Cliford Atkins. Policial, 46 anos de idade. O aumento de peso denunciava que ele não estava mais preocupado em manter as aparências. Era um bom investigador de homicídios, mas já tinha entendido tudo, como as coisas funcionavam. Recentemente havia pego um figurão, filho de uma família rica da região de New Orleans. Gente envolvida em política. Não deu em nada. Ele foi absolvido pelo tribunal do júri. Algum jurado foi comprado? É possível que sim, mas Cliford não tinha como provar. Ele não queria se envolver no jogo sujo envolvendo juízes e políticos. Certamente sua carreira seria prejudicada dali em diante, afinal ele havia mexido com uma das famílias tradicionais da cidade. iriam dar o troco para ele, mais cedo ou mais tarde.
Assim seu telefone tocou logo pela manhã. Ele ainda estava de ressaca da noite anterior. Começar a segunda-feira logo atendendo a um caso de assassinato não estava bem em seus planos. Só que era trabalho e ele teria que seguir em frente. Um homem de meia idade havia sido encontrado em seu carro na estrada que ligava a Louisiana à Flórida. Dois tiros na altura do abdômen. A carteira com dinheiro fora roubada. Havia sinais de luta corporal dentro do carro. Clift pegou seu velho chapéu e foi para a estrada. Tinha que fazer as primeiras análises no local do crime.
Esse caso lhe lembrou outro que havia acontecido há 3 meses, ainda sem solução. Clift desconfiava que os dois crimes poderiam ter sido cometidos pela mesma pessoa. As vítimas e as circunstâncias do crime revelavam isso. Eram dois homens, entre 55 a 60 anos. Ambos tinham histórico de contratar prostituas nas rodovias pelas quais passavam. Os dois foram mortos com tiros à queima roupa, sugerindo que o assassino (ou a assassina) entraram em seus carros e ficaram próximos suficientes para dar um tiro a pouca distância.
Isso fez Clift desconfiar que o homicida ou mais provavelmente a homicida fosse um ou uma profissional do sexo. Como os dois homens eram héteros havia fortes suspeitas que eles pegaram algum mulher para se prostituir em seus carros. Algo havia dado errado. Em algum momento essa mulher reagiu aos avanços deles, puxou uma arma e os matou. Depois roubou tudo o que havia de valor dentro do carro de seus "clientes", ou seja, dinheiro, relógios, anéis, cartões de créditos, qualquer coisa. Clift no alto da experiência de sua profissão estava praticamente convencido que havia uma assassina à solta nas estradas.
Cap. II - A Assassina
Não muito longe dali, em um bar para motoqueiros, Alicyn Woother bebia uma cerveja gelada. Ela certamente não se enquadraria em um perfil típico de assassina do FBI. Estava mais para vítima. Aos 12 anos havia sofrido abuso sexual de seus próprios parentes próximos. Traumatizada, saiu de casa. Para sobreviver trocava sexo por dinheiro ou carteira de cigarros. Foi criada praticamente na rua, sendo abusada por pedófilos. Era uma vida triste. Só que agora Alicyn parecia viver uma vida mais feliz. Há alguns anos ela tinha se descoberto lésbica. Anos e anos sendo abusada por homens imundos fizeram com que ela criasse uma ojeriza com o sexo masculino. Havia criado um trauma com o falo ereto. As mulheres eram mais delicadas, carinhosas e sensíveis. Não é de se admirar que ela havia se tornado lésbica.
Agora estava tendo um caso amoroso com Kaitlin Riley. Ela trabalhava em pequenos empregos mal remunerados nos motéis da região. Trabalhava como faxineira e arrumadeira. Era o que os americanos costumam chamar vergonhosamente de "White Trash" (Lixo branco). Pessoas até bonitas, mas pobres, sem educação formal superior. Ela tinha um jeito meio masculinizado, o que lhe valia em certas ocasiões o apelido de "Buddy", como se fosse um cara qualquer, que tinha gestos másculos e falava sobre futebol americano. Com ombros fortes e cabelo curto parecia mesmo um macho, um caminhoneiro da pesada.
