domingo, 5 de novembro de 2017

Amor em Tempos de Guerra

Outro filme que conta com uma bonita produção, belas cenas e fotografia, mas que no geral me deixou com a sensação de ser bem vazio e superficial. Esse "Amor em Tempos de Guerra" conta com um roteiro que parece ter saído daquelas publicações bem românticas e idealizadas como "Sabrina". Na história temos uma jovem americana, muito idealista, que resolve ajudar os mais pobres e humildes. Ela tem formação de enfermeira e aceita o convite de um jovem médico (tão idealista quanto ela) para ir trabalhar como voluntária em um hospital distante e isolado, nas fronteiras da Turquia. A época é o começo do século XX, com a iminência de uma grande guerra começando por toda a Europa (a I Primeira Guerra Mundial), o que tornará tudo ainda mais difícil e complicado.

A mocinha cheia de boas intenções é interpretada pela atriz islandesa Hera Hilmar. Não a conhecia, acredito que nunca assisti nenhum filme com ela. A garota é bonita, mas ao mesmo tempo tem um jeito de ser chatinha, enfadonha. Sua expressão é a mesma daquela menina que exagerou no chocolate e ficou com o rosto inchado, passando um pouco mal. A sua paixão no filme, que dá título original ao filme (o tal tenente otomano) é feito por Michiel Huisman, outro que não conhecia. É bem improvável que um muçulmano fosse se apaixonar por uma cristã naquela época, mas tudo bem, a gente releva esse tropeço histórico e cultural do roteiro. O médico que a leva para o meio do nada é interpretado por Josh Hartnett, o lobisomem da série "Penny Dreadfull". No final das contas o único ator com maior nome é Ben Kingsley. Ele está no filme dando vida a um médico veterano, já cansado pelos anos, com pouco esperança que as coisas um dia vão melhorar. Em minha opinião o filme poderia ter explorado mais o massacre dos armênios cristãos pelos otomanos muçulmanos, mas a verdade é que o filme não está muito preocupado com esse tipo de coisa, ele só quer mesmo contar uma história de amor.

Amor em Tempos de Guerra (The Ottoman Lieutenant, Estados Unidos, Bélgica, 2017) Direção: Joseph Ruben / Roteiro: Jeff Stockwell / Elenco: Hera Hilmar, Josh Hartnett, Ben Kingsley, Michiel Huisman / Sinopse: Jovem enfermeira idealista decide ir trabalhar em um hospital distante e isolado na Turquia e acaba se apaixonando por um tenente muçulmano do exército otomano, bem nas vésperas do começo da I Grande Guerra Mundial.

Pablo Aluísio.

sábado, 4 de novembro de 2017

Em Ritmo de Fuga

"Em Ritmo de Fuga" é um daqueles filmes de assaltos a bancos. O protagonista é um jovem conhecido apenas como "Baby Driver". Ele tem dívidas a pagar com um figurão do mundo do crime e por isso precisa dirigir durante os assaltos. O garoto tem uma habilidade incomum no volante, o que o torna uma peça chave durante os crimes, pois na fuga o que mais importa é de ter um ás na direção, para despistar a polícia e a imprensa (sempre às voltas com helicópteros de transmissão nas fugas pelas ruas das grandes cidades). O tal de "Baby Driver" tem problemas de audição, um zumbido persistente nos seus ouvidos, fruto de um acidente de carro na infância. Para driblar essa situação (que é enervante e penosa), ele ouve música constantemente. Muito na dele, bastante cool e calado, o cara é meio estranho, mas faz seu "serviço" com maestria. Só que nem tudo vai continuar saindo tão bem, principalmente depois que "Baby Driver" se apaixona por uma garçonete, uma garota muito bacana que ele fica extremamente afim. Para um cara que vive no meio do crime isso pode ser visto como uma fraqueza, mas ele é apenas um jovem e jovens se apaixonam a todo tempo.

O personagem principal "Baby Driver" é interpretado por Ansel Elgort, ator adolescente que virou ídolo teen no sucesso juvenil "A Culpa é das Estrelas". Ele fazia o carinha que estava morrendo e que se apaixonava por Shailene Woodley. É uma tentativa de Hollywood em criar um novo ídolo do cinema, principalmente entre as colegiais. Vai colar? Só o tempo dirá, porém particularmente acho bem improvável de acontecer. Em termos de elenco o melhor vem dos coadjuvantes, não apenas pela presença de Kevin Spacey, como também de Jon Hamm e Jamie Foxx, todos interpretando membros da quadrilha. Hamm, de "Mad Men" está aos poucos entrando no mundo do cinema e Foxx, velho conhecido, é um dos destaques do filme por causa de seu personagem, um sujeito insano. Então é isso, um filme de assaltos a bancos, feito para o público juvenil. Nada demais, nada marcante, mas que com um pouquinho de boa vontade até diverte!

Em Ritmo de Fuga (Baby Driver, Estados Unidos, 2017) Direção: Edgar Wright / Roteiro: Edgar Wright / Elenco: Ansel Elgort, Jon Hamm, Kevin Spacey, Jamie Foxx, Eiza González, Lily James / Sinopse: Quadrilha de assaltantes de bancos conta com um excelente piloto, um ás do volante, que sempre consegue despistar os tiras durante as fugas alucinadas pelas ruas da cidade. Conhecido apenas como "Baby Driver" ele parece cool e tranquilo, mas na hora em que é necessário mostra toda a sua destreza como motorista de fuga.

Pablo Aluísio.

15 Minutos

Nos anos 70 ter o nome de Robert De Niro em um poster de filme era sinônimo de grande filme sendo exibido. O tempo passou... e bem, isso deixou de ter importância. Principalmente a partir dos anos 90 De Niro começou a fazer uma incrível sucessão de filmes fracos, alguns descartáveis e outros ainda constrangedores. Esse "15 Minutos" se enquadra na categoria de descartável. Lançado diretamente nas locadoras de vídeo no Brasil na época era aquele tipo de fita policial facilmente esquecível, um genérico sem graça de um estilo que havia gerado excelentes filmes na década anterior. Agora tudo parecia mera lembrança, sombra do que um dia foi.

A trama também não ajuda. Tudo começa quando o tira interpretado por De Niro vai investigar dois corpos encontrados em uma casa que foi incendiada. Supostamente aquelas pessoas teriam sido mortas pelo fogo, mas depois descobre-se que elas foram assassinadas, com o incêndio servindo apenas para destruir provas e pistas do crime. E assim o filme segue, com pequenas reviravoltas, envolvendo inclusive dois estrangeiros que estariam ligados às mortes. Nada muito inspirador ou memorável. Para falar a verdade 15 minutos após assistir ao filme você acaba mesmo esquecendo de tudo o que viu. Cinema fast food descartável e esquecível de pouco valor artístico. Melhor esquecer mesmo.

15 Minutos (15 Minutes, Estados Unidos, 2001) Direção: John Herzfeld / Roteiro: John Herzfeld / Elenco: Robert De Niro, Edward Burns, Vera Farmiga, Charlize Theron, Kelsey Grammer / Sinopse: Robert De Niro interpreta um policial de Nova Iorque que passa a investigar o assassinato de duas pessoas desconhecidas, encontradas em uma cena de incêndio. Inicialmente pensa-se que foram mortas pelas chamas do fogo, mas depois descobre-se que tudo não passou de uma cortina de fumaça para esconder as provas do crime, do duplo assassinato. Filme indicado ao World Stunt Awards, o Oscar dos dublês. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O Castelo de Vidro

Gostei bastante desse filme. O roteiro é baseado nas memórias da jornalista americana Jeanette Walls que após a morte do pai resolveu escrever um livro sobre ele. Definitivamente não era um sujeito convencional. Sempre mudando de emprego e de cidade, pai de uma família com quatro filhos, ele tentou de tudo para sobreviver, nem sempre sendo bem sucedido em seus planos. Era um homem inteligente, cheio de sonhos, mas também com problemas de alcoolismo. E como bem sabemos em situações assim os filhos é que acabam sofrendo mais. É um drama com pitadas de nostalgia, mas também de melancolia, tristeza e superação.

Vi semelhanças com outro filme de temática parecida, "Capitão Fantástico", estrelado pelo ator Viggo Mortensen, Tal como esse aqui, temos também a história de um pai de família nada comum, que procurava fugir das tais amarras da sociedade, tentando passar para os filhos uma educação diferente, ensinando a eles um outro modo ou estilo de viver. Claro que mais cedo ou mais tarde as regras da sociedade acabam esmagando suas boas intenções, porém até isso acontecer eles tentam viver de uma maneira mais livre, com mais liberdade. O pai de "O Castelo de Vidro" é interpretado por Woody Harrelson, um ator cujo trabalho sempre gostei bastante. Aqui ele repete mais uma boa atuação, só falhando um pouco por causa da maquiagem pouco convincente em uma fase mais avançada da vida. Aliás falando abertamente não há maquiagem alguma, o que traz uma certa estranheza ao ver Woody com a mesma aparência, mesmo tendo passado décadas na vida de seu personagem. 

O tal castelo de vidro do título do livro original (e do filme) é um plano de seu pai em construir uma bela casa, toda com paredes de vidro, no alto da montanha. Uma espécie de sonho que trazia esperanças para toda a família, mas que efetivamente nunca saiu do papel. A jornalista usou assim esse castelo como uma metáfora da própria vida de seu pai, que era cheia de sonhos, mas com poucos resultados práticos na vida real.  Nos momentos finais do filme temos cenas das pessoas reais da família, algumas comentando a personalidade sui generis de seu pai. Então é isso, um bom drama familiar sobre uma família que de normal e comum não tinha nada. Um bom exercício de nostalgia e reencontro com o próprio passado. 

