domingo, 4 de junho de 2017

Cavaleiro de Copas

Em relação aos filmes do diretor Terrence Malick não existe meio termo, ou se gosta muito ou se odeia. Esse cineasta tem um estilo próprio, com seu estilo peculiar de se contar uma história. Praticamente não há diálogos, tudo é levado ao espectador por meio de sensações, momentos, lembranças. O enredo vai assim desfilando na tela sob um ponto de vista bem subjetivo, do próprio protagonista, que está passando por uma crise existencial, com nuances de comportamento depressivo. Aqui o personagem principal atende pelo nome de Rick (Christian Bale). Nunca fica muito claro que tipo de trabalho ele tem nos estúdios de Hollywood (pode ser um ator, um roteirista, etc), só se sabe que ele vive em um mundo de riqueza e celebridades, frequentando suas festas, saindo com mulheres bonitas, etc. O relacionamento dele com elas ocupa grande parte do filme. A maioria sequer tem nome, ficando mais ou menos claro a importância que elas tiveram em sua vida.

E há uma variedade delas. Desde a stripper que ele conhece em um bar, passando por uma elegante e charmosa médica (interpretada por Cate Blanchett), indo até uma mulher que ele chega a pensar ser o verdadeiro amor que ele há muito vinha esperando (aqui em presença carismática de Natalie Portman, que só tem algumas poucas linhas de diálogo em cena). Bale por sua vez passa o filme todo de forma bem passiva, olhar perdido, com as mãos no bolso, como se olhasse para a vida sem se importar muito com o que acontece ao seu redor. Como se trata de uma quase obsessão de Terrence Malick, seu personagem principal também tem problemas de relacionamento com o pai, um sujeito abusivo e verbalmente violento, sempre passando lições de moral aos filhos.  Uma pessoa insuportável, mesmo na velhice.

Não vá esperando por um enredo linear e nem por uma linguagem convencional. Tudo é diferente, como convém aos filmes assinados por Terrence Malick. Ela vai construindo seu filme não através de diálogos, mas sim de imagens. Algumas fazem sentido, outras não. É um tipo de cinema, que como escrevi, vai mais pela vertente sensorial, de suas emoções. Muitos gostam de seu estilo (me incluo nesse grupo), mas não condeno quem acha tudo uma grande chatice sem fim. Vai pela opinião e gosto de cada um. Por outro lado, caso você goste do cinema de Terrence Malick não deixe de conferir, embora esse não possa ser considerado um de seus melhores trabalhos no cinema.

Cavaleiro de Copas (Knight of Cups, Estados Unidos, 2015) Direção: Terrence Malick / Roteiro: Terrence Malick / Elenco: Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman, Brian Dennehy, Antonio Banderas, Ben Kingsley, Ryan O'Neal / Sinopse: Em plena crise existencial e com sintomas depressivos, Rick (Bale) não parece mais se importar com o que acontece em sua vida. Imerso em lembranças envolvendo seu pai e as mulheres de sua vida, ele vai vivendo um dia de cada vez, sem muita empolgação por sua própria vida. Filme indicado no Berlin International Film Festival.

Pablo Aluísio.

sábado, 3 de junho de 2017

O Mago das Mentiras

Esse filme conta a história real do magnata de Wall Street Bernie Madoff (interpretado por Robert De Niro). Esse sujeito deu um golpe no mercado financeiro dos Estados Unidos avaliado em 65 bilhões de dólares! Os investidores que confiaram nele perderam tudo, as economias de uma vida, por causa da fraude que Madoff criou e escondeu por anos e anos! Essa história é impactante porque demonstrou duas coisas importantes: existia muita corrupção no meio político e financeiro dos Estados Unidos e os meios de fiscalização do governo falharam completamente ao não detectarem o tamanho dessa fraude. De uma forma ou outra Madoff virou sinônimo de ladrão no mercado de capitais, a tal ponto que toda a sua família acabou sendo destruída por esses acontecimentos que se seguiram após seus crimes serem descobertos. A sua história já foi tema de livros e séries, mas aqui ganhou uma nova visão, focada não apenas nos crimes que ele cometeu, mas também no impacto deles em sua própria família. Madoff tentou preservar seus dois filhos e sua esposa dos crimes que estava fazendo no mercado, porém como podemos ver no filme tudo isso foi em vão. O roteiro explora os tempos de riqueza e desgraça em cenas intercaladas, usando de flashbacks para mostrar sua vida antes e depois da queda final.

A direção é do excelente veterano Barry Levinson. Ele andava meio sumido ultimamente. Nos últimos anos só dirigiu poucos filmes. Aqui ele exercita novamente seu talento para contar boas histórias. Auxiliado por um elenco acima da média, conseguiu alcançar seus objetivos. Robert De Niro novamente tem uma boa atuação em sua carreira (algo que vinha lhe faltando em seus últimos filmes). Ele consegue em muitos momentos sumir dentro de seu personagem. A maquiagem e a caracterização também o deixaram muito parecido fisicamente com Madoff. A atriz Michelle Pfeiffer também é outro destaque. Ela interpreta a esposa do magnata, uma mulher envelhecida, arruinada, que tenta sobreviver após a tragédia que se abate sobre ela e seus filhos. No final a mensagem que fica é a que a ganância não corrói apenas as finanças de uma pessoa, mas sua alma também.

O Mago das Mentiras (Estados Unidos, 2017) Direção: Barry Levinson / Roteiro: Diana Henriques, Sam Levinson / Elenco: Robert De Niro, Michelle Pfeiffer, Alessandro Nivola, Hank Azaria, Kristen Connolly, Nathan Darrow / Sinopse: O filme conta a história de um magnata de Wall Street que deu um golpe enorme no mercado financeiro americano. A fraude atingiu a incrível cifra de 65 bilhões de dólares, levando milhares de investidores à ruína completa. Roteiro baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

A Cabana

Esse filme tem um roteiro bem diferente. Com uma mensagem de espiritualidade (mais até do que de religiosidade), essa produção conta a história de um pai de família que se vê diante de uma grande tragédia em sua vida, quando sua pequena filha é sequestrada e morta por um serial killer pedófilo. Ele obviamente fica arrasado depois disso. Devastado também espiritualmente, ele se pergunta como Deus, sendo bom, onipresente e onipotente, deixa que atrocidades como essa aconteçam. Tentando superar esse trauma ele então decide ir sozinho até a cabana remota e isolada onde sua filha foi assassinada e lá acaba tendo uma experiência fora do comum. Para gostar desse filme o espectador vai ter que criar uma cumplicidade e tanto, mesmo se for uma pessoa bem religiosa. Isso acontece porque o próprio Deus é um dos personagens. Ele se revela ao pai da garotinha morta na imagem de uma mulher negra, interpretada pela talentosa Octavia Spencer. Seu objetivo é tentar explicar porque sendo todo poderoso deixou que um crime daqueles fosse cometido. O mais curioso de tudo é que Ele não está só. Jesus e o espírito santo também se revelam nas figuras de um jovem rapaz (o único que se aproxima um pouquinho da imagem do Jesus histórico) e uma jovem com traços orientais que representa o espírito santo em pessoa. A trindade se faz presente não apenas como metáfora espiritual ou teológica, mas como personagens reais, que interagem com o protagonista.

Nunca assisti nada igual a esse filme. A trindade sendo representada como personagens, como pessoas reais, é certamente algo original. O problema é que apesar de todas as belas intenções do roteiro o que podemos perceber é que teologicamente o texto é bem fraco. A mensagem de perdão e esperança até que é muito bem-vinda, porém a pergunta principal do protagonista (Por que Deus deixa que o mal exista?) não é muito bem respondida do ponto de vista teológico. O roteiro procura ter uma postura não alinhada às religiões tradicionais, sendo mais espiritualista, mas falha mesmo ao tentar responder uma questão tão crucial. Não é assim um filme para todos os públicos e nem esgota as questões filosóficas e de teologia que propõe. No final das contas não vai resolver a equação de natureza divina que ousou levantar. Isso é algo que inegavelmente fica pelo meio do caminho...

A Cabana (The Shack, Estados Unidos, 2017) Direção: Stuart Hazeldine / Roteiro: John Fusco, Andrew Lanham / Elenco: Sam Worthington, Octavia Spencer, Tim McGraw, Megan Charpentier, Alice Braga / Sinopse: Pai de família arrasado emocionalmente depois do assassinato de sua filha tem uma experiência surreal ao se encontrar com a própria trindade divina (pai, filho e espírito santo) na mesma cabana onde a criança foi morta por um assassino em série.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Vida

A referência mais óbvia dessa nova ficção é a série "Aliens". Curiosamente enquanto o último filme dessa franquia deixou muito a desejar, esse "Life" conseguiu surpreender. A trama se passa toda dentro de uma estação orbital internacional. Eles recebem uma amostra do solo de Marte onde conseguem localizar uma pequena célula alienígena. Ora, essa seria certamente uma das maiores descobertas científicas da história pois provaria que de fato há vida fora da Terra! Inicialmente a nova criatura chamada de Calvin, se comporta muito bem. Exposta a testes ela começa a crescer de forma rápida e assustadora. Quando um dos cientistas tenta manipulá-la dentro do laboratório ela demonstra ter uma força descomunal, quebrando todos os dedos do pesquisador. A partir daí se instala o caos. A espécime desconhecida vai adquirindo cada vez mais força e complexidade, demonstrando até mesmo ter inteligência acima da média.