Em muitos casos envolvendo casais de lésbicas havia a que representava o lado masculino da relação e o que servia como a mulher feminina. Kaitlin Riley "Buddy" era o machão do namoro, o que em certos meios gays é conhecido como "Lady Botina". Alicyn Woother era a fêmea, o que em redutos era conhecida como Lady Penélope. As duas tinham alugado um quarto na beira da rodovia. Estavam vivendo bem. O que "Buddy" não sabia era como sua namorada ganhava dinheiro, afinal ela nunca tinha um emprego. Saía pela manhã e voltava no final de tarde, sempre com algum dinheiro. "Buddy" não dizia para ninguém mas desconfiava que ela fazia programas nas rodovias próximas. Porém esse assunto nunca era discutido entre elas. Iria quebrar o clima, quebrar o romantismo.
Um tiro certeiro no coração. Depois que o tal sujeito caía tudo o que ela precisava era roubar sua carteira e ir atrás de algo de valor nas cabines dos caminhões ou carros. Também era uma assassina desajeitada, que não tomava precauções no quesito provas. Digitais dela estavam em todas as partes. A polícia as tinha levado para perícia, mas faltava uma digital no banco de dados de criminosos para bater com o que eles tinham.
Enquanto os corpos iam aparecendo a imprensa começou a se interessar pelo caso. Vazamentos do departamento de polícia tinham chegado nas redações de jornais. Era muito interessante ter uma mulher como assassina. Não tardou muito e as manchetes vinham com sua nova alcunha de "Assassina das Estradas". O velho detetive ficou contrariado com toda a sensacionalismo do noticiários. Isso iria atrapalhar as investigações. Ele então resolveu ligar para o chefe de redação e foi bem claro sobre tudo o qu estava acontecendo.
Parem de publicar informações confidenciais! Isso vai atrapalhar as investigações! - Ninguém se importou. Nenum jornalistas deixou de continuar a escrever sobre o caso. Vendia jornais, despertava interesse do público, então a imprensa iria continuar a aproveitar ao máximo. O que Cliford estava disposto a fazer para pegar a criminosa? Ele então pensou em algo até óbvio. Ele iria preparar uma armadilha para ela. Quem sabe assim ela cairia nas mãos dos policiais.
Cap. III - As Pistas
Sem nada em mãos o velho detetive resolveu usar de antigas táticas. Uma delas seria atravessar o lado mais sórdido da cidade em busca de informações. Ali sobrevivia a nata da escória da região (muito embora essa definição não fazia o menor sentido). Clift ia nos bares, becos e bordéis para encontrar seus informantes. Gente desesperada por algum dinheiro. Eram cafetões, proxenetas e pederastas de todos os tipos. Gente sem moral. Gente boa para comprar com alguns trocados. Era hora de sujar as mãos com o excremento que escorria pelas ruas mais infames da cidade. Coisa que todo detetive deveria fazer, mais cedo ou mais tarde.
Como os crimes envolviam prostituição ali era o lugar natural para saber de alguma coisa. Para sua surpresa ninguém soltou nada. Não sabiam de nada. Ele ficou surpreso. Esse tipo de resposta só poderia ter uma explicação. O assassino ou a assassina deveriam se de fora, de outra cidade ou até mesmo de outro estado. O que estava acontecendo de fato?
Big Bangaroo era um dos cafetões mais conhecidos de New Orleans. Um cara da pesada, literalmente falando. Tinha mais de 150 kg e dois metros de altura. Era um daqueles negros que usavam grandes chapéus espalhafatosos e roupas de cores berrantes. A pessoa poderia vê-lo a metros de distância e reconhecer que ele era um cafetão. Clift tinha um passado com ele. O velho detetive havia se apaixonado por uma de suas garotas. Erika Von, uma loiraça maravilhosa. Cabelos curtinhos, grandes seios, bronzeado perfeito. Lindos olhos azuis em uma face de anjo. Linda demais! Era até complicado entender como uma mulher daquelas foi parar nas ruas, fazendo programas para o porco do Bungaroo.
Esse mundo porém não era perfeito. Pelo contrário, cheirava a cigarro apagado na calçada. A maioria das pessoas eram sórdidas. De vez em quando Clift ainda curtia uma dor de cotovelo por causa da loira Von, mas não havia muito o que fazer. Ela tinha ido embora com um cafajeste. Mulheres lindas, ainda mais se forem loiras de olhos azuis, caem de amores pelos cafajestes de plantão. Deve ser algo em seu DNA estúpido, quem sabe...