O Castelo de Vidro (The Glass Castle, Estados Unidos, 2017) Direção: Destin Daniel Cretton / Roteiro: Destin Daniel Cretton, Andrew Lanham, baseados no livro de memórias da jornalista Jeannette Walls / Elenco: Brie Larson, Woody Harrelson, Naomi Watts, Sarah Snook / Sinopse: O filme conta a história de Rex Walls (Woody Harrelson), um homem que tinha muitos planos e sonhos em sua vida, tudo contado sob os olhos de sua filha Jeannette. Drama familiar baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

A Bruxa de Blair 2

Título no Brasil: A Bruxa de Blair 2 - O Livro das Sombras
Título Original: Book of Shadows - Blair Witch 2
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Artisan Entertainment
Direção: Joe Berlinger
Roteiro: Joe Berlinger, Dick Beebe
Elenco: Jeffrey Donovan, Stephen Barker Turner, Erica Leerhsen, Lanny Flaherty, Lynda Millard

Sinopse:
Um grupo de turistas decide visitar a região de Burkittsville, no Maryland, onde se passou a história do primeiro filme "A Bruxa de Blair". Todos querem conhecer o lugar. Todos são fãs do filme original e estão dispostos a seguir pela mesma trilha dos jovens que desapareceram na floresta.

Comentários:
Continuação do grande sucesso "A Bruxa de Blair" de 1999. A diferença principal é que o estúdio nessa sequência resolveu abandonar o estilo de falso documentário, que havia marcado tanto o primeiro filme. Ao invés disso investiram em um modelo bem mais convencional, beirando o maçante. Nem preciso dizer que o filme foi impiedosamente malhado pela crítica em seu lançamento, o que sempre considerei bem exagerado. Ok, não se trata de um filme bom ou acima da média, nada disso, porém não é tão ruim como foi dito. Tem até um uso interessante de metalinguagem, quando encontramos pessoas que viram o primeiro filme dentro desse segundo filme. Não deixa de ser algo curioso. De qualquer maneira, pela má recepção do público americano, o filme acabou sendo lançado diretamente no mercado de vídeo no Brasil. Por essa razão se tornou muito pouco conhecido por aqui, a não ser por aqueles grupinhos de fãs de terror que obviamente resolveram conferir. Então é isso, "Bruxa de Blair 2" nem precisava existir de tão dispensável que foi, porém já que foi produzido não custou nada ver por mera curiosidade. Nunca entrará em nenhuma lista de boas continuações, mas tampouco aborrece muito. Dá para ver em uma madrugada sem nada mais de interessante para se assistir.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A Luz Entre Oceanos

Um veterano da I Guerra Mundial, cansado de tudo, do que viu nos campos de batalha, resolve se isolar. Para isso nada melhor do que ir trabalhar no farol de uma ilha distante, onde apenas ele irá viver. No começo tudo dá certo, ele até mesmo se envolve com uma garota que mora numa cidade do continente e se casa com ela. Após dois abortos a esposa começa a literalmente surtar pelo isolamento e solidão e quando um barco chega à deriva na costa, trazendo um homem morto e um bebê sobrevivente, ela decide ficar com a criança como se fosse sua filha. O problema é que seu marido acaba descobrindo quem seria a verdadeira mãe da menina, trazendo um grande conflito ético para si.

Esse "A Luz Entre Oceanos" tem um roteiro realmente muito bom. Tudo vai se armando para no final surgir o grande problema pessoal de natureza ética para o personagem de Tom Sherbourne (Michael Fassbender). Quando o bebê surgiu vivo, à deriva no barco, na costa da ilha, ele decidiu tomar a decisão certa, avisando as autoridades locais, só que sua esposa Isabel (Alicia Vikander), arrasada por dois abortos, quis desesperadamente ficar com a criança. Para sua desgraça pessoal acabou cedendo aos desejos da mulher. Só depois descobre-se que a menina de cabelos loiros era mesmo a filha desaparecida de Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz). Assim o argumento vai pela resolução da questão: entregar a filha para a verdadeira mãe ou deixá-la com sua esposa, que cria a menina como se fosse sua filha?

Um aspecto curioso é que a ilha onde está o farol é praticamente um personagem dentro da trama. Isolada, com uma costa linda, o lugar acaba servindo de palco para o desenrolar dos acontecimentos. Chamada de Janus, em homenagem ao deus da mitologia com duas faces, o lugar fica bem no meio de dois oceanos. Esse mesmo deus deu origem ao nome do mês de janeiro, justamente por ter dois rostos, um olhando para o ano que nasce e outro para o ano que se vai. O mesmo vale para a dualidade da situação central do roteiro, com uma filha sendo disputada por duas mulheres, a mãe real e a mãe que a salvou e a adotou. Um drama de época muito interessante, com uma excelente cena final. Recomendo sem reservas.

A Luz Entre Oceanos (The Light Between Oceans, Inglaterra, Estados Unidos, Nova Zelândia, 2016) Direção: Derek Cianfrance / Roteiro: Derek Cianfrance, baseado no romance escrito por M.L. Stedman / Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz / Sinopse: Uma criança, resgatada em um barco à deriva na costa de uma ilha isolada, é adotada informalmente pela esposa do faroleiro. Quando esse descobre a verdadeira identidade da mãe se cria uma situação delicada, envolvendo conflitos éticos e familiares. Filme indicado ao Leão de Ouro no Venice Film Festival na categoria de Melhor Filme.

Pablo Aluísio.

A Corrente do Bem

Título no Brasil: A Corrente do Bem
Título Original: Pay It Forward
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Mimi Leder
Roteiro: Catherine Ryan Hyde, Leslie Dixon
Elenco: Kevin Spacey, Haley Joel Osment, Helen Hunt, Jim Caviezel, Angie Dickinson, Jon Bon Jovi

Sinopse:
Um professor de high School (o equivalente ao ensino médio no Brasil) encoraja seus alunos a tornarem o mundo um lugar melhor, criando uma corrente de bons atos, boas intenções e atitudes, uma verdadeira corrente do bem. Filme premiado pelo Young Artist Awards na categoria de Melhor ator juvenil (Haley Joel Osment).

Comentários:
Sempre achei meio bobinho, com mensagem de boas intenções de botequim ou de livros de auto ajuda, daqueles bem clichês. Nada especial ou muito inteligente, só meio piegas mesmo. De qualquer maneira a coisa só piorou com o tempo, principalmente agora que o ator Kevin Spacey foi denunciado por assediar um ator de apenas 14 anos de idade, o que nos Estados Unidos é uma acusação bem séria de se enfrentar (e que dá cadeia, inclusive). Para escapar da fama de pedófilo o Spacey precisou sair do armário, dizendo que era gay, algo que enfureceu o movimento GLSBT americano, já que de forma subliminar envolveu homossexualidade com pedofilia. O mar definitivamente não está para peixe na vida dele. E nesse filme aqui o Kevin Spacey interpretava justamente um professor muito bem intencionado que se relacionava (no sentido certo da palavra) com jovens e adolescentes. É um filme que nasceu para passar na Sessão da Tarde pela eternidade e que agora corre o sério risco de virar uma piada de humor negro involuntária contada pelo destino! Quem diria...Ah e antes que me esqueça: o elenco de apoio tem desde a diva do cinema clássico Angie Dickinson, passando pelo "Jesus" Jim Caviezel, indo parar no rei do rock farofa, Bon Jovi. Uma salada ao estilo mistureba para todos os gostos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

África dos Meus Sonhos

Título no Brasil: África dos Meus Sonhos
Título Original: I Dreamed of Africa
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Hugh Hudson
Roteiro: Paula Milne
Elenco: Kim Basinger, Vincent Perez, Eva Marie Saint, Daniel Craig, Liam Aiken, Nick Boraine

Sinopse:
Baseado no romance escrito por Kuki Gallmann, o filme narra a história de uma socialite italiana que decide mudar de vida após um grave acidente de carro. Ela repensa sua vida e deixa tudo para trás ao se apaixonar por um homem que vive na África, na região do Quênia. Deixando a civilização de lado ela mergulha nos desafios e nas belezas do continente africano.

Comentários:
Esse filme chegou a ter uma certa repercussão em festivais importantes como Cannes, mas de uma maneira em geral não fez qualquer sucesso entre o público. No Brasil foi lançado diretamente no mercado de vídeo VHS, sem causar qualquer impacto. É um filme realmente fraco que usa pela milionésima vez o lado mais exótico da África para atrair o público americano. Se isso deu certo em obras como "Entre dois amores" aqui passa muito longe de ser relevante.  Kim Basinger, já um pouco diferente por causa da idade, até tentava sensualizar em certos momentos, mas a coisa toda não deu certo. Hoje em dia, revista, essa produção vale mais por encontrar o jovem ator (e ainda desconhecido) Daniel Craig tentando chamar alguma atenção. Ele ainda estava muito distante de James Bond, mas já demonstrava um certo carisma e presença de cena no filme. Outro bom nome do elenco vem com Eva Marie Saint, a veterana atriz da fase de ouro do cinema americano. A classe continuava a mesma, pena que sua personagem não tinha mesmo muito destaque. Então é isso, "África dos Meus Sonhos" podia até ter uma boa fotografia, mas no geral não convencia muito, em nada.

Pablo Aluísio.