E então começa o jogo de sobrevivência, com os tripulantes tentando matar a forma de vida de Marte enquanto ela começa a eliminar um a um dentro da estação espacial. Eu nunca pensei que iria escrever isso, mas a verdade é que Ridley Scott deveria assistir a esse filme para aprender a fazer um bom filme desse estilo. Claro que a todo tempo percebemos que há uma clara influência dos filmes de monstros espaciais dos anos 50, mas isso é uma qualidade e não um defeito. O diretor Daniel Espinosa optou por realizar um filme rápido, eficiente e muito bom no quesito diversão. O roteiro é muito bem escrito, desenvolvendo situações de suspense na velha fórmula gato e rato, onde apenas a espécie mais forte e bem adaptada pode sobreviver. Simples lei do universo onde o mais forte consegue seguir em frente na evolução. Diante disso "Life" é um bom exemplo do que se deveria fazer dentro da franquia "Aliens". Um roteiro inteligente, eficiente e que cumpre o que promete. Muitas vezes pretensão demais acaba estragando um filme. Aprenda a lição Ridley Scott!

Vida (Life, Estados Unidos, 2017) Direção: Daniel Espinosa / Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick / Elenco: Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Ryan Reynolds, Hiroyuki Sanada, Ariyon Bakare / Sinopse: Tripulantes de uma estação espacial precisam lidar com uma estranha e desconhecida forma de vida encontrada em uma amostra tirada diretamente do solo de Marte. A espécime tem uma taxa de crescimento absurdo e demonstra ser uma criatura predadora, com comportamento violento e letal.

Pablo Aluísio. 

Máquina de Guerra

Esse é o mais recente filme do astro Brad Pitt e também o primeiro feito para ser exibido exclusivamente pelo Netflix. O roteiro é baseado numa história real, um fato até recente que aconteceu com o general de quatro estrelas Stanley McChrystal. Esse alto oficial do exército foi designado pelo presidente Obama para ir até ao Afeganistão. Como se sabe os americanos estão há anos naquele distante e isolado país. Como quase sempre acontece os militares dos Estados Unidos sabem muito bem como entrar em um país estrangeiro, mas sempre entram em apuros para sair de lá. É o famoso atoleiro, como o que aconteceu no Vietnã. Assim o general foi para as bases americanas no Afeganistão para literalmente colocar ordem na bagunça. Só que ao chegar lá compreendeu que aquilo era um problema sem solução. O Talibã ainda dava as cartas em certas províncias e a moral das tropas era bem baixo. O personagem interpretado por Brad Pitt se chama Glen McMahon e é uma paródia do general real. Ele tem vários maneirismos, anda de forma grotesca e sempre tem expressões faciais caricaturais. Pitt o interpreta com um pé no humor, embora o filme não seja uma comédia. É irônico, mas não assumidamente humorístico. De certa maneira é até uma inteligente crítica sobre a presença do exército americano em determinados rincões isolados e perdidos no mapa. Em determinado momento o general tenta ganhar o apoio do povo afegão, mas tudo vai por água abaixo. Como o próprio narrador do filme deixa claro nenhuma nação invadida vai celebrar a presença de seus invasores.

Em termos gerais é um bom filme, mas tem alguns problemas. O maior deles vem de sua duração excessiva. O filme teria maior agilidade com uma metragem mais enxuta, até porque seu enredo é basicamente de bastidores da guerra e não da guerra propriamente dita. Tudo é construído em torno do imenso oceano de burocracia e politicagem que o velho general tem que lidar. Ele quer vencer a guerra, mas aos poucos vai percebendo que a máquina de guerra americana está atolada, sem condições de seguir em frente. No final a mensagem é clara: não importa a qualidade dos militares para vencerem uma guerra, sem vontade política nada realmente sai do lugar.

Máquina de Guerra (War Machine, Estados Unidos, 2017) Direção: David Michôd / Roteiro: David Michôd, baseado no livro escrito por Michael Hastings / Elenco: Brad Pitt, Anthon Hayes, John Magaro  / Sinopse: General americano experiente (Brad Pitt) sofre com seus superiores para colocar ordem na situação das tropas americanas estacionadas no Afeganistão. Pior do que isso, seus subordinados acabam falando demais para uma conhecida revista de música pop dos Estados Unidos, criando uma grave crise no comando militar da região.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O Chamado 3

Não tinha expectativa nenhuma para esse filme. Zero, nada. Afinal o fato dele ser a terceira sequência dos filmes de horror com a personagem Samara não significava muita coisa. "O chamado 2" é de 2005, então porque esperaram tanto para levar essa franquia em frente? Coisa boa não poderia ser. Bom, me equivoquei novamente. O filme até me surpreendeu. Tudo bem, ele começa bem ruinzinho. Aquela velha fórmula: alguém acha a fita com Samara, assiste ao vídeo e então recebe uma ligação com uma voz sinistra dizendo: "Sete dias". Quem assiste ao filme só tem sete dias de vida.  Nada de novo. Quem assiste ao filme agora (na verdade uma velha fita VHS como nos velhos filmes) é um professor universitário (curiosamente interpretado pelo ator Johnny Galecki, o Leonard da série "Big Bang Theory", aqui em papel sério). Ele então decide fazer uma pesquisa sobre essa estória e seus alunos começam a morrer. Quem salva o filme da mesmice é a namorada de um dos alunos que resolve investigar o passado de Samara. O que estaria por trás daquela imagem da garota saindo de um poço no meio de uma floresta?

O filme só melhora mesmo a partir desse ponto. O espectador acaba conhecendo vários aspectos do passado sombrio de Samara. As circunstâncias de seu nascimento, a morte de sua mãe, a identidade de seu pai. Tudo muito bem costurado pelos roteiristas que estão de parabéns por terem fugido do esquema dos filmes anteriores. Os sustos já não são tão previsíveis e Samara acaba recebendo uma nova identidade, uma nova forma de vê-la mais objetivamente. Seria ela uma vítima e não uma criatura das trevas? Esse tipo de pergunta que o roteiro levanta acabou salvando o filme de se tornar uma grande porcaria caça-níqueis. Esse diretor espanhol F. Javier Gutiérrez assim conseguiu surpreender aos fãs não apenas da série como aos fãs de terror em geral, porque o filme, que repito começa muito mal, acaba terminando muito bem. Claro que os produtores deixaram a porta aberta para futuras continuações, mas nem isso estraga "O Chamado 3", um filme que tinha tudo para ser muito ruim, mas que foi salvo pelas boas ideias de seu roteiro.

O Chamado 3 (Rings, Estados Unidos, 2017) Direção: F. Javier Gutiérrez / Roteiro: David Loucka, Jacob Estes / Elenco: Matilda Anna Ingrid Lutz, Alex Roe, Johnny Galecki / Sinopse: Após um professor universitário elaborar uma pesquisa sobre Samara e vários alunos morrerem depois de assistirem ao seu vídeo, a namorada de um deles resolve procurar pelo passado da garota morta. Só assim, ela pensa, poderá quebrar o círculo de mortes envolvendo aquela aparição assombrada.

Pablo Aluísio.

Sin City: A Dama Fatal

Quase dez anos depois do lançamento de "Sin City" eis que surge essa sequência tardia. Como era de se esperar os fãs de quadrinhos odiaram (provavelmente formam o grupo mais chato que existe dentro da cultura pop) e a crítica em geral, com receios dessa gente, acabou malhando o filme. Por isso adiei bastante o filme, só assistindo ontem, quase três anos após seu lançamento. Meu conselho é: ignorem a opinião dos leitores de quadrinhos e ignorem até mesmo os críticos de plantão. Não há nada de errado nesse "Sin City: A Dama Fatal" como tanto se falou. Pelo contrário, o filme é até muito divertido.

Dirigido pela dupla  Frank Miller e Robert Rodriguez, o filme segue os passos do primeiro. A linguagem é aquela que já conhecemos. A intenção dos realizadores é fazer com que o público tenha a sensação de que está lendo uma história em quadrinhos na tela do cinema. Poucas vezes criou-se uma simbiose tão forte em termos de linguagem ligando a sétima com a nona arte. As sequências do filme parecem desenhos das comics, com o farto uso do contraste entre o preto e o branco. É, como escrevi, basicamente o sistema que foi usado no primeiro filme. Não compreendo porque o primeiro foi tão elogiado e esse tão criticado se usam a mesma maneira de se contar o enredo. Pura rabugice dessa gente.

Tudo vai acontecendo de maneira fragmentada. Todas as estórias parecem ter apenas um ponto em comum: a presença do personagem brucutu Marv (interpretado por Mickey Rourke embaixo de forte maquiagem). Ele fica quase sempre no bar de strippers onde se apresenta sua musa, a bela Nancy (Jessica Alba), que agora passa por um momento complicado da vida. Consumida pelo desejo de vingança ela bebe além da conta. Seu alvo é um senador corrupto com quem ela quer acertar velhas dividas. A tal dama fatal do título é uma das melhores coisa do filme. Interpretada por Eva Green (em generosas cenas de nudez), ela é a principal razão para se assistir a esse filme. Como o próprio título sugere, ela é de fato uma mulher fatal, aquele tipo de beldade que parece sempre pronta a transformar todos os homens que encontra em seus capachos. Tudo com interesses escusos e imorais. Só vendo para crer. Então é isso, apesar de toda a avalanche de críticas negativas que o filme sofreu em seu lançamento, recomendo sem receios esse "Sin City 2". É violento, incisivo, mas principalmente divertido. Pode assistir sem qualquer tipo de aversão e preconceito.

Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For, Estados Unidos, 2014) Direção: Frank Miller, Robert Rodriguez / Roteiro: Frank Miller / Elenco: Mickey Rourke, Jessica Alba, Josh Brolin, Eva Green, Joseph Gordon-Levitt, Rosario Dawson, Bruce Willis, Ray Liotta, Christopher Lloyd / Sinopse: Marv (Mickey Rourke) acaba se envolvendo em inúmeros problemas, principalmente quando é procurado por Dwight (Josh Brolin). Ele quer vingança contra uma mulher pelo qual se apaixonou e que o usou para fins ilegais e imorais. Filme indicado ao Jupiter Award e ao Women Film Critics Circle Awards.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de maio de 2017

O Falcão dos Mares

Durante as chamadas Guerras Napoleônicas no século XIX, a armada real britânica decide enviar um navio de guerra, o HMS Lydia, para os mares do Atlântico Sul. Sob comando do Capitão Horatio Hornblower (Gregory Peck) a embarcação deverá cruzar o Cabo da Boa Esperança indo em direção ao Oceano Pacífico, se dirigindo para a América Central onde a coroa tem interesses em desestabilizar a região, formada por inúmeras colônias espanholas. Como Espanha e Inglaterra estão em lados opostos nos conflitos armados na Europa caberá ao Capitão enviar armas e munição para um revolucionário local chamado Don Julian Alvarado (Alec Mango), conhecido entre seus seguidores como El Supremo. Após uma jornada longa, que dura meses e custa muito em termos de tripulação e mantimentos, finalmente o Capitão Hornblower e sua exausta tripulação chegam ao seu destino. Logo no encontro inicial o comandante inglês percebe que o revolucionário faz o estilo caudilho, violento, cruel e sanguinário. Um sujeito completamente desprezível, arrogante, egocêntrico e megalomaníaco. Mesmo assim Hornblower resolve cumprir o que lhe fora ordenado quando deixou a Inglaterra. Nesse ínterim surge um outro navio de guerra nos mares da região, uma poderosa nau com sessenta canhões pertencentes ao Reino de Espanha. Caberá ao Lydia enfrentar esse desafio, destruindo o inimigo para garantir os interesses britânicos no continente. O que Hornblower não contava é que o tabuleiro de xadrez da política na metrópole poderia mudar a cada instante, transformando antigos inimigos em aliados e vice versa.

"O Falcão dos Mares" é seguramente um dos maiores clássicos de filmes de aventura da história do cinema britânico. Uma produção espetacular com excelente roteiro e um elenco magistral, com destaque absoluto para Gregory Peck. Ele interpreta esse austero Capitão Inglês que é enviado para os confins do mundo conhecido com objetivos militares e políticos bem claros. Uma vez em seu destino, ele descobre que nada parecia ser o que ele esperava. Encontra um novo mundo cheio de guerras, brigas internas e conflitos. O líder revolucionário que poderia significar uma esperança para aqueles povos não passa de um bufão pomposo e sem escrúpulos. A população das colônias está também doente e desamparada, com uma epidemia de febre amarela. É justamente fugindo dela que surge a bela Lady Barbara Wellesley (Virginia Mayo). Ela pretende retornar para Londres no navio comandado por Hornblower. O problema é que aquela seria uma embarcação militar, não adequada para acomodar passageiros. Mesmo assim, por ser uma cidadã britânica, se torna obrigatório para o Capitão levá-la de volta ao lar, não sem antes se envolver em vários problemas decorrentes de uma viagem como essa. O filme tem excelente fotografia e cenas de combates entre navios que até hoje impressionam o espectador. Usando diversas técnicas (filmagens em estúdio e locações, embarcações reais, maquetes extremamente realistas e truques de câmeras) o espectador é levado a crer estar mesmo presenciando uma aventura nos mares naquela era tão turbulenta. O ponto alto do filme acontece quando o HMS Lydia enfrenta o orgulho da Marinha Real Espanhola, o navio Natividad. Uma cena de combate marítimo que está entre os melhores já realizados. Enfim, grande clássico, produção irrepreensível e história empolgante. Um grande filme, acima de qualquer crítica negativa que se queira fazer.

O Falcão dos Mares (Captain Horatio Hornblower R.N, Inglaterra, 1951) Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Ivan Goff, Ben Roberts / Elenco: Gregory Peck, Virginia Mayo, Robert Beatty, Alec Mango / Sinopse: Para causar desestabilização política na América Central o Rei Eduardo da Inglaterra decide enviar uma embarcação militar com armas e munições para ajudar na luta dos revolucionários locais que desejam se libertar da dominação espanhola. Caberá ao virtuoso Capitão Horatio Hornblower (Gregory Peck) levar o HMS Lydia e seus tripulantes nessa perigosa viagem. No caminho encontram uma inglesa chamada Barbara Wellesley (Virginia Mayo) que deseja voltar para Londres. A viagem porém não será das mais tranquilas.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de maio de 2017

O Ocaso de uma Alma

Título no Brasil: O Ocaso de uma Alma
Título Original: Good Morning, Miss Dove
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Koster
Roteiro: Eleanore Griffin, Frances Gray Patton
Elenco: Jennifer Jones, Robert Stack, Kipp Hamilton, Robert Douglas, Chuck Connors, Peggy Knudsen
  
Sinopse:
O filme narra a história de Miss Dove (Jennifer Jones). Após a morte de seu pai ela se vê em uma situação bem complicada. O pai deixou muitas dívidas com um banco e ela precisa arranjar um trabalho de qualquer maneira e o mais rapidamente possível! Acaba se tornando professora de uma escola para crianças de sua cidade. Os anos passam e Miss Dove acaba se tornando uma das pessoas mais queridas da comunidade, até que um dia, em plena sala de aula, ela passa mal, indo parar em um hospital.

Comentários:
O grande destaque desse filme é a interpretação inspirada da atriz Jennifer Jones. Ela interpreta uma professora desde a sua juventude até sua velhice, quando é internada às pressas em um hospital. No leito de seu quarto ela começa a perceber como é uma pessoa querida dos moradores daquele lugar. Quase todos são ex-alunos dela, desde o médico que a atende, passando pela enfermeira, indo até um jovem pobre que acabou se tornando um policial. Grande parte das histórias de cada um é contada em flashbacks, enquanto Miss Dove espera pelo resultado de seu exame. O filme é nostálgico, mostrando e valorizando a figura de uma professora que dedicou toda a sua vida ao ensino das crianças. De geração em geração, todos acabam prestando uma homenagem a ela no hospital onde está internada. É um filme bonito, com o roteiro valorizando aspectos importantes na vida de uma mulher que abriu mão de muitas coisas, até de parte de sua vida pessoal, para se dedicar à arte de ensinar. É interessante também por mostrar uma outra visão desse tipo de profissional que hoje em dia anda tão desvalorizado. Nas pequenas cidades dos Estados Unidos dos anos 50 a realidade era bem diferente, tanto em disciplina na sala de aula, como também no prestígio dessa professora única interpretada pela talentosa Jennifer Jones. O filme assim fica mais do que recomendado para os cinéfilos que apreciam o cinema clássico em sua fase mais inspiradora.

Pablo Aluísio.

Tarzan e o Menino da Selva

Título no Brasil: Tarzan e o Menino da Selva
Título Original: Tarzan and the Jungle Boy
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Robert Gordon
Roteiro: Robert Gordon
Elenco: Mike Henry, Rafer Johnson, Aliza Gur, Steve Bond, Edward Johnson, Ron Gans

Sinopse:
Um jornalista e sua noiva viajam até a África para descobrir o paradeiro de um garoto desaparecido, o filho de um geólogo inglês famoso. Mal sabe o casal que Tarzan (Mike Henry), o Rei da Selva, já encontrou o menino. Ele estava perdido na selva. Agora Tarzan luta para mantê-lo seguro, uma vez que uma tribo nativa quer colocar as mãos nele. Na lei da selva apenas o mais forte conseguirá sobreviver.

Comentários:
Terceiro e último filme do ator Mike Henry no papel de Tarzan, o imortal personagem criado por Edgar Rice Burroughs. Ele havia estreado nos filmes de Tarzan em "Tarzan e o Vale do Ouro" em 1966, sendo seguido de sua continuação "Tarzan e o Grande Rio", um ano depois. Nenhum desses filmes conseguiu ser um grande sucesso de bilheteria. Mesmo sendo bem produzidos, com a marca de qualidade da Paramount Pictures, o fato é que o público parecia um pouco cansado do próprio personagem Tarzan. Era algo previsível pois desde os primeiros filmes com Johnny Weissmuller havia uma certa regularidade de lançamento de filmes com o Rei das Selvas. Assim a fórmula foi se desgastando naturalmente pelo excesso de filmes, ano após ano. Com Mike Henry as coisas não melhoraram muito. Seus três filmes como Tarzan até que são bons, podem ser consideradas aventuras divertidas. O problema é que Mike Henry não tinha muito nome dentro da indústria e ele mesmo não parecia confortável no papel, tendo que arcar com acidentes e problemas durante as filmagens. Em certo momento chegou a ser mordido por um chipanzé, em outro foi atacado por um touro enfurecido. Assim acabou resolvendo deixar Tarzan de lado, encerrando sua participação como o famoso herói dos livros e quadrinhos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

A Porta de Ouro

Título no Brasil: A Porta de Ouro
Título Original: Hold Back the Dawn
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Mitchell Leisen
Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder
Elenco: Charles Boyer, Olivia de Havilland, Paulette Goddard, Victor Francen, Walter Abel, Rosemary DeCamp
  
Sinopse:
O playboy franco-romeno Georges Iscovescu (Charles Boyer) decide se mudar para os Estados Unidos. O problema é que como imigrante ele só receberá o Green Card se conseguir se casar com uma americana. E assim ele o faz, se casando com Emmy Brown (Olivia de Havilland). Georges pretende retornar aos braços de sua querida Anita Dixon (Paulette Goddard), também estrangeira na América, mas acaba sendo pego pelo destino ao se apaixonar por Emmy.