Pois então, Big Bangaroo não tinha nada a dar para Clift, mas involuntariamente lhe deu uma pista importante ao explicar que ele conhecia todas as vadias da cidade. Tanto as que estavam na ativa, como as novatas e até mesmo as aposentadas. Algumas tinham até mesmo se casado com políticos, gerando filhos da puta. Para Big a única explicação era de que essa prostituta envolvida nos crimes certamente não era de New Orleans. Se fosse ele teria ouvido algo. Ela era de fora. Pegava os caras em outros lugares e quando chegavam nos arredores da cidade cometiam o crime!
Poxa, a banha do Bangaroo deveria ter transformado ele em um tira. Clift havia pegado o fio da meada. Sua conversa com o cafetão grandalhão rendeu bons frutos. Afinal aquele cara era o "rei das putas" na cidade e isso não era por mero acaso. De volta para seu escritório Clift pegou a caneta, material para investigação, entrou em seu carro e caiu na estrada. Ele precisava refazer o caminho que aqueles homens tinham tomado. A intenção era conversar com seus familiares. Para onde eles costumavam viajar? Alguém tinha que falar algo...
Cap. IV - Na Estrada
Antes de falar com os parentes das vítimas o detetive Cliford Atkins cometeu o seu maior erro. Ele pegou seu carro e foi para a estrada. Queria conversar com as pessoas que viviam ali, literalmente à margem da sociedade. Rondando se deparou com uma mulher bonita. Era obviamente uma prostituta. Ele não iria fazer um programa, óbvio, mas conversar com alguém que vivia naquele ambiente era um ponto de investigação válido.
Por uma incrível coincidência a mulher que ele chamou para conversar era Alicyn Woother. Ela mesma, a assassina das estradas. Poderia haver algo mais inesperado do que isso? Não, jamais. Clift lhe ofereceu dinheiro, mas ela ficou arredia. Embora estivesse desesperada em busca de algumas notas sabia que aquele sujeito era um tira em busca de informações. Bem, depois de um tempo ela refletiu e pensou que ele estivesse em busca de informações de alguns travestis que faziam ponto por ali perto. Alguns tinham "navalhado" seus clientes.
Ela disse que aceitaria o dinheiro, mas que eles teriam que sair dali. Caso alguém a visse com conversa com algum policial isso seria perigoso. Ela seria morta por isso. Depois perguntou quanto iria levar pelas informações. O velho tira ofereceu 40 dólares. Ela não aceitou. Só iria pelo preço de um programa regular, 200 dólares. Veja, ela já não era mais a bonita mulher do passado. Certamente não ganhava isso por programa, era uma farsa, mas mesmo assim o policial aceitou.
Valores acertados, ela então entrou no carro. Foram para uma estrada secundária, de terra, sem asfalto. Longe da vista de todos. Era o modus operandi dela. Assim que o carro parou ela pediu um momento "para acertar a bota que estava calçando". Na verdade ela escondia um pequeno revólver de dois tiros, muito popular entre as mulheres.
A ação foi rápida. Ela veio por trás da cabeça do policial, mirou e atirou. Tiro certo, morte imediata. Sem saber Clift teve o mesmo destino dos homens que foram assassinados, dos crimes que investigava. Baixou a guarda, achou que seria altamente improvável encontrar a criminosa que procurava. Como um policial tão experiente caiu numa armadilha tão simples? Ossos do ofício. Ela ainda vasculhou o carro e a carteira do velho tira em busca de algum valor. Encontrou 400 dólares. Uma boa quantia. Com os 200 que já tinha saia agora daquela cena do crime com 600. Um dia produtivo. E o policial? Foi morrendo aos poucos... as pupilas perdendo o brilho... seu corpo lentamente morrendo. Ele deveria saber que em contos noir as mulheres sempre são fatais.
Cap. V - O Sórdido Encontro de Lábios
Alannah não era uma mulher bonita. Baixa demais, gordinha, acima do peso, com tornozelos grossos, não tinha um corpo bonito. Era uma garota comum que procurava se arrumar para que o conjunto não parecesse tao feio. Ela era enfermeira, não era rica, de jeito nenhum, ganhava pouco e vivia no sufoco. Ainda morava com o pai, um sujeito caipira, do interior, rude e tosco. Charles, seu pai, poderia ser definido como um homem burro. Só falava de vacas e futebol. Não tinha muito conhecimento do mundo e nem queria ter. Ele cultivava um certo culto ao fato de ser um ignorante. Pessoas ignorantes não sabem a extensão de sua ignorância e assim acabam sendo sábias, pelo menos em sua cabeça de amendoim.
