Como Agarrar um Milionário Curioso como o tempo muda os costumes (ou não). Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida. O filme foi feito antes da revolução feminista e as garotas são desesperadas para arranjar logo um milionário. O mais curioso de tudo é que mesmo após a luta das feministas, muitas mulheres hoje em dia agem igualzinho às protagonistas desse filme que está prestes a completar 60 anos de seu lançamento. Parece que o mundo não mudou tanto assim depois de todo esse tempo! Tirando esse viés machista o roteiro escrito por Nunnally Johnson, um dos melhores roteiristas da história de Hollywood, tem um timing de bom humor muito afiado e divertido. Na moralista década de 50 nada poderia ser explicitamente mostrado então tudo era sutilmente sugerido. Até mesmo objetos de cena servem para materializar a ironia de certas situações. O texto é nitidamente uma comédia de costumes, pois ao mesmo tempo expõe e satiriza a condição das garotas no filme.
Estrelado por três atrizes o filme hoje é mais procurado por causa da presença de Marilyn Monroe em cena. Sua personagem não é a principal (lugar que cabe à mulher de Humphrey Bogart, Lauren Bacall) mas ela claramente chama todas as atenções para si. Bastante jovem, Marilyn faz um tipo cômico, uma garota bonita que não consegue enxergar um palmo à frente do rosto. No livro "A Deusa" há uma hilária passagem em que Marilyn procura o diretor do filme, Jean Negulesco, para lhe fazer mil perguntas sobre sua personagem, quais seriam suas motivações, seu perfil psicológico, etc. Monroe estava cada vez mais interessada no método do Actors Studio e por isso procurava desenvolver bem seus papéis. Surpreso pelo verdadeiro "interrogatório" Negulesco interrompeu a conversa dizendo: "Querida essa é uma simples comédia apenas e tudo o que você precisa saber de seu personagem é que ela é loira, burra e cega como um morcego!". Monroe obviamente não gostou nada da resposta! Já Bacall faz a mais velha das três, uma desiludida divorciada que quer tirar o pé da lama arranjando logo um maridão rico para resolver seus problemas financeiros. Completa o trio a atriz Betty Gable. Com um penteado pra lá de esquisito em relação aos padrões atuais, ela não acrescenta muito em seu papel de dondoca. Não era uma atriz particularmente engraçada ou carismática. O filme como diversão é muito bom, embora bem menos ousado que muitos dos futuros filmes de Marilyn. Como ponto negativo não tem nenhum número musical com a atriz, embora a trilha sonora seja ótima.
Como Agarrar Um Milionário (How to Marry a Millionaire, Estados Unidos, 1953) Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Nunnally Johnson baseado na peça de Zoe Akins / Elenco: Lauren Bacall, Marilyn Monroe, Betty Grable / Sinopse: Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida.
O Rio das Almas Perdidas
Esse foi um raro filme de western estrelado pela atriz Marilyn Monroe. È curioso que mesmo no auge dos filmes de faroeste ela tenha ficado tão distante desse gênero cinematográfico em sua carreira. O roteiro é bem interessante. No enredo Matt Calder (Robert Mitchum) chega em um acampamento de mineradores atrás de seu filho, um garoto de apenas nove anos que não vê há muito tempo. Após encontrar o menino em saloon onde também se apresenta a bela Kay Weston (Marilyn Monroe) ele segue viagem para o campo aberto. Pretende recomeçar a vida como fazendeiro numa bonita região a beira de um rio de forte correnteza. Para sua surpresa tempos depois vê uma pequena balsa com um casal descendo as corredeiras. Como estão em perigo, resolve ajudar.
A garota é a mesma corista Kay que havia conhecido no saloon onde encontrara seu filho, só que agora acompanhada de um jogador, Harry Weston (Rory Calhoun), que pretende tomar posse de uma mina de ouro que ganhou em um jogo de cartas. Como ambos não possuem experiência com corredeiras logo são aconselhados por Matt a desistirem de descer rio abaixo. Weston porém ignora o conselho e o pior, decide roubar Matt, levando sua arma, provisões e o único cavalo da fazenda para chegar mais rápido em seu destino. Kay porém decide ficar no rancho ao lado de Matt e seu filho pois não concorda com os atos violentos de Weston. Depois de recuperado Matt decide finalmente ir no encalço de Weston para reaver tudo o que lhe foi roubado.