Lady Macbeth

Situação mais comum do que se pensa, apesar do filme se passar na era vitoriana. Homem mais velho, rico e rude, casa-se com jovem garota, pobre, que praticamente lhe foi vendida pelos próprios pais. Não existe amor envolvido, apenas um jogo de interesses sórdidos. Pois bem, a garota até tenta, no começo, satisfazer os estranhos desejos de seu novo marido, mas tudo vai por água abaixo. Ele viaja por longos períodos, a negligencia, não a trata com respeito e nem com dignidade. Viajando para longe,  deixa a jovem esposa em casa. Uma mulher no auge de sua jovialidade, sexualidade. Não é complicado entender o que vem a seguir. Logo ela está tendo um caso com um dos empregados da fazenda. Um conto sobre traição em tempos moralmente bem rígidos. O interessante desse roteiro é que desde o começo da história o espectador se solidariza com a jovem esposa. Afinal o marido é um tipo indigesto, absurdamente asqueroso. 

Só que conforme os acontecimentos vão se desenvolvendo (e eles são mórbidos, para se dizer o mínimo), vemos claramente que a protagonista Katherine não é uma heroína de folhetins românticos. Bem longe disso. Ela é de certa forma uma pessoa bem mais sórdida que seu próprio esposo, o que vai deixar muita gente surpresa. Essa personagem tão dúbia é interpretada pela atriz britânica Florence Pugh. Não a conhecia e gostei de seu trabalho. Há um certo olhar psicopata em sua frieza e modo de ser. Tudo acabou sendo muito bem captada por Pugh. Esse filme é mais uma produção da BBC e mostra que a produtora é certamente um porto seguro para quem gosta de boas produções embaladas por roteiros bem escritos e atuações mais sutis. O clima em geral aqui é bem mais gélido, como se fosse um retrato da própria Katherine, um tipo de mulher mal tratada pela vida que parece ter transformado a frase "O fim justifica os meios" em algum tipo de filosofia pessoal. Só não precisava ir tão longe em suas ambições.

Lady Macbeth (Inglaterra, 2016) Direção: William Oldroyd / Roteiro: Alice Birch, baseada na peça teatral "Lady Macbeth of Mtsensk" de Nikolai Leskov / Elenco: Florence Pugh, Cosmo Jarvis, Paul Hilton, Naomi Ackie / Sinopse: Durante a era vitoriana jovem esposa, casada sem amor com homem mais velho e rico, resolve ter um caso amoroso com um dos empregados de seu marido, causando uma série de acontecimentos trágicos. Filme indicado ao London Film Festival.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Feitiço Branco

Título no Brasil: Feitiço Branco
Título Original: White Witch Doctor
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Ivan Goff, Ben Roberts
Elenco: Susan Hayward, Robert Mitchum, Walter Slezak
  
Sinopse:
Ellen Burton (Susan Hayward) é uma enfermeira americana que aceita o convite para trabalhar em um posto médico avançado no interior selvagem do país africano do Congo. A região é de complicado acesso, assim ele precisa contar com o apoio do aventureiro John 'Lonni' Douglas (Robert Mitchum) que ganha a vida como mercador de animais selvagens para os principais zoológicos do mundo. Ele tem suspeitas de que uma tribo isolada da civilização guarda em seu poder um manancial enorme de ouro, algo que ele precisa conferir com os próprios olhos, enquanto finge apenas ajudar Ellen em sua viagem de trabalho.

Comentários:
Apesar do filme ter sido dirigido pelo especialista Henry Hathaway, cineasta que assinou tantos clássicos da era de ouro do cinema clássico americano e do excelente elenco liderado pela carismática Susan Hayward e pelo sempre competente Robert Mitchum, "White Witch Doctor" se revelou realmente um pouco decepcionante. Inicialmente se percebe que o roteiro quis mesmo se inspirar nos antigos seriados de aventuras que reinaram nas matinês das décadas de 1930 e 1940, além de obviamente se mostrar bem próximo dos filmes de Tarzan, que ainda faziam grande sucesso de bilheteria nos cinemas naquela época. O problema é que em nenhum momento a trama se decide entre virar um filme dramático, romântico ou de aventura. Fica tudo no meio termo e nada é desenvolvido até o fim. Em termos de aventura "Feitiço Branco" tem pouco a oferecer, se resumindo mesmo em poucas cenas de combates ou ação. O herói Mitchum passeia em cena como uma figura heróica e aventureira, mas ao mesmo tempo também gananciosa, pois ele está de olho numa fortuna em ouro escondido nos confins da África negra. 

Seu romance com a personagem de Susan Hayward também não vai adiante, se resumindo em alguns beijinhos esporádicos e flertes casuais. Tampouco o lado mais dramático do roteiro pode ser considerado bom. Ele se desenvolve no idealismo da enfermeira que decide ir para o Congo para tratar de populações carentes da região. O problema é que uma vez lá ela não encontra mais a médica com a qual iria trabalhar, pois ela teria morrido por uma doença tropical. Sobra assim poucos momentos realmente interessantes nesse aspecto. Ela até tenta salvar vidas, mas como apenas é uma enfermeira e não uma médica e pouco conhece das doenças daquela parte do mundo tudo parece seguir em vão. Por fim temos que admitir também que a produção deixa a desejar em certos momentos. É nitidamente B. O uso excessivo de externas filmadas na África sendo projetadas nas costas do elenco incomoda. Os cenários pintados a mão também não convencem. Há um gorila em cena, logo no começo do filme, mas ele é tão mal feito, deixando tão claro que é um ator vestido de macaco, que chega a criar um humor involuntário, algo muito ruim para um filme como esse. Enfim, uma aventura que envelheceu mal, ficou muito datada e com roteiro inconclusivo e indeterminado. Definitivamente não é dos melhores.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Farrapo Humano

Título no Brasil: Farrapo Humano
Título Original: The Lost Weekend
Ano de Produção: 1945
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Charles R. Jackson, Charles Brackett
Elenco: Ray Milland, Jane Wyman, Phillip Terry

Sinopse:
Don Birnam (Ray Milland) é um escritor fracassado que afoga suas mágoas na bebida. Sustentado pelo irmão e vivendo de bar em bar, ele tenta de alguma forma superar seu sério problema de alcoolismo. As coisas parecem tomar um rumo melhor quando conhece a doce e meiga Helen St. James (Jane Wyman) que está disposta a lutar ao seu lado contra o vício da bebida. Filme premiado com o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Ray Milland), Melhor Direção (Billy Wilder) e Melhor Roteiro. Indicado também nas categorias de Melhor Edição, Melhor Fotografia e Melhor Música (Miklós Rózsa). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator (Milland) e Melhor Direção. 

Comentários:
Considerado um dos melhores dramas do cinema americano de todos os tempos. O roteiro explora os problemas pessoais que atingem um escritor afundado no alcoolismo. O personagem de Ray Milland não consegue trabalhar, avançar na vida, ficando focado apenas no próximo drink. Isso o faz bolar todo tipo de artimanha para esconder garrafas pela casa, as escondendo na janela, penduradas no lustre do teto ou dentro de encanamentos. Para continuar seu vício ele engana justamente as pessoas que lhe ajudam, como seu irmão e sua namorada, uma jovem de boa família que resolve encarar a batalha por sua liberdade da bebida, algo que não será nada fácil, pois Birnam chega ao ponto até mesmo de penhorar sua máquina de escrever apenas para garantir mais um dia de bebedeiras pela cidade. Depois vai decaindo ainda mais, chegando ao ponto mais baixo de sua existência ao roubar a bolsa de uma mulher em um restaurante, já que não havia mais como pagar pela bebida consumida. Billy Wilder também explora de forma brilhante a própria mente de seu personagem principal. Em um dos momentos mais inspirados coloca Don Birnam em uma ópera que para seu desespero completo está repleta de cenas onde os atores bebem, servem drinks e cantam levantando seus copos! Essa cena é uma das melhores do filme, mesclando o drama pessoal de Don com uma pitada de tragicomédia, que era uma especialidade do gênio Wilder. Em suma, "Farrapo Humano" ainda é uma referência na sétima arte, uma obra brilhante que nunca envelhece. Mais do que indicado para cinéfilo de renome.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O Estranho John Kane

Após longos anos distante de sua cidade natal, John Kane (Sidney Poitier) retorna. Ninguém sabe ao certo onde esteve por todo esse tempo e nem o que fazia. Ele apenas está de volta após a morte de sua irmã. Seu passado obscuro e desconhecido chama a atenção do médico local, o Dr. Thomas (Will Geer) e do xerife Charley Gray (Lincoln Kilpatrick). Esse último resolve investigar pois desconfia que Kane na verdade seja um anarquista, um baderneiro que está de volta àquela cidadezinha do Alabama para participar dos protestos e das greves dos trabalhadores de uma fábrica da região. Ele seria um agitador político, talvez um membro de organizações radicais como os Panteras Negras. Enquanto está ausente do hotel onde está hospedado, o xerife entra escondido em seu quarto e encontra em sua mala um passaporte. Nele se pode constatar que John Kane esteve nos mais diversos e diferentes países, tão diferentes como a China ou Cuba. As suspeitas de que seria um comunista logo acendem a desconfiança do velho homem da lei. A partir daí ele transforma Kane no alvo de suas investigações, seguindo cada passo que ele dá. Mas afinal qual seria realmente a verdade sobre esse estranho sujeito?