Alannah já tinha passado dos 30 anos de idade. Para uma mulher sempre há aquele estigma pejorativo da "tia solteirona" que não conseguiu se casar e nem ter filhos. Tudo preconceito, não se pode negar. O que poucos sabiam é que Alannah tinha aversão sexual a homens. Ela na realidade era lésbica. Nunca havia sido do armário porque seu pai tosco e pseudo conservador nunca iria aceitar isso. Provavelmente iria expulsá-la de casa, como seu tio havia feito com seu primo. Gente rude do interior, não aceitava homossexuais sob o mesmo teto. A tosquice misturada com a religião dava como frutos esse tipo de situação aflitiva. Assim Alannah ficava na moita, sem nunca assumir sua verdadeira identidade sexual.
Algumas vezes ela arranjava um namorado de fachada, mas aquilo era o fim da picada em sua mente. Quando as coisas apertavam demais e ela ficava sufocada o jeito era pegar seu carro e pegar a estrada, onde ela podia ir em bares escondidos frequentadas por mulheres lésbicas. Era a forma que ela tinha de respriar um pouco mais. Nesses lugares ela finalmente podia se sentir livre, sem ter que dar satisfação para seus familiares bocós. Ela inclusive se via livre de ter que conversar com seu irmão que também era o suprassumo da estupidez e ignorância. Nos bares lésbicos ela tinha com quem conversar, falar sobre a vida e o mais importante de tudo, conviver, mesmo que por pouco tempo, com pessoas como ela. Era libertador em todos os sentidos.
Em uma dessas tardes Alannah conheceu Alicyn Woother. Ela estava assustadoramente bonita naquela ocasião. Os anos que lhe fizeram tanto mal em termos estéticos havia dado uma trégua ali. Alicyn parecia tão sedutora ali, com um copo na mão, o rosto parcialmente bronzeado pelo sol, os olhos azuis, o cabelo loiro, que mesmo não sendo tratado como devia ainda chamava a atenção. Como uma profissional do sexo, com antenas ligadas ao redor, Alicyn percebeu que Alannah lhe encarava com uma certa insistiência. Era óbvio que ela estava interessada nela. Só não sabia que no dia anterior o alvo de seus suspiros havia matado um tira no meio da estrada... isso sem contar todos os outros clientes asquerosos que ela havia mandado dessa para melhor... ou pior, dependendo de suas crenças religiosoas ou do que significa um cova fria em sua visão pessoal.
Alicyn gostava de se ver de uma forma diferente, mas a dura realidade é que ela era uma puta. Passara a frequentar bares de lésbicas para quem sabe diversificar seu leque de clientes. Até porque ela tinha uma namorada fixa, era lésbica em sua vida pessoal e tinha ojeriza de homens, com seus pintos sujos, barrigas flácidas e conversas dementes. Se relacionar com uma mulher era sempre melhor. As mulheres sempre procuravam a sutileza, procuravam aparentar ser mais inteligentes do que eram, mesmo que fossem na realidade bem burras. Era parte da sedução que surgia entre duas fêmeas. Isso estimulava Alicyn ao máximo. Era o último porto de tesão que ainda percorria suas veias e mente.
Alannah se aproximou e ofereceu um drink. Alicyn aceitou com prazer, com um sorriso nos olhos. Havia ali todo um jogo de sedução. Uma olhava os lábios da outra e o clima ia ficando mais quente. Havia mesas mais ao fundo, para momentos de maior privacidade. Alicyn convidou Alannah para ir até lá. Convite aceito sem reservas ou receios. Em poucos minutos ambas estava se deliciando, saboreando a saliva da parceira. Beijos realmente afetuosos, que de certa maneira demonstravam o quanto Alannah se encontrava carente naquela ocasião. Não era fácil manter uma imagem quase por 24 horas por dia apenas para agradar a família conservadora e tosca. Esses momentos de liberdade, onde ela beijava outra mulher, era tudo o que ela queria na vida. Pena que não tinha dinheiro para abraçar a independência completa em sua vida.