Comentários:
Comédia de costumes com toques românticos que acabou se tornando um inesperado grande sucesso de público e crítica. Só para se ter uma ideia da ótima receptividade que esse filme teve na época basta relembrar que ele conseguiu seis indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Olivia de Havilland), Melhor Roteiro Adaptado (Charles Brackett e Billy Wilder), Melhor Fotografia em Preto e Branco (Leo Tover), Melhor Direção de Arte (Hans Dreier e Robert Usher) e Melhor Música (Victor Young). O filme só não venceu o Oscar naquele ano porque realmente havia filmes excepcionais concorrendo. O grande vencedor do prêmio da noite acabou sendo "Como era Verde o meu Vale", o clássico imortal de John Ford. Outro concorrente? "Cidadão Kane"! Era mesmo impossível vencer nessa premiação! De qualquer forma as indicações já foram vitórias diante de tantos concorrentes maravilhosos. Sobre o filme em si não há nada a criticar. O roteiro é bem sofisticado, com situações e diálogos excepcionalmente bem escritos. Billy Wilder, no começo de carreira, já demonstrava todo o seu talento nesse roteiro. O elenco também é acima da média. Além da classe tipicamente francesa de Charles Boyer, havia ainda duas estrelas de cinema que marcaram a história de Hollywood, Olivia de Havilland e Paulette Goddard, ambas bem inspiradas em cena. Assim deixamos a dica desse clássico do humor mais sofisticado e do romantismo mais elegante. Bons tempos que não voltam mais.

Pablo Aluísio.

Horas Intermináveis

Título no Brasil: Horas Intermináveis
Título Original: Fourteen Hours
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: John Paxton, Joel Sayre
Elenco: Paul Douglas, Richard Basehart, Grace Kelly, Debra Paget, Jeffrey Hunter, Barbara Bel Geddes
  
Sinopse:
A vida não tem mais sentido para Robert Cosick (Richard Basehart). Desesperado por ter perdido tudo, ficando arruinado financeiramente, ele decide subir até o décimo quinto andar de um edifício de Nova Iorque para pular. O policial Charlie Dunnigan (Paul Douglas) é então chamado para atender essa ocorrência e tenta convencer o potencial suicida para que não pule em direção à morte. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Direção de Arte (Lyle R. Wheeler e Leland Fuller). Também indicado ao BAFTA Awards na categoria Melhor Filme Americano do Ano.

Comentários:
Um filme noir que acabou sendo conhecido por ser o começo das carreiras de atores jovens (e naquela época ainda desconhecidos), que iriam fazer sucesso em Hollywood nos anos que viriam. O caso mais famoso nesse aspecto foi a da estreia de Grace Kelly no cinema, ainda bastante inexperiente, interpretando uma personagem coadjuvante. Jovem e linda, ainda não se sabia que ela iria se tornar uma das maiores estrelas do cinema americano. Além de Grace o elenco de apoio ainda trazia Jeffrey Hunter, que iria se consagrar interpretando Jesus Cristo no épico "Rei dos Reis" e Debra Paget, que se tornaria famosa ao fazer a namorada do roqueiro Elvis Presley em "Ama-me com Ternura" (o faroeste "Love Me Tender"). Ou seja, poucas vezes se viu um elenco jovem tão promissor como nesse filme. Em termos gerais é um suspense noir que se baseia em uma situação limite que dura intermináveis 14 horas, onde um homem em desespero ameaça se suicidar, pulando do décimo quinto andar de um prédio em Nova Iorque. Enquanto ele ameaça pular ou não, um policial tenta convencê-lo a não fazer isso. A história foi baseada em fatos reais. Durante a grande depressão muitas pessoas perderam tudo na quebra da bolsa de valores de Nova Iorque e se suicidaram. O filme assim romanceia um desses casos que terminou de forma trágica.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Encontro no Inverno

Esse não era bem o tipo de filme em que você esperaria encontrar a grande Bette Davis. Bancar a mocinha romântica realmente nunca foi a especialidade dessa diva do cinema. E de fato sua personagem passa longe desse tipo de clichê. Davis interpreta Susan Grieve, uma escritora e poetista, de família aristocrata e tradicional, que parece muito bem resolvida em sua vida. Ela é solteira (imaginem o tipo de preconceito que existia na época contra mulheres solteiras em sua idade) e está centrada em seu trabalho e carreira, Tudo muda quando chega um herói de guerra da marinha americana em Nova Iorque, Slick Novak (Jim Davis). Ele é celebrado por onde passa e todos parecem dispostos a agradecê-lo pelos atos de coragem e heroísmo durante a II Guerra. Por um mero acaso Susan acaba sendo convidada para um jantar onde também estará presente o militar. Quando eles se conhecem o militar prontamente demonstra seu interesse nela, apesar da presença da bela (e frívola) Peggy Markham (Janis Paige) que está lá disposta a tudo para seduzi-lo. Pois é, a intelectual Susan acaba superando a bonita e vazia Peggy e se torna seu interesse romântico.

O romance começa muito bem, eles vão até uma antiga casa onde Susan foi criada e lá passam por momentos maravilhosos e românticos. Para Susan, que já estava acostumada com a ideia de que nunca iria encontrar o homem de sua vida, tudo é uma grande surpresa. Porém quando o destino é por demais generoso é hora de se preocupar. E o conto de fadas romântico de Susan acaba se desmanchando no ar quando Novak lhe confessa que deseja se um tornar padre! Esse sempre fora seu sonho, desde os 16 anos de idade e a experiência da guerra reforçou ainda mais seu desejo de se tornar um sacerdote católico! Para Susan é o fim de seus sonhos, como se pode imaginar. O filme "Encontro no Inverno" tem uma boa trama, baseada no romance escrito por Grace Zaring Stone. A ideia de colocar um herói romântico que tem planos de se tornar um padre é bem curiosa e poderia levantar muitas questões interessantes, tanto do ponto de vista social como religioso, porém o filme não vai até esse ponto. Ele apenas se concentra na decepção e desilusão da protagonista que vê sua felicidade desmoronar por causa da escolha daquele que ama. O filme, apesar de tudo isso, é bem sóbrio. Bette Davis, elegante como sempre, interpreta essa mulher inteligente e culta que se vê diante de uma situação de perplexidade. O ator Jim Davis talvez seja a grande decepção em termos de elenco pois o achei sem muito talento para desenvolver na tela as crises existenciais de seu papel. Já John Hoyt era um ator brilhante, que praticamente roubou todas as cenas em que contracenou com Davis. Então é isso. Um bom drama romântico de época mostrando a montanha russa emocional de uma mulher que só queria, no final das contas, ser feliz.

Encontro no Inverno (Winter Meeting, Estados Unidos, 1948) Direção: Bretaigne Windust / Roteiro: Catherine Turney / Elenco: Bette Davis, Janis Paige, Jim Davis, John Hoyt / Sinopse: Susan é uma escritora e poetisa que se apaixona por um herói de guerra da Marinha que apesar dos belos românticos passados ao seu lado tem um velho sonho de se tornar padre, principalmente após ter presenciado todos os horrores da guerra.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

A Caldeira do Diabo

Esse é um dos melhores dramas dos anos 1950. Na realidade trata-se da adaptação do best-seller escrito por Grace Metalious. A narrativa se desenvolve em primeira pessoa, com a escritora relembrando pessoas e fatos de sua adolescência. O cenário onde tudo se desenvolve é a pequena cidade de Peyton Place. A adolescente Allison MacKenzie (Diane Varsi) vive com sua mãe Constance (Lana Turner) nesse lugar. Ela está terminando o colegial e enquanto não se decide sobre o que vai fazer da vida, vai vivenciando os dramas e paixões típicas de sua idade. Ela quer ser escritora (na verdade a personagem funciona como alter-ego da romancista que escreveu o livro original) e por isso vai colocando no papel todas as suas impressões e opiniões sobre o mundo.

Viver em uma cidadezinha tranquila dos Estados Unidos naquela época de prosperidade poderia ser o sonho de toda garota como ela, mas isso não significa que Allison também não tenha problemas a enfrentar. Seu pai morreu quando ela tinha apenas 3 anos e sua mãe parece incomodada com sua lembrança. Na verdade Constance tem um segredo em seu passado que prefere não contar para ninguém, nem para sua filha. Afinal ela vive até relativamente muito bem, pois é proprietária de uma loja de roupas femininas na cidade. Definitivamente ela não quer estragar tudo relembrando fantasmas de um passado doloroso. Já a melhor amiga de Allison, a bonita, mas reprimida Selena Cross (Hope Lange), tem menos motivos para ser feliz. Sua padrasto é um homem violento, com problemas de bebida. Abusivo e ofensivo ele não respeita nem a casa de sua família e nem seus próprios parentes. Sua crescente violência verbal e física contra Selena acabará dando origem a um trágico acontecimento, que abalará as colunas daquela sociedade tão organizada e conservadora.

Esse filme tem uma produção requintada e um roteiro primoroso. Como é de certa forma a crônica de uma cidade, com seus habitantes, pequenos dramas e conflitos, o número de personagens desfilando em cena é bem acima da média. O interessante é que todos eles são bem construídos, com extrema valorização de suas personalidades próprias, motivações e frustrações. Eu atribuo essa característica ao fato do roteiro ser uma adaptação de um romance que já tinha toda essa riqueza de detalhes. Embora tenha longa duração (com quase duas horas e meia de projeção) não é um daqueles dramas pesados e cansativos, pelo contrário, você acaba ficando tão envolvido com tudo o que acontece em cena que mal percebe o tempo passar. Grandes filmes são assim.