Temos aqui um bom filme, com argumento interessante e aberto a inúmeras interpretações. O roteiro se concentra justamente no personagem interpretado pelo grande ator negro Sidney Poitier. Ele não fala muito, está sempre com um ar misterioso e tudo isso só serve para aumentar ainda mais a curiosidade dos moradores dessa pequena cidade do interior do Alabama. Obviamente que o racismo não seria deixado de lado, ainda mais dentro do contexto histórico em que o filme foi rodado. Assim a cor de Kane acaba sendo o grande estopim para que o xerife comece a investigar sua vida. Para sua surpresa não encontra muita coisa e acaba, por via das dúvidas, em determinado momento do filme, prendendo Kane. Com um visual bem anos 70 e uma estética narrativa própria da época, o filme ainda se sobressai por apresentar uma ótima trilha sonora escrita pelo mestre Quincy Jones (O mesmo produtor musical que muitos anos depois assinaria a produção do disco mais vendido de todos os tempos, "Thriller" de Michael Jackson). Nos momentos finais o roteiro incorpora uma solução até mística e religiosa para explicar o que John Kane teria feito em seu passado e o que estaria fazendo pelo mundo. Mesmo assim essa explicação, um tanto diferente, jamais é inteiramente assumida pelo filme, ficando a critério do espectador aceitar ou não a incomum teoria. Um filme muito interessante, com uma proposta diferente, tudo levado com singela elegância e simpatia. Certamente uma obra que merece ser revista e reavaliada, particularmente indicada para os fãs da classe e dignidade ímpares do talentoso Poitier.

O Estranho John Kane (Brother John, EUA, 1971) Direção: James Goldstone / Roteiro: Ernest Kinoy / Elenco: Sidney Poitier, Will Geer, Bradford Dillman, Beverly Todd / Sinopse: John Kane (Sidney Poitier) retorna para sua cidade natal após viver fora por muitos anos. Ele está de volta para prestar suas últimas homenagens à irmã falecida. Sua presença logo chama a atenção dos moradores, em especial do xerife e do querido médico da comunidade, o Dr. Thomas (Will Geer). Em pouco tempo Kane, mesmo não tendo feito nada de errado em sua passagem pela região, começa a ser investigado pela polícia. O que afinal de contas ele estaria tentando esconder de todos?

Pablo Aluísio.

Jamais Te Esquecerei

Título no Brasil: Jamais Te Esquecerei
Título Original: The House in the Square
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Roy Ward Baker
Roteiro: John L. Balderston, Ranald MacDougall
Elenco: Tyrone Power, Ann Blyth, Michael Rennie
  
Sinopse:
O físico nuclear Peter Standish (Tyrone Power) acaba desenvolvendo uma tese de que no universo temos várias realidades paralelas, inclusive em relação ao tempo. Para Peter o passado, presente e futuro formam uma só dimensão, o que tornaria possível a viagem no tempo. Após encontrar anotações de um antepassado distante ele acaba se convencendo que em algum momento de sua vida retornou ao século XVI, onde deixou para o seu eu do presente pistas do que teria feito lá. Agora ele precisa descobrir uma maneira de romper o espaço tempo para provar suas teorias.

Comentários:
Então você pensava que o tema viagem ao tempo só foi explorado pelo cinema na série "De Volta Para o Futuro"? Melhor rever seus conceitos meu caro. Esse "Jamais Te Esquecerei" é um filme pioneiro, realizado no começo dos anos 1950, que explora muito bem esse tema. O personagem principal, interpretado pelo galã Tyrone Power, é um cientista que está convencido que a viagem no tempo seria possível, baseado nas teorias do gênio Albert Einstein. Revirando velhos manuscritos que pertencem à sua família há séculos ele encontra cartas datadas do século XVI que dão pistas de que ele próprio, de alguma maneira, esteve lá! A partir daí o físico começa uma série de experimentos para realizar essa viagem inédita. E depois de um evento perfeitamente natural (um raio, tal como em "De Volta Para o Futuro") ele consegue realmente romper a barreira do tempo, indo parar no passado. Lá ele encontra seus antepassados e até se apaixona por uma prima, que se torna um amor impossível. Dois aspectos merecem menção nesse imaginativo roteiro. O primeiro é que uma vez no passado Standish fica um tanto decepcionado com o que encontra. Ele tinha uma imagem romântica daquele tempo, mas acaba encontrando uma realidade dura, com muita pobreza, exploração (inclusive envolvendo trabalho infantil), sujeira pelas ruas e poucos padrões de higiene das pessoas ao seu redor. Imagine tudo isso em um filme que supostamente deveria explorar um universo de fantasia romântica! Outro ponto interessante é que o diretor Roy Ward Baker teve uma ideia realmente genial ao filmar em dois sistemas diferentes. Quando o físico interpretado por Tyrone Power está no seu presente o filme apresenta uma fotografia toda em preto e branco. Há um clima sombrio no ar. Quando ele retorna ao passado o filme se torna colorido, vibrante e alegre. Achei realmente muito criativo esse aspecto. Assim "Jamais Te Esquecerei" é um filme bem à frente de seu tempo. É em essência um drama romântico, mas também é bem inteligente e mais do que isso, realista! Uma produção que realmente surpreende o espectador.

Pablo Aluísio

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Planeta dos Macacos

Título no Brasil: O Planeta dos Macacos
Título Original: Planet of the Apes
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Michael Wilson, Rod Serling
Elenco: Charlton Heston, Roddy McDowall, Kim Hunter, Maurice Evans, James Whitmore, James Daly

Sinopse:
Após sua espaçonave sofrer uma pane, o astronauta George Taylor (Charlton Heston) vai parar em um estranho planeta, muito parecido com a Terra, mas que é dominado por macacos! Os únicos humanos estão aprisionados como animais. Tudo não parece fazer muito sentido até que Taylor descobre uma terrível verdade sobre aquele lugar...

Comentários:
Esse é o filme que deu origem a tudo. Baseado na obra literária de Pierre Boulle o projeto do filme ficou arquivado por muitos anos pois o estúdio tinha receios do público não entender a proposta principal do enredo. Só após o ator Charlton Heston aceitar o convite para estrelar a película é que finalmente a Fox deu sinal verde para a produção do filme. Acabou sendo um marco histórico para a ficção no cinema. É curioso porque Charlton Heston foi uma estrela da Hollywood clássica, com uma filmografia épica que nada tinha a ver com esse tipo de universo. De fato "O Planeta dos Macacos" é seu filme mais sui generis, nada parecido com o trabalho que ele tinha desenvolvido anteriormente em sua carreira. Ele teve muita coragem em atuar nesse tipo de produção Sci-fi, algo que seus admiradores não esperavam. De uma forma ou outra o público adorou o resultado. O roteiro não se resumia em mostrar um universo estranho, de um mundo dominado por macacos, mas também em discutir aspectos sociais da própria época. Era um argumento inteligente, muito bem escrito, que fez com que o público jovem (em plena era da geração hippie, power flower) abraçasse a proposta do filme. Havia também ótimas sequências como àquela em que o personagem de Heston encontrava a estátua da liberdade afundada nas areias do praia. Algo para não esquecer! O sucesso foi tão grande que acabou dando origem a uma extensa franquia, com continuações ora interessantes, ora irregulares. Mesmo assim não há como diminuir o impacto desse histórico primeiro filme. Sucesso de público e crítica acabou levando também um merecido Oscar na categoria de melhor maquiagem (para John Chambers). Simplesmente indispensável para qualquer cinéfilo que se preze.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Vampiros de Almas

Título no Brasil: Vampiros de Almas
Título Original: Invasion of the Body Snatchers
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Allied Artists Pictures
Direção: Don Siegel
Roteiro: Daniel Mainwaring, Jack Finney
Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter, Larry Gates
 
Sinopse:
Ao retornar para a pequena cidadezinha onde mora na Califórnia o Dr. Miles J. Bennell (Kevin McCarthy) começa a receber reclamações estranhas de seus pacientes. Para esses haveria algo muito anormal acontecendo, pois seus parentes não seriam mais quem dizem ser. Eles se pareceriam com seus maridos, tios, pais, mas definitivamente não seriam eles na verdade. Intrigado o Dr. Milles começa a investigar o que estaria acontecendo. Seria algum tipo de delírio coletivo? No mínimo tudo soaria muito estranho... Aos poucos ele vai descobrindo a terrível verdade. O problema é convencer alguém do que estaria acontecendo de fato. Plantas alienígenas estariam trocando os seres humanos por cópias perfeitas? Quem acreditaria em algo tão absurdo?

Comentários:
Esse filme é considerado um dos grandes clássicos de Ficção dos anos 50. O enredo foi baseado em um conto escrito por Jack Finney para a revista de literatura fantástica "Collier's magazine serial". Imaginem uma invasão bem sutil de uma raça de aliens que ao invés de enfrentar os seres humanos em uma grande guerra de mundos estaria aos poucos substituindo todos os humanos por cópias de si mesmos. As estranhas criaturas seriam uma simbiose entre o mundo animal e vegetal e estariam determinadas a conquistar o planeta, se livrando da humanidade que para eles seria completamente descartável por serem seres emocionais e propensos a atos de violência irracional. O roteiro assim joga com o suspense da situação, sem nunca apelar para os efeitos especiais ou monstros, como era de praxe na época. O curioso dessa produção é que ela joga mais com o lado intelectual da situação do que com qualquer outra coisa. Há certamente cenas de ação e tudo mais (como quando os protagonistas fogem colina acima, perseguidos por uma multidão de abduzidos), mas nada disso é o foco principal da fita. Na verdade o criador do conto original fez uma analogia em cima do clima de paranoia em que vivia a sociedade americana. Havia um temor que o comunismo invadisse e destruísse os valores americanos. Isso fica bem claro quando o médico é informado por um dos seres que o objetivo dos aliens seria a construção de uma sociedade sem individualidade, onde todos seriam iguais, subordinados, sem diferenças entre si (e sem emoções também!). Ora, basta entender o contexto histórico do lançamento de "Invasion of the Body Snatchers" para entender bem onde o argumento queria chegar. Claro que passados tantos anos a ideia já não soa tão original como nos anos 50, afinal de contas o filme foi extremamente imitado por décadas! Mesmo assim não há como negar que é realmente um marco na história do universo Sci-Fi americano. Depois de filmes como esse não haveria mais limites para a imaginação dos roteiristas. Sob esse ponto de vista "Vampiros de Almas" realmente fez escola e pode ser considerado uma das ficções mais influentes da história do cinema americano. Pequena obra prima.