Ficou meio óbvio que Alannah ficou caidinha por Alicyn. Essa era o que poderia se chamar de "puta velha". Sabia que poderia extrair algo dali. Ambas saíram depois de uma hora sarrando no bar. Foram para um motel de beira de estrada que ficava ali pertinho. Quantos homens Alicyn já não tinha atendido naqueles mesmos quartos? Já tinha perdido a conta. Porém agora com Alannah elas tiveram um momento muito quente e muito íntimo. Não era apenas mais uma cliente de sua vida de prostituta. Parecia haver algo a mais ali naquele encontro, algo mais forte e algo mais perigoso também...
Cap. VI - Orgia de Sangue
Alicyn matou Alannah com requintes de crueldade. Primeiro fez ela se despir completamente. Realmente não tinha um belo corpo. Era desleixada e isso ia contra ela. Também era mal feita por natureza. Pernas curtas demais, ausência de um bumbum bonito. Enfim. Nesse primeiro momento Alicyn ainda não tinha decidido se iria matá-la ou não, mas algo a fez decidir por um caminho. Ela viu de relance um cartão de crédito do American Express. Esse cartão geralmente tinha alto limite de crédito. Alicyn colocou olho gordo ali. Alannah estava condenada.
Alicyn levava dois punhais bem cortantes e bem afiados em sua bolsa. Dessa vez ela estava sem a arma calibre 38 que costumava usar para matar seus clientes homens. Então ela fez com que Alannah deitasse de costas para ela, insinuando que iria fazer uma massagem. Disse que ficaria mais erótico se ela deixasse que fosse colocada um pano em sua boca. Era a segurança de que ela não iria gritar. Alannah inocentemente aceitou a sugestão. Erro fatal.
Com Alannah nua, indefesa, com os braços amarrados (para simular o tal fetiche erótico), de costas para Alicyn, completamente nua, era a vítima ideal. O cordeiro no altar do sacrifício. O abate seria fácil demais. Alicyn pegou seus dois punhais. Alannah não sabia o que estava acontecendo então.
- Toma sapatão escrota, toma sua puta safada! - gritou Alicyn no primeiro golpe...
Alicyn deu a primeira punhalada... depois outra, nas laterais, Alannah gritou de dor, lágrimas saíram de seus olhos, mas ninguém ouviu. Ela estava amordaçada e morrendo em um banho de sangue, em uma orgia de sangue. E Alicyn continuava a apunhalar com todas as suas forças... Os músculos exteriores foram rompidos, e Alicyn fez ainda mais força para que os punhais entrassem mais fundo nos órgãos internos de Alannah. Também girou a arma branca para causar ainda mais estragos...
Nesse assassinato algo estranho aconteceu. Alicyn ficou realmente excitada com tudo aquilo. O sangue, sua vítima nua na cama, morrendo afogada em seu próprio sangue... aquilo deixou Alicyn molhadinha... excitada, chegou inclusive a fazer movimentos lascivos com sua língua, como se tivesse em um caso de amor com o próprio diabo. Tão excitada ficou que quase não conseguiu parar as punhaladas - que segundo o laudo do médico legista, havia ultrapassado as 80 estocadas no corpo de Alannah. Nenhum ser humano iria resistir a tamanha agressão e violência. Logo Alannah perdeu os sentidos e morreu...
A assassina cuspiu no corpo de sua vítima e xingou: "sapatão safada". Depois Alicyn foi ao banheiro, se lavou rapidamente e pegou dinheiro e o cartão de crédito de Alannah. Não demorou muito e correu em direção ao caixa do banco onde conseguiu sacar mais de 5 mil dólares do dinheiro de Alannah. Nossa, ela iria fazer a festa com tanta grana. Havia valido a pena matar aquela vadia... pelo menos era isso que pensava. O que nem parava para raciocinar é que havia deixado dessa vez uma centena de pistas para os policiais que iriam investigar a morte. Era um jogo onde ela mais cedo ou mais tarde iria se dar mal.
Cap. VII - Rota 66
Numa quinta-feira à tarde, já completamente entediada pela vida, a assassina resolveu pegar a estrada. Pessoas com problemas de psicose não aguentam viver muito tempo em um mesmo lugar. Assim ela pegou seu cartão de crédito, foi até uma locadora de carros e saiu com o veículo. Não tinha a menor intenção de devolver aquele automóvel. Foi para a estrada com a intenção de matar geral, detonar quem encontrasse pela frente. Estava com sangue nos olhos. Queria esfaquear todo macho escroto que encontrasse pela frente. Quanto mais asqueroso fosse, melhor. Ela tinha intenção de cortar as gargantas deles, roubar seu dinheiro, chafurdar no crime.