“O Rio das Almas Perdidas” foi o único western da carreira de Marilyn Monroe. Um fato que chama a atenção mesmo, já que o gênero estava no auge e as atrizes da época geralmente participavam de vários filmes do estilo. Aqui temos uma produção lindamente fotografada em uma das regiões mais belas do Canadá (dois parques nacionais de preservação do país situados próximos da cidade de Alberta). Impossível não ficar impressionado com a beleza do lugar onde o filme foi realizado. As cenas misturam imagens reais captadas no local com back projection (onde os atores atuavam em frente a uma grande tela ao fundo que projetava imagens do rio). Felizmente há um maior número de cenas feitas em locação, captando a maravilhosa paisagem natural. Como sempre acontecia com filmes com Marilyn Monroe esse aqui também está recheado de histórias de bastidores tão interessantes quanto o próprio filme. Marilyn inclusive quase morreu afogada ao cair no rio. Suas botas ficaram inundadas e ela afundou literalmente, sendo salva pela equipe técnica. Depois fingiu ter quebrado a perna para ganhar alguns dias de descanso – fato que deixou o diretor Otto Preminger furioso. A atriz porém não se importou preferindo aproveitar um pouco do lindo lugar, quase como se estivesse de férias.
Também desenvolveu uma grande amizade com Robert Mitchum, que muito bem humorado costumava fazer provocações a ela, contando piadas sujas ou então disputando para ver quem bebia mais vinho no barracão da produção. Esse clima ameno passou para as telas. Enciumado Joe DiMaggio resolveu ir para as distantes locações com receios de que Marilyn o traísse com Mitchum. O personagem de Marilyn é bem mais interessante do que algumas loiras burras que interpretou. É uma garota durona, de fala firme que não aceita levar desaforos para casa, embora fique muitas vezes cega por causa de seus sentimentos. Marilyn Monroe canta várias canções no filme e mostra que era de fato uma cantora talentosa. A trilha sonora incidental também é das mais belas que já ouvi em um western (executada por um lindo coral feminino). O resultado final é muito positivo. Não tenho receio de escrever que esse é sem dúvida um dos melhores filmes de western da Fox e certamente o mais bonito de se assistir. Se ainda não viu não perca mais tempo, pois é um excelente filme.
O Rio das Almas Perdidas (River of No Return. Estados Unidos, 1954) Direção: Otto Preminger / Roteiro: Frank Fenton, Louis Lantz / Elenco: Robert Mitchum, Marilyn Monroe, Rory Calhoun / Sinopse: Fazendeiro sai no encalço do ladrão que lhe roubou sua arma, seu cavalo e provisões de alimentos. Para chegar mais rápido na cidade para onde o ladrão se dirige resolve enfrentar as corredeiras do rio, tendo que superar pelo caminho todos os desafios da natureza.
O Mundo da Fantasia
Belo musical da Fox com Marilyn Monroe. Temos aqui aquele tipo de produção em que todos os talentos foram reunidos pelo estúdio em apenas um filme. Basta analisar a ficha técnica para entender bem isso. As canções foram escritas por um dos maiores compositores da história da música americana, Irving Berlin. A direção foi entregue a Walter Lang, um verdadeiro artesão da sétima arte. A produção ficou a cargo do célebre Sol C. Siegel, uma pessoa tão importante na história de Hollywood que virou até nome de prêmio e para completar temos Marilyn Monroe dançando, cantando e atuando, tudo de forma simplesmente magistral. É muito interessante quando vejo alguém falando que Marilyn não tinha talento e que o segredo de seu sucesso se resumia unicamente ao fato de ter sido uma bela mulher! Será que uma pessoa que emite uma opinião dessas realmente conhece os filmes da estrela? Acredito que não, já que basta assistir a esse filme para compreender totalmente a extensão do talento da atriz. Ela está, repito, simplesmente fenomenal nesse filme!
