de passagem). Nick Mason também contribui com seu talento. Hoje ele está completamente aposentado, mais preocupado com sua coleção de carros de luxo do que com música. Os registros porém mostram como ele foi um dos melhores bateras da história do rock. "O rio sem fim" do Pink Floyd é isso, um afago nos ouvidos dos ouvintes de fino trato. Em tempos de lixo pipocando nas rádios o tempo todo, o Pink Floyd prova mais uma vez que talento não se encontra em todo lugar, nem em qualquer época.


Pink Floyd - The Endless River (2014)
Things Left Unsaid     
It's What We Do
Ebb and Flow
Sum
Skins    
Unsung     
Anisina    
The Lost Art of Conversation
On Noodle Street
Night Light
Allons-y (1)     
Autumn '68   
Allons-y   
Talkin Hawkin    
Calling
Eyes to Pearls
Surfacing
Louder Than Words
TBS9
TBS14
Nervana

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pink Floyd - The Division Bell

Quem acompanha o mundo da música por longos anos acaba descobrindo que certas coisas simplesmente não fazem muito sentido. Recentemente chegou no mercado com grande sucesso de crítica e público o CD "The Endless River" do Pink Floyd. Até aí tudo bem. O problema é que esse álbum é basicamente um resgate do material que foi gravado e deixado de lado na elaboração do disco "The Division Bell" de 1994. Então se as "sobras" andam tão elogiadas era de se esperar que a melhor parte dessas sessões, que foram incorporadas ao disco original há vinte anos, também fossem tratadas como obras primas do Floyd. Nada mais longe da realidade. Quando "The Division Bell" chegou nas lojas há duas décadas levou pauladas de todos os lados, principalmente da imprensa especializada da Inglaterra. Para muitos o álbum não passava de um trabalho solo de David Gilmour usando o nome mágico da banda por motivos puramente comerciais. As viúvas de Roger Waters nunca vociferaram tão forte como no lançamento de "The Division Bell". Hoje, ironicamente, declamam rios de elogios para o "novo" Pink Floyd que está fazendo bonito nas paradas de sucesso inglesas.

Particularmente confesso, sigo a linha daqueles que nunca tiveram esse CD como referência em termos de sonoridade Floydiana. Algo não me parece bem nessas faixas. Sempre considerei "A Momentary Lapse Of Reason" um trabalho mais enxuto, com mais qualidade e melhor bem conceituado. Foi o melhor disco da banda em sua fase Gilmour. "The Division Bell" sofre por ser excessivo! Talvez por receios ou insegurança o produtor Bob Ezrin acabou criando um monstro musical, exagerado, barroco e cansativo. São onze faixas (muito em termos de Floyd), dezenas de músicos de estúdio contratados, centenas de horas de gravação e muito excesso nos arranjos finais. O que era simples e altamente eficiente em "A Momentary Lapse Of Reason" aqui se tornou pesado, exaustivo, paquidérmico! As letras também não evocam em nada os grandes momentos do Pink Floyd em seu passado glorioso. E para piorar tudo, quando se pensa que se ouvirá maravilhosos solos de guitarra do mestre David Gilmour, nada surge nos ouvidos que nos faça lembrar o grande instrumentista que ele sempre foi. "The Division Bell" foi um disco que ouvi em meus tempos de universidade, mas que pouco cativou, não deixando marcas na alma. Assim com o tempo foi sendo deixado de lado. É de surpreender agora que todos estejam fazendo louvações aos seus resquícios sonoros deixados pelo chão da sala de edição de Bob Ezrin! Vai entender a cabeça dessa gente...

Pink Floyd - The Division Bell (1994)
Cluster One
What Do You Want from Me
Poles Apart
Marooned
A Great Day for Freedom
Wearing the Inside Out
Take It Back
Coming Back to Life
Keep Talking
Lost for Words
High Hopes

Pablo Aluísio.


Pink Floyd - PULSE

O Pink Floyd morreu e ressuscitou várias vezes. Morreu quando Syd Barrett resolveu abandonar o grupo, enlouquecido com LSD. Renasceu pela primeira vez logo depois quando Roger Waters e David Gilmour decidiram levar o Floyd em frente o transformando em um conjunto de rock progressivo (o maior de todos os tempos é bom dizer). Voltou a morrer quando Waters declarou o fim depois do fracasso do álbum "The Final Cut". Amargurado deixou a banda batendo a porta atrás de si. Pois bem, o segundo renascimento deu-se logo após a saída de Waters. Gilmour e os demais decidiram continuar mais uma vez. PULSE é justamente um dos últimos suspiros dessa última fase da banda. O disco foi gravado ao vivo durante a turnê de promoção do álbum "The Division Bell" na Europa e nos Estados Unidos nos meses de março a outubro de 1994. Escrevo as palavras "últimos suspiros" porque realmente foi um dos últimos projetos concluídos da história do Pink Floyd. Foi o canto do cisne. Acontece que "The Division Bell" foi bem criticado em seu lançamento. Acusaram até mesmo de não ser um disco legítimo do Pink Floyd mas sim um trabalho solo de Gilmour que utilizou o nome da banda apenas por motivos comerciais. Sem dúvida uma visão exagerada, diria até preconceituosa contra Gilmour e o resto do grupo.

Acuado, o líder do Floyd resolveu responder às acusações colocando mais um álbum na praça, que foi justamente esse, todo gravado ao vivo. Justamente para calar a boca de quem dizia não ser o Pink Floyd verdadeiro. Para isso Gilmour resolveu colocar em prática um velho sonho que tinha: gravar ao vivo todas as canções do disco "The Dark Side of the Moon"! Sinceramente, quem é fã do Pink Floyd de longa data (como eu) pode dizer que ouvir pela primeira um show com esse histórico álbum tocado da primeira à última faixa ao vivo foi realmente de arrepiar. E se engana quem pensa que foi algo fácil de reproduzir. Como todos sabemos "Dark Side" foi fruto de um longo processo de gravação, que durou meses, usando as melhores técnicas sonoras da época. Trazer aquele som único gravado em Abbey Road (o histórico estúdio inglês da EMI Odeon) para o palco foi realmente um feito digno dos maiores aplausos. É incrível inclusive notar a extrema perfeição dos músicos da banda em cada detalhe. Eu sempre digo, em termos de virtuose instrumental poucos grupos de rock da história podem rivalizar com o Pink Floyd porque eles sempre foram grandes músicos, talentosos e perfeitos ao vivo (para tirar suas dúvidas ouça qualquer registro do Floyd ao vivo para conferir). Quando PULSE foi lançado muitos esnobes torceram o nariz desmerecendo o disco, o qualificando apenas como "mais um disco ao vivo de uma banda decadente". Bom, quem pensou assim certamente reveu seus conceitos uma vez que PULSE realmente mexeu com o mundo da música. Infelizmente  depois de PULSE o Pink Floyd nada mais fez de relevante. Ficaram anos hibernando até que alguns anos atrás David Gilmour finalmente decretou o fim do maior grupo de rock progressivo da história. É uma grande pena. De qualquer forma é como diz o ditado, nada dura para sempre.

Pink Floyd - PULSE (1995)
Shine On You Crazy Diamond
Astronomy Domine
What Do You Want From Me
Learning to Fly
Keep Talking
Coming Back to Life
Hey You
A Great Day for Freedom
Sorrow
High Hopes
Another Brick in the Wall (Part Two)
Speak to Me
Breathe
On the Run
Time
The Great Gig in the Sky
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse
Wish You Were Here
Comfortably Numb
Run Like Hell

Pablo Aluísio.