Outro destaque além do refinamento vem do excelente elenco que é liderado por três grandes atrizes. Lana Turner foi uma das grandes estrelas de seu tempo. Nunca assisti a nenhum filme de Lana que não fosse no mínimo impressionante. Aqui ela interpreta essa mãe que precisa criar bem sua filha adolescente, enquanto decide se vai ou não se entregar novamente ao amor. Hope Lange foi outra atriz que se destacou nesse filme. Sua personagem parece secundário no começo, porém vai crescendo cada vez mais com o passar do tempo. Ela se torna vital na conclusão do enredo. Por fim a jovem Diane Varsi quase rouba todo o filme para si. Ela foi considerada a grande revelação de Hollywood quando o filme foi lançado, mas infelizmente nunca conseguiu se tornar uma grande estrela em sua carreira. Não faz mal. Esse "A Caldeira do Diabo" acabou sendo seu grande legado no cinema. Então é isso. Esse é um daqueles filmes que você não deve perder, principalmente se você é fã de filmes clássicos. Um retrato de uma América que não existe mais, em um momento especialmente delicado da história, com os Estados Unidos prestes a entrar na II Guerra Mundial. Enfim, está mais do que recomendado aos cinéfilos em geral. É uma obra prima do cinema.

A Caldeira do Diabo (Peyton Place, Estados Unidos, 1957) Direção: Mark Robson / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: Lana Turner, Hope Lange, Diane Varsi, Arthur Kennedy / Sinopse: Durante os anos 40 um grupo de jovens, recém saídos do colegial, precisa decidir o que será de suas vidas dali para frente. O que muitos deles não contavam é que uma grande guerra se aproxima no horizonte, algo que mudará suas vidas para sempre. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Lana Turner), Melhor Ator (Arthur Kennedy), Melhor Ator Coadjuvante (Russ Tamblyn), Melhor Atriz Coadjuvante (Hope Lange), Melhor Roteiro e Melhor Fotografia (William C. Mellor). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Revelação Feminina (Diane Varsi).

Pablo Aluísio. 


O Homem da Meia-Noite

Em 1974 o ator Burt Lancaster atuou, roteirizou e dirigiu esse filme chamado "O Homem da Meia-Noite". Baseado no romance policial escrito por David Anthony, o filme mostrava a busca por um novo recomeço na vida do ex-policial Jim Slade (Burt Lancaster). Após descobrir que sua esposa o estava traindo ele matou o amante dela a tiros. Foi preso e condenado. Agora sai da prisão sob sursis. Sua ideia é arranjar um emprego para ficar longe da prisão. Ele então começa a trabalhar como guarda noturno no campus de uma universidade. No começo tudo vai bem até que uma estudante chamada Natalie Clayborne (Catherine Bach) é encontrada morta, assassinada. Ela é filha adotiva de um importante senador, o que leva Slade a iniciar uma investigação próprio sobre o crime. Inicialmente seguindo pistas ele descobre que antes de morrer a jovem passou por uma espécie de terapia, que teria sido gravada.

Na gravação ela acabou falando coisas pessoais, algo que poderia ser usado contra o senador que tem planos de concorrer ao cargo de governador de estado. A fita acaba parando nas mãos de uma quadrilha que começa a chantagear o político. A partir daí começa uma trama de suspense onde existem vários suspeitos, mas nenhuma prova conclusiva sobre a autoria do assassinato. Uma peça chave parece ser a própria comissária de condicional de Slade, a bela e perigosa Linda Thorpe (Susan Clark). É de modo em geral um bom filme, valorizado pela boa trama. Burt Lancaster já caminhava para o final de sua carreira, mas sua presença em cena, como sempre, se mostra muito marcante. Seu personagem gosta de dizer a frase "Uma vez tira, sempre tira" para justificar sua luta para desvendar o crime. Embora seja apenas um guarda noturno ele usa de sua experiência para solucionar o caso. Tudo muito interessante. Claro que por ser da década de 70 alguns aspectos do filme estão bem datados. A trilha sonora, o figurino, até mesmo a edição da produção se mostra bem envelhecida, mas tudo isso não consegue tirar o mérito do filme que é, repito, muito bom.

O Homem da Meia-Noite (The Midnight Man, Estados Unidos, 1974) Direção: Burt Lancaster, Roland Kibbee / Roteiro: Burt Lancaster, Roland Kibbee / Elenco: Burt Lancaster, Susan Clark, Cameron Mitchell, Catherine Bach / Sinopse: Ex-policial, trabalhando como guarda noturno em uma universidade, procura desvendar a morte de uma das alunas. O que poderia haver por trás daquele assassinato sem solução?

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Dominique

Título no Brasil: Dominique
Título Original: The Singing Nun
Ano de Produção: 1966
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
Direção: Henry Koster
Roteiro: John Furia, Sally Benson
Elenco: Debbie Reynolds, Ricardo Montalban, Greer Garson
  
Sinopse:
A jovem freira irmã Ann (Debbie Reynolds) é transferida para um novo convento na Bélgica. Ela é uma religiosa diferente. Gosta de tocar violão, anda de lambreta e tem uma voz linda, realmente maravilhosa. Seu talento logo chama a atenção de um produtor de discos que resolve gravar um álbum inteiro gravado apenas com suas interpretações inspiradas. Em pouco tempo ela se torna uma sensação, aparecendo até mesmo em programas de TV de sucesso. Roteiro inspirado em fatos reais. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Música (Harry Sukman). Premiado pelo Laurel Awards na categoria de Melhor Musical.

Comentários:
Recentemente os cinéfilos de todo o mundo lamentaram a morte da carismática e graciosa Debbie Reynolds. Não haveria forma melhor de homenageá-la do que assistindo aos filmes menos conhecidos de sua carreira. Uma dessas obras cinematográficas é esse simpático e belo filme chamado "Dominique". O enredo é uma graça, muito leve, suave e bem intencionado. A protagonista é uma freirinha cantora, muito terna e com grande fé em Deus. Ela vai para uma nova ordem, das samaritanas, para trabalhar em uma creche para crianças. Lá todos ficam impressionados com seu grande talento como cantora e após ser descoberta por um produtor musical ela vira um hit nas paradas! Uma ótima oportunidade para a querida Debbie mostrar todo o seu talento musical. Curiosamente o título no Brasil usou o nome de um personagem secundário, um garotinho chamado Dominique, que a irmã ajuda. Com toda a boa fé do mundo ela acaba se aproximando de sua família e descobre que o menino vive em uma família infeliz, com pai alcoólatra, mãe ausente e irmã posando para revistas adultas. Um péssimo ambiente para uma criança. 

Assim a religiosa tenta ajudar de todas as formas, mas sempre encontrando muitas barreiras. Dramaticamente porém o filme não vai muito além disso (e não deveria ir mesmo). Isso pela simples razão de que "The Singing Nun" tem vocação para ser um musical ao velho estilo - e não há nada de errado nisso. Em termos de bastidores duas curiosidades: Esse foi o último filme de Debbie Reynolds na Metro após cumprir um longo contrato. Ela estava querendo partir para outros desafios e achou um alívio ficar livre desse contrato. O elenco conta também com o excelente Ricardo Montalban como um padre muito simpática (e esperto) que se torna uma espécie de tutor musical da irmã Ann. Então é isso. O que temos aqui é mais um bom momento da filmografia da atriz Debbie Reynolds em um filme que poucos conhecem atualmente. Após assisti-lo você se convencerá ainda mais do grande talento dessa estrela que o mundo do cinema perdeu.

Pablo Aluísio.


O Monstro da Morgue Sinistra

Título no Brasil: O Monstro da Morgue Sinistra
Título Original: The Flesh and the Fiends
Ano de Produção: 1960
País: Inglaterra
Estúdio: Triad Productions
Direção: John Gilling
Roteiro: John Gilling
Elenco: Peter Cushing, June Laverick, Donald Pleasence, Renee Houston
  
Sinopse:
Escócia, 1828. Na sombria e sinistra cidade de Edimburgo, um cirurgião renomado, o Dr. Robert Knox (Peter Cushing), começa a comprar corpos humanos para suas pesquisas médicas. Quando dois criminosos são executados, a infame dupla de assassinos em série Burke e Hare, o médico se apressa para comprar seus cadáveres, dando começo a uma série de eventos aterrorizantes.

Comentários:
Clássico do terror e suspense estrelado pelo sempre competente Peter Cushing. O curioso é que tudo o que se vê na tela foi baseado em fatos reais, acontecidos na Escócia, durante o século XIX. O caso ficou famoso porque envolveu a compra de corpos de dois assassinos famosos na época, os sanguinários William Burke e William Hare. O objetivo do anatomista Robert Knox (Cushing) era descobrir se alguma característica física desses homicidas explicava de alguma forma o comportamento criminoso, antissocial e violento deles. Interessante é que não faz muito tempo, assistindo a um documentário sobre a cidade de Edimburgo em um canal a cabo me deparei com a exposição dos corpos desses matadores pois eles ainda hoje são conservados na universidade de medicina do lugar. Claro que o filme não é totalmente fiel aos fatos originais pois é um filme de terror ao velho estilo, mas isso não impede de tornar tudo ainda mais instigante ao espectador. Além disso a simples presença do mestre Peter Cushing já justifica o interesse.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Amar e Morrer

O cineasta Douglas Sirk era alemão, o que explica em grande parte o fato dele ter dirigido essa adaptação do romance da escritora Erich Maria Remarque. O que vemos aqui é uma tentativa de humanizar o soldado alemão que lutou durante a II Guerra Mundial. Ao invés de ser apenas associado ao III Reich e às atrocidades comandadas pelo ditador Adolf Hitler, o que é apresentado ao espectador é a história de um soldado comum do exército da Alemanha que retorna para casa após dois longos anos lutando no território russo. Seu nome é Ernst Graeber (John Gavin) e tudo o que ele deseja é rever seus pais. O problema é que a cidade natal deles está sob intenso bombardeio americano. As casas e os prédios estão sendo destruídos de forma impiedosa. A outrora bela cidade germânica agora está sendo castigada todos os dias. No meio dos escombros ele não consegue localizar seus pais, que muito provavelmente já deviam estar mortos naquela altura, por causa da violência das bombas.