Marilyn Monroe interpreta Vicky Parker, uma simples chapeleira de uma casa noturna que sonha um dia ser uma estrela da Broadway. Para isso ela não mede esforços. Quando descobre que um famoso produtor está no local onde ela trabalha, pede uma chance ao dono do estabelecimento para apresentar um número, cantando e dançando ao velho estilo. A partir daí as portas vão se abrindo para ela no mundo do Show Business. Claro que o grande atrativo desse musical hoje em dia provém do fato de Marilyn estar no elenco, mas é bom salientar que ela não é o ponto central da trama que gira mesmo em torno de uma família de artistas, os Donahues.
Eles vivem no mundo do Vaudeville e sonham também um dia com as marquises dos grandes espetáculos dos EUA - entenda-se Broadway em Nova Iorque. O filme em si é maravilhoso, lindas canções, coreografias de alto nível e uma direção de arte e musical de encher os olhos. De certa forma a produção tentava resgatar o clima dos grandes musicais das décadas de 30 e 40 que naquele momento já sofriam bastante com uma acentuada queda de bilheteria. De uma forma ou outra, não há como negar o charme e o carisma desse filme. É aquele tipo de musical que deixará você mais leve e feliz no final da exibição.
O Mundo da Fantasia (There's No Business Like Show Business, Estados Unidos, 1954) Direção: Walter Lang / Roteiro: Phoebe Ephron, Henry Ephron / Elenco: Ethel Merman, Marilyn Monroe, Donald O'Connor / Sinopse: Uma família de artistas cresce sob as luzes dos grandes espetáculos musicais nos Estados Unidos, enquanto uma humilde chapeleira de uma casa noturna sonha em um dia se tornar uma grande estrela da Broadway. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro, Melhor Figurino (Charles Le Maire, Travilla e Miles White) e Melhor Música (Alfred Newman e Lionel Newman).
O Pecado Mora ao Lado
Eu não poderia deixar passar em branco aqui no blog a data dos 50 anos sem Marilyn Monroe. Eu sempre estou escrevendo sobre a atriz aqui, como todos os visitantes podem conferir. Também estou sempre trazendo textos sobre a atriz no blog Cinema Clássico. De fato é um prazer escrever sobre ela, um ícone que tenho especial carinho. Para relembrar que tal falar sobre "O Pecado Mora ao Lado"? Esse é um dos marcos de sua filmografia. Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário.
“O Pecado Mora ao Lado” é um dos filmes mais lembrados de Marilyn Monroe. A cena em que ela deixa sua saia levantada com o vento vindo do metrô abaixo entrou definitivamente no inconsciente coletivo, virando símbolo de toda uma era do cinema americano da década de 50. Para a época a cena era muito ousada e chocou os conservadores. A imagem acabou virando a marca registrada da atriz, inclusive esse vestido sempre é copiado quando se quer fazer alguma referência a Marilyn em filmes, livros e até bonecos que reproduzem esse momento. Recentemente inclusive foi erguida uma estátua gigante da atriz nessa exata sequência. Apesar da importância em sua carreira da “saia ao vento” ela também trouxe vários problemas pessoais para a atriz. Acontece que justamente na noite em que filmaram essa cena o marido de Marilyn na época, o jogador de beisebol aposentado Joe Di Maggio, resolveu aparecer no set sem avisar. Como ele era um italiano casca grossa ficou chocado ao ver sua esposa exibindo as pernas e as calcinhas para um bando de marmanjos no meio da rua. Quando voltaram para casa ele a agrediu fisicamente, o que acabou virando o estopim da separação do casal.