E ela estava eufórica. No volante ela pensou em si mesmo. Pensou e lembrou que se sentiu culpada dos primeiros homens que matou. Só que agora ela não tinha mais culpa, não tinha mais consciência. Havia pegado gosto pela "arte de matar". Não queria mais saber de pensamentos de culpa e nem de teor religioso. Queria matar... matar... matar. Em sua mente ela pensou: "O que eu tenho a ver com um cara que morreu há 2 mil anos? Um sujeito que ninguém sabe exatamente quem foi? E o que tenho a ver com mãe dele?". Ela tinha tido formação católica e estava se referindo a Jesus e sua mãe Maria. Ela cuspiu pela janela e gritou: "Porra, eu sou livre! Eu vou fazer o que quiser da vida!"
Depois de viajar por toda a noite ela decidiu parar em St. Louis, Missouri. Abasteceu o carro, comprou comida e parou um tempo para fumar um cigarro. Nisso chegou um autêntico "Red Neck", um caipirão daqueles bem típicos. Boné, roupa de operário. Puxou uma conversa fiada com ela. Papo furado. Ele perguntou de onde ela era e tudo mais. As respostas foram evasivas. O sujeito continuou a encher o saco. Ela então decidiu que iria dar uma marretada em sua cabeça, bem na frente, para afundar seu crânio.
Ele insinuou que ela poderia ser prostituta, sabe como é... com aquelas roupas. Ela então disse que fazia programas de vez em quando. Cobrava 10 dólares. Os olhos do infeliz brilharam. Transar com uma mulher daquela por apenas 10 dólares? Ele estava dentro do negócio. Ela aceitou a grana e disse que ele entrasse no carro. Pararam em um lugar bem vazio, com ninguém por perto. Ele tentou agarrar seus seios, mas ela pediu um tempo, foi atrás no porta-malas e disse que ia pegar umas coisas.
Ele esperou, já abaixando as calças. Quando ela retornou tinha uma daquelas marretas de construção civil. Objeto pesado, grotesco, rude e violento. Só deu uma na cabeça do pobre diabo. Chegou por trás, de forma sorrateira. Ele parecia lamber os beiços pensando que ia transar com ela. A assassina só deu uma porrada. Ele percebeu o osso do crânio afundando... afinal aquele tipo de marreta era usado para derrubar paredes, imagine o que iria fazer em um crânio humano. A pancada, dura e seca, fez com que o idiota morresse na hora. Seus olhos ficaram escuros, ele perdeu a consciência em segundos.
Ele ficou lá no chão tendo espasmos. Devia ser alguma reação ao golpe que sofreu. Ela não quis nem saber. Foi direto no bolso do desgraçado. Pegou sua carteira. Havia tirado a sorte grande. Ele provavelmente havia recebido salário naquele mesmo dia. Havia 800 dólares na carteira, uma boa grana, iria pagar a viagem por alguns quilômetros. Ela então olhou pela última vez para ele. Estava morto, não respirava mais. Uma vida sem importância chegava ao fim. Ela não queria nem saber! Foi tão fácil, ela pensou. Antes de entrar no carro para ir embora ainda acumulou o máximo de catarro, lá dos fundos de seu pulmão. Depois deu aquela cusparada na cara do homem morto. O musgo verde escorreu de sua cara feia. Ela ligou o carro e foi embora, pensando: "É mais fácil do que tirar doces de criancinhas"
Cap. VIII - A Fazenda Gromberg
Há coisas que não se faz. Há crimes que até mesmo os mais selvagens criminosos sentem asco e nojo. E exatamente o crime cometido pela assassina em relação ao casal Gromberg. Dois velhinhos. Duas pessoas adoradas pela comunidade. Viviam em uma fazenda afastada, onde passava a estrada da rota 66. A assassino parou por alguns instantes e visualizou aquela bonita casa de campo. Estava muito bem cuidada. Ela pensou, que essas pessoas certamente deveriam ter um cofre com dinheiro. "Vou até lá!".