Em busca de respostas ele sai à procura deles e acaba conhecendo a jovem Elizabeth Kruse (Liselotte Pulver). Seu pai foi preso pelos nazistas, acusado de traição e ela vive no limite do possível naquela Alemanha prestes a ser destruída. Por mais improvável que poderia ser, diante de um cenário de grande destruição, acaba nascendo um amor entre eles. O jovem soldado e a garota abandonada à própria sorte se apaixonam e mais do que isso, se casam, antes que a licença de Graeber chegue ao fim. Como o próprio título original deixa claro, há um tempo para amar e há um tempo para morrer. Assim Douglas Sirk constrói seu grande filme de humanização dos soldados alemães. Interessante notar que todos os militares que surgem no desenrolar da trama não apresentam nenhum sinal de doutrinação nazista - algo que era disseminado na época. Ao contrário disso soam até como críticos ou cínicos em relação a tudo o que está acontecendo. Em minha forma de ver essa decisão de mudar a realidade não me pareceu muito convincente. Ficamos com aquela sensação desagradável de que estamos mesmo vendo americanos e ingleses vestidos com uniformes alemães, tentando se passar por tropas do Reich. Essa falta de imersão atrapalha o filme como um todo. Além disso não há como negar que a tão famosa mão pesada de Douglas Sirk também pesa e muito aqui. Ele criou um filme longo, pesado, até arrastado mais do que era necessário. Um pouco mais de leveza e suavidade cairiam muito bem.

Amar e Morrer (A Time to Love and a Time to Die, Estados Unidos, Alemanha Ocidental, 1958) Direção: Douglas Sirk / Roteiro: Orin Jannings, baseado no romance de Erich Maria Remarque / Elenco: John Gavin, Liselotte Pulver, Jock Mahoney / Sinopse: Soldado alemão servindo no front russo da II Grande Guerra Mundial consegue uma licença de 30 dias para retornar à sua cidade natal em busca dos pais idosos. Uma vez lá não os encontra, mas acaba conhecendo uma jovem alemã que se torna o amor de sua vida. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Som (Leslie I. Carey). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Revelação Masculina (John Gavin) e Melhor Filme - Drama.

Pablo Aluísio.


Escândalo na Sociedade

Excelente drama. O filme se passa no meio da alta sociedade de San Francisco. No centro de tudo temos a rica e tradicional família Hayden. A matriarca Gerald Hayden (Bette Davis) é uma mulher dominadora, manipuladora, que faz de tudo para manobrar a vida da sua única filha, Valerie Hayden (Susan Hayward), Essa sempre teve tendência para as artes, especialmente a escultura e com os anos acabou se tornando uma artista até bem reconhecida no meio. Para sua mãe porém é hora dela se casar. Procurando por um marido para a filha ela acaba encontrando um herói de guerra, o Major Luke Miller (Mike Connors), o tipo ideal para ser seu genro. Inicialmente relutante Valeria acaba cedendo, se casando com o militar. O casamento que tinha tudo para dar certo porém logo se revela um desastre. Nasce uma filha, mas nem isso segura o falido relacionamento. De volta à vida de solteira, agora divorciada, Valerie começa a se relacionar com homens jovens, destruindo sua reputação, principalmente porque a maioria de seus amantes são meros aproveitadores que estão de olho em sua fortuna. Seu modo de vida escandaloso choca a sociedade e tudo desanda para a tragédia quando sua filha de apenas 15 anos de idade mata um de seus amantes. O caso ganha os jornais e agora tudo terá que ser revelado nos tribunais.

O roteiro desse filme foi baseado em um best-seller escrito pelo romancista Harold Robbins. Quem conhece a obra desse escritor sabe bem do que se trata. Geralmente Robbins utilizava-se de dramas baseados em pessoas comuns, que acabavam trilhando o caminho do crime e da violência por circunstâncias inesperadas que vão surgindo em suas vidas. Vários de seus livros ganharam adaptações bem sucedidas no cinema, como por exemplo, "Balada Sangrenta", filme dirigido por Michael Curtiz, estrelada pelo cantor Elvis Presley, naquele que foi considerado o melhor filme de sua carreira. O western "Nevada Smith" com Steve McQueen também foi uma adaptação de um livro escrito por Robbins. Enfim, seus textos acabaram dando origem a excelentes filmes.

Outro grande atrativo desse drama familiar vem do elenco que é liderado por duas excepcionais atrizes. A primeira delas é a grande dama do cinema americano Bette Davis. A atriz tinha uma presença e uma personalidade que enchiam a tela. O seu papel nesse filme é muito adequado para sua forma de atuar. Ela interpreta a matriarca da família Hayden, uma mulher poderosa da alta sociedade que viveu praticamente toda a sua vida baseada apenas em status e aparência social. Perante a sociedade em geral todos os membros de sua linha familiar tinham que surgir de forma impecável. Só que sua filha, no fundo uma rebelde diante de toda essa futilidade, acaba colocando praticamente tudo a perder. Susan Hayward também está excelente. Ela morreria muito jovem ainda, de câncer, e esse acabou sendo um dos seus últimos filmes. Sua personagem, a de uma mulher frustrada que não consegue segurar seus impulsos, é uma das melhores de toda a sua carreira. No geral temos aqui um grande filme, valorizado enormemente por essas duas maravilhosas atrizes. Esse filme assim está mais do que recomendado aos admiradores do cinema clássico americano.

Escândalo na Sociedade (Where Love Has Gone, Estados Unidos, 1964) Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: John Michael Hayes, baseado na obra de Harold Robbins / Elenco: Bette Davis, Susan Hayward, Mike Connors / Sinopse: Gerald Hayden (Bette Davis) e Valerie Hayden (Susan Hayward), mãe e filha da alta sociedade de San Francisco, possuem um relacionamento conturbado por diferenças de opiniões e personalidade. Com os anos os atritos se tornam ainda mais fortes e tudo desaba quando a neta adolescente mata um homem no ateliê de sua própria mãe, dando origem a uma tragédia e a um escândalo de grandes proporções. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Música ("Where Love Has Gone" de Van Heusen e Sammy Cahn). 

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de maio de 2017

A Sedutora Madame Bovary

Título no Brasil: A Sedutora Madame Bovary
Título Original: Madame Bovary
Ano de Produção: 1949
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Vincente Minnelli
Roteiro: Robert Ardrey
Elenco: Jennifer Jones, James Mason, Van Heflin, Louis Jourdan
  
Sinopse:
Baseado no romance de Gustave Flaubert o filme "A Sedutora Madame Bovary" conta a história da jovem Emma (Jennifer Jones). Órfã, ela é criada em um convento. Quando chega na idade de se casar ela acaba se interessando pelo médico de província Charles Bovary (Van Heflin). Ele não é dos profissionais mais brilhantes, porém constrói um lar para si e sua esposa. Os primeiros anos de casamento são relativamente felizes, até que Emma, agora Madame Bovary, começa a se interessar por outros homens, mais ricos e poderosos. Ela anseia pelos grandes salões de baile, pelos luxos da aristocracia e pela riqueza, coisas que seu esforçado marido não consegue lhe dar. Filme indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons e Jack Martin Smith).

Comentários:
O romance Madame Bovary foi publicado originalmente em 1857. Na época que chegou pela primeira vez ao público foi considerada uma obra escandalosa. Seu autor Gustave Flaubert foi acusado de ser um escritor imoral por ter simpatia por sua protagonista, uma mulher fútil, interesseira, perdulária e infiel. A personagem trazia todos esses defeitos, mas ao mesmo tempo Flaubert parecia ter uma insuspeita dose de admiração por ela em seu texto. Essa situação acabou sendo aproveitada logo no começo dessa versão. Em uma das primeiras cenas vemos o autor do livro, aqui interpretado por um ainda bem jovem James Mason, no banco do réus, respondendo pela suposta imoralidade de sua obra. Ao se defender ele começa então a narrar a história de Bovary, dando início a um longo flashback onde toda o enredo do filme se desenvolve. Assisti a muitas adaptações cinematográficas desse romance, inclusive a mais recente de 2014 com Mia Wasikowska no papel principal. O diferencial desse clássico é que ele foi dirigido pelo mestre Vincente Minnelli, considerado um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. Realmente ele realizou um filme muito bonito de se assistir, com ótimos figurinos, um roteiro que procura ser o mais fiel possível ao livro de Gustave Flaubert e uma dose de dramaticidade, que era bem comum em filmes românticos e dramáticos da época. 

A escolha da atriz Jennifer Jones também foi bastante acertada, muito embora a personagem Bovary fosse bem mais jovem do que sua intérprete. Ela desfila um ótimo figurino em cena, pois Bovary era uma consumidora compulsiva e voraz de todos os luxos, arruinando financeiramente seu bem intencionado marido. Embora o final se entregue ao moralismo reinante na sociedade, o fato é que o autor do romance quis provar de forma indireta que nem todas as pessoas são essencialmente más por um ou outro deslize de cunho moral. Na verdade a vida seria complexa demais para se enquadrar em meras convenções sociais. Bovary certamente errou em muitos momentos de sua vida, mas olhando-se sob uma perspectiva mais crítica podemos considerá-la também vítima de uma mentalidade de futilidades e superficialidades, tão comuns em certos setores da sociedade. Sob esse ponto de vista não será tão fácil assim condená-la. Dito isso, deixo aqui a indicação de mais um bom filme, valorizado não apenas por sua boa direção, elenco inspirado e roteiro conciso, mas também pelo próprio conteúdo do romance de Gustave Flaubert. Está mais do que indicado aos cinéfilos.