Essa seria mais uma crise para o diretor Billy Wilder administrar durante as complicadas filmagens. Marilyn, como sempre, deu muito trabalho ao diretor. Chegava atrasada, esquecia diálogos e tinha acessos de pânico antes de entrar em cena. Uma atitude bem diferente de seu colega de elenco, Tom Ewell, sempre muito profissional. Mesmo assim, como sempre acontecia aliás, quando o resultado chegou nas telas todos viram novamente a estrela da atriz brilhar. Ela está magnífica nesse papel que sequer tem nome, sendo identificada apenas como “The Girl” (a garota). A estrutura do filme não nega sua origem teatral (o roteiro foi escrito em cima da peça "The Seven Year Itch" de George Axerold). Tudo se passa praticamente dentro do apartamento do personagem Sherman. Em 90% do filme temos apenas Tom Ewell em divertidos monólogos ou em dueto ao lado de Marilyn. Basicamente ele imagina diversas situações que podem ou não se materializar na realidade, tudo em cima da chamada “coceira dos sete anos”, quando os maridos caem na rotina de casamentos monótonos e procuram por aventuras com mulheres mais jovens e bonitas. Tudo é desenvolvido com muito humor e ironia, bem ao estilo de Wilder. “O Pecado Mora ao Lado” é um filme divertido, irônico e um marco na carreira do cineasta Billy Wilder, que com apenas uma cena despretensiosa conseguiu construir um verdadeiro ícone cultural da história do cinema americano.
O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, Estados Unidos, 1955) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder, baseado na peça de George Axeroid / Elenco: Marilyn Monroe, Tom Ewell, Evelyn Keys, Sonny Tuftis / Sinopse: Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário.
Nunca Fui Santa
Um filme de transição dentro da filmografia de Marilyn Monroe. Assim que voltou de Nova Iorque ela exigiu melhores roteiros e melhores papéis para si. Marilyn havia brigado com a Fox, brigado com os produtores e estava bem insatisfeita com os filmes que a Fox lhe indicava. Assim ela fundou sua própria produtora e disse para a imprensa que não mais faria personagens de loiras burras (as mesmas que a tinham consagrado no passado). Depois disso foi para Nova Iorque e se matriculou no Actors Studio. Obviamente a Fox ficou em pânico com medo de perder sua estrela de maior bilheteria. Negociações foram feitas e Marilyn conseguiu maior controle de seus filmes. Disse para a imprensa que não faria mais comédias bobas. O irônico disso tudo é que depois de toda essa confusão Marilyn acabou estrelando justamente esse "Nunca Fui Santa" onde ela interpretava uma personagem muito parecida com as demais, em mais uma comédia romântica (embora houvesse também pinceladas de drama dentro do roteiro).
Tenho que dar o braço a torcer e dizer que apesar de "Nunca Fui Santa" ser uma comédia até banal, nessa vez pelo menos Marilyn se esforçou muito para dar ao público uma interpretação melhor. Ela faz caras e bocas nas cenas mais "dramáticas". O problema é que seu estilo está em total descompasso com seu parceiro de cena, o ator Don Murray, que parece estar em um filme dos três patetas. Enquanto ele é totalmente caricatural, Marilyn parece estar em um dramalhão de Douglas Sirk! Desnecessário dizer que o resultado final fica mesmo confuso. Apesar disso gostei do filme, pois é o roteiro é bem feito e rápido (pouco mais de 90 minutos), com boas cenas externas e um ato final que lembra bastante a linguagem puramente teatral (quando eles param na tal parada de ônibus que dá nome ao título original). Por fim uma curiosidade: Marilyn parece drogada em várias cenas - mas pelo menos nesse caso o roteiro serve de desculpa (já que ela estaria supostamente com sono por não dormir à noite).
Nunca Fui Santa (Bus Stop, Estados Unidos, 1956) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Joshua Logan / Roteiro: George Alverod / Elenco: Marilyn Monroe, Don Murray, Atthur O´Connell, Betty Field, Eileen Heckart, Hope Lange / Sinopse: Baseado na peça teatral escrita por William Inge, o filme "Nunca Fui Santa" conta a história de Cherie (Marilyn Monroe). Ela é uma cantora de bares e cabarés que conhece o caipira e peão de rodeios Bo (Don Murray). Ele se apaixona imediatamente por ela e deseja que Cherie venha para Montana para viver ao seu lado numa bela fazenda, onde pretende se casar e constituir uma família, mas ela não está tão certa sobre isso. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Don Murray). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical e Melhor Atriz (Marilyn Monroe).
Pablo Aluísio.