Fingindo ter problemas no carro ela estacionou na frente da casa da fazenda e buzinou. A sra Gromberg, que na época deveria ter uns 80 anos de idade, abriu a porta da casa. Vendo aquela jovem ali, pedindo ajuda por causa de problemas mecânicos no carro, imediatamente se prestou a ajudá-la. Depois saiu da cara o senhor Gromberg, veterano de guerra, 86 anos de idade. Eles ouviram a mulher e disseram que sim, ela poderia entrar em sua casa, com a finalidade de ligar para um mecânico. Era tudo mentira. Ela queria apenas roubar os pobres e indefesos velhinhos.
Quando o xerife Tom Oxford chegou na casa, duas horas depois, ele viu uma cena de terror. O casal havia sido amortaçado, torturado e morto com requintes de crueldade. O cofre que ficava no último quarto da casa, estava aberto. O criminoso havia levado todo o dinheiro. A morte do casal de idosos, que Tom conhecia desde os tempos em que era um simples colegial, o enfureceu. Quem poderia ser tão vil a ponto de matar aquelas duas pessoas? A violência e a insanidade foi perturbadora. Ao sair da casa, em busca de um pouco de oxigênio, ele puxou sua escopeta, a destravou e prometeu:
- Eu vou caçar esse criminoso até os confins do inferno, se for preciso! - Quem conhecia o xerife sabia que ele iria cumprir aquela promessa! Homem da lei há muitos anos, veterano policial, era visto como um homem honesto e íntegro pela comunidade. Quando era necessário ser duro, ele o era, sem pensar duas vezes. Quando era preciso um pouco mais de equidade, em vista de alguma pequena falha de algum morador que ele conhecia, ele certamente fazia vista grossa. Sabia ser justo, sabia ser honesto.
Ele era o xerife de Flagstaff, Arizona, há mais de 30 anos. Começou bem jovem, como patrulheiro da rodovia 66. Depois foi subindo na hierarquia. Quando o xerife John Jones se aposentou, ele assumiu a força policial daquele pequena cidade. Agora se via diante do crime mais brutal, violento e insano de sua vida. Já nos primeiros minutos na casa encontrou um cigarro fumado da marca Chellender. Era uma marca feminina. Os dois idosos não fumavam. Estava claro que uma mulher havia feito parte do crime. Evidências periciais indicaram que apenas uma pessoa entrou naquela casa. Era uma assassina! Uma assassina das estradas! Oxford estava pronto para começar sua caçada!
Cap. IX - A Perseguição
O xerife Oxford nem pensou duas vezes. Com as (poucas) informações que tinha entrou em seu carro e pisou o pé no acelerador. Ele queria pegar aquela criminosa de todas as formas. A Rota 66 era ao mesmo tempo uma rota de fuga para ela, mas também uma armadilha. Isso porque ela muito provavelmente não sairia de seu caminho, o que iria facilitar e muito em sua captura. Do rádio do carro patrulha, o xerife entrou em contato com todos os demais xerifes da região. Barreiras foram montadas, ninguém sairia do estado do Arizona sem ser totalmente identificado.
As pistas diziam que se tratava de uma mulher, entre 40 e 55 anos de idade. Provavelmente loira (fios de cabelo foram encontrados na cena do crime). Ela também estaria dirigindo um Ford 41. Arriscaria dizer que de cor preta, pois esse modelo tinha em maioria essa cor na lataria. Então todos os policiais tinham que passar pente fino em carros dirigidos por mulheres sozinhas, loiras e de lataria de cor preta. Parar o carro, revistar, pegar os documentos, tudo era procedimento padrão. Dirigindo a alta velocidade o xerife ouviu no rádio do carro que havia uma situação de emergência.
- Atenção, atenção! Policial atingido no KM 68, policial abatido, levou um tiro de revólver. Todas as patrulhas da região se desloquem até o KM 68, situação de emergência! - Ao ouvir isso o xerife respondeu imediatamente - Atenção, aqui xerife Oxford. Estou próximo da área da ocorrência. Estou me dirigindo imediatamente para lá.
Estava tão perto do lugar onde o policial havia sido baleado que, segundo seus próprios cálculos, chegaria no local em pouco mais de 20 minutos. Era necessário acelerar, acelerar, pisando fundo no acelerador. Agora não era apenas questão de prender a assassina das estradas, mas também de salvar a vida de um colega de farda.