Pablo Aluísio.


King Kong

Título no Brasil: King Kong
Título Original: King Kong
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Merian C. Cooper, Ernest B. Schoedsack
Roteiro: James Ashmore Creelman, Ruth Rose
Elenco: Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot, Frank Reicher, Noble Johnson, Steve Clemente
  
Sinopse:
Uma equipe de cinema vai até uma distante e isolada ilha no Pacífico Sul e descobre que lá existe um imenso gorila, um animal colossal, de natureza pré-histórica. Eles então decidem levar o exótico primata (agora chamado de King Kong) para Nova Iorque com a intenção de explorar comercialmente sua exibição em shows pagos, mas a ideia acaba dando muito errada quando King Kong consegue se livrar de suas correntes, trazendo caos e devastação na grande cidade. Tudo acaba no alto do Empire State, em uma luta épica.

Comentários:
Em breve teremos mais uma versão da imortal história de King Kong chegando aos cinemas em todo o mundo. Foram muitas as versões ao longo de todos esses anos, algumas boas, marcantes e outras nem tanto assim. Todas elas devem inspiração a esse primeiro filme lançado na década de 1930 que já trazia todos os elementos que iriam estar presentes em todos os filmes posteriores. Obviamente que uma produção como essa que, em poucos anos completará cem anos de seu lançamento, está certamente datada, principalmente em termos de efeitos especiais, mas é impossível negar o charme atemporal dessa produção. O King Kong original não passava de um pequeno boneco, pouco maior do que uma mão humana, que era manipulado em seus movimentos usando a conhecida técnica de Stop motion, onde lentamente todos os movimentos eram filmados quadro a quadro! O resultado é dos melhores e dos mais nostálgicos. Há alguns anos o filme foi restaurado por modernas técnicas e enviado para o Congresso americano para preservação. Um claro sinal de que o filme, apesar de ser uma pura fita pop, também tem seus inegáveis valores históricos. Um momento em que o cinema entendeu que poderia ser pura diversão, sem ter nada de errado nisso. 

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de maio de 2017

A Morte Não Manda Aviso

Título no Brasil: A Morte Não Manda Aviso
Título Original: The Quiller Memorandum
Ano de Produção: 1966
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Michael Anderson
Roteiro: Trevor Dudley Smith, Harold Pinter
Elenco: George Segal, Alec Guinness, Max von Sydow, Senta Berger, George Sanders
  
Sinopse:
Cortina de ferro, em pleno auge da guerra fria. Depois do assassinato de uma agente inglês em Berlim, um novo agente chamado Quiller (George Segal) é enviado para investigar. Segundo seu superior no departamento de inteligência, o comandante Pol (Alec Guinness), há um grupo de neonazistas operando na cidade alemã. Eles seriam liderador por uma figura misteriosa e desconhecida, que usaria o codinome Oktober (Max von Sydow). Caberá então a Quiller descobrir onde atua e como se coordena essa organização de criminosos nazistas. Filme indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado (Harold Pinter), Melhor Edição (Frederick Wilson) e Melhor Direção de Arte (Maurice Carter).

Comentários:
As adaptações dos livros de James Bond ao cinema fizeram escola. Depois delas um nova onda de filmes inspirados no famoso agente inglês foi lançado nos cinemas durante a década de 1960. Tentando pegar carona no sucesso de 007 tivemos filmes como esse "The Quiller Memorandum" estreando nas telas. É, como se pode perceber, mais um filme de espionagem, com agentes britânicos tentando colocar as mãos em um líder de uma verdadeira seita de neonazistas no pós-guerra em Berlim. Nada é muito discutido sobre o fato da ideologia nazista ter sobrevivido ao caos do fim da II Guerra Mundial. O que parece ter interessado mais aos realizadores do filme foi justamente o clima de mistério e suspense que atravessa todo o enredo. No elenco há dois excepcionais atores em papéis secundários. O primeiro deles é o grande Sir Alec Guinness, que interpreta o chefe do setor de inteligência inglesa em Berlim. Ele tem poucas cenas, praticamente apenas duas, mas como sempre rouba o show, dando um ar um tanto afetado ao seu personagem. Max von Sydow, outro fabuloso talento, é o vilão do filme. Usando uma postura de fina elegância, bons modos e educação prussiana, ele se mostra a melhor coisa do filme, tanto em termos de atuação, como de personagem. Curiosamente o protagonista, o agente Quiller interpretado por George Segal, é fraco, uma mera imitação pálida de Bond. Melhor para o espectador é prestar atenção na beldade austríaca Senta Berger. Ele é uma nazista charmosa e sensual que seduz o agente britânico, o manipulando completamente. Com um roteiro extremamente simples ao meu ver (onde o agente apenas localiza o esconderijo dos criminosos, é feito refém e tenta sobreviver), o filme "The Quiller Memorandum" não chegou a me impressionar. Tem boa fotografia, um elenco de apoio acima da média, mas no plano geral não consegue ser uma grande obra prima do gênero espionagem internacional. No fundo é apenas uma boa fita para diversão e esquecimento logo em seguida. Não passou definitivamente no teste do tempo.

Pablo Aluísio.

Amante do Seu Marido

Título no Brasil: Amante do Seu Marido
Título Original: Ex-Lady
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Robert Florey
Roteiro: David Boehm, Edith Fitzgerald
Elenco: Bette Davis, Gene Raymond, Frank McHugh, Monroe Owsley, Claire Dodd
  
Sinopse:
Helen Bauer (Bette Davis) é uma artista bem sucedida que nem quer ouvir falar em casamento. Para ela o matrimônio, com papel passado na frente do juiz ou do padre, acaba matando o romance. Ela gosta do compositor Don Peterson (Gene Raymond) e sente que, um dia, quem sabe, pode vir até mesmo a se casar com ele. O que Helen não quer é pressão e nem pressa para subir ao altar, mas acaba mudando de ideia quando aparece uma concorrente, a bela e doce Peggy Smith (Kay Strozzi) que também está de olho em seu futuro marido!

Comentários:
Qualquer filme que seja estrelado pela grande diva do cinema clássico Bette Davis certamente valerá a pena! Esse aqui, por exemplo, não passa de uma espécie de comédia romântica, com roteiro que critica os costumes dos relacionamentos amorosos de sua época. Não há nada de muito relevante nele, pois é um filme para pura diversão. Isso porém não quer dizer que não tenha méritos. Um deles é explorar a figura de uma mulher independente e dona de si e seu destino em plenos anos 1930, onde ainda havia forte pressão no papel da mulher que deveria se casar e ter filhos. Bette interpreta uma mulher moderna, dos novos tempos, que não está muito preocupada com isso. Seu figurino, seus penteados e suas atitudes são pura Belle Époque! Um tempo em que se procurava por mudanças, para não existir mais tanta repressão moralista! Um momento em que as mulheres finalmente procuravam seguir por seus próprios caminhos. E isso não acontecia apenas nas telas, mas nos bastidores também. A atriz Bette Davis exigiu um salário melhor (ela ganhava menos do que o ator que tinha um papel secundário no filme!) e acabou assinando um contrato muito vantajoso com os estúdios da Warner. Davis, que nunca foi de fazer concessões, acabou assim abrindo um caminho importante em Hollywood para a valorização das mulheres dentro da indústria cinematográfica.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Tokyo Joe

Título no Brasil: Tokyo Joe
Título Original: Tokyo Joe
Ano de Produção: 1949
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Stuart Heisler
Roteiro: Steve Fisher, Walter Doniger
Elenco: Humphrey Bogart, Alexander Knox, Florence Marly, Sessue Hayakawa
  
Sinopse:
No Japão do pós guerra, o ex-coronel americano Joseph 'Joe' Barrett (Humphrey Bogart) retorna a Tóquio para reabrir seu antigo Night Club chamado Tokyo Joe. Durante anos Barrett viveu no Japão, porém com a guerra ele teve que ir embora. Agora ele reencontra a cidade, completamente modificada pelos anos de bombardeios. Reabrir seu clube noturno porém não será tão fácil por causa da burocracia. Assim ele acaba pedindo ajuda a um chefão da máfia japonesa, o Barão Kimura (Sessue Hayakawa), decisão da qual irá amargamente se arrepender depois.

Comentários:
"Tokyo Joe" é um misto de drama e aventura que tenta mostrar um pouco do Japão após o fim da Segunda Guerra Mundial. Depois da derrota na guerra para os países aliados, o Japão precisou se reerguer literalmente das ruínas. Com um governo provisório americano as cidades lentamente foram se recuperando. É nesse cenário que o personagem de Bogart tenta também reabrir seu night club. Ele que viveu por anos no Japão procura por seus velhos amigos e pelo amor de sua vida, a cantora Trina Pechinkov (Florence Marly), que para sua decepção agora está casada com outro homem, um advogado bem sucedido. Joe' Barrett porém parece bem decidido a não apenas reabrir seu estabelecimento, como também reconquistar a mulher que sempre amou, Trina. Essa é interpretada pela bonita atriz Tcheca Florence Marly, com sua típica beleza exótica do leste europeu. Joe também resolve começar em um novo ramo de negócios, no transporte aéreo de cargas, mas nesse novo trabalho acaba caindo nas garras da máfia japonesa, ao ter que trazer criminosos procurados da Coreia para o Japão. 