Pablo Aluísio.

A Invasão dos Bárbaros

Título no Brasil: A Invasão dos Bárbaros
Título Original: Attila
Ano de Produção: 1954
País: Itália, França
Estúdio: Producciones Ponti-de Laurentiis
Direção: Pietro Francisci
Roteiro: Ennio De Concini, Richard C. Sarafian
Elenco: Anthony Quinn, Sophia Loren, Henri Vidal, Claude Laydu, Irene Papas, Colette Régis

Sinopse:
Durante o século V da era cristã, o general romano Aécio (Henri Vidal) é enviado até as terras ocupadas pelos bárbaros conhecidos como Hunos. Eles são liderados por um guerreiro violento chamado Átila (Anthony Quinn). O militar de Roma pretende assinar um tratado de paz com os bárbaros, mas logo percebe que isso é praticamente impossível pois uma invasão está prestes a acontecer nas fronteiras do império.

Comentários:
Filme baseado em fatos históricos reais. Átila, Rei dos Hunos, passou para a história conhecido como "O Flagelo de Deus". Ele liderou a maior invasão bárbara que se teve notícia até então. O outrora glorioso Império Romano estava em franca decadência. Liderado por um jovem e fraco imperador chamado Valentiniano III, Roma acabou sendo invadida pelos Hunos de uma forma nunca antes vista. Esse filme franco italiano tentou contar essa famosa passagem da história da queda do Império Romano. Pena que não teve o orçamento necessário para isso. Realmente o que estraga esse filme é sua fraca produção. Para épicos assim era necessário ter milhões de dólares na época. Como o filme foi feito na Itália, com um orçamento insuficiente, ficamos com aquela sensação ruim de estar assistindo a um teatro filmado, ou pior que isso, a uma novela de TV. O elenco até era muito bom, com destaque para o expansivo Anthony Quinn. Aqui cometeram um erro de maquiagem nele pois para reproduzir os olhos orientais de Átila, puxaram o rosto do ator para trás, lhe trazendo um aspecto nada natural. Sophia Loren, jovem e bonita, muito sensual até, interpretou a irmã do afeminado imperador, a víbora Honoria. Um papel central na trama, pois ela acabou sendo uma das razões da invasão dos bárbaros sobre Roma. O problema é que Loren não era uma atriz muito experiente na época em que o filme foi feito. Sua atuação deixa mesmo a desejar. Assim, no final das contas, temos um filme menor, pequeno demais para a grandeza da história que tenta contar.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de outubro de 2017

O Poço e o Pêndulo

Título no Brasil: O Poço e o Pêndulo
Título Original: Pit and the Pendulum
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: MGM
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson, baseado na obra de Edgar Allan Poe
Elenco: Vincent Price, Barbara Steele, John Kerr, Luana Anders
 
Sinopse:
Século XVI. Ao descobrir que sua irmã morreu em circunstâncias misteriosas, o nobre Francis Barnard (John Kerr) resolve ir até o castelo onde ela morava com o marido, Nicholas Medina (Vincent Price). O lugar é sinistro, uma velha construção medieval usada no passado como câmera de torturas da inquisição espanhola. Aos poucos Francis vai percebendo que nada é como lhe fora informado. Sua irmã não morrera de um ataque do coração e nem da maneira como ele pensava ter sido. Afinal qual seria a verdade dos fatos naquele ambiente doentio e assustador?

Comentários:
Falar que esse filme foi baseado na obra de Edgar Allan Poe é sem dúvida forçar um pouco a barra. Na verdade apenas os 10 minutos finais tem alguma semelhança com o conto escrito pelo genial Poe. O fato é que o texto original tem uma trama muito simples. Basicamente é um homem que acorda numa câmera de torturas da idade média, onde um pendulo com uma grande Lâmina desce em sua direção. O poço onde ele está seria assim uma metáfora do próprio inferno e o pêndulo uma alegoria do tempo que conforme vai passando vai consumindo nossa existência. Essa é em breves linhas o conteúdo do que Poe escreveu. O roteirista Richard Matheson precisou assim criar todo um enredo próprio para a realização do filme. Dessa maneira surge vários personagens que inexistiam na obra original de Poe, entre eles o fragilizado Nicholas Medina (Vincent Price). Seu pai foi um dos mais sádicos inquisitores da Espanha e quando descobriu que seu próprio irmão estava tendo um caso com sua esposa resolveu torturar a ambos nos mesmos instrumentos de tortura que mantinha nos porões de seu castelo. Ainda criança Nicholas assistiu a tudo. Com o trauma criou uma personalidade frágil e assustada, sempre aterrorizado com as sombras daquele lugar assustador. É curioso porque Price interpreta ambos os personagens, pai e filho. Como Nicholas (o filho) ele é perturbado e medroso, como Sebastian (o pai) é um torturador insano e masoquista. O diretor Roger Corman fez um bom filme (considerado clássico por alguns), mas de modo em geral ficou apenas na média. As cores berrantes do filme atrapalham um pouco, se fosse realizado em preto e branco seria claramente mais assustador. A trama tem bons momentos e como o filme é relativamente curto (pouco mais de 80 minutos), jamais chega a aborrecer o espectador. Corman sabia como dar um ritmo adequado e um corte certo para filmes como esse.

Pablo Aluísio.

Esposa Só no Nome

Casualmente durante um passeio a cavalo, Alec Walker (Cary Grant) acaba conhecendo Julie Eden (Carole Lombard). Ela é uma jovem viúva que ganha a vida desenhando vestidos para revistas de moda em Nova Iorque. Ele é um homem infeliz em seu casamento de fachada. Sua esposa, uma alpinista social, só se casou com ele por causa da fortuna de sua família. Aos poucos Walker vai se apaixonando por Julie, mas sua esposa não vai deixar algo assim passar barato. Esse filme do final dos anos 1930 investe em um roteiro baseado na velha premissa do triângulo amoroso, envolvendo aqui um homem casado e uma viúva, mãe de uma garotinha de seis anos. O casamento dele é uma farsa. Não há amor envolvido, nem paixão. Assim ele busca por um novo amor, mas obviamente isso vai lhe trazer inúmeros problemas.

O grande interesse nessa produção vem do seu elenco, mas particularmente do desempenho da atriz Carole Lombard. Quando ela atuou nesse filme só tinha 3 anos de vida pela frente. Ela morreu tragicamente em um acidente de avião, enquanto trabalhava para vender bônus da segunda guerra mundial. Sua morte chocou Hollywood porque ela ainda era jovem, com apenas 33 anos de idade! Tinha uma bela carreira pela frente. Depois desse "Esposa Só no Nome" ela só faria mais quatro filmes. Outro destaque é a presença de Cary Grant, também ainda bem jovem. Seu papel é a de um homem, filho de uma rica e tradicional família do sul, que precisa enfrentar as barreiras da sociedade para ser feliz. Naqueles tempos romper um casamento, para se firmar em um romance com uma mulher viúva, era algo desastroso do ponto de vista social. Então é isso, "In Name Only" é certamente um filme bem interessante, contando no elenco com um grande galã de Hollywood atuando ao lado de uma jovem estrela que não viveria muito, vitimada por uma das grandes tragédias da história do cinema americano.

Esposa Só no Nome (Estados Unidos, 1939) Direção: John Cromwell / Roteiro: Richard Sherman, baseado na novela romântica escrita por Bessie Breuer / Elenco: Cary Grant, Carole Lombard, Kay Francis / Sinopse: Homem casado, mas infeliz em seu matrimônio, se apaixona por jovem viúva, artista de design de vestidos de luxo de Nova Iorque. O romance, encarado por ele como uma salvação para sua frustrada vida sentimental, logo se torna alvo de sua esposa, que não parece disposta a lhe dar o divórcio.

Pablo Aluísió.

sábado, 21 de outubro de 2017

Só Ficou a Saudade

Título no Brasil: Só Ficou a Saudade
Título Original: Kings Go Forth
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Delmer Daves
Roteiro: Merle Miller, baseado na novela de Joe David Brown
Elenco: Frank Sinatra, Tony Curtis, Natalie Wood, Karl Swenson
  
Sinopse:
Segunda Guerra Mundial. O tenente americano Sam Loggins (Frank Sinatra) e seu pelotão rumam em direção ao sul da França, país que estava sendo libertado naquele momento histórico da dominação nazista. Em seu grupo junta-se um novo cabo, Britt Harris (Tony Curtis), especialista em comunicação. Quando chegam numa pequenina cidade na costa descobrem que o local está praticamente livre de tropas inimigas. Assim eles partem para a diversão, indo à praia e namorando as garotas locais. Sam acaba se apaixonando pela doce e bela Monique Blair (Natalie Wood), mas ela parece ficar mais interessada por Harris, afinal ele é extrovertido, sedutor e boa pinta. O que eles nem desconfiam é que os alemães não estão tão derrotados como todos erroneamente pensam.