Assim que chegou no lugar o xerife Oxford viu o jovem policial caído no chão. Para seu alívio ele estava vivo. Ao seu lado dois carros parados. A sua rádio patrulha e o carro da criminosa. Exatamente como havia sido sugerido pelas investigações, um carro Ford preto. O xerife percebeu que a criminosa havia fugido para um bosque ao lado, isso após dar um tiro no policial que a parou na rodovia para pedir documentos.
O jovem patrulheiro mal teve tempo para uma reação. Ao parar a assassina, pediu educadamente por seus documentos. Ela fingiu estar indo pegar sua carteira, mas na verdade sacou um revólver que estava debaixo do banco de motorista. E ela nem pensou duas vezes, nem pensou em render o guarda para pegar sua arma. Simplesmente sacou o revólver e atirou... a bala se fixou no ombro esquerdo do tira. Ele caiu com o impacto do tiro. Não havia risco de vida, pelo menos por enquanto.
O xerife Oxford então esperou pela chegada de um carro patrulha de apoio. Quando esse chegou ele nem pensou duas vezes, correu em direção ao bosque. Queria colocar as mãos naquela mulher fria que havia matado dois idosos em seu condado. Ao que tudo indicava era uma serial killer com outras mortes nas costas. Não seria fácil pegá-la no meio daquela região, mas ela não estaria muito longe. A chance era agora, mas por onde começar? Onde ela estaria se escondendo?
Cap. X - Morte nas Folhagens
Há elementos complicadores em ir atrás de um criminoso no meio de um bosque. As folhas, úmidas, propicam quedas. Cada tronco de árvore é um pequeno e eficiente esconderijo. A surpresa pode ocorrer a qualquer momento. Um tiro pode vir pelas costas, pela frente, de lado, de qualquer lugar. Por isso quando o xerife Oxford foi em busca da assassina, ele foi com extrema cautela. Para sua sorte logo descobriu que ela vestia um casaco vermelho que a deixava bem à vista no meio de todo aquele verde. No passado os uniformes dos exércitos exibiam cores bem fortes. Isso durou até todos se tocarem que isso os transformavam em alvo ambulantes. A partir daí todos os exércitos do mundo se tornaram verdes.
Assim que o xerife a viu no meio da mata deu ordens para ela parar. Só que foi sem efeito. Ao invés disso ela se virou e deu um tiro no policial. Um tiro que não o atingiu. Provavelmente ela não era boa de mira, até porque só havia matado suas vítimas à queima roupa. Só bastou isso para o velho homem da lei descobrir que estava na presença de uma amadora. Ela não sabia atirar, nem mirar, nem nada. Em sua mente o xerife pensou que iria admitir que ela só atirasse por três vezes. Depois iria reagir.
O terceiro tiro aconteceu. Bom, a paciência havia se esgotado. O xerife se abaixou, dobrou suas pernas e fez mira. Ele tinha uma boa visão dela, mesmo que estivesse correndo por entre as árvores. O xerife então controlou sua respiração, fechou um de seus olhos, mirou bem e... apertou o gatilho! O tiro foi certeiro, bem em suas costas. A criminosa caiu com o impacto da bala atingindo seu corpo. O local atingido era bem mortal, ali ela poderia ter morrido de forma imediata, caso a bala chegasse em algum órgão vital. Mas estava realmente morta?
Oxford começou a caminhar em direção ao corpo da criminosa caída. Foi devagar, com extrema cautela. Nada de movimentos bruscos. Então chegou perto, a menos de 1 metro. Nenhum sinal de vida. Estava morta. Abatida como a um alce no meio da floresta. O xerife então colocou seus dois dedos em seu pescoço, em busca de sinais vitais. Nada. Ela havia partido dessa para melhor (ou pior, se você acredita na existência do inferno).
O xerife então ligou o rádio, avisou aos seus colegas de farda e esperou. Ali ao lado do corpo morto de uma mulher, caiu sobre ele uma certa melancolia. Um certo sentimento de que algo havia dado errado. Embora fosse uma criminosa, ainda era uma vida que se ia. Ele pensou, observou e ouviu o canto de pássaros. Era um contraste incrível mesmo. Do lado da morte, ouvia-se as mais belas canções da natureza, cantadas pelas aves mais bonitas que ele já tinha visto em sua vida.
Pablo Aluísio.