O interessante em "Tokyo Joe" é que podemos perceber nitidamente que o filme transita entre dois gêneros bem claros. Na primeira metade do filme temos um pouco de drama e romance, com a volta de Joe ao Japão e as dificuldades dele recomeçar sua vida. Na segunda e última parte o filme se direciona mais para o lado do filme de suspense e policial, com Joe tentando sobreviver à péssima ideia de ter firmado um pacto com um chefão mafioso. A cena final, com direito a tiros e mortes, acaba tentando unir todos os estilos, levando Bogart a uma cena bem melodramática. No saldo final é um filme interessante dentro da filmografia do sempre excelente Bogart, porém essa indefinição entre os gêneros o prejudica um pouco, não se sabendo para que lado a produção realmente vai seguir. Diria assim que entre o comercial e o dramático, o filme acabou não se decidindo por nenhum caminho, ficando dessa maneira apenas nas boas intenções.

Pablo Aluísio.


O Senhor da Guerra

O filme se passa na Idade Média, em pleno auge do Feudalismo. O cavaleiro Chrysagon (Charlton Heston) recebe de seu Duque um feudo para administrar, um lugar isolado na Normandia (norte da França). A região é cheia de pântanos e terras alagadas, mas tem uma vila promissora, formada por descendentes dos antigos Druídas. Embora esse povo seja cristianizado eles ainda procuram manter antigos rituais do paganismo antigo. Assim que chega o novo senhor feudal descobre que o lugar não é muito bem protegido e sofre constantes invasões de povos do norte. Para sua segurança existe apenas uma torre única no litoral, uma fortaleza de combate não muito eficiente. Chrysagon então tenta organizar militarmente uma defesa, mas sempre sabendo que ela nunca será muito poderosa. Ao mesmo tempo ele acaba se apaixonando por uma moradora local, uma jovem muito bonita que já está comprometida com um camponês. A tensão aumenta entre ele e os camponeses e vai ficando cada vez pior, principalmente após ele exigir o direito de ficar na primeira noite com a noiva (uma velha tradição medieval). A partir daí o cavaleiro descobre que precisará enfrentar não apenas os invasores estrangeiros, mas o próprio povo que vive naquele feudo.

"O Senhor da Guerra" não deixa de ser um filme muito interessante por explorar e mostrar os costumes da Idade Média, alguns deles bem estranhos ao nosso tempo (como o tal direito da primeira noite com as noivas recém casadas). Isso cria um certo problema pois o protagonista interpretado pelo astro Charlton Heston acaba se tornando aos olhos do público atual um sujeito antipático, opressivo, autoritário e em muitos aspectos sem valores morais. Como torcer por alguém assim em um filme? Complicado. Não é de se admirar que em determinado momento passemos a torcer mais pelos camponeses oprimidos do que pelo Senhor feudal de Heston. Cinematograficamente falando porém o filme é muito bom. Tem ótimos cenários (com destaque para a fortaleza da torre única) e boa reconstituição de época. Há também ótimos diálogos, todos herdados da peça de teatro original em que o roteiro foi inspirado. A insistência também em explorar cenas dentro da fortaleza, em cenário único, se explica justamente por causa das origens teatrais da história. Curiosamente as cenas de batalhas mostrando táticas medievais de guerra acabam roubando o show nos momentos finais do filme. Com isso o romance de Heston e a camponesa (interpretada pela linda atriz canadense Rosemary Forsyth) acaba ficando em segundo plano.

O Senhor da Guerra (The War Lord, Estados Unidos, 1965) Direção: Franklin J. Schaffner / Roteiro: John Collier, Millard Kaufman/ Elenco: Charlton Heston, Richard Boone, Rosemary Forsyth, Maurice Evans / Sinopse: O cavaleiro Chrysagon (Charlton Heston) é enviado por seu Duque para tomar conta de um feudo distante, no norte da França. Uma vez lá começa a ter problemas com invasores do norte, vindos pelo mar, e com o próprio povo de origem druída que vive no lugar.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Desejo Humano

Filme noir, dirigido pelo mestre do estilo Fritz Lang, que adaptou um romance de outro mestre, só que esse da literatura, Émile Zola. O centro de tudo é um perigoso triângulo amoroso envolvendo uma mulher casada, seu marido brutal e violento, e um veterano da guerra da Coreia que agora está de volta aos Estados Unidos, tentando recomeçar a vida como maquinista de trens. A mulher é uma especialista em manipulação de homens, que com sua sensualidade vulgar atrai todos eles para suas armadilhas. Quando o marido é demitido da empresa ferroviária, Vicky acaba convencendo seu patrão a readmiti-lo, usando para isso de seus dotes femininos. O envolvimento porém desanda para o crime, quando o marido enciumado resolve matar seu amante de ocasião. E o crime é cometido em uma viagem de trem que para o azar de Jeff Warren (Glenn Ford) acontece bem perto de onde ele se encontrava.

A partir daí temos o de praxe. A polícia investiga o crime, tenta chegar no verdadeiro assassino, mas sem muito sucesso. Jeff junta as peças do quebra cabeças e descobre que Vicky (Gloria Grahame), a esposa infiel, muito provavelmente está por trás de tudo. Ela, por sua vez, nem pensa duas vezes e começa a seduzir Jeff, com o propósito nada sutil de que seu novo amante elimine seu marido, já que ela não o suporta mais. É um jogo mortal que envolve sexo, traição e poder. Tudo explorado com o estilo característico do cinema noir, onde as mulheres eram fatais, os homens estavam ali apenas para serem manipulados e o crime acontecia praticamente sem punição.

Hoje em dia o filme é obviamente considerado um cult noir. Isso porém não o isenta de algumas falhas. Considerei o clímax pouco condizente com todo o desenrolar da trama. Tudo me pareceu sem muita carga dramática (que era o mínimo que se esperava). O personagem de Glenn Ford parece um pouco opaco, indo de acordo com a maré, sem demonstrar muita força interior. Em termos de elenco quem realmente se destaca é a atriz Gloria Grahame. Como eu já escrevi sua personagem tem uma dose de sensualidade que beira o vulgar, fazendo jus ao extenso rol de mulheres fatais do cinema noir. Na base da imoralidade completa ela vai seduzindo os homens para agirem de acordo com seus interesses. Enfim, um bom filme, com excelentes nomes envolvidos em sua realização, mas que a despeito disso não consigo considerar um dos melhores já realizados nesse estilo. Mesmo assim, para o cinéfilo, não deixa em nenhum momento de ser uma excelente opção para se assistir.

Desejo Humano (Human Desire, Estados Unidos, 1954) Direção: Fritz Lang / Roteiro: Alfred Hayes, baseado na novela escrita por Émile Zola / Elenco: Glenn Ford, Gloria Grahame, Broderick Crawford, Edgar Buchanan / Sinopse: Mulher sedutora e fatal começa a seduzir um veterano de guerra para que ele mate seu marido, um homem envolvido no assassinato de um executivo da empresa ferroviária.

Pablo Aluísio. 

Estrela do Norte

Título no Brasil: Estrela do Norte
Título Original: The North Star
Ano de Produção: 1943
País: Estados Unidos
Estúdio: The Samuel Goldwyn Company
Direção: Lewis Milestone
Roteiro: Lillian Hellman, Burt Beck
Elenco: Anne Baxter, Dana Andrews, Walter Huston, Erich von Stroheim
  
Sinopse:
Um bucólico e feliz vilarejo ucraniano chamado "Estrela do Norte" é invadido por tropas nazistas durante a II Guerra Mundial. O pacato e rural povo se une então para resistir aos crimes de guerra cometidos pelos alemães. Os mais jovens vão para as colinas, para formar uma milícia de resistência armada e as mulheres, crianças e idosos ficam na vila, mas não sem antes destruir tudo, usando da estratégia de "terra arrasada" para impedir o avanço dos nazistas em direção à Rússia.

Comentários:
A guerra ainda estava indefinida, com os exércitos de Hitler lutando ferozmente na União Soviética, quando o produtor Samuel Goldwyn realizou esse filme. A sua intenção fica clara desde o começo. Judeu de nascimento, o produtor queria chamar atenção do povo americano para o sofrimento que os russos e ucranianos estavam passando naquele momento, lutando bravamente por sua nação e seu país. A estrutura desse filme aliás é bem curiosa. Na primeira parte somos apresentados à vida cotidiana do pequeno vilarejo, sua vida rural, a alegria de seu povo. Há muitas canções e os momentos de felicidade parecem prevalecer. Os jovens estão enamorados e a vida segue feliz. Tudo desmorona quando os primeiros soldados alemães chegam na localidade. Com sua habitual brutalidade os nazistas já chegam metralhando os moradores que encontram pela frente, fazendo de tudo para conter as chamas que se espalham pela pequena cidadela. Acontece que seguindo ordens de Stálin, os moradores tinham que queimar tudo, suas casas, as plantações, matar os animais domésticos, tudo com a finalidade de não deixar nada para os nazistas em termos de acomodações, instalações e comida. Era a política da "terra arrasada" que foi muito eficiente no combate contra as tropas invasoras. Com um viés de solidariedade em relação aos soviéticos, o filme tenta direcionar a opinião pública dos Estados Unidos em prol daqueles povos. Curiosamente a obra depois seria considerada equivocada do ponto de vista político, isso porque com o fim da II Guerra Mundial os comunistas da União Soviética se tornaram os inimigos dos americanos, com o advento da Guerra Fria. Isso porém pouco importa, pois é um bom filme, que inclusive foi indicado a seis prêmios da Academia. Um retrato de uma época de muita luta e resistência contra o avanço nazista.

Pablo Aluísio.