Comentários:
Depois de "A Um Passo da Eternidade" o cantor Frank Sinatra deu um tempo em dramas de guerra, só retornando mesmo com esse bom "Só Ficou a Saudade". Embora tenha cenas de ação e combate o filme não se propõe a investir muito nesse aspecto. Na realidade o roteiro está sempre muito mais focado em contar uma história de amor frustrado. A velha história do sujeito que ama uma mulher, mas que precisa se contentar com o triste destino, pois ela ama outro. É interessante que Sinatra tenha optado por interpretar um homem triste, melancólico e rejeitado que precisa manter a cabeça no lugar enquanto tenta sobreviver à guerra e ao fato de que um verdadeiro canalha (o cabo Harris) acabe roubando o coração da garota que ele tanta ama. Há uma linha de diálogo que reflete tudo isso. O tenente interpretado por Sinatra se vira para o personagem de Tony Curtis e desabafa, dizendo: "Olhe para você! É rico, bonito e se dá bem com as garotas. Eu sou pobre e feio!". 

A impressão que tive foi que Sinatra, que vinha numa fossa tremenda em sua vida pessoal, por causa da rejeição de Ava Gardner, tentava transmitir tudo o que sentia justamente nesse papel em que atuava. Outro aspecto digno de nota vem da personagem Monique de Natalie Wood. Ela é filha de um negro americano que se enamorou de uma francesa. Em determinado momento do roteiro ela conta essa história para o tenente Sam. Ele fica chocado com as suas origens! Hoje em dia algo assim daria inúmeros problemas, certamente. Mas enfim... O diretor Delmer Daves, de tantos faroestes, até que se saiu muito bem dirigindo esse romance improvável e triste, sem final feliz. E para fechar a pequena resenha aqui vai também mais um fato curioso. Em determinada cena, numa boate esfumaçada, os soldados começam a pedir que um membro do pelotão suba ao palco para se apresentar. Obviamente por Frank Sinatra ser um dos maiores cantores de todos os tempos o espectador acabe pensando que ele dará uma canja em cena, mas não! Quem sobe ao palco para "dublar" um trompete é Tony Curtis! Assim, sinceramente, não dá para ser feliz...

Pablo Aluísio.

Amor de Dançarina

Título no Brasil: Amor de Dançarina
Título Original: Dancing Lady
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Robert Z. Leonard
Roteiro: P.J. Wolfson
Elenco: Joan Crawford, Clark Gable, Fred Astaire, Franchot Tone, May Robson, Grant Mitchell, Nelson Eddy
  
Sinopse:
A vida para Janie Barlow (Joan Crawford) é o mundo da dança. Ela sonha em ser uma grande estrela da Broadway e para isso se dedica o tempo todo para aprender novos passos, novas coreografias. Tod Newton (Franchot Tone) é um rico playboy que decide ajudá-la a transformar seus sonhos em realidade. Para isso ele pede para que o diretor de musicais Patch Gallagher (Clark Gable) dê uma chance a Janie.

Comentários:
Um bom musical da Metro, hoje pouco lembrado, que procura explorar o mundo dos bastidores dos grandes musicais da Broadway. A protagonista é uma jovem que sonha com o sucesso e a fama, mas que vai descobrindo como é duro para se tornar uma verdadeira estrela. O filme tem muito charme, bonitas sequências, extremamente bem realizadas e a participação especial de Fred Astaire e Nelson Eddy como grandes astros da Broadway. O curioso é que Fred Astaire, considerado por muitos como o maior dançarino da história de Hollywood, faz o papel de si mesmo. Ele brinca com sua imagem pública e como sempre arrasa no momento de mostrar seus passos. O diretor Robert Z. Leonard logo entendeu a importância de ter um mito como Fred Astaire fazendo uma participação especial em seu filme e por isso pediu a ajuda dele nas coreografias mostradas ao longo desse musical. O resultado realmente ficou ótimo. Joan Crawford era uma graça na época, ainda bem jovem, com apenas 26 anos, e esbanja um carisma e uma alegria inocente que logo se tornaria uma raridade em sua filmografia, pois ela iria se especializar mesmo em personagens de mulheres fortes e decididas. Já Clark Gable fugiu do convencional. Filmes musicais eram exceções em sua carreira, já que a sua especialidade eram os filmes românticos. Aqui ele interpreta um diretor de musicais da Broadway, algo que fugia totalmente de seu habitual. Enfim, um belo musical dos tempos áureos da Metro em Hollywood.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio.

O Tempo Não Apaga

Título no Brasil: O Tempo Não Apaga
Título Original: The Strange Love of Martha Ivers
Ano de Produção: 1946
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Lewis Milestone
Roteiro: Robert Rossen
Elenco: Barbara Stanwyck, Van Heflin, Lizabeth Scott, Kirk Douglas, Judith Anderson, Roman Bohnen

Sinopse:
O ano é 1928. Baseado no romance "Love Lies Bleeding" escrito por John Patrick, o filme conta a história de Martha Ivers (Barbara Stanwyck), uma mulher dominadora e implacável, casada com um homem que tenta manipular de todas as maneiras. Martha tem um terrível segredo envolvendo seu passado, algo que não pode ser descoberto por ninguém.

Comentários:
Drama pesado, assinado pelo talentoso cineasta Lewis Milestone. O filme chegou a ser indicado a um Oscar, na categoria melhor roteiro. Curiosamente a indicação foi para o escritor John Patrick que escreveu o romance que deu origem ao filme e não propriamente ao roteirista dessa produção,  Robert Rossen. Um tipo de erro que alguns anos depois a Academia iria consertar, mudando as regras de indicação a esse prêmio. Outro fato curioso é que o filme fez grande sucesso na Europa (mais do que dentro do mercado americano). Sua trama, bem pesada, calcada em personagens dramáticos e trágicos, foi bem de encontro ao gosto dos europeus. Por essa razão o filme acabou fazendo boa carreira no exterior, inclusive sendo reconhecido no Festival de Cannes daquele ano. Outro fato digno de nota é que esse foi o primeiro filme da carreira do ator Kirk Douglas. Ele interpreta um jovem procurador, ambicioso, mas honesto, chamado Walter O'Neil. Douglas ainda era bem moço, mas já demonstrava aquele carisma forte que iria construir toda a sua carreira, o transformando em um dos grandes astros da história de Hollywood nos anos seguintes. Já Barbara Stanwyck se sobressai bastante com sua atuação ao dar vida a uma mulher com poucos valores éticos, cujas ambições se resumem a ficar rica, seja de que maneira for. Ela inclusive guarda um terrível segredo em seu passado que agora tenta de todas as formas esconder. Enfim, um bom dramalhão dos anos 40, valorizado sobretudo por seu excelente elenco.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Perdidos na Tormenta

Título no Brasil: Perdidos na Tormenta
Título Original: The Search
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
Direção: Fred Zinnemann
Roteiro: Richard Schweizer, David Wechsler
Elenco: Montgomery Clift, Ivan Jandl, Aline MacMahon, Jarmila Novotna, Wendell Corey, Ewart G. Morrison

Sinopse:
Após o fim da II Grande Guerra Mundial, um militar norte-americano chamado Ralph Stevenson (Montgomery Clift) é enviado para Berlim. A outrora cidade alemã está reduzida a escombros por causa dos bombardeios que foram feitos pelos aviões americanos durante a guerra. No meio desse caos Ralph resolve ajudar um garotinho tcheco perdido a reencontrar sua mãe.

Comentários:

O primeiro filme de Montgomery Clift em Hollywood foi "Perdidos na Tormenta". Esse foi filme foi realizado em 1948, uma produção da Metro-Goldwyn-Mayer que tinha como tema o pós-guerra na Europa. Um tema muito adequado pois a II Guerra Mundial havia terminado apenas três anos antes. O diretor Fred Zinnemann queria trazer para o público americano a situação em que se encontrava os países europeus depois de um dos conflitos armados mais sangrentos da história. Foi uma excelente iniciativa pois capturava em tela a situação de Berlim, a antiga capital do III Reich de Hitler, agora reduzida a uma pilha de escombros depois dos intensos bombardeios dos aviões aliados. E foi justamente para esse caos que a equipe de filmagem foi enviada. Clift interpretava no filme um militar americano chamado Ralph Stevenson. Após o fim da guerra ele era enviado justamente para Berlim, onde acabava ajudando um garoto de origem tcheca a encontrar sua mãe.

Filmar ali foi uma grande experiência para o ator. Embora ele tivesse conhecimento de tudo o que havia acontecido na II Guerra, era algo bem diferente estar ali, bem no meio do povo alemão derrotado, tentando sobreviver de todas as formas. O filme também serviu como propaganda americana ao colocar soldados e militares dos Estados Unidos como pessoas prontas a ajudar os sobreviventes da guerra, os retratando como pessoas amigáveis e prestativas, militares honestos e de boa índole. Após seu lançamento o filme foi bastante elogiado, vencendo um Oscar numa categoria importante, a de Melhor Roteiro (prêmio dado aos roteiristas Richard Schweizer e David Wechsler). Além disso foi indicado ainda ao Oscar nas categorias de Melhor Direção e Melhor Ator, justamente para Montgomery Clift, que estreava assim com reconhecimento em Hollywood. Afinal ser indicado ao Oscar por seu primeiro filme era algo para poucos...

Pablo Aluísio.

A Praia dos Biquínis

Título no Brasil: A Praia dos Biquínis
Título Original: Bikini Beach
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William Asher
Roteiro: William Asher, Leo Townsend
Elenco: Frankie Avalon, Annette Funicello, Martha Hyer, Don Rickles, Harvey Lembeck, John Ashley

Sinopse:
Entre várias ondas na praia, o jovem Frankie (Frankie Avalon) tenta conquistar mais uma vez o coração da doce e maravilhosa Dee Dee (Annette Funicello). Para isso porém ele terá que enfrentar mais uma vez as artimanhas de Eric Von Zipper (Harvey Lembeck) e seus motoqueiros e um cientista maluco, que quer provar que adolescentes e primatas possuem os mesmos instintos básicos de acasalamento!

Comentários:
Se você tiver curiosidade em saber como eram os filmes feitos para o público adolescente nos anos 60, uma boa dica é esse filme de verão chamado "Bikini Beach". Estrelado pelo casalzinho sensação da época, Frankie Avalon e Annette Funicello, essas produções eram extremamente lucrativas, porque tinham uma orçamento quase mínimo (esse aqui custou apenas 600 mil dólares!) e conseguiam faturar muito bem nas bilheterias. Essa fita aqui, por exemplo, foi a terceira de uma longa série de fitas rápidas que começaram com "A Praia dos Amores" no ano anterior, sendo seguida de "Quanto Mais Músculos Melhor". Haveria ainda um quarto filme intitulado "Folias na Praia" em 1965. Todos esses filmes foram bastante reprisados no Brasil, na década de 70, na Sessão da Tarde, por isso acabaram bem populares por aqui. Os roteiros eram sempre bem básicos. Avalon e Funicello em eterno namorico pelas praias da Califórnia, sendo importunados pelo motoqueiro maluco Eric Von Zipper (Harvey Lembeck). Tudo realmente muito pueril, inocente, bem de acordo com os padrões da época. Hoje em dia esses filmes, de baixo teor artístico e cinematográfico, servem apenas como curiosidades nostálgicas. Frankie Avalon, por exemplo, até tentou emplacar uma carreira de cantor ao estilo Elvis Presley, mas como ele definitivamente não era Elvis, acabou ficando pelo meio do caminho. De qualquer maneira assista e conheça, nem que seja para matar as saudades de um tempo que não existe mais.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Desaparecidas

1885. Novo México. Um velho cowboy e pistoleiro chamado Samuel Jones (Tommy Lee Jones) resolve voltar para sua terra natal para reconstruir sua vida pessoal e familiar. Está velho e cansado de viver eternamente cavalgando pelo velho oeste, sem rumo certo a seguir. Há muitos anos ele não vê sua filha Magdalena Gilkeson (Cate Blanchett). O retorno, como era de se esperar, é complicado. Há muitas mágoas no meio do caminho. O que ninguém poderia esperar era o rapto de sua neta por criminosos e bandoleiros, algo que Jones não deixará passar barato. Sua busca por vingança e justiça se tornará praticamente uma obsessão. Bom faroeste moderno valorizado pelas excelentes presenças dos atores Tommy Lee Jones e Cate Blanchett. Que ótima dupla! Tommy Lee Jones parece ter sido moldado para esse tipo de filme. Ele tem uma ótima presença em produções de western, algo que combina perfeitamente com seu estilo de ser mais durão.

Já Cate Blanchett também enche a tela com sua presença. Ela sempre ficou conhecida por suas personagens mais frias e elegantes, mas aqui consegue passar toda a fúria necessária para uma mãe que se viu sem sua filha. Ela vai da frieza para o desespero em questão de segundos. Ótima atuação. O clima em geral desse western é soturno. A fotografia valoriza um visual mais lúgubre, o que acaba se tornando sua principal característica. Os personagens em geral são pessoas com problemas de relacionamento, que não conseguem expressar adequadamente seus sentimentos. Quando se defrontam com uma situação limite acabam explodindo em uma obsessão de violência e fúria. Então é isso. Bom faroeste que merece ser conhecido, principalmente para quem deixou passar em branco.

Desaparecidas (The Missing, Estados Unidos, 2003) Direção: Ron Howard / Roteiro: Thomas Eidson, Ken Kaufman / Estúdio: Revolution Studios, Imagine Entertainment / Elenco: Tommy Lee Jones, Cate Blanchett, Evan Rachel Wood / Sinopse: Velho cowboy e sua filha vão atrás dos bandidos que sequestraram a pequena neta. A vingança será sem misericórdia ou perdão. Filme indicado ao Urso de Ouro no Berlin International Film Festival. Também indicado ao AARP Movies for Grownups Awards na categoria de Melhor Ator (Tommy Lee Jones).

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Renegado Heróico

Título no Brasil: Renegado Heróico
Título Original: Springfield Rifle
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: André De Toth
Roteiro: Charles Marquis Warren, Frank Davis
Elenco: Gary Cooper, Phyllis Thaxter, David Brian
  
Sinopse:

O Major Alex 'Lex' Kearney (Cooper) é um oficial do exército da União durante a Guerra Civil americana que se torna agente duplo no serviço de contraespionagem do governo americano. Agora ele terá que descobrir todos os planos dos inimigos para que os nortistas consigam vencer um dos conflitos históricos mais sangrentos da história dos Estados Unidos. Sua primeira missão é descobrir quem realmente estaria roubando os cavalos da União no território do Colorado.

Comentários:
Gary Cooper foi um dos grandes astros do cinema americano. Ele conseguiu transitar bem em praticamente todos os gêneros cinematográficos, mas é certo que se destacou muito nos filmes de western. Cooper tinha o tipo ideal. Era alto, passava integridade com o olhar e também se notabilizava por interpretar personagens extremamente íntegros e honestos. Aqui temos um filme menos conhecido do ator, nada que se compare com seus grandes clássicos como "Matar ou Morrer" onde interpretou o lendário xerife Will Kane. Aliás é bom salientar que esse filme foi justamente o faroeste que sucedeu aquela grande obra prima, lançada apenas alguns meses antes. Isso criou uma grande expectativa no público e crítica o que acabou causando uma certa decepção depois, durante o lançamento desse novo filme de Cooper. Acontece que as expectativas estavam altas demais. A verdade é que "Springfield Rifle" passa longe de ser marcante como o filme anterior. Aquele tinha um roteiro genial e uma brilhante direção do grande cineasta Fred Zinnemann; nada que se possa comparar com o trabalho "feijão com arroz" do apenas confiável André De Toth. A diferença de talento entre os diretores - diria até mesmo a diferença de nível - chega a ser covardia. Por isso assista ao filme com os pés no chão, procurando deixar de lado todas as comparações. Acaso pense e faça assim certamente conseguirá apreciar bem mais esse faroeste, vendo suas reais qualidades, entre elas a de ser um entretenimento mediano e bem realizado, honesto naquilo que se propõe a disponibilizar ao público. Não é uma obra prima da sétima arte e para falar a verdade essa nunca foi mesmo a intenção de seus realizadores. De qualquer forma tem Gary Cooper no elenco, o que convenhamos já é uma razão e tanto para assisti-lo.

Pablo Aluísio.

O Homem, O Orgulho, A Vingança

Título no Brasil: O Homem, O Orgulho, A Vingança
Título Original: L'uomo, l'orgoglio, la vendetta
Ano de Produção: 1967
País: Itália, Alemanha
Estúdio: Regal Film, Fono Roma, Constantin Film
Direção: Luigi Bazzoni
Roteiro: Luigi Bazzoni, Suso Cecchi D'Amico
Elenco: Franco Nero, Tina Aumont, Klaus Kinski
  
Sinopse:
No México do século XIX um soldado, Don José (Franco Nero), conhece a linda cigana Carmen (Tina Aumont), cuja beleza é proporcional ao perigo de se relacionar com ela. Isso porque Carmen é uma verdadeira femme fatale. Suas pretensões românticas serão colocadas à prova em duelo contra o desprezível marido de Carmen, o violento e irascível vilão Miguel Garcia (Klaus Kinski), um homem brutal que não aceita ser desafiado por absolutamente ninguém. O choque de personalidades imediatamente o colocarão em confronto direto, mais cedo ou mais tarde. Apenas o mais forte e rápido no gatilho sobreviverá.

Comentários:
Dentro do vasto universo das produções ao estilo Spaghetti Western o fã desse tipo de cinema poderá descobrir filmes realmente curiosos e interessantes. Um exemplo vem com esse "O Homem, O Orgulho, A Vingança" (que nos Estados Unidos recebeu o título de "Man, Pride & Vengeance"). O filme foi estrelado pelo eterno Django Franco Nero, mas é um erro dizer que se trata de mais um filme com o personagem. Na realidade em alguns países o material promocional do filme realmente usou o nome de Django para atrair bilheteria, porém o fato é que Nero interpretava apenas um militar (e pistoleiro) chamado Don José. Nada a ver com o Django original. O roteiro foi inspirado na ópera "Carmen", o que por si só já é uma curiosidade e tanto, algo bem diferente em se tratando de faroestes italianos. Franco Nero, já naquela época, procurava por algum tipo de material diferente, mesmo que fossem Westerns, para ser reconhecido como bom ator. Além dele o elenco tem dois óbvios atrativos. O principal deles é a presença de Klaus Kinski como um vilão louco e sádico (especialidade na carreira do ator). As melhores sequências do filme em termos de ação e atuação devem ser creditadas a Kinski que na vida real era tão insano quanto seus próprios personagens, por isso tudo acabava funcionando muito bem na tela. E para trazer beleza para a produção nada melhor do que a presença de Tina Aumont, uma das mais bonitas atrizes da época. Muitos pensavam que ela era italiana, mas não, Tina nasceu em Los Angeles, nos Estados Unidos, filha de um casal de imigrantes italianos que depois retornaram para seu país de natal. Sua familiaridade com a língua inglesa, além de sua estética sensual, lhe abriram muitas portas no cinema europeu. Por fim um detalhe curioso. A primeira versão de "L'uomo, l'orgoglio, la vendetta" foi lançada falada em alemão. Só depois surgiu a versão em italiano. No Brasil o filme foi um dos primeiros a serem exibidos dublados no cinema, fruto de seu apelo popular. A fita ficou meses em cartaz em pequenos cinemas de bairro, algo que hoje em dia infelizmente não existe mais. Foi um sucesso de bilheteria em nosso país.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O Pistoleiro do Rio Vermelho

Título no Brasil: O Pistoleiro do Rio Vermelho
Título Original: The Last Challenge
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Richard Thorpe
Roteiro: John Sherry
Elenco: Glenn Ford, Angie Dickinson, Chad Everett
  
Sinopse:
Dan Blaine (Glenn Ford) é um xerife de uma cidade do velho oeste que precisa lidar com sua fama de ser o homem mais rápido do gatilho de todo o Arizona. Isso faz com que ele tenha que enfrentar de tempos em tempos vários pistoleiros que vão até onde mora pois todos querem provar que são melhores do que Blaine. Entre esses desafiantes está o pistoleiro Lot McGuire (Chad Everett). Ele conhece Blaine por acaso, sem saber que ele é exatamente o xerife que procura para um duelo mortal. Dessa fortuita amizade surge um conselho dado por Blaine para que ele deixe suas ambições de lado pois certamente morrerá se for em frente com seus planos.

Comentários:
O tema desse roteiro é bem recorrente em faroestes antigos. A sina do gatilho mais rápido do oeste foi explorado em centenas de filmes. O sujeito é o melhor, mas isso também significa ter que lidar com vários desafiantes em duelos para se chegar naquele que finalmente seria o melhor da raça. Até filmes de ficção como "Highlander" beberam dessa mesma fonte. Pois bem, esse também é o destino do velho xerife Blaine (Interpretado por um envelhecido Glenn Ford). No passado ele foi o ás do gatilho, um pistoleiro temido, jamais vencido. Agora, entrando na velhice, ele procura por uma certa estabilidade na vida. Se torna xerife e começa a ter um relacionamento com a dona do saloon local, a bela Lisa Denton (Angie Dickinson). O problema é que seu passado não o abandona. De vez em quando chega uma forasteiro na cidade onde trabalha justamente para duelar com ele. Todos os pistoleiros querem o título e a honra de terem matado o homem que era considerado o mais rápido gatilho do oeste. Para Blaine não sobra outra alternativo do que enfrentá-los, já que uma recusa o colocaria na posição de covarde, algo fatal para um xerife. 

Um a um eles vão sendo mortos por Blaine, até o dia em que durante uma pescaria ele conhece esse jovem, Lot McGuire (Chad Everett), e acaba simpatizando com ele. A questão é que esse nada mais é do que mais um desafiante em sua vida. Blaine não quer matá-lo, mas pelo visto não terá outra alternativa. A direção de Richard Thorpe (que dirigiu o sucesso musical "O Prisioneiro do Rock" com Elvis Presley) é um tanto burocrática. Thorpe, que também produziu o filme, não parece ter pressa em contar sua história, o que dá um ritmo próprio ao filme, bem mais cadenciado. Isso não é necessariamente um defeito, mas uma marca do filme. Em termos de elenco o astro Glenn Ford até que cumpre seu papel, meio preguiçosamente é verdade, até porque naquela altura de sua carreira ele já não tinha mais nada a provar. O curioso é que Ford parecia sempre usar o mesmo figurino em todos os seus faroestes - até mesmo o chapéu era o mesmo! Por fim a presença de Angie Dickinson também chama muito a atenção. A atriz era bem jovem quando o filme foi feito e se sai muito bem em sua atuação (apesar da pouca idade). Ela em breve deixaria esse tipo de personagem, a de heroínas apaixonadas, para se destacar em uma bela carreira no cinema, em dramas fortes e de muita carga dramática.

Pablo Aluísio.

O Passado Não Perdoa

Título no Brasil: O Passado Não Perdoa
Título Original: The Unforgiven
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: John Huston
Roteiro: Ben Maddow, baseado no livro de Alan Le May
Elenco: Burt Lancaster, Audrey Hepburn, Audie Murphy, Lillian Gish
  
Sinopse:
O filme narra as lutas do clã Zachary. O patriarca foi morto há muitos anos pela tribo Kiowa. Agora a liderança da família pertence ao irmão mais velho, Ben Zachary (Burt Lancaster). Ao mesmo tempo em que negocia gado ele precisa manter a salvos seus irmãos mais jovens, entre eles Cash (Audie Murphy) e Rachel (Audrey Hepburn). Essa última tem traços indígenas, o que leva algumas pessoas da região a desconfiarem de que ela na verdade seria Kiowa. A relativa tranquilidade dos Zacharys muda completamente quando guerreiros nativos voltam para seu rancho. Eles querem Rachel, o que dará origem a uma nova guerra entre brancos e índios.

Comentários:
Só o simples fato de ter sido dirigido pelo mestre John Huston já chama a atenção. Quem conhece a obra desse cineasta sabe muito bem que ele nunca rodou filmes banais, que caíssem no lugar comum. É verdade que Huston não realizou muitos filmes de faroeste ao longo de sua carreira, mas quando o fez certamente caprichou. Não há outra qualificação para essa produção, trata-se de mais uma obra prima da filmografia desse talentoso diretor. O roteiro mostra a vida da família Zachary. Eles vivem há décadas em um rancho em um território dominado pela tribo Kiowa. De tempos em tempos ocorrem matanças entre brancos e nativos. Depois de um longo período de paz eles retornam. Querem Rachel (Hepburn) que eles alegam ter sido raptada de sua tribo no passado. Acontece que Rachel já é uma mulher adulta, plenamente integrada à sociedade civilizada. Ela jamais seria levada de volta para as montanhas onde vivem os Kiowas. Para Ben (Lancaster) essa hipótese jamais poderia ser nem ao menos cogitada. A recusa dele para os Kiowas eleva à tensão ao máximo, o que desencadeia uma nova era de conflitos entre os brancos e índios da região. 

Huston não se contenta em apenas contar um filme onde nativos são vilões e colonizadores brancos são mocinhos. Ele procura desenvolver cada personagem, cada membro da família Zachary. Com um elenco maravilhoso em mãos, Huston criou um filme que é considerado um dos melhores da década de 1960. Além dos familiares protagonistas da estória, Huston inseriu um personagem por demais interessante, um homem velho em roupas de soldado confederado que passa de tempos em tempos proclamando profecias e trechos do velho testamento, tal como se fosse um profeta do velho oeste. Outro aspecto que chama a atenção é o tema do racismo. Em pleno auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, Huston soube como poucos tratar sobre o tema racial de uma forma extremamente inteligente. Se formos analisar atentamente veremos que esse faroeste tem como tema central justamente a diferença de raças e o preconceito sempre latente na mente humana. Em conclusão, temos aqui um excelente filme, genial realmente. Tudo acontece no seu devido tempo e Huston se mostra mais uma vez como um verdadeiro artesão da sétima arte. "The Unforgiven" é item obrigatório em qualquer coleção de western de respeito. Não deixe de assistir.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de outubro de 2017

Um Colt... para os Filhos do Demônio

Título no Brasil: Um Colt... para os Filhos do Demônio
Título Original: Al Di Là Della Legge
Ano de Produção: 1968
País: Itália, Alemanha
Estúdio: Roxy Film
Direção: Giorgio Stegani
Roteiro: Warren Kiefer, Mino Roli
Elenco: Lee Van Cleef, Antonio Sabato, Gordon Mitchell
  
Sinopse:
Três vigaristas liderados pelo bandoleiro e pistoleiro Billy Joe Cudlip (Lee Van Cleef) tentam colocar as mãos numa pequena fortuna, na verdade a folha de pagamento de uma empresa de mineração e ferrovias do velho oeste. Fingindo ser um homem bom, honesto e íntegro o bandido Billy Joe consegue ainda mais, se tornando xerife da cidade. No fundo o que ele deseja mesmo é dar um grande golpe para fugir em direção ao deserto, rico e livre da lei.

Comentários:
O filme foi lançado nos Estados Unidos com o título "Beyond The Law". No Brasil recebeu esse título nacional no mínimo curioso e diria até adequado pois os filmes do estilo Western Spaghetti sempre chegavam em nossos cinemas com títulos desse tipo, bem chamativos, muitas vezes comicamente sensacionalistas. O roteiro desse filme soube muito bem explorar o talento do ator Lee Van Cleef. Há uma certa comicidade quando seu personagem, um vagabundo, facínora e ladrão, começa a enganar a todos como um xerife honesto e honrado. Ele troca os farrapos por um terno elegante e acaba incorporando a imagem de bom moço, algo que ele nunca foi de verdade. Os elementos de humor foram bem inseridos e são espontâneos, nada forçados ou ao estilo pastelão. Há também boas cenas de ação, em especial a que Cleef enfrenta um bando de desordeiros. O diretor Sergio Sollima parece ter a intenção de demonstrar com seu filme que as circunstâncias podem mudar o cárater de uma pessoa. Mesmo sendo apenas um pilantra ladrão o Billy Joe de Cleef começa aos poucos a ter momentos de justiça e honra em suas atitudes. Apesar de ser um bom momento na carreira de Lee Van Cleef ele foi prejudicado pela má qualidade das cópias durante sua comercialização no mercado de vídeo VHS há alguns anos. No Brasil o filme foi lançado pelo selo Century Vídeo numa qualidade sofrível que deixou muito a desejar. De qualquer maneira, pelos toques de inteligência que apresenta em seu roteiro esse é certamente um bom Western Spaghetti a se conhecer, principalmente pelo fato de que quando foi lançado o estilo estava em seu auge de popularidade, ganhando espaço inclusive no circuito norte-americano de cinemas, um feito e tanto para uma produção italiana naqueles tempos distantes.

Pablo Aluísio.